Fascinante, como dizia Mr.Spock enquanto o monstro alienígena ia destruindo tudo.
Um grupo de capitalistas norte-americanos pede para que sejam subidos os impostos e sejam abolidos os benefícios fiscais acima de um dado rendimento.
Isto é, depois do acesso como que de varíola do reaganismo (com mais precisão, da teoria económica assente no petróleo barato) , alguns dos principais capitalistas dos USA propõem o retorno ao imposto progressivo (Milton Friedman acabou com ele quando disse que o imposto regressivo estimula as pessoas a aumentarem os seus rendimentos e, como dizia Adam Smith, o interesse individual iria “puxar” pelo interesse coletivo; viu-se).
Por outro lado, muitos desse grupo patrocinam fundações com fins não lucrativos (beneficiando das deduções devidas ao mecenato por solidariedade social).
Aparentemente, a posição destes capitalistas será a de contrariar a tendência que se verifica para aumentar a diferença entre ricos e pobres (o indicador de Gini) e, assim, diminuir um fator que contribui para os conflitos sociais.
Curiosamente (fascinante, também) alguns, do grupo de que estou falando, fizeram outra petição, mas para abolir o imposto sucessório.
Por outras palavras, existe uma tendência entre os grandes capitalistas para eliminar as dificuldades em conservarem na própria família o controle das suas empresas . Dir-se-ia que as ações determinantes do controle são uma oferta ou uma garantia do criador da empresa aos seus filhos. Aceitam a família providencia mas não aceitam o estado providencia, será isso? Defendem que uma oferta dessas ações aos seus filhos não deve ser taxada de imposto sucessório. Mas, segundo Adam Smith, isso vai tirar o estímulo aos filhos de “lutarem” pelo desenvolvimento das suas empresas e vai estimular o aparecimento de capitães da industria que começam por ser técnicos e depois vão tomando o lugar de principal acionista à custa de aumentos de capital em que a família do criador da empresa fica para trás, quando não é seguido o caminho das alianças inter-famílias.
Esta espécie de monarquia privada salta à vista na história económica recente de Portugal. Livros como Salazar e os milionários e Os donos de Portugal descrevem em pormenor a plutocracia em que vivemos, apenas sobressaltada poucos anos a seguir ao 25 de Abril (o que aliás até favoreceu o aparecimento de alguns flibusteiros que acederam aos lugares cimeiros das monarquias privadas).
Longe vai o tempo da ingénua frase de um homem honesto, demasiado honesto para este nosso tempo, de que eu me sinto longe ideologicamente, mas de que aprecio a honestidade: Ramalho Eanes, 1976 – Onde estão os ricos em Portugal? (no sentido de já não haver).
Fascinante.
terça-feira, 30 de novembro de 2010
Capitalism now
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capitalismo
domingo, 28 de novembro de 2010
A conjetura de João Correia
Em primeiro lugar, aplausos ao Dr João Correia, que se demitiu de secretário de estado da Justiça.
Não por se ter demitido, mas por ter lutado enquanto secretário de estado contra o estado da justiça em Portugal, que é uma das desvantagens comparativas do nosso país (ver medidas concretas contra a crise no livro de Luis Monteiro Os últimos 200 anos da nossa econnmia e os próximos 30) e por ter explicado as razões da demissão: entre outras, porque o senhor secretário de estado da modernização judiciária é um ótimo secretário de estado da informática.
Testemunho sobre o Dr João Correia: "é um profundo conhecedor da realidade da justiça e uma pessoa séria e íntegra".
Perante estes factos, que poderão ser negados mas são muito difíceis de esconder, e tendo presente que entre alguns dos nossos colegas existe uma cultura semelhante à do secretário de estado "informático", de privilegiar o tratamento informático das questões técnicas da operação e manutenção de um sistema ferroviário, possivelmente para melhor tratar a imagem do sistema perante a opinião publica e não obstante o "batalhão" de técnicos que têm de ser desviados para o tratamento informático em detrimento da análise real e direta das ocorrencias com impacto na operação, permito-me dar o nome de João Correia a esta conjetura:
- não só no mundo jurídico, mas também no mundo da técnica ferroviária, o tratamento informático das questões pode criar uma barreira entre a realidade, as causas e as circunstancias reais que provocam os incidentes, e os técnicos que devem lutar contra os incidentes; e aplicando um dos corolários da lei de Murphy, se pode criar uma barreira entre a realidade e os técnicos, certamente que a criará.
Aplausos para o Dr João Correia.
PS - Mais notícias entretanto surgidas dizem que a questão estará tambem na transferencia dos técnicos de informática, da Direção geral de administração da Justiça, para as Tecnologias de Informática na Justiça, entregando o Citius Plus à empresa externa Critical Software. O Citius é o processo de desmaterialização dos processos que sucedeu ao Habilus (para acabar com os anacronismos das pilhas de papel atadas com cordel) que foi desenvolvido com mérito por esses técnicos. E o percurso lógico de uma equipa de sucesso de uma entidade pública é este: assim que "a coisa" funciona, gera interesse ou uma oportunidade de negócio numa empresa externa.
É a dependencia dos consultores, ou, como se dizia antigamente, para encontrar a explicação de um comportamento, "cherchez la femme" ("cherchez le profit").
Citius é latim e significa mais rápido. Habilus significa mais conveniente. Dizem tudo, os nomes.
Ninguém pretende dotar os ministérios ou as empresas públicas de orgãos sobredimensionados com todas as competências; mas que devem ser mantidas nestas entidades a capacidade e a direção estratégicas dos processos, isso sim; mas apenas desde que os condutores desses processos não sejam nomeados por critérios diferentes do mérito e do conhecimento técnico.
Não sendo assim, parecerá que o estimulo para os técnicos será integrar o universo dos consultores e dos critérios diferentes do mérito e do conhecimento técnico, o que não me parece que estimule a vontade de bem servir no serviço público.
O que se repercutirá no produto final.
Deve ser de propósito.
Não por se ter demitido, mas por ter lutado enquanto secretário de estado contra o estado da justiça em Portugal, que é uma das desvantagens comparativas do nosso país (ver medidas concretas contra a crise no livro de Luis Monteiro Os últimos 200 anos da nossa econnmia e os próximos 30) e por ter explicado as razões da demissão: entre outras, porque o senhor secretário de estado da modernização judiciária é um ótimo secretário de estado da informática.
Testemunho sobre o Dr João Correia: "é um profundo conhecedor da realidade da justiça e uma pessoa séria e íntegra".
Perante estes factos, que poderão ser negados mas são muito difíceis de esconder, e tendo presente que entre alguns dos nossos colegas existe uma cultura semelhante à do secretário de estado "informático", de privilegiar o tratamento informático das questões técnicas da operação e manutenção de um sistema ferroviário, possivelmente para melhor tratar a imagem do sistema perante a opinião publica e não obstante o "batalhão" de técnicos que têm de ser desviados para o tratamento informático em detrimento da análise real e direta das ocorrencias com impacto na operação, permito-me dar o nome de João Correia a esta conjetura:
- não só no mundo jurídico, mas também no mundo da técnica ferroviária, o tratamento informático das questões pode criar uma barreira entre a realidade, as causas e as circunstancias reais que provocam os incidentes, e os técnicos que devem lutar contra os incidentes; e aplicando um dos corolários da lei de Murphy, se pode criar uma barreira entre a realidade e os técnicos, certamente que a criará.
Aplausos para o Dr João Correia.
PS - Mais notícias entretanto surgidas dizem que a questão estará tambem na transferencia dos técnicos de informática, da Direção geral de administração da Justiça, para as Tecnologias de Informática na Justiça, entregando o Citius Plus à empresa externa Critical Software. O Citius é o processo de desmaterialização dos processos que sucedeu ao Habilus (para acabar com os anacronismos das pilhas de papel atadas com cordel) que foi desenvolvido com mérito por esses técnicos. E o percurso lógico de uma equipa de sucesso de uma entidade pública é este: assim que "a coisa" funciona, gera interesse ou uma oportunidade de negócio numa empresa externa.
É a dependencia dos consultores, ou, como se dizia antigamente, para encontrar a explicação de um comportamento, "cherchez la femme" ("cherchez le profit").
Citius é latim e significa mais rápido. Habilus significa mais conveniente. Dizem tudo, os nomes.
Ninguém pretende dotar os ministérios ou as empresas públicas de orgãos sobredimensionados com todas as competências; mas que devem ser mantidas nestas entidades a capacidade e a direção estratégicas dos processos, isso sim; mas apenas desde que os condutores desses processos não sejam nomeados por critérios diferentes do mérito e do conhecimento técnico.
Não sendo assim, parecerá que o estimulo para os técnicos será integrar o universo dos consultores e dos critérios diferentes do mérito e do conhecimento técnico, o que não me parece que estimule a vontade de bem servir no serviço público.
O que se repercutirá no produto final.
Deve ser de propósito.
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cultura da realidade versus informática
Mais questões de manutenção - ética
Com a devida vénia, transcrevo o título de uma notícia do DN: "Comboios fora dos carris por falta de manutenção".
É provável que colegas nossos ou decisores de empresas ferroviárias ou até no próprio MOPTC, se escandalizem com este título. Que ameacem não responder por não aceitarem afirmações deste tipo.
Se for assim, farão mal, porque a afirmação é de um professor do IST, da Associação para o desenvolvimento integrado do transporte.
Pensando bem, sendo certo que, como ele diz e qualquer técnico ferroviário sabe há muitos anos, a falta de manutenção da via férrea conduz à redução da velocidade por motivos de segurança (lá se vai a alta velocidade se não for feita a manutenção conforme as regras) e, no limite, ao encerramento da linha. E, se é assim, por um dever de ética os técnicos devem informar os decisores deste facto, por envolver segurança.
Mais diz o professor que recursos financeiros que estariam afetos à manutenção têm sido desviados para os projetos da alta velocidade.
Se for assim, é importante insistir mesmo com os decisores sobre os riscos de cortes cegos na manutenção.
Foi assim que a linha do Tua teve os seus descarrilamentos, por cortes na manutenção da via (notar porém que uma via férrea bem mantida permite até certo ponto a utilização por material circulante com problemas graves, também de manutenção e de adequação às condições de via, como era o caso do material circulante do Tua).
Vem isto a propósito dos recentes descarrilamentos na linha de Castelo de Vide (Novembro de 2010), Alcacer do Sal (Outubro de 2010) e Ovar (Julho de 2010).
Estamos tocando um ponto crítico: transportar pessoas em vias férreas é mais eficiente energeticamente porque o atrito do ferro com o ferro é menor do que o atrito do pneu com o asfalto. Mas em sentido desfavorável para o transporte ferroviário funcionam as exigencias da manutenção (quer da via férrea, quer do material circulante) para evitar descarrilamentos.
É assunto que exige muita atenção; real por contacto direto, não virtual.
Para não se escandalizarem muito com o professor, transcrevo as afirmações dele: "Os engenheiros não sacrificam a segurança, mas se lhes forem negados os recursos para a manutenção podemos ter problemas de segurança. Existe segurança nas linhas ferroviárias, mas o risco pode aumentar se for provocado por desleixo".
Nestas circunstancias, sem prejuizo do dever de informação sobre os acidentes de Ovar e de Castelo de Vide, a comunidade gostaria de ser esclarecida sobre as causas e circunstancias do descarrilamento de Alcacer do Sal, junto da ponte (deficiencia do balastro? da altimetria ou da fixação dos carris? dos bogies, rodados ou engates do material circulante?).
É que, sendo assunto de interesse público, o direito a ser informado é real, não virtual.
É provável que colegas nossos ou decisores de empresas ferroviárias ou até no próprio MOPTC, se escandalizem com este título. Que ameacem não responder por não aceitarem afirmações deste tipo.
Se for assim, farão mal, porque a afirmação é de um professor do IST, da Associação para o desenvolvimento integrado do transporte.
Pensando bem, sendo certo que, como ele diz e qualquer técnico ferroviário sabe há muitos anos, a falta de manutenção da via férrea conduz à redução da velocidade por motivos de segurança (lá se vai a alta velocidade se não for feita a manutenção conforme as regras) e, no limite, ao encerramento da linha. E, se é assim, por um dever de ética os técnicos devem informar os decisores deste facto, por envolver segurança.
Mais diz o professor que recursos financeiros que estariam afetos à manutenção têm sido desviados para os projetos da alta velocidade.
Se for assim, é importante insistir mesmo com os decisores sobre os riscos de cortes cegos na manutenção.
Foi assim que a linha do Tua teve os seus descarrilamentos, por cortes na manutenção da via (notar porém que uma via férrea bem mantida permite até certo ponto a utilização por material circulante com problemas graves, também de manutenção e de adequação às condições de via, como era o caso do material circulante do Tua).
Vem isto a propósito dos recentes descarrilamentos na linha de Castelo de Vide (Novembro de 2010), Alcacer do Sal (Outubro de 2010) e Ovar (Julho de 2010).
Estamos tocando um ponto crítico: transportar pessoas em vias férreas é mais eficiente energeticamente porque o atrito do ferro com o ferro é menor do que o atrito do pneu com o asfalto. Mas em sentido desfavorável para o transporte ferroviário funcionam as exigencias da manutenção (quer da via férrea, quer do material circulante) para evitar descarrilamentos.
É assunto que exige muita atenção; real por contacto direto, não virtual.
Para não se escandalizarem muito com o professor, transcrevo as afirmações dele: "Os engenheiros não sacrificam a segurança, mas se lhes forem negados os recursos para a manutenção podemos ter problemas de segurança. Existe segurança nas linhas ferroviárias, mas o risco pode aumentar se for provocado por desleixo".
Nestas circunstancias, sem prejuizo do dever de informação sobre os acidentes de Ovar e de Castelo de Vide, a comunidade gostaria de ser esclarecida sobre as causas e circunstancias do descarrilamento de Alcacer do Sal, junto da ponte (deficiencia do balastro? da altimetria ou da fixação dos carris? dos bogies, rodados ou engates do material circulante?).
É que, sendo assunto de interesse público, o direito a ser informado é real, não virtual.
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descarrilamentos
A metáfora da barra da Ria de Cabanas de Tavira
A primeira imagem do video mostra uma lingua de areia amontoada (adunada?) pela corrente marítima de sudoeste no sotavento algarvio. Depois vê-se a barra recentemente aberta na ria de Cabanas de Tavira pelo sudoeste, as águas calmas da ria frente a Cacela a Velha e o seu forte do século XVI. Perto daqui desembarcaram em 24 de junho de 1833 as tropas do Duque da Terceira que deram o nome à Av.24 de Julho, em Lisboa , derrotando o exército miguelista na batalha da Cova da Piedade depois de uma marcha de 30 dias e libertando Lisboa de absolutistas.
Há uns anos, gastou-se algum dinheiro a despejar terra sobre a duna e a fazer um cordão de ripados para fixar a duna. O pretexto era proteger a cultura de ameijoas na ria.
A metáfora é se vale a pena tentar desviar a força de uma corrente marítima que muda as barras de uma ria com facilidade de temporada para temporada. Ou se vale a pena impor limites (o aterro e os ripados) às leis do mercado (a corrente marítima) , ou, se pelo contrário, vale a pena às leis do mercado (o aterro e os ripados) oporem-se à vontade das comunidades (a corrente marítima) de cumprirem a declaração universal dos direitos do homem e o art.9º da constituição da republica portuguesa (o Estado deve trabalhar para o bem estar dos cidadãos).
