terça-feira, 27 de novembro de 2012

A conjetura de Kunstler e Paul de Grauwe





1 – frases de governantes e da troika - "saber ir contra a corrente e manter a firmeza",, “”apesar dos ventos fortes contrários, o programa mantem-se”, são afirmações típicas e sintomas num quadro psicótico já analisado neste blogue, de grande dificuldade em aceitar a realidade, privilegiando as crenças próprias.
O que é interessante é que, dado o carater alternado das conjunturas económicas e também a forte dependência da economia global, esperando-se que o fim do ciclo recessivo na economia internacional induza o fim desse ciclo na economia portuguesa, é provável que à austeridade se suceda um período de franca melhoria das condições sociais com o crescimento induzido.
Não se sabe quais as variáveis de tempo que estarão envolvidas, mas certamente que os autores das frases do inicio deste texto dirão então que tiveram razão.
Mas não vale a pena discutir.
Só valeria a pena discutir sobre tratamentos de dados significativos e consistentes com a realidade, não sobre argumentos retóricos.

2 – a conjetura de Kunstler – “O fim do petróleo, o grande desafio do século XXI”, ed.Bizancio, é um livro de James Howard Kunstler. Não é a mensagem principal do livro, nem se pode dizer que seja uma conjetura estruturada pelo autor. Mas ao fazer a sua análise da dependência do petróleo e dos combustíveis fósseis e da dificuldade em nos libertarmos dela, o autor deduz do segundo principio da Termodinâmica e da lei da entropia que diz que qualquer sistema tende para um estado de entropia máxima, ou de desordem e dissipação  máximas, que uma intervenção organizada pode acelerar a chegada a esse estado final de desordem e inatividade equilibrada.  Murphy diria que se pode, certamente que o fará.
É uma conclusão interessante que nas  mãos dos retóricos facilmente enganará alguns, convencendo-os a “deixar cair” os braços, em vez de produzir (os tais bens transacionáveis).
Mais uma vez deve dizer-se que as leis não são universais, que têm um domínio e condições de aplicação.
Que não devem aplicar-se cegamente ideologias, que as medidas se devem aplicar caso a caso depois de análise alargada com a participação de quem esteja dentro de cada assunto.
Mas é difícil, reconheça-se, numa sociedade em que se perdeu a prática do trabalho coletivo informado sobre dados fiáveis.
Felizmente há luar e há exceções, ainda se produz em Portugal (não é a riqueza que garante o bem estar, é a produção de bens e serviços úteis).

3 – Paul de Grauwe – bruscamente, neste Outono do nosso descontentamento, um doutor vem dizer-nos o que os ignorantes de economia sabiam há muito. Que as medidas de austeridade cega são como a politica do escocês que todos os dias reduzia mais um pouco a ração do seu cavalo, para o habituar a não comer.
Paul Grauwe ,professor da London School of Economics, afirmou que "a austeridade está a falhar, mas continuam a insistir, empurrando as economias para espirais recessivas” e recomendou ao senhor ministro Vítor Gaspar que, " se não funciona, é melhor não tentar outra vez".
Foi até mais longe, dizendo que "Há uma definição de inteligência que é: quando se vê que uma coisa não funciona, não se insiste nela".
Mas claro que um professor de Economia tinha de pôr a tónica na economia internacional, classificando o BCE como disfuncional, porque o seu objetivo não devia ser o de estabilizar o preço das cenouras e das batatas, mas antes resolver o problema do capitalismo financeiro (interessante este objetivo, até que ponto não é o próprio capitalismo financeiro a essência do problema?).
Na verdade, as medidas de austeridade de Schroeder na Alemanha deram melhores resultados do que agora em Portugal. Talvez porque a economia alemã estivesse numa zona de rendimentos crescentes em função dos investimentos, e a economia portuguesa esteja numa zona de rendimentos decrescentes e da armadilha da pobreza (em que é imperativo não diminuir os rendimentos e em que o retorno dos investimentos é reduzido).
Diz então Paul de Grauwe que é essencial os paises do norte investirem agora nos paises do sul em vez de acumularem excedentes (em muitos casos não bastará investir, era conveniente uma transferencia de "know-how").
Coincidem assim as análises do professor com a de ignorantes na matéria, que já há muito vêm dizendo que o problema não foi o povo português viver acima das suas possibilidades monetárias e financeiras.
O problema foi ter vivido, e continuar a viver, abaixo das suas capacidades produtivas e das suas necessidades (o que, pondo a questão em saber organizar com este povo a produção de bens e serviços úteis, responde à duvida atormentada do senhor ministro das finanças: que impostos quer o população pagar para ter o estado social?).

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