Desperta uma raiva surda ler os comentários do senhor ex-ministro das finanças Miguel Beleza sobre a redução do quadro de pessoal dos funcionários públicos.
Que é muito positiva a redução do numero de funcionários públicos.
Que foi maior do que o previsto. De janeiro a setembro de 2012 a diminuição foi de 5,1% .
Estão muito contentes os senhores economistas porque o indicador da redução dos quadros de pessoal é sempre um sucesso nas apresentações de powerpoint quando se quer mostrar progresso de uma empresa.
Quando se fala para quem não tem experiencia nas frentes de trabalho.
Porque não é só porque o peso do Estado e dos seus funcionários está dentro de valores médios na união europeia.
Ou porque esse peso está de acordo com o que os cidadãos esperam das funções do Estado nos domínios da saúde, da educação e da segurança social e com o que está escrito na Constituição e na declaração universal dos direitos humanos.
A questão essencial é que muitos dos que saíram poderiam ter ficado mais tempo se o ambiente de descredibilização criado pelo governo não os desmotivasse.
A questão essencial é que muitos desses eram profissionais cuja experiencia faz falta.
Muitos desses eram professores que desistiram perante o economicismo do seu ministério.
Nos países em que se respeitam os mais idosos, o provérbio diz que quando morre um velho é uma biblioteca que arde.
No país dos economistas contentes em reduzir quadros de pessoal, mesmo que essa redução se repercuta em aumento dos encargos da segurança social, ou aumento do desemprego, ou aumento da ineficiência dos serviços públicos, não interessa aproveitar a experiencia dos mais velhos.
Desperta uma raiva surda ver os senhores economistas a desprezar essa experiencia.
Não querem saber dos riscos de cortar cegamente nos quadros de pessoal.
O acidente com a plataforma petrolífera “Deep horizon” no golfo do México em 2010, ocorreu numa fase de redução drástica dos quadros de pessoal na plataforma, especialmente o mais qualificado, substituindo as suas funções por “e-drilling” à distancia (através de centrais de comando remoto).
O acidente com o petroleiro Exxon Valdez no Alasca em 1989, ocorreu numa altura em que a companhia tinha reduzido o seu pessoal de 182 mil para 80 mil funcionários (informação recolhida, com a devida vénia, no Dinheiro Vivo de 17 de Novembro de 2012), “melhorando” os seus indicadores de produtividade e competitividade, mas correndo riscos intoleráveis.
Desperta uma raiva surda saber que facilmente se esquecem as decisões dos senhores economistas quando o risco se traduz em acidente.
Desperta uma raiva surda saber que a redução do numero de professores e a subordinação aos critérios de cortes na Educação vão ter com elevada probabilidade consequências graves para a educação das crianças.
Sem comentários:
Enviar um comentário