sábado, 10 de novembro de 2012

John Q, filme de 2002 de Nick Cassavetes, e a gestão por provérbios



Numa tarde de Novembro, a SIC passou este filme.
Vem a propósito, o tema, quando a mensagem do governo foi lançada, sob a forma de uma relação entre impostos e serviço nacional de saúde.
O filme baseia-se num caso verídico, em que um pai sequestrou um hospital por não lhe tratar o filho e acabou morto pela policia.
Mas a história neste filme acaba bem e denuncia as falhas das coberturas dos seguros de saúde nos USA.
Possivelmente terá contribuído para a aprovação da reforma da saúde (ou melhor, dos seguros de saúde) de Obama, apesar da feroz oposição do Tea Party e aliados.
Sabemos que o atual governo português tem horror a tudo o que seja serviço público,  que a reforma da saúde de Obama se preocupa com a sustentabilidade da industria seguradora, e que a história nos USA  associa aumento de impostos e melhoria do bem estar social ao partido democrata e diminuição de impostos e maior desigualdade social ao partido republicano.
Porém, verificam-se atualmente situações de graves carências nos USA (cerca de 47 milhões numa população de 313 milhões de pessoas recebem ajuda alimentar).
Tal não deverá acontecer por baixa produtividade, como é a desculpa em Portugal, porque nos USA a produtividade é suposto ser elevada.
Dir-se-ia então que os mecanismos que induzem estes factos estarão algures, talvez no sistema económico  e financeiro que condiciona as sociedades (sobrepondo-se às diretivas da declaração universal dos direitos humanos) e  na conceção de democracia vigente (que não interpreta as enormes taxas de abstenção, que não analisa em debate aberto o tratamento cientifico dos dados, e que falha no combate ao desemprego e às desigualdades).
De pouco servirá então aplaudir o filme John Q, apesar da violenta crítica à arrogância das seguradoras e às preocupações de lucro dos hospitais privados.
De pouco servirá também discutir a indignação provocada pelas declarações da senhora diretora do banco alimentar contra a fome.
Ou a indignação por ver um senhor secretário de Estado da Educação declarar que vai entregar os dados da ASE (ação social escolar) relativos às situações de carência alimentar de 10.000 alunos, precisamente ao banco alimentar contra a fome, para que ajude os respetivos agregados familiares (não é a ajuda que indigna, é a demissão dos políticos e dos economistas por terem deixado as coisas chegar a este ponto sabendo que os cortes anunciavam este desemprego).
Já que as teorias económicas dos que nos governam não foram capazes de evitar isto (pelo menos é o que diz a senhora Christine Lagarde, que se enganaram no multiplicador cortes-recessão e que, no caso dos países periféricos – terá lido alguma coisa sobre o teorema de Fermat-Weber que descreve a absorção da energia dos componentes periféricos pelo componente central? – os cortes podem ter um efeito ainda mais demolidor quando ultrapassam os limites);
já que a velocidade de aceitação das propostas dos economistas aterrados é tão baixa (vá que nalguns paises da UE já há taxas sobre transações financeiras, já há limitações rigorosas de short selling e de CDSs, mas tanto que ainda falta, numa teoria dominada, como disse Krugman, pelo medo mórbido da inflação);
então eu sugiro a sabedoria popular, a gestão por provérbios.
Como diz o provérbio chinês, não me dês o peixe para eu comer, não me concedas empréstimos a juros superiores à minha taxa de crescimento, dize-me antes como se faz e como se arranjam os instrumentos para pescar o peixe, não me instales aqui fábricas como os ursos de peluche que nem pagavam a renda das instalações para depois as levar, isto é, até podes vir para cá, mas fica cá tu também, não foi assim no tempo do marquês de Pombal? Com a estratégia da industrialização e a reorganização da economia (“structure follows strategie”, não o contrário).
Vê-se pelos apelidos que andam por aí…
Mesmo que alguém tenha de pagar mais impostos, desde que se façam as contas à distribuição da coleta sobre o rendimento do trabalho (25% da coleta) e do capital (9% da coleta) e se pague de acordo com os resultados das contas, mesmo que não faça o "ajustamento" igualitário de repente, para não enervar muito os mercados...

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