Como não sou economista, não consigo pronunciar-me sobre as leis do mercado, para além de repetir o que vem nos livros de economia: as leis do mercado só devem ser deixadas entregues a si próprias se:
- não houver escassez do bem ou produto
- não houver assimetria de informação ou de acesso ao bem ou produto
- não existir uma externalidade afetando quem não tenha nada a haver com o bem ou produto.
Mas como dediquei uns anos da minha vida a ouvir o que alguns professores e assistentes duma escola técnica diziam nas aulas, direi que o critério de valer ou não a pena gastar dinheiro com uma obra para evitar a abertura natural de uma barra é o critério do dimensionamento das variáveis em jogo.
Isto é, a obra de desvio de uma barra é possível (por exemplo, o fecho da Golada), mas tem de ser bem dimensionada; e depois há que ver se o dinheiro que custa é mais ou menos do que o que se perde se não se fizer a obra.
No caso da ria de Cabanas de Tavira, afinal as ameijoas ainda lá estão, mais a Poente.
O problema, é que os nossos decisores-consultores-economistas-políticos têm dificuldade, muita dificuldade, em apreender as questões técnicas necessárias para compreender o dimensionamento da obra e as suas vantagens não imediatamente tangíveis, e limitam a sua análise ao volume do investimento (já não estou só a referir-me à barra da ria de Cabanas, mas também aos investimentos que nos interessam).
É uma pena, esta dificuldade em compreender as análises de custos-benefícios, embora se reconheça que uma análise de custos-benefícios correta requer uma visão integrada pluri-disciplinar (e como somos reratários às visões integradas pluri-disciplinares ).
É uma pena, porque é difícil haver desenvolvimento de um país sem análises de custos-benefícios.
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critérios para investimento
Ruinas 9 - encosta da Serafina
A encosta da Serafina, vista de Campolide. Todos os dias 50.000 automóveis passam no seu sopé, perto e longe destes prédios clandestinos, das ruinas, das obras abandonadas, dos terrenos por tratar, isto é, da desurbanização da Lisboa em ruinas. Desurbanização, um dos catalisadores da economia subterrânea e da criminalidade.
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ruinas de Lisboa
Subway life
Os desenhos seguintes foram extraidos de "Subway life", de António Jorge Gonçalves. O livro tem desenhos que o autor fez em vários metropolitanos do mundo. Simplesmente desenhando quem se sentava no metro à sua frente ou no seu campo de visão. E que normalmente, depois da surpresa, até gostava que um desconhecido o desenhasse.
A mensagem deste livro também é muito simples. Temos todos o mesmo código genético, as mesmas necessidades e preocupações. Por isso tinha razão o nosso colega do metropolitano de Paris: "Nós técnicos, contribuimos mais para a compreensão entre os povos do que os políticos". E eu diria, que só falta nós pormos os políticos a funcionar com esse objetivo.
Os dois primeiros desenhos foram feitos no metro do Cairo, embora a menina com o olhar ligeiramente protestativo pudesse ser uma menina de Lisboa ao colo do seu pai. Os dois ultimos desenhos foram feitos no metropolitano de Lisboa.
Sugiro a sua compra. Editora Assírio e Alvim.
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sábado, 27 de novembro de 2010
A taxa sobre as transações financeiras
Não se trata de taxar os lucros. Trata-se de retirar uma pequena percentagem aos movimentos financeiros nas transações da bolsa. Podia ser 1%. Vamos que um cidadão ou um grupo de cidadãos organizados em empresa compra 5.000 euros de ações. Deixava 50 euros para a comunidade. Será pedir muito? Será convidar os investidores a fugir? Poderia obter-se uma renda de 400.000 euros por dia? Ajudava.
É uma proposta néscia? Olhem que foi proposto por Sarkozy em Setembro de 2010 , na ONU. Repararam como é bonito o mármore negro da parede de fundo da sala da assembleia geral da ONU? Se não puderem ir a Nova Iorque ver este mármore, podem vê-lo nos lavabos da Fundação Gulbenkian, em Lisboa.
É uma proposta néscia? Olhem que foi proposto por Sarkozy em Setembro de 2010 , na ONU. Repararam como é bonito o mármore negro da parede de fundo da sala da assembleia geral da ONU? Se não puderem ir a Nova Iorque ver este mármore, podem vê-lo nos lavabos da Fundação Gulbenkian, em Lisboa.
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taxação das transações financeiras
De Gilberto Gil, aquele abraço
O Rio de Janeiro
Continua lindo
O Rio de Janeiro
Continua sendo
O Rio de Janeiro
Fevereiro e Março
Alô, alô, Realengo
Aquele Abraço!
Alô torcida do Flamengo
Aquele abraço
Chacrinha continua
Bançando a pança
E buzinando a moça
E comandando a massa
E continua dando
As ordens no terreiro
Alô, alô, seu Chacrinha
Velho guerreiro
Alô, alô, Terezinha
Rio de Janeiro
Alô, alô, seu Chacrinha
Velho palhaço
Alô, alô, Terezinha
Aquele Abraço!
Alô moça da favela
Aquele Abraço!
Todo mundo da Portela
Aquele Abraço!
Todo mês de fevereiro
Aquele passo!
Alô Banda de Ipanema
Aquele Abraço!
Meu caminho pelo mundo
Eu mesmo traço
A Bahia já me deu
Régua e compasso
Quem sabe de mim sou eu
Aquele Abraço!
Prá você que me esqueceu
Ruuummm!
Aquele Abraço!
Alô Rio de Janeiro
Aquele Abraço!
Todo o povo brasileiro
Aquele Abraço!
Não me interessa discutir a legitimidade de blindados a deslocarem-se em meio urbano, como se faz no Rio de Janeiro e como se anuncia que vai fazer-se em Lisboa.
Interessam-me sim as causas e os efeitos da criminalidade.
Não me interessa diabolizar os criminosos nem incensar os defensores da segurança.
Interessa-me ver se podemos convergir numa solução, sendo que não me interessa ser obrigado a viver em países assim.
A experiência de New York demonstrou que o investimento nas forças policiais é eficaz (evidentemente), mas as variáveis são muitas, não há receitas universais e o insucesso escolar e o desemprego estimulam o desenvolvimento de economias subterrâneas e a formação, fora do circuito legal, de grupos de domínio sobre a maioria dos cidadãos, para além dos grupos legais e dos mecanismos de condicionamento destes sobre os comuns cidadãos.
A força dos cidadãos, através do voto, tem-se revelado insuficiente para impedir a diminuição do grau da sua própria segurança, como se prova com o número de assassínios cometidos anualmente em: Rio de Janeiro - 8.000; Bagdad – 4.500; Bangkok – 5.000; Cidade do Cabo – 2.200; Ciudad Juarez – 2.500; Caracas – mais de 10.000.
Ao que tudo indica, os governos com mais poder estão interessados, mais em atuar militarmente ou em privilegiar a repressão, do que em ativar mecanismos económicos que contrariem os indicadores em que acreditam (investindo em emprego e despesa pública, o que se traduziria por aumento da inflação e da dívida pública, pelo menos a curto prazo) ou que diminuam o poder dos grupos económicos e financeiros.
De modo que, de momento, parece estarmos limitados a registar os factos, insistir nas causas (falhanço do sistema educacional e do sistema de emprego e incapacidade de atingir os graus mínimos de cumprimento da declaração universal dos direitos do homem), fazer colagens da realidade sobre canções de Gilberto Gil , esperar que não resultem vítimas inocentes dos sucessos policiais e que a força da canção vença com o abraço a força da força.
Ilustrações:
- site de um alugador brasileiro de carros blindados para proteção de particulares
- notícias sobre a intervenção do blindado M113 no Rio de Janeiro, depois de ter estado na guerra do Vietnam e do Iraque (2003).
Canção de Gilberto Gil: Aquele abraço
Video de 1968
Continua lindo
O Rio de Janeiro
Continua sendo
O Rio de Janeiro
Fevereiro e Março
Alô, alô, Realengo
Aquele Abraço!
Alô torcida do Flamengo
Aquele abraço
Chacrinha continua
Bançando a pança
E buzinando a moça
E comandando a massa
E continua dando
As ordens no terreiro
Alô, alô, seu Chacrinha
Velho guerreiro
Alô, alô, Terezinha
Rio de Janeiro
Alô, alô, seu Chacrinha
Velho palhaço
Alô, alô, Terezinha
Aquele Abraço!
Alô moça da favela
Aquele Abraço!
Todo mundo da Portela
Aquele Abraço!
Todo mês de fevereiro
Aquele passo!
Alô Banda de Ipanema
Aquele Abraço!
Meu caminho pelo mundo
Eu mesmo traço
A Bahia já me deu
Régua e compasso
Quem sabe de mim sou eu
Aquele Abraço!
Prá você que me esqueceu
Ruuummm!
Aquele Abraço!
Alô Rio de Janeiro
Aquele Abraço!
Todo o povo brasileiro
Aquele Abraço!
Não me interessa discutir a legitimidade de blindados a deslocarem-se em meio urbano, como se faz no Rio de Janeiro e como se anuncia que vai fazer-se em Lisboa.
Interessam-me sim as causas e os efeitos da criminalidade.
Não me interessa diabolizar os criminosos nem incensar os defensores da segurança.
Interessa-me ver se podemos convergir numa solução, sendo que não me interessa ser obrigado a viver em países assim.
A experiência de New York demonstrou que o investimento nas forças policiais é eficaz (evidentemente), mas as variáveis são muitas, não há receitas universais e o insucesso escolar e o desemprego estimulam o desenvolvimento de economias subterrâneas e a formação, fora do circuito legal, de grupos de domínio sobre a maioria dos cidadãos, para além dos grupos legais e dos mecanismos de condicionamento destes sobre os comuns cidadãos.
A força dos cidadãos, através do voto, tem-se revelado insuficiente para impedir a diminuição do grau da sua própria segurança, como se prova com o número de assassínios cometidos anualmente em: Rio de Janeiro - 8.000; Bagdad – 4.500; Bangkok – 5.000; Cidade do Cabo – 2.200; Ciudad Juarez – 2.500; Caracas – mais de 10.000.
Ao que tudo indica, os governos com mais poder estão interessados, mais em atuar militarmente ou em privilegiar a repressão, do que em ativar mecanismos económicos que contrariem os indicadores em que acreditam (investindo em emprego e despesa pública, o que se traduziria por aumento da inflação e da dívida pública, pelo menos a curto prazo) ou que diminuam o poder dos grupos económicos e financeiros.
De modo que, de momento, parece estarmos limitados a registar os factos, insistir nas causas (falhanço do sistema educacional e do sistema de emprego e incapacidade de atingir os graus mínimos de cumprimento da declaração universal dos direitos do homem), fazer colagens da realidade sobre canções de Gilberto Gil , esperar que não resultem vítimas inocentes dos sucessos policiais e que a força da canção vença com o abraço a força da força.
Ilustrações:
- site de um alugador brasileiro de carros blindados para proteção de particulares
- notícias sobre a intervenção do blindado M113 no Rio de Janeiro, depois de ter estado na guerra do Vietnam e do Iraque (2003).
Canção de Gilberto Gil: Aquele abraço
Video de 1968
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
à memória dos mineiros de 17 anos
O primeiro ministro da Nova Zelandia comunicou a morte dos 29 mineiros depois de uma segunda explosão na mina de carvão.
Uma das primeiras noticias relatava a reação de um colega nosso. Digo colega porque era um técnico: "num país como a Nova Zelandia estas coisas não deviam acontecer porque existem normas de segurança". Acresce outra inconformidade: o mineiro mais jovem tinha 17 anos; num país civilizado pode? num país civilizado subscritor da declaração universal dos direitos do homem a família precisa dos rendimentos de trabalho de um mineiro de 17 anos?
Foi essa a reação do nosso colega dos caminhos de ferro belgas, ao acidente com vítimas mortais nos arredores de Bruxelas, em Janeiro deste ano, porque não havia ATP (Automatic Train Protection), nem sequer balizas de train stop que evitassem o acidente depois do maquinista, devido à neve, ter passado um sinal vermelho.
É verdade que para os volumes de produção de carvão e de tráfego de passageiros a percentagem de vítimas mortais é pequena.
Mas como disseram os técnicos referidos, chocados por ver que critérios de economia podem conduzir a situações destas juntamente com a convergencia de outras circunstancias, isto não deveria ser assim.
É fácil convencer as pessoas que os custos devem ser reduzidos e se deve cortar na despesa. Mas há cortes cegos, e a redução nos custos da segurança pode dar nisto.
Arriscamo-nos também a que depois venha justificar-se oportunisticamente um investimento "por razões de segurança" quando as razões podem não ser de segurança.
Por isso os debates devem ser abertos, fundamentados com antecedencia, e não submetida a condução dos processos a critérios só económicos.
Sei do que falo quando refiro o acidente ferroviário da Bélgica: não é aceitável que linhas e material circulante com aquele tráfego não estejam protegidas por ATP.
No caso das minas de carvão, em que o perigo vem do metano, acredito no colega neo-zelandês: se os sistemas de segurança estiverem bem montados , a probabilidade de desastre é muito pequena.
Mas a segurança exije custos, pelo que o critério de comercialização de um bem essencial como o carvão , isto é, energia, não deve estar dependente apenas do preço do mercado.
Será tão dificil de aceitar isto, pelos senhores economistas, que a segurança tambem tem um preço, que é o benefício, e que o carvão barato significa preço de dumping porque a segurança não entrou nos fatores de produção? E que dumping, até numa teoria liberal, é proibido.
Não querem que se mude o modelo económico-político, não é?
Uma das primeiras noticias relatava a reação de um colega nosso. Digo colega porque era um técnico: "num país como a Nova Zelandia estas coisas não deviam acontecer porque existem normas de segurança". Acresce outra inconformidade: o mineiro mais jovem tinha 17 anos; num país civilizado pode? num país civilizado subscritor da declaração universal dos direitos do homem a família precisa dos rendimentos de trabalho de um mineiro de 17 anos?
Foi essa a reação do nosso colega dos caminhos de ferro belgas, ao acidente com vítimas mortais nos arredores de Bruxelas, em Janeiro deste ano, porque não havia ATP (Automatic Train Protection), nem sequer balizas de train stop que evitassem o acidente depois do maquinista, devido à neve, ter passado um sinal vermelho.
É verdade que para os volumes de produção de carvão e de tráfego de passageiros a percentagem de vítimas mortais é pequena.
Mas como disseram os técnicos referidos, chocados por ver que critérios de economia podem conduzir a situações destas juntamente com a convergencia de outras circunstancias, isto não deveria ser assim.
É fácil convencer as pessoas que os custos devem ser reduzidos e se deve cortar na despesa. Mas há cortes cegos, e a redução nos custos da segurança pode dar nisto.
Arriscamo-nos também a que depois venha justificar-se oportunisticamente um investimento "por razões de segurança" quando as razões podem não ser de segurança.
Por isso os debates devem ser abertos, fundamentados com antecedencia, e não submetida a condução dos processos a critérios só económicos.
Sei do que falo quando refiro o acidente ferroviário da Bélgica: não é aceitável que linhas e material circulante com aquele tráfego não estejam protegidas por ATP.
No caso das minas de carvão, em que o perigo vem do metano, acredito no colega neo-zelandês: se os sistemas de segurança estiverem bem montados , a probabilidade de desastre é muito pequena.
Mas a segurança exije custos, pelo que o critério de comercialização de um bem essencial como o carvão , isto é, energia, não deve estar dependente apenas do preço do mercado.
