domingo, 25 de novembro de 2012

Questões de segurança nos transportes


A comunicação social não gosta de tratar as questões de segurança nos transportes de acordo com os princípios da disciplina, provavelmente porque prefere critérios de impacto psicológico sobre os leitores ou espetadores.
Foi por isso uma agradável surpresa ler uma noticia sobre um encontro sobre a possibilidade de aplicação de critérios de segurança aérea aos procedimentos médicos em salas de operação.
1 – critério da disciplina de segurança de divulgação dos erros - O piloto que fez a intervenção principal sublinhou que é essencial comunicar e analisar todos os erros cometidos, para evitar a sua repetição.
Esta é a grande contribuição da segurança aérea: investigar até às ultimas consequências qualquer erro ou falha, em vez de escondê-los.
Por isso é errada a politica de secretismo e de esquecimento normalmente praticada pelas autoridades, que sistematicamente, quando acossadas, remetem para erro humano Esquecendo assim que as causas do erro humano devem também ser analisadas e questionadas as circunstancias que as viabilizam.
Por exemplo, os pilotos da base na Portela da Easy jet não têm as mesmas condições de trabalho e remuneratórias das outras bases europeias, numa altura em que a Associação europeia de pilotos denuncia que há pilotos a fazer mais de 10 horas seguidas, oque contraria todos os relatórios médicos sobre a fadiga.
Assim é fácil às companhias low-cost apresentarem lucros e é pena que os critérios da comunicação social não dêem a devida publicidade.
2 – critério de “marketing” sobre segurança em transportes -  Em contraste com os critérios de segurança do piloto no referido encontro, já me surpreendeu pela negativa o elogio que um cronista apreciado do dinheiro vivo fez a um pequeno vídeo animado australiano que o Metro de Melbourne partilhou apelando aos cuidados nas viagens. Salvo melhor opinião, o vídeo parece-me um pouco Sado masoquista, coisa a que a comunicação social está dando atenção, é verdade, mas não me agrada ver bonecos com cabeças cortadas.
A mensagem do Metro de Melbourne será assim a de pedir aos seus passageiros muita atenção junto das vias férreas, para que não morram de uma forma estúpida (“Dumb ways to die”, se intitula o vídeo, sendo uma delas ir atrás de um balão que se escapara das mãos da criancinha e ser atropelado por um comboio).
Partilhará assim o Metro de Melbourne os critérios mediáticos do “marketing”, uma vez que o vídeo vem sendo incensado, e não os critérios de segurança do referido encontro e das empresas que analisam e disseminam as causas dos acidentes e adotam planos de realização progressiva para eliminar as circunstancias e as causas desses acidentes (por exemplo, se pessoas são atropeladas por comboios, há que substituir as travessias pedonais por passagens aéreas ou isola caminhos paralelos das vias férreas, no caso de vias férreas de superfície, e instalar avisadores de aproximação de comboios e  isolar os cais das vias por portas de cais, pelo menos nas estações novas, no caso dos metropolitanos em sítio próprio).
Evidentemente que existe um conflito quando sobrevem  uma vaga de suicídios porque a divulgação de cada caso pode induzir o efeito mimético.
Porém, é sempre possível dar visibilidade a esforços de diminuição desses casos denunciando as causas exteriores à empresa de transportes, o que pressupõe intervenção politica, uma vez que as causas são quase sempre sociais e económicas, e é também possível um plano progressivo de correções pontuais (no caso das linhas de superfície substituindo passagens de nível, no caso de metros de superfície criando barreiras entre os caminhos pedonais paralelos e as vias, no caso dos metropolitanos criando avisadores de aproximação dos comboios, dispositivos de deteção de corpos na via, portas de cais nos projetos de novas estações, manutenção dos critérios de segurança de evacuação).

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