Será tão dificil de aceitar isto, pelos senhores economistas, que a segurança tambem tem um preço, que é o benefício, e que o carvão barato significa preço de dumping porque a segurança não entrou nos fatores de produção? E que dumping, até numa teoria liberal, é proibido.
Não querem que se mude o modelo económico-político, não é?
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segunda-feira, 22 de novembro de 2010
Elementos para a história recente
O DN de domingo dia 21 de Novembro de 2010 tem duas entrevistas que me parecem importantes para os historiadores do período recente.
Numa das entrevistas, Jacinto Nunes recorda 1960, ano de adesão ao FMI: sistema financeiro sólido e economia anémica, bancos pouco hipotecados mas com grandes lucros, nivel de vida baixo, industrialização a arrancar, rendimento médio 60% da média europeia. Sobre 2009: o grande erro foi alterar as taxas de juro dos certificados de aforro; centenas de milhões de euros fugiram; "uma parvoíce, porque substituiram divida interna, que não exerce pressão sobre os governos, por divida externa".
E eu, que ignorante, sempre achei o mesmo, fico a recordar um jovem economista do governo, muito convencido, a dizer que o que era bom era acabar com os certificados de aforro. E deram-lhe poder para isso, e a democracia portuguesa não teve meios de se defender desse jovem econmista, de que nem sei o nome, mas lembro-me bem de ter sido entrevistado no DN a defender os disparates que o deixaram fazer.
Mas há sempre um senior que vem explicar as coisas, sintetizando: se Portugal "não tem juízo, o FMI vai acabar por intervir com mão de ferro, depois de ter entrado na casa e na carteira dos gregos".
Um perigo, deixar os seniores falar, quando tanto se incensa a inovação (talvez devamos antes ser shakespeareanos: "se a velhice pudesse e a juventude soubesse...").
Na segunda entrevista, Otelo Saraiva de Carvalho declara-se "a leste" da ação do 25 de Novembro de 1975 e invoca conversas com Melo Antunes para dizer que:
- Melo Antunes se encontrou uma semana antes do 25 deNovembro com Alvaro Cunhal para que o PC não interviesse, porque o grupo dos nove pretendia acabar com a esquerda revolucionária, o que ficou acordado; efetivamente, o partido de Cunhal saiu bruscamente da "frente revolucionária" e Melo Antunes honrou o compromisso depois do seu triunfo;
- Melo Antunes foi "repreendido", como ministro dos negócios estrangeiros, em Maio de 1975, em Munique, por Gerald Ford e Henry Kiessinger, que lhe disseram que os USA e a Europa fariam um bloqueio económico total se Portugal evoluisse segundo uma revolução socialista com o PC no poder; efetivamente, houve na altura dificuldade em arranjar peças; lembro-me que não se vendiam cabos de embraiagem para vauxalls, e que a General Electric deixou de bobinar motores eléctricos para a Carris e o Metro, por falta de material importado.
Mas seria muito interessante se os historiadores pudessem confirmar isto, quanto mais não fosse para corrigr as versões um pouco romanceadas , "fulanizadas", parciais e subjetivas, que foram adotadas pelos discursos oficiais.
Numa das entrevistas, Jacinto Nunes recorda 1960, ano de adesão ao FMI: sistema financeiro sólido e economia anémica, bancos pouco hipotecados mas com grandes lucros, nivel de vida baixo, industrialização a arrancar, rendimento médio 60% da média europeia. Sobre 2009: o grande erro foi alterar as taxas de juro dos certificados de aforro; centenas de milhões de euros fugiram; "uma parvoíce, porque substituiram divida interna, que não exerce pressão sobre os governos, por divida externa".
E eu, que ignorante, sempre achei o mesmo, fico a recordar um jovem economista do governo, muito convencido, a dizer que o que era bom era acabar com os certificados de aforro. E deram-lhe poder para isso, e a democracia portuguesa não teve meios de se defender desse jovem econmista, de que nem sei o nome, mas lembro-me bem de ter sido entrevistado no DN a defender os disparates que o deixaram fazer.
Mas há sempre um senior que vem explicar as coisas, sintetizando: se Portugal "não tem juízo, o FMI vai acabar por intervir com mão de ferro, depois de ter entrado na casa e na carteira dos gregos".
Um perigo, deixar os seniores falar, quando tanto se incensa a inovação (talvez devamos antes ser shakespeareanos: "se a velhice pudesse e a juventude soubesse...").
Na segunda entrevista, Otelo Saraiva de Carvalho declara-se "a leste" da ação do 25 de Novembro de 1975 e invoca conversas com Melo Antunes para dizer que:
- Melo Antunes se encontrou uma semana antes do 25 deNovembro com Alvaro Cunhal para que o PC não interviesse, porque o grupo dos nove pretendia acabar com a esquerda revolucionária, o que ficou acordado; efetivamente, o partido de Cunhal saiu bruscamente da "frente revolucionária" e Melo Antunes honrou o compromisso depois do seu triunfo;
- Melo Antunes foi "repreendido", como ministro dos negócios estrangeiros, em Maio de 1975, em Munique, por Gerald Ford e Henry Kiessinger, que lhe disseram que os USA e a Europa fariam um bloqueio económico total se Portugal evoluisse segundo uma revolução socialista com o PC no poder; efetivamente, houve na altura dificuldade em arranjar peças; lembro-me que não se vendiam cabos de embraiagem para vauxalls, e que a General Electric deixou de bobinar motores eléctricos para a Carris e o Metro, por falta de material importado.
Mas seria muito interessante se os historiadores pudessem confirmar isto, quanto mais não fosse para corrigr as versões um pouco romanceadas , "fulanizadas", parciais e subjetivas, que foram adotadas pelos discursos oficiais.
domingo, 21 de novembro de 2010
Cumprimentos aos paises ausentes
Felicitações ao DN pela cobertura feita à cimeira da NATO e pela liberdade de expressão, entre outros, do seu cartonista.
Cumprimentos aos paises ausentes da NATO: Austria,Finlandia,Irlanda,Servia,Suecia e Suiça.
Ainda bem que no país dos brandos costumes não parece ter havido danos pessoais.
Um grande lamento por o senhor secretário geral da NATO ter dito que "ficaremos no Afeganistão mesmo depois da transição" (da segurança pelas forças afegãs). Salvo melhor opinião, é assunto para decisão pelos cidadãos e cidadãs afegãs.
Cumprimentos aos paises ausentes da NATO: Austria,Finlandia,Irlanda,Servia,Suecia e Suiça.
Ainda bem que no país dos brandos costumes não parece ter havido danos pessoais.
Um grande lamento por o senhor secretário geral da NATO ter dito que "ficaremos no Afeganistão mesmo depois da transição" (da segurança pelas forças afegãs). Salvo melhor opinião, é assunto para decisão pelos cidadãos e cidadãs afegãs.
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O museu da musica
As senhoras dos senhores da cimeira foram conduzidas, num programa para acompanhantes, pela senhora ministra da Cultura.
Que as levou a uma demonstração equestre no museu dos Coches.
Pois claro, que é o que a cultura em Portugal tem para mostrar aos turistas, veja-se a prioridade dada ao Museu dos Coches na construção do novo edifício em Belém (“Deus sabe o que nos custou para que hoje estejamos aqui a lançar a primeira pedra”, disse o senhor primeiro ministro, invocando a suprema divindade como testemunha dos seus esforços e sacrifícios pela cultura, já há mais de um ano).
Talvez que Ricardo Pais achasse também aqui bem aplicado o adjetivo “frívola”, se aplicado à escolha.
E talvez achasse a classificação extensível à decisão de transferir o museu da Musica da estação de metro do Alto dos Moinhos para Évora, em 2014.
Antigamente criavam-se extensões dos museus, ou pólos regionais.
Agora parece que é bom transferir o museu todo.
Pena, perder o metropolitano de Lisboa esta infraestrutura cultural, que atraía muitas crianças através das escolas.
Pena não poder o Metropolitano aproveitar a volumetria das suas infraestruturas, resultante dos processos de escavação das estações, para atividades culturais.
Poder-se-ia pensar que vinha mesmo a propósito o fim do protocolo do metropolitano com o ministério da Cultura, em 2014, para ampliar o museu da musica, por exemplo no grande espaço da estação Amadora Este, onde se realizavam os festivais de banda desenhada.
Pena, mesmo, apagado e triste, com dizia Luís Vaz, este facto , talvez irreversivel, em consumação pelo ministério da cultura.
Não por causa de limitações de orçamento, mas por questões de opção.
São mais as opções do ministério da cultura e a forma não participada com que são tomadas que chocam os cidadãos como Ricardo Pais ou como eu.
E talvez não fosse difícil se nos entendêssemos sobre os conceitos.
Como disse Eduardo Lourenço, cultura é o que fica depois de nos libertarmos das necessidades imediatas da subsistência.
Então aceitemos isso, como no caso daquele concerto na Casa da Musica, em que o bilhete para o concerto propriamente dito custou 11 euros, mas se tivesse o jantar incluído custava 30 euros.
Talvez que, associando a restauração aos museus e às contribuições de apoiantes particulares, o museu da musica pudesse ficar numa ou duas estações de metropolitano, sem prejuízo de extensões em capitais de província.
Talvez.
Que as levou a uma demonstração equestre no museu dos Coches.
Pois claro, que é o que a cultura em Portugal tem para mostrar aos turistas, veja-se a prioridade dada ao Museu dos Coches na construção do novo edifício em Belém (“Deus sabe o que nos custou para que hoje estejamos aqui a lançar a primeira pedra”, disse o senhor primeiro ministro, invocando a suprema divindade como testemunha dos seus esforços e sacrifícios pela cultura, já há mais de um ano).
Talvez que Ricardo Pais achasse também aqui bem aplicado o adjetivo “frívola”, se aplicado à escolha.
E talvez achasse a classificação extensível à decisão de transferir o museu da Musica da estação de metro do Alto dos Moinhos para Évora, em 2014.
Antigamente criavam-se extensões dos museus, ou pólos regionais.
Agora parece que é bom transferir o museu todo.
Pena, perder o metropolitano de Lisboa esta infraestrutura cultural, que atraía muitas crianças através das escolas.
Pena não poder o Metropolitano aproveitar a volumetria das suas infraestruturas, resultante dos processos de escavação das estações, para atividades culturais.
Poder-se-ia pensar que vinha mesmo a propósito o fim do protocolo do metropolitano com o ministério da Cultura, em 2014, para ampliar o museu da musica, por exemplo no grande espaço da estação Amadora Este, onde se realizavam os festivais de banda desenhada.
Pena, mesmo, apagado e triste, com dizia Luís Vaz, este facto , talvez irreversivel, em consumação pelo ministério da cultura.
Não por causa de limitações de orçamento, mas por questões de opção.
São mais as opções do ministério da cultura e a forma não participada com que são tomadas que chocam os cidadãos como Ricardo Pais ou como eu.
E talvez não fosse difícil se nos entendêssemos sobre os conceitos.
Como disse Eduardo Lourenço, cultura é o que fica depois de nos libertarmos das necessidades imediatas da subsistência.
Então aceitemos isso, como no caso daquele concerto na Casa da Musica, em que o bilhete para o concerto propriamente dito custou 11 euros, mas se tivesse o jantar incluído custava 30 euros.
Talvez que, associando a restauração aos museus e às contribuições de apoiantes particulares, o museu da musica pudesse ficar numa ou duas estações de metropolitano, sem prejuízo de extensões em capitais de província.
Talvez.
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sexta-feira, 19 de novembro de 2010
O novo conceito da RATO
A RATO (redes atlânticas de transporte de obuses), perante a diminuição assombrosa de encomendas de obuses, foi forçada a rever o seu conceito operacional.
Durante alguns anos foi apertando um garrote aqui, em região distante dos membros da RATO, de modo a que a circulação das mercadorias nessa região sofresse limitações e o bem estar das populações também, aumentando o seu grau de inveja relativamente às regiões mais ricas, ou criando ali, noutra região longe da RATO ou nem por isso longe, dificuldades à obtenção de empréstimos, de modo a que as populações dessas regiões ficassem dependentes das economias dos membros mais fortes da RATO.
Num caso e noutro apareciam às vezes uns caudilhos dessas populações martirizadas, que até compravam obuses para as suas atividades, e que se arvoravam uns em justiceiros, mas que na realidade faziam como as vacinas, acabando por servirem como justificação para a existência da RATO, e outros em salvadores das pátrias.
E foi assim que a RATO desenvolveu o seu novo conceito, basicamente consistindo em assustar as populações dos seus membros, dizendo-lhes que estavam muito ameaçadas se não financiassem o aumento da produção de obuses. O problema do garrote acima falado e dos problemas financeiros não foi considerado por não ter nada que ver com a questão.
Para apresentar o novo conceito da RATO, foi alugado o Coliseu dos Recreios.
A apresentadora mais glamorosa da televisão portuguesa , com um vestido de uma grande estilista revelando generosas incompletudes, oficiou, aos gritos e com uns irritantes golpes de glote, à abertura das cortinas que revelaram o novo conceito.
Os convidados, todos vestidos de rigor, em impressionante monolitismo, estavam delirantes de admiração.
Parecia a apresentação do Edsel ou do Tucker, os novos modelos de automóveis do princípio do anos 50, em Detroit, quando o novo conceito da industria automóvel da época iniciou o percurso descendente dessa industria.
Mas os convidados no Coliseu gostaram muito, bateram muitas palmas e foram felizes para casa, dizendo muito mal de quem não gostasse daquele espetáculo.
E assim se separaram aquelas almas, até ao próximo (espetáculo).
Durante alguns anos foi apertando um garrote aqui, em região distante dos membros da RATO, de modo a que a circulação das mercadorias nessa região sofresse limitações e o bem estar das populações também, aumentando o seu grau de inveja relativamente às regiões mais ricas, ou criando ali, noutra região longe da RATO ou nem por isso longe, dificuldades à obtenção de empréstimos, de modo a que as populações dessas regiões ficassem dependentes das economias dos membros mais fortes da RATO.
Num caso e noutro apareciam às vezes uns caudilhos dessas populações martirizadas, que até compravam obuses para as suas atividades, e que se arvoravam uns em justiceiros, mas que na realidade faziam como as vacinas, acabando por servirem como justificação para a existência da RATO, e outros em salvadores das pátrias.
E foi assim que a RATO desenvolveu o seu novo conceito, basicamente consistindo em assustar as populações dos seus membros, dizendo-lhes que estavam muito ameaçadas se não financiassem o aumento da produção de obuses. O problema do garrote acima falado e dos problemas financeiros não foi considerado por não ter nada que ver com a questão.
Para apresentar o novo conceito da RATO, foi alugado o Coliseu dos Recreios.
A apresentadora mais glamorosa da televisão portuguesa , com um vestido de uma grande estilista revelando generosas incompletudes, oficiou, aos gritos e com uns irritantes golpes de glote, à abertura das cortinas que revelaram o novo conceito.
Os convidados, todos vestidos de rigor, em impressionante monolitismo, estavam delirantes de admiração.
Parecia a apresentação do Edsel ou do Tucker, os novos modelos de automóveis do princípio do anos 50, em Detroit, quando o novo conceito da industria automóvel da época iniciou o percurso descendente dessa industria.
Mas os convidados no Coliseu gostaram muito, bateram muitas palmas e foram felizes para casa, dizendo muito mal de quem não gostasse daquele espetáculo.
E assim se separaram aquelas almas, até ao próximo (espetáculo).
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quinta-feira, 18 de novembro de 2010
Ricardo Pais
Oiço na Antena 2 uma entrevista de Ricardo Pais, encenador.
A propósito da política cultural do governo não se acanha e classifica-a com todas as letras: frívola.
Reprova a ideia de fundir a gestão dos Teatros Nacionais de Lisboa e do Porto.
Que não está demonstrado que se ganhem poupanças.
Recusa a pretensão de que quem tem uma política cultural destas possa reclamar-se de herdeiro dos ideais de disponibilização da cultura à sociedade.
Subscrevo, até porque vejo nos programas PEC a fusão parcial da gestão do metro de Lisboa e do Porto.
Ficamos assim: quem tem o poder diz que tem de ser para poupar dinheiro; quem não tem o poder diz que vocês podem fazê-lo, mas o que fazem é frívolo e estouvado.
Tenho uma coisa em comum com Ricardo Pais.
Nascemos em 1945 e vivemos a primeira infância na Maceira, Leiria, a terra da fábrica de cimento que gerou o poder industrial de Henrique Sommer o qual serviu depois a António Champallimaud como base de expansão do seu.
É possível que a economia que se fazia na fábrica, nessa altura, mantendo desligado o captor eletrostático de partículas na chaminé e deixando que as partículas se espalhassem pela atmosfera e tornassem cinzentas as agulhas dos pinheiros, provocasse nos cérebros dos bébés tendência para afirmações radicais e, dizem os poderes estabelecidos e quem os apoia, provocatórias.
A propósito da política cultural do governo não se acanha e classifica-a com todas as letras: frívola.
Reprova a ideia de fundir a gestão dos Teatros Nacionais de Lisboa e do Porto.
Que não está demonstrado que se ganhem poupanças.
Recusa a pretensão de que quem tem uma política cultural destas possa reclamar-se de herdeiro dos ideais de disponibilização da cultura à sociedade.
Subscrevo, até porque vejo nos programas PEC a fusão parcial da gestão do metro de Lisboa e do Porto.
Ficamos assim: quem tem o poder diz que tem de ser para poupar dinheiro; quem não tem o poder diz que vocês podem fazê-lo, mas o que fazem é frívolo e estouvado.
Tenho uma coisa em comum com Ricardo Pais.
Nascemos em 1945 e vivemos a primeira infância na Maceira, Leiria, a terra da fábrica de cimento que gerou o poder industrial de Henrique Sommer o qual serviu depois a António Champallimaud como base de expansão do seu.
É possível que a economia que se fazia na fábrica, nessa altura, mantendo desligado o captor eletrostático de partículas na chaminé e deixando que as partículas se espalhassem pela atmosfera e tornassem cinzentas as agulhas dos pinheiros, provocasse nos cérebros dos bébés tendência para afirmações radicais e, dizem os poderes estabelecidos e quem os apoia, provocatórias.
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Ricardo Pais
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
Ficamos felizes por estarem em liberdade
Este blogue associa-se às manifestações de contentamento por ter sido liberto o casal Chandler, refens na Somália depois de terem sido raptados do seu veleiro perto das Seychelles.
Toda a libertação de qualquer cidadão que não esteja preso por motivo de crime comum é razão de regozijo, o que é aplicável por exemplo aos cidadãos cubanos recentemente libertos.
Mas no caso do casal Chandler há um fator que me impressiona, que é o da tremenda desigualdade entre a Somália e os paises em que existe um mínimo de organização de estado.
É que a pirataria é o sintoma disso, da desigualdade.
A desigualdade, como qualquer doença, é mais bem tratada na prevenção no que na repressão ou no remedeio.
E esta desigualdade faz ressaltar outro contraste, que só vem mostrar que o código genético une os humanos.
Parte do resgate foi recolhido graças ao esforço de musicos somalis em Londres e ao dinamismo de um motorista de taxi londrino de origem somali, e isso é motivo de confiança no futuro da Somália.
Como contraste, do outro lado, estiveram os governos que dizem com ar muito sério, para os ouvintes se convencerem de que têm muito sentido de estado: "não negociamos com terroristas" (o governo francês já deixou morrer refens por não querer negociar o resgate).
Ninguém quer negociar com, nem ninguém quer defender, justificar ou desculpar terroristas ou o que quer que seja, mesmo governos legalmente constituidos, que atropele os direitos consignados na declaração universal dos direitos do homem, e um deles é, sim, poder passear em paz ao largo das Seychelles.
Mas os terroristas e os raptores também se combatem com intermediação (recordados do caso da Irlanda do Norte?).
Era bom (neste ponto de vista, claro) que a linguagem belicista e fundamentadora dos grandes investimentos no complexo político-industrial-militar de que falava o presidente Eisenhower não predominasse tanto nestes tempos de cimeira da NATO e de incertezas económicas e financeiras.
Toda a libertação de qualquer cidadão que não esteja preso por motivo de crime comum é razão de regozijo, o que é aplicável por exemplo aos cidadãos cubanos recentemente libertos.
Mas no caso do casal Chandler há um fator que me impressiona, que é o da tremenda desigualdade entre a Somália e os paises em que existe um mínimo de organização de estado.
É que a pirataria é o sintoma disso, da desigualdade.
A desigualdade, como qualquer doença, é mais bem tratada na prevenção no que na repressão ou no remedeio.
E esta desigualdade faz ressaltar outro contraste, que só vem mostrar que o código genético une os humanos.
Parte do resgate foi recolhido graças ao esforço de musicos somalis em Londres e ao dinamismo de um motorista de taxi londrino de origem somali, e isso é motivo de confiança no futuro da Somália.
Como contraste, do outro lado, estiveram os governos que dizem com ar muito sério, para os ouvintes se convencerem de que têm muito sentido de estado: "não negociamos com terroristas" (o governo francês já deixou morrer refens por não querer negociar o resgate).
Ninguém quer negociar com, nem ninguém quer defender, justificar ou desculpar terroristas ou o que quer que seja, mesmo governos legalmente constituidos, que atropele os direitos consignados na declaração universal dos direitos do homem, e um deles é, sim, poder passear em paz ao largo das Seychelles.
Mas os terroristas e os raptores também se combatem com intermediação (recordados do caso da Irlanda do Norte?).
Era bom (neste ponto de vista, claro) que a linguagem belicista e fundamentadora dos grandes investimentos no complexo político-industrial-militar de que falava o presidente Eisenhower não predominasse tanto nestes tempos de cimeira da NATO e de incertezas económicas e financeiras.
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A conjetura de Partha Dasgupta, professor catedrático de economia em Oxford
Nestes tempos conturbados, de incertezas (o número e a complexidade das variáveis e das correlações entre elas ultrapassa a capacidade de processamento do cérebro humano, pelo que a incerteza é um estado normal) e de certezas (é vê-as todos os dias, na televisão), volto à conjetura de Partha Dasgupta, autor de “Economics, a very short introduction”, editora Oxford University Press, depois de explicar as razões económicas para a desigualdade entre as pessoas e os povos:
“a pobreza e a má qualidade de vida de muitos não são causadas pela dificuldade da quadratura do círculo, nem pela inexistência de regras eleitorais perfeitas, nem por os mercados de funcionamento ideal serem um mito, nem pelos governos de per si, porque eles são compostos e delegados por homens e mulheres; elas acontecem porque as pessoas e os povos ainda têm de aprender a viver uns com os outros”
É muito interessante ver um homem sábio, professor catedrático de economia em Oxford, mostrar a sua sensibilidade e humildade, apesar de catedrático de economia, apelando à compreensão e à tolerância.
E é capaz de ter razão, de até ser bom para a economia, nestes tempos de cimeira da NATO, com uns senhores cheios de certezas, muito seguros da superioridade da sua força e dos seus valores (uma das suas vozes até dizia há uns dias que há uns valores cristãos e germânicos que têm de ser aceites numa parte do território da Europa dos cidadãos), completamente surdos à voz de Gandhi, de Partha Dasgupta, e de alguns cidadãos insignificantes como eu ou, pelo menos, de expressão política insignificantemente minoritária, o que não quer dizer que o que dizemos seja insignificante.
“a pobreza e a má qualidade de vida de muitos não são causadas pela dificuldade da quadratura do círculo, nem pela inexistência de regras eleitorais perfeitas, nem por os mercados de funcionamento ideal serem um mito, nem pelos governos de per si, porque eles são compostos e delegados por homens e mulheres; elas acontecem porque as pessoas e os povos ainda têm de aprender a viver uns com os outros”
É muito interessante ver um homem sábio, professor catedrático de economia em Oxford, mostrar a sua sensibilidade e humildade, apesar de catedrático de economia, apelando à compreensão e à tolerância.
E é capaz de ter razão, de até ser bom para a economia, nestes tempos de cimeira da NATO, com uns senhores cheios de certezas, muito seguros da superioridade da sua força e dos seus valores (uma das suas vozes até dizia há uns dias que há uns valores cristãos e germânicos que têm de ser aceites numa parte do território da Europa dos cidadãos), completamente surdos à voz de Gandhi, de Partha Dasgupta, e de alguns cidadãos insignificantes como eu ou, pelo menos, de expressão política insignificantemente minoritária, o que não quer dizer que o que dizemos seja insignificante.
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Mais questões de manutenção - a perceção
A simpática rapariga interrompe-me a marcha.
Ter-me-á considerado de confiança para integrar uma amostra representativa.
Talvez porque transporto um saco de plástico de uma loja de brinquedos.
Que estão a fazer um inquérito para avaliação da perceção que os clientes do grande centro comercial têm do bem estar e do bom estado de funcionamento dos equipamentos do centro.
- Ah, sim, posso responder, que eu sou muito sensível a essas questões, então às de manutenção…
E é verdade, por isso respondi ao inquérito. Mais a mais porque tinha acabado de passar por uma escada mecânica e tinha visto uma situação singular.
Imaginem que se tinham solto duas daquelas placas que fazem de pente de receção dos dentes dos degraus ao fundo da escada. A gerência do centro deslocou para lá uma menina da segurança que avisava do perigo de tropeçar nas placas soltas e apontava para elas, sorridente.
De modo que fiquei a pensar se havia de achar bem, se mal.
Por um lado, as escadas do centro têm avariado mais do que antigamente.
Lá fariam a manutenção de noite e eu raramente via escadas paradas de dia.
Mas alguém terá achado que se tinha de poupar nos subsídios noturnos de quem fazia a manutenção.
E aumentar o período de revisão dos equipamentos também permitiria poupar nos quadros do pessoal ou nos contratos de assistência.
O facto é que tenho topado de vez em quando com escadas paradas, durante o dia, em plena manutenção. Sinal dos tempos. No meu tempo não era assim.
Mas por outro lado, tenho de achar bem que o gerente tenha posto lá a menina. A opção seria parar a escada e incomodar assim os clientes.
E com a avisadora, o risco de tropeçar e torcer o pé é reduzido e aceitável.
A menina avisadora ainda lá está…enquanto a menina do inquérito está a analisar os dados estatísticos com as respostas sobre a perceção.
Ter-me-á considerado de confiança para integrar uma amostra representativa.
Talvez porque transporto um saco de plástico de uma loja de brinquedos.
Que estão a fazer um inquérito para avaliação da perceção que os clientes do grande centro comercial têm do bem estar e do bom estado de funcionamento dos equipamentos do centro.
- Ah, sim, posso responder, que eu sou muito sensível a essas questões, então às de manutenção…
E é verdade, por isso respondi ao inquérito. Mais a mais porque tinha acabado de passar por uma escada mecânica e tinha visto uma situação singular.
Imaginem que se tinham solto duas daquelas placas que fazem de pente de receção dos dentes dos degraus ao fundo da escada. A gerência do centro deslocou para lá uma menina da segurança que avisava do perigo de tropeçar nas placas soltas e apontava para elas, sorridente.
De modo que fiquei a pensar se havia de achar bem, se mal.
Por um lado, as escadas do centro têm avariado mais do que antigamente.
Lá fariam a manutenção de noite e eu raramente via escadas paradas de dia.
Mas alguém terá achado que se tinha de poupar nos subsídios noturnos de quem fazia a manutenção.
E aumentar o período de revisão dos equipamentos também permitiria poupar nos quadros do pessoal ou nos contratos de assistência.
O facto é que tenho topado de vez em quando com escadas paradas, durante o dia, em plena manutenção. Sinal dos tempos. No meu tempo não era assim.
Mas por outro lado, tenho de achar bem que o gerente tenha posto lá a menina. A opção seria parar a escada e incomodar assim os clientes.
E com a avisadora, o risco de tropeçar e torcer o pé é reduzido e aceitável.
A menina avisadora ainda lá está…enquanto a menina do inquérito está a analisar os dados estatísticos com as respostas sobre a perceção.
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O banco suiço UBS
Hoje, mais um dia excecional em que não temos notícia de mais uma fraude ou comportamento deficiente da banca, vem no DN a frase de um porta voz de uma entidade mediática, a propósito de um banco suíço, o UBS, ter sido obrigado a revelar nomes de titulares com contas em off shores e com comportamento fraudulento:
“Estamos a perseguir ativamente vários bancos, empresários e consultores”.
Façamos um pequeno inquérito para avaliar a perceção das pessoas às ameaças.
Digo ameaças porque isto de andar a perseguir alguém, em dias de cimeira da NATO sem os Cougar terem chegado, é ameaçador.
Tentem descobrir a resposta certa à pergunta: quem disse isto?
A – um porta voz de Bin Laden
B- um porta voz de um dos dois maiores partidos portugueses
C – Francisco Louçã
D – um dirigente da PJ
E – Um procurador da PGR
F – o bastonário da ordem dos Economistas
G –um porta voz de um dos movimentos anti-cimeira da NATO
H – o ministro das finanças da Suiça
I – um funcionário do IRS dos USA
J – Alberto João Jardim
K – um funcionário do IRS da Jamaica
Poupemo-nos o trabalho do envio e da recolha das respostas.
A resposta certa é a sétima letra da primeira linha desta mensagem de blogue.
Mais informação, com a notícia original, em:
http://hosted2.ap.org/WZAB/f28cc4ac186b4036b3b4fa29caa6142b/Article_2010-11-16-US-UBS-Secrets/id-904ec60ec49d4e04ad6c0db666ae2ca7
“Estamos a perseguir ativamente vários bancos, empresários e consultores”.
Façamos um pequeno inquérito para avaliar a perceção das pessoas às ameaças.
Digo ameaças porque isto de andar a perseguir alguém, em dias de cimeira da NATO sem os Cougar terem chegado, é ameaçador.
Tentem descobrir a resposta certa à pergunta: quem disse isto?
A – um porta voz de Bin Laden
B- um porta voz de um dos dois maiores partidos portugueses
C – Francisco Louçã
D – um dirigente da PJ
E – Um procurador da PGR
F – o bastonário da ordem dos Economistas
G –um porta voz de um dos movimentos anti-cimeira da NATO
H – o ministro das finanças da Suiça
I – um funcionário do IRS dos USA
J – Alberto João Jardim
K – um funcionário do IRS da Jamaica
Poupemo-nos o trabalho do envio e da recolha das respostas.
A resposta certa é a sétima letra da primeira linha desta mensagem de blogue.
Mais informação, com a notícia original, em:
http://hosted2.ap.org/WZAB/f28cc4ac186b4036b3b4fa29caa6142b/Article_2010-11-16-US-UBS-Secrets/id-904ec60ec49d4e04ad6c0db666ae2ca7
terça-feira, 16 de novembro de 2010
Cougar
Segui a uma distância respeitosa a novela da aquisição por ajuste direto dos blindados para a cimeira da NATO. Motivos de urgência e de segurança foram invocados para um investimento de 5 milhões de euros para 6 blindados, para contornar as disposições legais do código de contratação pública.
Senti-me a dado passo repreendido por um senhor na televisão, explicando aos ignorantes que as viaturas blindadas não eram blindados, eram viaturas com proteção anti-balística, os Cougar, fabricados pela Force Protection.
Depois chamou-me a atenção a notícia de que não iriam chegar a tempo da cimeira as seis viaturas, talvez apenas duas. Mas que se não chegassem para a cimeira, para o que a polícia as quer é para entrar nos bairros problemáticos.
Sinto de repente o meu cérebro invadido pelas imagens do “Hair” de Milos Forman , a crucificação do soldado morto no Vietname pela insensibilidade dos políticos de Washington e um grande símbolo “make love, not war”. Recordo o que já escrevi em :
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2010/05/make-love-not-war-reflexao-na-leitura.html
Também me sinto sócio da empresa que importou os Cougar.
Não sócio de uma empresa comercial, mas de uma comunidade, isto é, contribuinte que elege representantes e delegados para gerirem a segurança da comunidade de cidadãos a que pertenço.
Mas de sócio transformam-me, com a argumentação que oiço na televisão e leio nos jornais, em vítima a ser protegido.
Sou idoso o suficiente para desconfiar do escuteiro que me quer atravessar para o outro lado da avenida, sempre sujeito a todas as ameaças de destruição mais ou menos maciça.
E também idoso o suficiente para identificar a falha da democracia que não me deixa, como cidadão, participar no debate da organização da segurança na comunidade.
Mas acredito, apesar de não suportar as ideias de planeamentos estropiados e de objetivos escondidos, que sim, que a polícia quer os Cougar para entrar nos bairros problemáticos, porque já aconteceu à entrada nesses bairros serem recebidos a tiro de armas de guerra e, certamente (eu escrevi este advérbio com um sentido trágico-irónico, mas se tiverem a paciência por mim imerecida de me seguirem, compreenderão), um dia destes encontrarão minas e explosivos no seu caminho.
Deixemos a cimeira, interessa-me a segurança nos tais bairros problemáticos, numa altura em que as promessas dos contratos de segurança de bairro e do conceito de policiamento de proximidade se esbatem.
Porque já há muitos anos, quando a criminalidade cresceu nos operadores de transportes urbanos, propus que o investimento em câmaras de videovigilância saísse do orçamento do ministério da administração interna e não das empresas de transporte.
Defendi também que esses mesmos operadores deveriam participar nas politicas de prevenção ao mais alto nível, incluindo o apoio ao sistema escolar (não verbas apenas para o policiamento das escolas, mas medidas para melhorar o controle financeiro e educacional pelos encarregados de educação dos alunos do primeiro ciclo, que é a falta desse controle que determina o insucesso escolar).
Mas eram utopias e o que era necessário era descredibilizar os professores, o que foi eficazmente feito com o apoio dos meios de comunicação social.
Vá que a criminalidade não se agravou desde então, possivelmente porque a cidade desertificou e os municípios adjacentes de Lisboa viram os seus meios de apoio aos bairros problemáticos e de contenção reforçados, embora fale sem conhecimento dos dados reais, que deveriam ser recolhidos em inquéritos estatísticos.
Então procuro informações sobre os Cougar, para entender o que são e para que servem.
A Internet mostra-me o Cougar como nome em inglês do puma, ou leão da montanha, um bicho simpático na natureza mas que já tem provocado acidentes fatais nos parques e reservas naturais dos USA .
Segue-se a informação sobre o Ford Cougar, um coupé americano dos fins dos anos 90, sobre a plataforma do Ford Mondeo. Era um modelo maior do que o Ford Puma, fabricado na Ford alemã e propagandeado por Steve McQueen. Não tem este Cougar nada a ver com as viaturas com proteção anti-balística.
E muito menos tem a aceção seguinte de Cougar, que vejo num artigo da Wikipédia sobre a disparidade , ou desacerto de idades no relacionamento entre dois parceiros sexuais. Imaginem que existia um “site” de encontros no Canada denominado Cougardate. E que predominaram nesse “site” os encontros entre jovens senhoras de 30 e tal anos e rapazinhos de 18. Daí passarem a designar-se as senhoras balzaquianas, em inglês dos USA, por Cougar.
Donde, chamar Cougar, quando este nome está associado à plenitude da mulher, organismo supremo dos mecanismos da evolução, a um veículo com proteção anti-balística, parece de razoável mau gosto. Mas foi o nome com que a Force Protection, Armored military vehicles, Ladson, South Carolina, batizou os veículos que foram substituir os Humvee no Iraque e no Afeganistão.
Ah, porque afinal vem a saber-se que o objetivo da criação dos Cougar foi o de entrar nos bairros problemáticos do Iraque e do Afeganistão, oferecendo proteção aos militares contra a explosão de minas e contra o tiro de armas de guerra das emboscadas. Por uma portinhola das traseiras pode sair um EOD (explosive ordinance disposal), que é um robot que por telecomando pode desenterrar e desativar a mina (como se viu no Hurt Locker). Afinal, como dizia a cantiga, havia outra viatura. Quando o Hurt Locker ganhou o Óscar, já o Cougar tinha substituído o Humvee do filme. Progressos, agora extensíveis à nossa polícia, enquanto a Force Protection não conclui o processo de desenvolvimento de um novo blindado ligeiro (perdão, de uma nova viatura ligeira com proteção anti-balística), o Ocelot, só disponível em 2011. Dava mais jeito, para os bairros problemáticos com ruas estreitinhas… (estas guerras ganham-se com escolas e com empregos, não com cruzadas; pensem em Gandhi e na roca da bandeira da União indiana).
Por uma questão histórica, não posso deixar de recordar as Berliet do Tramagal, que faziam a função de aguentar o rebentamento das minas.
Sinceramente, não gosto desta história.
Não gosto que não seja dada oportunidade a cidadãos de pensar de maneira diferente da que a nossa polícia nos quer fazer pensar.
Por isso lhes dedico esta frase de Noam Chomsky, norte-americano: «A forma inteligente de manter as pessoas passivas e obedientes é limitar o espectro da opinião aceitável, mas estimular muito intensamente o debate dentro daquele espectro… Isto dá às pessoas a sensação de que o pensamento livre está pujante, e ao mesmo tempo os pressupostos do sistema são reforçados através desses limites impostos à amplitude do debate».
http://www.forceprotection.net/products/cougar_4x4/
Sobre situações de guerra com portugueses, com intervenção das Berliet, ver um hurt locker em Moçambique, nos anos 70:
PS - Segndo informção posteriores, a verba de 5 milhões de euros envolve mais equipamentos, sendo o preço unitário dos Cougar cerca de 250.000 euros, já pintados de azul.
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
Viva a Republica
Não consigo acompanhar o ritmo intenso da nossa vida pública.
Mais um defeito meu.
Por isso deixei passar as comemorações da Republica.
Mas vou tentar compensar mostrando este quadrinho com as caricaturas dos presidentes da I Republica até 1925 (o que quer dizer que o caricaturista fez muito bem em não ter incluido os presidentes do desgraçado ano de 1926 porque já não pertenceram à I Republica).
E vou juntar uma pequena informação retirada do livro "Os donos de Portugal", de J.Costa, L.Fazenda, C.Honório, F.Louçã e F.Rosas, ed.Afrontamento: o crescimento médio anual do PIB per capita em Portugal foi, de 1913 a 1929, de 1,4%; e de 1929 a 1939 foi de 0,4%.
Afinal, a I Republica, com todas as suas debilidades, conseguiu fazer crescer a economia, seguindo-se, até à II Grande Guerra, um período de estagnação, de que se saiu graças à guerra.
Viva a Republica.
Mais um defeito meu.
Por isso deixei passar as comemorações da Republica.
Mas vou tentar compensar mostrando este quadrinho com as caricaturas dos presidentes da I Republica até 1925 (o que quer dizer que o caricaturista fez muito bem em não ter incluido os presidentes do desgraçado ano de 1926 porque já não pertenceram à I Republica).
E vou juntar uma pequena informação retirada do livro "Os donos de Portugal", de J.Costa, L.Fazenda, C.Honório, F.Louçã e F.Rosas, ed.Afrontamento: o crescimento médio anual do PIB per capita em Portugal foi, de 1913 a 1929, de 1,4%; e de 1929 a 1939 foi de 0,4%.
Afinal, a I Republica, com todas as suas debilidades, conseguiu fazer crescer a economia, seguindo-se, até à II Grande Guerra, um período de estagnação, de que se saiu graças à guerra.
Viva a Republica.
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sábado, 13 de novembro de 2010
Planeamento e gente estranha
Como disse o embaixador de Filipe II de Espanha quando regressou de Lisboa, aonde tinha ido apresentar a candidatura de Filipe ao trono de Portugal, e apresentou o seu relatório ao rei - os portugueses são uma gente estranha - assim o embaixador marroquino talvez tenha escrito o mesmo no seu email para Rabat dando conta da sua visita às obras do metropolitano.
Que os portugueses tinham feito uma obra bonita, demonstrando a sua capacidade para fazerem a linha do TGV entre Tanger e Casablanca, na nova linha de metropolitano para o aeroporto de Lisboa. Mas que o aeroporto iria sair dali. Daí talvez o embaixador achar que os portugueses são gente estranha.
Embora talvez sejam mais estranhos, não por haver um projeto para o aeroporto sair de um local depois de ter servido de fundamentação para a aprovação do traçado de uma nova linha de metropolitano. Mas porque muitos portugueses dizem agora com candura que talvez o aeroporto não saia dali.
Talvez não saia, mas é uma pena, depois de todo aquele processo, e depois dos lisboetas que ainda moram em Lisboa terem suportado tanto o ruido ilegal de aproximação dos aviões à pista.
Estranha, muito estranha gente a que diz isto (o que não significa nenhum elogio para Filipe II de Espanha ou para os eventuais clientes marroquinos das obras do TGV ).
Porque se combinam as coisas e depois se descombinam, com o mais completo desprezo por um conceito: planeamento. Problema de conceito, pois.
PS - Correção: Filipe II de Espanha, e não I.
Que os portugueses tinham feito uma obra bonita, demonstrando a sua capacidade para fazerem a linha do TGV entre Tanger e Casablanca, na nova linha de metropolitano para o aeroporto de Lisboa. Mas que o aeroporto iria sair dali. Daí talvez o embaixador achar que os portugueses são gente estranha.
Embora talvez sejam mais estranhos, não por haver um projeto para o aeroporto sair de um local depois de ter servido de fundamentação para a aprovação do traçado de uma nova linha de metropolitano. Mas porque muitos portugueses dizem agora com candura que talvez o aeroporto não saia dali.
Talvez não saia, mas é uma pena, depois de todo aquele processo, e depois dos lisboetas que ainda moram em Lisboa terem suportado tanto o ruido ilegal de aproximação dos aviões à pista.
Estranha, muito estranha gente a que diz isto (o que não significa nenhum elogio para Filipe II de Espanha ou para os eventuais clientes marroquinos das obras do TGV ).
Porque se combinam as coisas e depois se descombinam, com o mais completo desprezo por um conceito: planeamento. Problema de conceito, pois.
PS - Correção: Filipe II de Espanha, e não I.
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Erros de gestão, de projeto e de manutenção, e o desmoronamento da casa dos gladiadores de Pompeia
Caro José Bagarrão
Por falta de espaço nos comentários à mensagem "Carta ao diretor geral da minha empresa", aqui respondo ao seu comentário:
Então estamos mesmo perante um problema de manutenção. E não só, um problema de gestão, ao nível mais alto dos decisores, e um problema de projeto. Tentemos analisar cada um dos tipos.
Problema de manutenção
Risco, ou a combinação da probabilidade de ocorrência de um acidente (para um dado critério de manutenção, se estamos a analisar questões de manutenção) com a gravidade das consequências desse acidente. Definido nível dessa combinação, os decisores aceitam ou não esse nível de risco em função do que custa eliminá-lo (não querem correr o risco) ou atenuá-lo (suportam algum risco).
Vale a pena à administração de um prédio do centro de Lisboa gastar 150.000 euros para substituir uma série de painéis de vidro cuja fixação exige um rigoroso cumprimento do procedimento de montagem e de verificação periódica?
Imaginemos que a fiscalização conseguiu garantir que todas as peças do kit de montagem (ai, desculpe, do conjunto de montagem) foram corretamente montadas; não basta, agora é necessário que periodicamente a equipa de manutenção vá verificar o binário de aperto; e mais, que não exagerem no aperto, porque se exagerarem, sujeito às dilatações das variações de temperatura, o vidro poderá fendilhar.
Durante uns meses largos puderam ver-se numa rua ao Saldanha vedações provisórias que impediam o estacionamento por baixo dos painéis ameaçadores.
Até que a administração do prédio fez as contas, ponderou a probabilidade de convergência de todos os fatores conducentes à queda e combinou com o cálculo das indemnizações e o tempo da sua amortização.
Claramente suportável, gritou triunfante o gestor, e as vedações saíram da rua ao Saldanha.
E na verdade, já foi isto há uns anos, ainda nenhum painel caiu, nem de pedra nem de vidro, “je touche le bois”.
Onde se falhou aqui? Na minha opinião de ignorante, na decisão provinciana de, numa região sísmica e mediterrânica, ter fachadas de revestimento de pedra e de vidro (curioso, é a mesma opinião do arquiteto Ribeiro Teles). Erro de gestão? Erro de projeto? Erro de manutenção?
Problema de gestão
Valeu a pena à companhia de aviação Pulkovo poupar dinheiro na revisão dos reatores do avião às 5.000 horas quando o intervalo recomendado pelo fabricante é de 2500 horas? Deixe-me batizar de coeficiente Pulkovo a relação entre o numero de horas do intervalo recomendado e o numero de horas sem manutenção ao fim das quais o avião cai : 2500/9000 = 0,278 .
Pode ter sido um erro de gestão, que pode ter sido: revejam a 0,5 ;, o que foi um erro porque, de per si, o fator 0,5 não provocava o acidente, isso só aconteceria por sobreposição de outros erros; mas sobrepôs-se um erro de exploração: deixaram passar as 5.000 horas e não avisaram a manutenção; sobrepôs-se um erro (ou omissão) de manutenção e atingiram-se as 9.000 horas fatais. É por isso que o fabricante recomenda 2.500 horas.
Mas podem voar com segurança 5.000 horas. 9.000 horas é que não. E o risco aqui é aparecerem decisores a fixar em 5.000 o intervalo. Inocentemos aqui o projetista.
Demos um salto a Itália, às ruínas de Pompeia. As infraestruturas romanas da época de Vitruvius não podem ser acusadas de erros de projeto. Os pilares das pontes viram proas de barco para montante para que os pilares não se descalcem. As dolomites vulcânicas ainda resistem à chuva nas juntas das pedras.
Mas não resistiram ao sismo que antecedeu a erupção de 79 DC. Menos resistiram ao ataque da aviação norte-americana que as bombardeou em 1943 (bárbaros, só comparável à destruição parcial do museu de Bagdad em 2003 – é o que eu quero dizer quando falo na conjetura do cantoneiro e na falta de cultura que por aí vai). E ainda menos está agora a resistir ao ataque (ou da omissão, ou do pacto com a ganância dos senhores das obras) do ministério da Cultura italiano. Lá como cá. Que encomendou uma reparação defeituosa das paredes da casa dos gladiadores, que se desmoronou no seguimento das ultimas chuvadas. O cimento aplicado pela equipas selecionadas na era das tecnologias avançadas não fez o que as dolomites vulcânicas normalizadas por Vitruvius fizeram em 2000 anos nas pontes romanas e nas termas de Caracala. Deixou que a casa dos gladiadores, não porque morassem lá os gladiadores, mas porque os frescos que de lá foram para o museu representavam gladiadores. Erro de projeto não foi, foi erro de gestão, porque se o operário que aplicou mal o cimento podia não saber como deveria proceder, alguém no circuito deveria saber.
Erro de projeto
Deixa-me preocupado quando fala nos erros de projeto, porque de facto estamos muito sujeitos a eles.
É que é costume, na cerimónia de corta-fitas nas inaugurações, tantas vezes em período eleitoral, serem os projetistas incensados. Nem se fala das falhas dos projetos. Nem se fala do esforço coletivo de quem antes e durante a obra tentou compensar as ditas falhas. Também não me parece haver muito conhecimento da matéria (claro que conhecimento é mais bonito do que “skills” ou “know-how”) por parte de quem incensa e de quem contratou projetistas de renome, que desenvolvem os seus projetos com grande insensibilidade relativamente a quem depois vai fazer a manutenção daquelas infraestruturas.
Quando me falam assim, de erros de projeto, lembro-me sempre do grande arquiteto Calatrava, quando na cerimónia de assinatura do contrato para ampliação da gare do Oriente para receber o TGV, sem concurso publico, confessou os erros do projeto original que não iria agora repetir.
Claro, legalmente pode isentar-se de concurso público quem faz uma ampliação, por razões de direitos de autor; mas quem precisa de ampliar quando se podia fazer uma infraestrutura para o TGV independente, com a vantagem de “fugir” à presença incómoda da estação de metro mesmo por baixo, na vertical da ampliação? – que falta de visão integrada.
Diga-me, por favor, como podíamos ter evitado os erros de Calatrava, com aquela cobertura que deixa o noroeste em dias de chuva descer até aos cais (coitados dos passageiros, recolhidos na sala de espera um piso abaixo, a ter de correr escada rolante acima quando sentem o comboio na Centeeira).
Deixe-me citar-lhe uma troca de palavras numa reunião de obra durante a discussão dos projetos da gare do Oriente e da estação do metropolitano: Santiago Calatrava: Sabe quem eu sou? Yo soy Calatrava, e o interlocutor: e eu sou o diretor de Exploração. Mas vingou o erro de Calatrava.
Como pode, assim limitado pelas linhas de orientação superiormente definidas, um técnico convencer o projetista de que está a laborar em erro, sem ter ao seu dispor os mecanismos descritos na “Sabedoria das multidões “ de James Surowiecky?
Comentário final
Receio que alguém possa interpretar algumas passagens do seu comentário como falta de confiança, sua ou minha, em alguns executantes das tarefas de manutenção das nossas redes de transportes. Devo reiterar a minha confiança nos técnicos de manutenção que no último ano desempenharam as suas tarefas nos nossos operadores de transportes, muitas vezes sem os meios para isso e outras vezes sendo preteridos pelo recurso a contratação exterior, com as pechas burocráticas e os riscos de sujeição a entidades que privilegiam o lucro em detrimento do bem estar da comunidade. Apenas chamei a atenção para que, se os técnicos qualificados ficaram em Houston ou em San Diego, e não embarcaram na Deepwater ou no Carnival Splendor, os técnicos que lá estavam foram vítimas e não responsáveis. Como diz, erros de gestão.
Porém, a conclusão do seu comentário tem a minha admiração e peço licença para utilizar a sua frase, perfeitamente integrável no espírito do “Sabedoria das multidões” de James Surowiecky: “O trabalho em equipa – projectistas, técnicos de manutenção – …é a única forma de poder reduzir a probabilidade de acidentes.”
Por falta de espaço nos comentários à mensagem "Carta ao diretor geral da minha empresa", aqui respondo ao seu comentário:
Então estamos mesmo perante um problema de manutenção. E não só, um problema de gestão, ao nível mais alto dos decisores, e um problema de projeto. Tentemos analisar cada um dos tipos.
Problema de manutenção
Risco, ou a combinação da probabilidade de ocorrência de um acidente (para um dado critério de manutenção, se estamos a analisar questões de manutenção) com a gravidade das consequências desse acidente. Definido nível dessa combinação, os decisores aceitam ou não esse nível de risco em função do que custa eliminá-lo (não querem correr o risco) ou atenuá-lo (suportam algum risco).
Vale a pena à administração de um prédio do centro de Lisboa gastar 150.000 euros para substituir uma série de painéis de vidro cuja fixação exige um rigoroso cumprimento do procedimento de montagem e de verificação periódica?
Imaginemos que a fiscalização conseguiu garantir que todas as peças do kit de montagem (ai, desculpe, do conjunto de montagem) foram corretamente montadas; não basta, agora é necessário que periodicamente a equipa de manutenção vá verificar o binário de aperto; e mais, que não exagerem no aperto, porque se exagerarem, sujeito às dilatações das variações de temperatura, o vidro poderá fendilhar.
Durante uns meses largos puderam ver-se numa rua ao Saldanha vedações provisórias que impediam o estacionamento por baixo dos painéis ameaçadores.
Até que a administração do prédio fez as contas, ponderou a probabilidade de convergência de todos os fatores conducentes à queda e combinou com o cálculo das indemnizações e o tempo da sua amortização.
Claramente suportável, gritou triunfante o gestor, e as vedações saíram da rua ao Saldanha.
E na verdade, já foi isto há uns anos, ainda nenhum painel caiu, nem de pedra nem de vidro, “je touche le bois”.
Onde se falhou aqui? Na minha opinião de ignorante, na decisão provinciana de, numa região sísmica e mediterrânica, ter fachadas de revestimento de pedra e de vidro (curioso, é a mesma opinião do arquiteto Ribeiro Teles). Erro de gestão? Erro de projeto? Erro de manutenção?
Problema de gestão
Valeu a pena à companhia de aviação Pulkovo poupar dinheiro na revisão dos reatores do avião às 5.000 horas quando o intervalo recomendado pelo fabricante é de 2500 horas? Deixe-me batizar de coeficiente Pulkovo a relação entre o numero de horas do intervalo recomendado e o numero de horas sem manutenção ao fim das quais o avião cai : 2500/9000 = 0,278 .
Pode ter sido um erro de gestão, que pode ter sido: revejam a 0,5 ;, o que foi um erro porque, de per si, o fator 0,5 não provocava o acidente, isso só aconteceria por sobreposição de outros erros; mas sobrepôs-se um erro de exploração: deixaram passar as 5.000 horas e não avisaram a manutenção; sobrepôs-se um erro (ou omissão) de manutenção e atingiram-se as 9.000 horas fatais. É por isso que o fabricante recomenda 2.500 horas.
Mas podem voar com segurança 5.000 horas. 9.000 horas é que não. E o risco aqui é aparecerem decisores a fixar em 5.000 o intervalo. Inocentemos aqui o projetista.
Demos um salto a Itália, às ruínas de Pompeia. As infraestruturas romanas da época de Vitruvius não podem ser acusadas de erros de projeto. Os pilares das pontes viram proas de barco para montante para que os pilares não se descalcem. As dolomites vulcânicas ainda resistem à chuva nas juntas das pedras.
Mas não resistiram ao sismo que antecedeu a erupção de 79 DC. Menos resistiram ao ataque da aviação norte-americana que as bombardeou em 1943 (bárbaros, só comparável à destruição parcial do museu de Bagdad em 2003 – é o que eu quero dizer quando falo na conjetura do cantoneiro e na falta de cultura que por aí vai). E ainda menos está agora a resistir ao ataque (ou da omissão, ou do pacto com a ganância dos senhores das obras) do ministério da Cultura italiano. Lá como cá. Que encomendou uma reparação defeituosa das paredes da casa dos gladiadores, que se desmoronou no seguimento das ultimas chuvadas. O cimento aplicado pela equipas selecionadas na era das tecnologias avançadas não fez o que as dolomites vulcânicas normalizadas por Vitruvius fizeram em 2000 anos nas pontes romanas e nas termas de Caracala. Deixou que a casa dos gladiadores, não porque morassem lá os gladiadores, mas porque os frescos que de lá foram para o museu representavam gladiadores. Erro de projeto não foi, foi erro de gestão, porque se o operário que aplicou mal o cimento podia não saber como deveria proceder, alguém no circuito deveria saber.
Erro de projeto
Deixa-me preocupado quando fala nos erros de projeto, porque de facto estamos muito sujeitos a eles.
É que é costume, na cerimónia de corta-fitas nas inaugurações, tantas vezes em período eleitoral, serem os projetistas incensados. Nem se fala das falhas dos projetos. Nem se fala do esforço coletivo de quem antes e durante a obra tentou compensar as ditas falhas. Também não me parece haver muito conhecimento da matéria (claro que conhecimento é mais bonito do que “skills” ou “know-how”) por parte de quem incensa e de quem contratou projetistas de renome, que desenvolvem os seus projetos com grande insensibilidade relativamente a quem depois vai fazer a manutenção daquelas infraestruturas.
Quando me falam assim, de erros de projeto, lembro-me sempre do grande arquiteto Calatrava, quando na cerimónia de assinatura do contrato para ampliação da gare do Oriente para receber o TGV, sem concurso publico, confessou os erros do projeto original que não iria agora repetir.
Claro, legalmente pode isentar-se de concurso público quem faz uma ampliação, por razões de direitos de autor; mas quem precisa de ampliar quando se podia fazer uma infraestrutura para o TGV independente, com a vantagem de “fugir” à presença incómoda da estação de metro mesmo por baixo, na vertical da ampliação? – que falta de visão integrada.
Diga-me, por favor, como podíamos ter evitado os erros de Calatrava, com aquela cobertura que deixa o noroeste em dias de chuva descer até aos cais (coitados dos passageiros, recolhidos na sala de espera um piso abaixo, a ter de correr escada rolante acima quando sentem o comboio na Centeeira).
Deixe-me citar-lhe uma troca de palavras numa reunião de obra durante a discussão dos projetos da gare do Oriente e da estação do metropolitano: Santiago Calatrava: Sabe quem eu sou? Yo soy Calatrava, e o interlocutor: e eu sou o diretor de Exploração. Mas vingou o erro de Calatrava.
Como pode, assim limitado pelas linhas de orientação superiormente definidas, um técnico convencer o projetista de que está a laborar em erro, sem ter ao seu dispor os mecanismos descritos na “Sabedoria das multidões “ de James Surowiecky?
Comentário final
Receio que alguém possa interpretar algumas passagens do seu comentário como falta de confiança, sua ou minha, em alguns executantes das tarefas de manutenção das nossas redes de transportes. Devo reiterar a minha confiança nos técnicos de manutenção que no último ano desempenharam as suas tarefas nos nossos operadores de transportes, muitas vezes sem os meios para isso e outras vezes sendo preteridos pelo recurso a contratação exterior, com as pechas burocráticas e os riscos de sujeição a entidades que privilegiam o lucro em detrimento do bem estar da comunidade. Apenas chamei a atenção para que, se os técnicos qualificados ficaram em Houston ou em San Diego, e não embarcaram na Deepwater ou no Carnival Splendor, os técnicos que lá estavam foram vítimas e não responsáveis. Como diz, erros de gestão.
Porém, a conclusão do seu comentário tem a minha admiração e peço licença para utilizar a sua frase, perfeitamente integrável no espírito do “Sabedoria das multidões” de James Surowiecky: “O trabalho em equipa – projectistas, técnicos de manutenção – …é a única forma de poder reduzir a probabilidade de acidentes.”
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sexta-feira, 12 de novembro de 2010
Mateus, Associados e os limites da cidade de Lisboa
Saltou-me à vista a afirmação do principal consultor de Mateus, Associados, dando o seu parecer sobre a eventual reforma administrativa de Lisboa com o alargamento dos limites da cidade.
Quando antes tantas mentes brilhantes e altamente conceituadas se pronunciaram sobre questões estratégicas de Lisboa e se esqueceram de referir a necessidade imperiosa de redefinir os limites do município e de agregar municipalidades, saúdo este parecer.
Espero que, agora que para falar disto não são apenas os ignorantes como eu, que se considere entre as medidas contra a desertificação do centro de Lisboa o alargamento dos limites do município. Já Jorge Coelho tinha falado nisso.
Será tão difícil de aceitar pelos eleitores esta linha de orientação? Podia falar-se mais do exemplo de Londres, por exemplo.
A ver tambem se se começa a falar mais da outra grande questão estratégica, mas numa perspetiva de técnicos, não mediática: a reformulação das zonas ribeirinhas da margem direita e da margem esquerda, com o alargamento do "aterro" do século XIX, o salvamento de Alcantara, a recuperação da margem esquerda em Almada e o fecho da Golada.
Não é para gastar dinheiro já, nem para convidar arquitetos ilustres a virem projetar urbanizações de luxo com vistas para o Tejo, era só para começar a falar-se no projeto com visão integrada.
Quando antes tantas mentes brilhantes e altamente conceituadas se pronunciaram sobre questões estratégicas de Lisboa e se esqueceram de referir a necessidade imperiosa de redefinir os limites do município e de agregar municipalidades, saúdo este parecer.
Espero que, agora que para falar disto não são apenas os ignorantes como eu, que se considere entre as medidas contra a desertificação do centro de Lisboa o alargamento dos limites do município. Já Jorge Coelho tinha falado nisso.
Será tão difícil de aceitar pelos eleitores esta linha de orientação? Podia falar-se mais do exemplo de Londres, por exemplo.
A ver tambem se se começa a falar mais da outra grande questão estratégica, mas numa perspetiva de técnicos, não mediática: a reformulação das zonas ribeirinhas da margem direita e da margem esquerda, com o alargamento do "aterro" do século XIX, o salvamento de Alcantara, a recuperação da margem esquerda em Almada e o fecho da Golada.
Não é para gastar dinheiro já, nem para convidar arquitetos ilustres a virem projetar urbanizações de luxo com vistas para o Tejo, era só para começar a falar-se no projeto com visão integrada.
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quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Carta ao diretor geral da minha empresa
I wonder, como dizem os anglo-saxónicos, se não temos aqui um tema de manutenção.
A fotografia é do Carnival Splendor, um navio de cruzeiros para 3.000 passageiros e 1000 tripulantes, que ficou sem energia no inicio do cruzeiro e teve de ser rebocado. 3000 pessoas sem água nem ar condicionado num espaço fechado.
Diz o senhor presidente da Carnival, possivelmente no seguimento de informação dada pelo seu diretor geral: nunca nos tinha acontecido.
Não é verdade. Aos navios da Carnival não aconteceu, mas ainda há 2 meses um navio de cruzeiros ficou sem energia entre a Madeira e as Canárias.
E então ai está a hipótese (a conjetura do cantoneiro que se reformou e agora ninguém corta os ramos das árvores que tapam o sinal rodoviário) : houve evolução nas estratégias de manutenção; agora tudo está informatizado e não é preciso ir pessoal qualificado a bordo; faz-se tele-vigilancia, põe-se um centro de manutenção em San Diego e monitorizam-se todos os equipamentos no Splendor, até rebentar a casa das máquinas (uma cambota que se partiu… partiu-se uma cambota?! O que é isto?). Sabia que a plataforma Deepwater estava em e-drilling? Que o pessoal que estava a bordo no golfo do México não tinha “skills” para avaliar o risco que corria enquanto os senhorinhos do centro de manutenção a distancia em Houston controlavam tudo?
Mas que importa? Só rebentou uma plataforma petrolífera no ultimo ano, só ficaram sem energia dois navios de cruzeiro no ultimo ano, só rebentou um dos motores de dois A 380 no ultimo ano. Que é isso, comparado com a produção total?
Ai meu caro diretor geral, o que a conjetura do cantoneiro diz é simples: que é tudo uma falta de cultura que anda por aí na manutenção.
Carta a um jovem arquiteto
O jovem e impetuoso arquiteto andava orgulhoso.
Tinha recebido diretamente da alta direção da empresa a incumbência do projeto de uma das novas estações e a coordenação da integração dos projetos que os colegas das especialidades iriam desenvolver.
Mas a estação inseria-se num empreendimento mais abrangente e era preciso conhecer o andamento do projeto da estação para o integrar no planeamento do empreendimento.
Era também importante que os projetistas observassem as normas de contenção que pacientemente tínhamos atualizado.
Por isso se faziam as reuniões gerais de coordenação e de ponto de situação do planeamento, a que o jovem e impetuoso arquiteto não gostava de ir, pois se era muito mais gratificante dizer de viva voz à alta direção sem registo, que tudo ia bem…sem ter de aturar curiosos que nada sabiam do trabalho de um arquiteto ilustre…
E por isso lhe enviei a missiva seguinte.
Caro Arquitecto
Acredite que os seus colegas arquitectos, com quem tenho trabalhado em ligação directa que está prestes a terminar, com alguma pena minha e algum alívio dos arquitectos, me ensinaram muito.
Infelizmente não poderei dizer que aprendi o que me ensinaram, por manifesta incapacidade minha.
Porém, todos os processos neste mundo e neste nossa empresa em mudanças, são inter-activos, multi-direccionais e em ambos os sentidos e por isso espero ter transmitido algo de útil para o trabalho futuro dos arquitectos que agora se vêm libertos de mim.
Ninguém é detentor do verdadeiro método a seguir, nem pode (nem deve) ter a pretensão de chegar sozinho a uma solução melhor do que a resultante do esforço colectivo.
Porém, ou por isso mesmo, alguns de nós buscam métodos ou procedimentos que outros já testaram e passaram a texto de norma ou de padrão.
Estranhará o Arquitecto uma missiva assim iniciada.
Tranquilize-se, porque nas mudanças que se avizinham foi-me retirado qualquer vínculo institucional com a equipa de projecto da sua estação (aliás nunca houve vínculo institucional entre mim e o Arquitecto) e portanto o que lhe escrevo é já apenas como cidadão ou colega de empresa.
Tranquilize-se também porque não venho argumentar com base em concepções minhas sobre trabalho (que não posso garantir que sejam as mais correctas), as quais divergem de facto num ou noutro ponto das conceções do Arquitecto (que não poderá também garantir que sejam as mais correctas), embora pense que as divergências são mínimas, apenas empoladas por conceitos também diferentes sobre a caraterização das nossas especializações profissionais.
Como escrevi acima, tenho esperança de que alguma coisa de útil transmiti aos arquitectos com quem agora deixo de trabalhar, nomeadamente na necessidade de integração em equipa com os outros técnicos e à necessidade de os contactar constantemente, com vista a objectivos bem definidos, com atenção constante aos obstáculos burocráticos institucionalizados e aos passos necessários a dar para os ultrapassar, com uma visão integrada das disciplinas envolvidas, registando a “história” do processo, nunca deixando o assunto “morrer” e combatendo sempre o arrastar dos prazos, muitas vezes trabalhando em hipóteses, mas trabalhando, isto é, nunca ficando à espera do que as burocracias se encarregam de não deixar chegar, e sabendo apresentar as propostas conforme as burocracias precisam para dar resposta.
Digo as burocracias, ou, neste caso sem carga pejorativa, o real interesse da comunidade da população e da nossa empresa na satisfação dos requisitos de segurança, de funcionalidade, de facilidade de manutenção, de economia. Será uma tarefa impossível na nossa casa, mas deveremos comportar-nos, como dizia o Poeta, como se fosse possível.
Porque lhe envio então esta missiva?
Simples.
Porque o ar sincero de surpresa que fez quando na reunião de coordenação e planeamento lhe falei de “rastreio” (da circulação dos documentos ou das versões dos ante-projectos ou projectos, ou do registo das decisões de uma reunião) me levou a considerar que lhe devia uma explicação.
Uma explicação por eu, ao longo da minha, parca em resultados, experiência na nossa empresa e nos contactos com o exterior, no âmbito da especialização profissional, ter tentado introduzir na nossa casa os conceitos expressos nos padrões ou normas da Comissão Eletrotécnica Internacional.
Conceitos esses que, relativos à “rastreabilidade” relativa à vida útil do projecto e obra, vou tentar esclarecer.
Como sabe, as normas desta Comissão são validadas pelo Governo dos países aderentes, não têm força de lei, mas vinculam o Governo a esforçar-se para que sejam respeitadas.
Por outro lado, perdoar-me-á que destaque a palavra “eletrotécnica” quando me refiro à comissão e a normas eletrotécnicas, que não posso impor, mas que considero essenciais, numa empresa como a nossa, resultando que a minha preocupação reflectirá uma deformação profissional.
É o que acontece quando decidem pôr um eletrotécnico a tratar de assuntos gerais de engenharia civil e de arquitectura (felizmente, para quem não aceita os meus argumentos, com termo anunciado).
Diziam os latinos “rastru” quando queriam dizer sinal, ou vestígio, ou indício de pessoa, animal ou objeto.
Donde rastrear significa ir na pista de, ou no encalço, desse indício da passagem do objeto (no nosso caso o tal email ou a versão do projeto com que foi enviado, com os ficheiros dos desenhos em anexo, que a informática é para isso que serve, e que em qualquer fase da evolução do processo permite saber essa mesma evolução, quanto mais não seja para justificar a utilização dos meios em causa, e ponderar as outras tarefas que esses meios têm de executar).
Foi esse termo que os fazedores de normas foram buscar, e criaram logo os neologismos “rastreável” e “rastreabilidade”, para caracterizar a qualidade ou facilidade em se encontrar mais tarde o rasto, i.é, em qualquer fase do processo, deverão ser sempre deixados sinais fáceis de seguir (qualquer explorador respeita religiosamente estes princípios, “et pour cause”, por metáfora podemos considerar o Arquitecto um explorador).
Os ingleses e americanos dizem “trace”, aquilo que lhes permite seguir o desenvolvimento de um projeto, e “traceability”, a qualidade que permite seguir o desenvolvimento do projeto.
Eis por que pode ver no anexo a este email duas normas, a EN 50 128 (Requisitos para o desenvolvimento de software de segurança para aplicações ferroviárias) e a EN 50 126-2 (aplicação RAMS – fiabilidade, disponibilidade, manutenibilidade e segurança), e que estão aí apenas para o caso de ter paciência, se chegou até aqui, de verificar as palavras no contexto.
É interessante (bom, eu acho interessante, como resultado da investigação e da experiência humanas) ver como se sistematizou a evolução de um projecto, empreendimento ou sistema no esquema em “V”, com as suas fases sucessivas de projecto, testes, execução, ensaios, vida útil.
No caso da 50 128, aparecem nos pontos 3.25 (pág.12), 3.42 (pág.14) e 7.2.6 (pág.19).
No caso da 50 126-2, ver a tabela 4 (págs 44 e 45) e o ponto 6.5.12 (pág.51).
E pronto, eis o que eu lhe queria dizer quando falei em “rastreio”, em plena discussão, ou troca de impressões, sobre o conceito de evolução de um projecto.
Espero que não considere nada do que escrevi como menos respeitador, embora possa ser um exemplo fundamentador do alívio dos ainda meus colaboradores directos (e dilectos também).
Perdoar-me-á, por me parecer, talvez imodestamente, que este texto tem algum valor didáctico, que o distribua por eles.
As melhores saudações.
Informação sobre as normas 50128 e 50126-2:
http://cid-95ca2795d8cd20fd.office.live.com/browse.aspx/Nomas%2050128%20e%2050126-2
Tinha recebido diretamente da alta direção da empresa a incumbência do projeto de uma das novas estações e a coordenação da integração dos projetos que os colegas das especialidades iriam desenvolver.
Mas a estação inseria-se num empreendimento mais abrangente e era preciso conhecer o andamento do projeto da estação para o integrar no planeamento do empreendimento.
Era também importante que os projetistas observassem as normas de contenção que pacientemente tínhamos atualizado.
Por isso se faziam as reuniões gerais de coordenação e de ponto de situação do planeamento, a que o jovem e impetuoso arquiteto não gostava de ir, pois se era muito mais gratificante dizer de viva voz à alta direção sem registo, que tudo ia bem…sem ter de aturar curiosos que nada sabiam do trabalho de um arquiteto ilustre…
E por isso lhe enviei a missiva seguinte.
Caro Arquitecto
Acredite que os seus colegas arquitectos, com quem tenho trabalhado em ligação directa que está prestes a terminar, com alguma pena minha e algum alívio dos arquitectos, me ensinaram muito.
Infelizmente não poderei dizer que aprendi o que me ensinaram, por manifesta incapacidade minha.
Porém, todos os processos neste mundo e neste nossa empresa em mudanças, são inter-activos, multi-direccionais e em ambos os sentidos e por isso espero ter transmitido algo de útil para o trabalho futuro dos arquitectos que agora se vêm libertos de mim.
Ninguém é detentor do verdadeiro método a seguir, nem pode (nem deve) ter a pretensão de chegar sozinho a uma solução melhor do que a resultante do esforço colectivo.
Porém, ou por isso mesmo, alguns de nós buscam métodos ou procedimentos que outros já testaram e passaram a texto de norma ou de padrão.
Estranhará o Arquitecto uma missiva assim iniciada.
Tranquilize-se, porque nas mudanças que se avizinham foi-me retirado qualquer vínculo institucional com a equipa de projecto da sua estação (aliás nunca houve vínculo institucional entre mim e o Arquitecto) e portanto o que lhe escrevo é já apenas como cidadão ou colega de empresa.
Tranquilize-se também porque não venho argumentar com base em concepções minhas sobre trabalho (que não posso garantir que sejam as mais correctas), as quais divergem de facto num ou noutro ponto das conceções do Arquitecto (que não poderá também garantir que sejam as mais correctas), embora pense que as divergências são mínimas, apenas empoladas por conceitos também diferentes sobre a caraterização das nossas especializações profissionais.
Como escrevi acima, tenho esperança de que alguma coisa de útil transmiti aos arquitectos com quem agora deixo de trabalhar, nomeadamente na necessidade de integração em equipa com os outros técnicos e à necessidade de os contactar constantemente, com vista a objectivos bem definidos, com atenção constante aos obstáculos burocráticos institucionalizados e aos passos necessários a dar para os ultrapassar, com uma visão integrada das disciplinas envolvidas, registando a “história” do processo, nunca deixando o assunto “morrer” e combatendo sempre o arrastar dos prazos, muitas vezes trabalhando em hipóteses, mas trabalhando, isto é, nunca ficando à espera do que as burocracias se encarregam de não deixar chegar, e sabendo apresentar as propostas conforme as burocracias precisam para dar resposta.
Digo as burocracias, ou, neste caso sem carga pejorativa, o real interesse da comunidade da população e da nossa empresa na satisfação dos requisitos de segurança, de funcionalidade, de facilidade de manutenção, de economia. Será uma tarefa impossível na nossa casa, mas deveremos comportar-nos, como dizia o Poeta, como se fosse possível.
Porque lhe envio então esta missiva?
Simples.
Porque o ar sincero de surpresa que fez quando na reunião de coordenação e planeamento lhe falei de “rastreio” (da circulação dos documentos ou das versões dos ante-projectos ou projectos, ou do registo das decisões de uma reunião) me levou a considerar que lhe devia uma explicação.
Uma explicação por eu, ao longo da minha, parca em resultados, experiência na nossa empresa e nos contactos com o exterior, no âmbito da especialização profissional, ter tentado introduzir na nossa casa os conceitos expressos nos padrões ou normas da Comissão Eletrotécnica Internacional.
Conceitos esses que, relativos à “rastreabilidade” relativa à vida útil do projecto e obra, vou tentar esclarecer.
Como sabe, as normas desta Comissão são validadas pelo Governo dos países aderentes, não têm força de lei, mas vinculam o Governo a esforçar-se para que sejam respeitadas.
Por outro lado, perdoar-me-á que destaque a palavra “eletrotécnica” quando me refiro à comissão e a normas eletrotécnicas, que não posso impor, mas que considero essenciais, numa empresa como a nossa, resultando que a minha preocupação reflectirá uma deformação profissional.
É o que acontece quando decidem pôr um eletrotécnico a tratar de assuntos gerais de engenharia civil e de arquitectura (felizmente, para quem não aceita os meus argumentos, com termo anunciado).
Diziam os latinos “rastru” quando queriam dizer sinal, ou vestígio, ou indício de pessoa, animal ou objeto.
Donde rastrear significa ir na pista de, ou no encalço, desse indício da passagem do objeto (no nosso caso o tal email ou a versão do projeto com que foi enviado, com os ficheiros dos desenhos em anexo, que a informática é para isso que serve, e que em qualquer fase da evolução do processo permite saber essa mesma evolução, quanto mais não seja para justificar a utilização dos meios em causa, e ponderar as outras tarefas que esses meios têm de executar).
Foi esse termo que os fazedores de normas foram buscar, e criaram logo os neologismos “rastreável” e “rastreabilidade”, para caracterizar a qualidade ou facilidade em se encontrar mais tarde o rasto, i.é, em qualquer fase do processo, deverão ser sempre deixados sinais fáceis de seguir (qualquer explorador respeita religiosamente estes princípios, “et pour cause”, por metáfora podemos considerar o Arquitecto um explorador).
Os ingleses e americanos dizem “trace”, aquilo que lhes permite seguir o desenvolvimento de um projeto, e “traceability”, a qualidade que permite seguir o desenvolvimento do projeto.
Eis por que pode ver no anexo a este email duas normas, a EN 50 128 (Requisitos para o desenvolvimento de software de segurança para aplicações ferroviárias) e a EN 50 126-2 (aplicação RAMS – fiabilidade, disponibilidade, manutenibilidade e segurança), e que estão aí apenas para o caso de ter paciência, se chegou até aqui, de verificar as palavras no contexto.
É interessante (bom, eu acho interessante, como resultado da investigação e da experiência humanas) ver como se sistematizou a evolução de um projecto, empreendimento ou sistema no esquema em “V”, com as suas fases sucessivas de projecto, testes, execução, ensaios, vida útil.
No caso da 50 128, aparecem nos pontos 3.25 (pág.12), 3.42 (pág.14) e 7.2.6 (pág.19).
No caso da 50 126-2, ver a tabela 4 (págs 44 e 45) e o ponto 6.5.12 (pág.51).
E pronto, eis o que eu lhe queria dizer quando falei em “rastreio”, em plena discussão, ou troca de impressões, sobre o conceito de evolução de um projecto.
Espero que não considere nada do que escrevi como menos respeitador, embora possa ser um exemplo fundamentador do alívio dos ainda meus colaboradores directos (e dilectos também).
Perdoar-me-á, por me parecer, talvez imodestamente, que este texto tem algum valor didáctico, que o distribua por eles.
As melhores saudações.
Informação sobre as normas 50128 e 50126-2:
http://cid-95ca2795d8cd20fd.office.live.com/browse.aspx/Nomas%2050128%20e%2050126-2
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domingo, 7 de novembro de 2010
Andrew Jackson e alguns banqueiros
Recordei-me dum episódio já com uns anos na Assembleia da Repubica. O senhor ministro das finanças repreendeu um deputado por ter chamado ladrões a alguns banqueiros. “Tenha termos”, foi o teor da reprimenda. Uns meses depois rebentou o escândalo das fraudes do BPN e da Sociedade Lusa e do BPP, e das ilegalidades nos Off-shores do BCP.
O senhor ministro não pediu desculpa. Esquecem-se os senhores ministros de que não estão a ralhar com os deputados. Estão a ralhar aos eleitores. Mas não devemos dar lições de civismo a senhores ministros, nem chamar-lhes a atenção para a promiscuidade entre o poder político e o poder económico, e a subordinação daquele a este. Até porque alguns banqueiros já declararam a sua concordância em pagar mais imposto (possivelmente para ver se rebentam com a concorrência) e nunca se deve generalizar.
Mas lembrei-me deste episódio quando encontrei na wikipedia a história da luta do presidente Andrew Jackson contra o Second Bank of the United States, um banco privado que se comportava abusivamente como se fosse um banco público.
Eis uma citação de Andrew Jackson em 1834; depois não digam que a história não se repete (Obama: “Não fui eleito para fazer o jogo dos senhores de Wall Street”):
“Também tenho sido um observador atento do que o Second Bank of the United States tem feito. Tenho colaboradores a vigiar-vos há longo tempo e estou convencido de que vocês usaram os fundos do banco para especular . Quando ganham, dividem os lucros entre vocês; quando perdem, debitam ao banco… vocês são um ninho de víboras e de ladrões”.
Víboras e ladrões… mas não generalizemos. Privatização dos lucros e socialização dos prejuízos… não generalizemos, também.
O senhor ministro não pediu desculpa. Esquecem-se os senhores ministros de que não estão a ralhar com os deputados. Estão a ralhar aos eleitores. Mas não devemos dar lições de civismo a senhores ministros, nem chamar-lhes a atenção para a promiscuidade entre o poder político e o poder económico, e a subordinação daquele a este. Até porque alguns banqueiros já declararam a sua concordância em pagar mais imposto (possivelmente para ver se rebentam com a concorrência) e nunca se deve generalizar.
Mas lembrei-me deste episódio quando encontrei na wikipedia a história da luta do presidente Andrew Jackson contra o Second Bank of the United States, um banco privado que se comportava abusivamente como se fosse um banco público.
Eis uma citação de Andrew Jackson em 1834; depois não digam que a história não se repete (Obama: “Não fui eleito para fazer o jogo dos senhores de Wall Street”):
“Também tenho sido um observador atento do que o Second Bank of the United States tem feito. Tenho colaboradores a vigiar-vos há longo tempo e estou convencido de que vocês usaram os fundos do banco para especular . Quando ganham, dividem os lucros entre vocês; quando perdem, debitam ao banco… vocês são um ninho de víboras e de ladrões”.
Víboras e ladrões… mas não generalizemos. Privatização dos lucros e socialização dos prejuízos… não generalizemos, também.
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segunda-feira, 1 de novembro de 2010
O orçamento do ministério da cultura para 2011
Custou a encontrar o valor, no meio de toda a discussão nos jornais. O que aliás mostra o valor que se dá no país a estas coisas.
Mas já sei. É pouco mais ou menos 201 milhões de euros (se fosse um anuncio de um supermercado seriam 199) . Longe do objetivo de 1% do PIB, apesar do estudo do senhor professor Augusto Mateus, que dizia que o setor contribui para o PIB. Ainda há aquela discussão se não se sabe se são 22 ou 16 milhões de euros a verba do PIDAC (estarei a citar a sigla certa?) para a Cultura. Mas vejam o valor global: 201 milhões. São 80 montagens de grande ópera no S.Carlos (haverá que pôr do outro lado da balança as receitas).
Em 2010 o orçamento tinha sido de 236 milhões. Vamos esperar pelo orçamento de 2012, o tal orçamento zero (cego relativamente ao valor do ano anterior).
Claro que não há dinheiro, mas há produtores de cultura e o orçamento na Cultura podia ser investimento reprodutivo (por exemplo, fazer como no Metropolitain de New York, é uma espécie de mutualidade, as pessoas pagam um subsídio que não dá direito a descontos nos bilhetes, e têm o seu nome nas últimas páginas do programa; ah, e também não há lá mecenas exclusivos, como cá... os programas estão cheios de publicidade; e os espetáculos vendem-se a televisões estrangeiras...digo isto porque a ultima ópera no S.Carlos, a Dona Branca, tem potencial para ser exportada).
Também podia haver um imposto extraordinário para telenovelas e transmissões futebolisticas...e transmitir espetáculos de interesse na RTP2.
Pobre cultura.
Parece a placa do edificio abandonado na Rua Ivens.
PS 1 - Informou entretanto a senhora ministra, da forma afável como fala aos agentes culturais, que o orçamento de 2011 é 15% superior ao de 2010, mais precisamente, ao executado em 2010 nos 3 primeiros trimestres (cerca de 170 milhões de euros).
Não vale a pena argumentar. Só confirma que um dos problemas estratégicos a resolver neste país é o da cultura (a parte excessiva, se é verdadeira a informação que circulou, dos ordenados da comissão de Guimarães capital da cultura também será contabilizada como investimento em cultura neste orçamento?) .
PS 2 - De acordo com a notícia de dia 6 de Novembro, relativa à audição da senhora ministra na Assembleia da Republica, o orçamento será de 215 milhões de euros, correspondendo a 0,4% do total do orçamento de Estado, e cerca de 0,13% do PIB, o que não altera o sentido do meu texto.
De assinalar nesta audição, a negativa do senhor secretário de Estado da Cultura em fornecer a um deputado o documento com os estatutos da fundação Coa Parque.
Pode ser que não seja, mas para mim tratou-se de falta de respeito para com a instituição democrática e incumprimento do art.48 da Constituição (acesso a informação de interesse publico).
Mas talvez seja eu a exagerar.
Aliás, com um valor tão pequeno do PIB dedicado à Cultura, qualquer objeção será um exagero.
Como diz Manuel Maria Carrilho, não deviamos viver assim.
Mas já sei. É pouco mais ou menos 201 milhões de euros (se fosse um anuncio de um supermercado seriam 199) . Longe do objetivo de 1% do PIB, apesar do estudo do senhor professor Augusto Mateus, que dizia que o setor contribui para o PIB. Ainda há aquela discussão se não se sabe se são 22 ou 16 milhões de euros a verba do PIDAC (estarei a citar a sigla certa?) para a Cultura. Mas vejam o valor global: 201 milhões. São 80 montagens de grande ópera no S.Carlos (haverá que pôr do outro lado da balança as receitas).
Em 2010 o orçamento tinha sido de 236 milhões. Vamos esperar pelo orçamento de 2012, o tal orçamento zero (cego relativamente ao valor do ano anterior).
Claro que não há dinheiro, mas há produtores de cultura e o orçamento na Cultura podia ser investimento reprodutivo (por exemplo, fazer como no Metropolitain de New York, é uma espécie de mutualidade, as pessoas pagam um subsídio que não dá direito a descontos nos bilhetes, e têm o seu nome nas últimas páginas do programa; ah, e também não há lá mecenas exclusivos, como cá... os programas estão cheios de publicidade; e os espetáculos vendem-se a televisões estrangeiras...digo isto porque a ultima ópera no S.Carlos, a Dona Branca, tem potencial para ser exportada).
Também podia haver um imposto extraordinário para telenovelas e transmissões futebolisticas...e transmitir espetáculos de interesse na RTP2.
Pobre cultura.
Parece a placa do edificio abandonado na Rua Ivens.
PS 1 - Informou entretanto a senhora ministra, da forma afável como fala aos agentes culturais, que o orçamento de 2011 é 15% superior ao de 2010, mais precisamente, ao executado em 2010 nos 3 primeiros trimestres (cerca de 170 milhões de euros).
Não vale a pena argumentar. Só confirma que um dos problemas estratégicos a resolver neste país é o da cultura (a parte excessiva, se é verdadeira a informação que circulou, dos ordenados da comissão de Guimarães capital da cultura também será contabilizada como investimento em cultura neste orçamento?) .
PS 2 - De acordo com a notícia de dia 6 de Novembro, relativa à audição da senhora ministra na Assembleia da Republica, o orçamento será de 215 milhões de euros, correspondendo a 0,4% do total do orçamento de Estado, e cerca de 0,13% do PIB, o que não altera o sentido do meu texto.
De assinalar nesta audição, a negativa do senhor secretário de Estado da Cultura em fornecer a um deputado o documento com os estatutos da fundação Coa Parque.
Pode ser que não seja, mas para mim tratou-se de falta de respeito para com a instituição democrática e incumprimento do art.48 da Constituição (acesso a informação de interesse publico).
Mas talvez seja eu a exagerar.
Aliás, com um valor tão pequeno do PIB dedicado à Cultura, qualquer objeção será um exagero.
Como diz Manuel Maria Carrilho, não deviamos viver assim.
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cultura em Portugal
Economicómio LXIV - "Economia portuguesa, as últimas décadas", de Luciano Amaral
Mais um livrinho da coleção Fundação Francisco Manuel dos Santos que trago para casa do supermercado, no meio das batatas e dos sumos. Não é desprimor nenhum a companhia. A produção de bens alimentares é um sinal de força de qualquer economia se for garantida a autonomia alimentar. Custa o mesmo que 100 g de presunto de Barrancos.
O autor, especialista em história económica, propõe três soluções para a crise, lembrando que uma é positiva mas fortuita, outra negativa, e a terceira o que o cidadão quiser.
- a positiva: um país mais ou menos amigo (a China ou outro dos BRIC?) resolver investir a sério no país
- a negativa: abandono da união monetária europeisa e declaração de bancarrota (aumentar o período de pagamento dos juros)
- a positiva ou negativa conforme o cidadão quiser: como na jangada de pedra de Saramago, integração do país numa unidade política em que seja uma região subsidiada como atualmente é a Itália do Sul ou a Alemanha de Leste
Eu, que sou pessimista, prefiro as 25 medidas do livro "os ultimos 200 anos da nossa economia e os próximos 30 anos", de Luis Monteiro, ou as 22 medidas dos economistas franceses horrorizados.
Luciano Amaral não é simpático, do ponto de vista económico, para os primeiros governos pós 25 de Abril . Fala nos choques petrolíferos de 1973 e 1979, mas talvez não explique toda a extensão dos impactos que eles tiveram; também me pareceria útil referir o relatório do MIT, que não foi muito critico, nos finais de 1975, sobre o estado da economia portuguesa.
Muito interessantes os dois gráficos:
- um sobre o PIB per capita desde 1820 , que era na altura 85% da média dos paises mais desenvolvidos, sendo agora 60% e o PIB por trabalhador-hora (a negregada produtividade do fator trabalho), que era em 1960 de 35%, sendo agora 50% da média dos países mais desenvolvidos;
- o outro sobre a despesa publica em percentagem do PIB, que era em 1960 de 18% (30% na Europa desenvolvida) , sendo 46% em 2008 (43% na Europa desenvolvida, que essa coisa do Estado-Providencia também é uma obrigação conforme a declaração universal dos direitos do homem).
Enfim, a ler, embora pareça faltar ao autor um mínimo de confiança em medidas concretas.
Nota: não vem no livrinho, mas vem a propósito citar esta estatística, de não sei donde: dívidas em janeiro de 2010 em percentagem do PIB de:
banca privada.......... 47%
pública.................... 53%
privada.................... 12%
empresas publicas.... 30% (sendo ML, MP, CP e EP responsáveis por metade)
Temos mesmo um problema aqui. Mas como diz o autor, estas coisas não acontecem de repente, foram acontecendo apesar dos momentos favoráveis e fortuitos desde há muito. Não parece haver muito motivo de orgulho de quem quer que seja.
O autor, especialista em história económica, propõe três soluções para a crise, lembrando que uma é positiva mas fortuita, outra negativa, e a terceira o que o cidadão quiser.
- a positiva: um país mais ou menos amigo (a China ou outro dos BRIC?) resolver investir a sério no país
- a negativa: abandono da união monetária europeisa e declaração de bancarrota (aumentar o período de pagamento dos juros)
- a positiva ou negativa conforme o cidadão quiser: como na jangada de pedra de Saramago, integração do país numa unidade política em que seja uma região subsidiada como atualmente é a Itália do Sul ou a Alemanha de Leste
Eu, que sou pessimista, prefiro as 25 medidas do livro "os ultimos 200 anos da nossa economia e os próximos 30 anos", de Luis Monteiro, ou as 22 medidas dos economistas franceses horrorizados.
Luciano Amaral não é simpático, do ponto de vista económico, para os primeiros governos pós 25 de Abril . Fala nos choques petrolíferos de 1973 e 1979, mas talvez não explique toda a extensão dos impactos que eles tiveram; também me pareceria útil referir o relatório do MIT, que não foi muito critico, nos finais de 1975, sobre o estado da economia portuguesa.
Muito interessantes os dois gráficos:
- um sobre o PIB per capita desde 1820 , que era na altura 85% da média dos paises mais desenvolvidos, sendo agora 60% e o PIB por trabalhador-hora (a negregada produtividade do fator trabalho), que era em 1960 de 35%, sendo agora 50% da média dos países mais desenvolvidos;
- o outro sobre a despesa publica em percentagem do PIB, que era em 1960 de 18% (30% na Europa desenvolvida) , sendo 46% em 2008 (43% na Europa desenvolvida, que essa coisa do Estado-Providencia também é uma obrigação conforme a declaração universal dos direitos do homem).
Enfim, a ler, embora pareça faltar ao autor um mínimo de confiança em medidas concretas.
Nota: não vem no livrinho, mas vem a propósito citar esta estatística, de não sei donde: dívidas em janeiro de 2010 em percentagem do PIB de:
banca privada.......... 47%
pública.................... 53%
privada.................... 12%
empresas publicas.... 30% (sendo ML, MP, CP e EP responsáveis por metade)
Temos mesmo um problema aqui. Mas como diz o autor, estas coisas não acontecem de repente, foram acontecendo apesar dos momentos favoráveis e fortuitos desde há muito. Não parece haver muito motivo de orgulho de quem quer que seja.
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economia portuguesa
Very fast post in blog 38 - uma cena urbana
Jardim do Campo Grande. Passa um avião, quase a aterrar, de 5 em 5 minutos. Vem de sobrevoar o hospital de Santa Maria. O vento norte ou noroeste é dominante em Lisboa. Talvez o aeroporto da Portela, com as suas insuficiencias, ainda não esteja saturado, mas os habitantes de Lisboa estão. Solução: desertificar ainda mais Lisboa, ou acreditar que as leis são para cumprir, e a situação atual é ilegal e impõe a deslocalização do aeroporto. Ah, não há dinheiro. Custa assim tanto elaborar os projetos e diluir a sua execução no tempo? conheço técnicos que levam barato. E o sistema das subscrições públicas, tão em voga no tempo da bancarrota do fim do século XIX, não pode aplicar-se?
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novo aeroporto
Very fast post in blog 37 - Inovação
Com a devida vénia, retiro da Ingenium, revista da Ordem dos Engenheiros, a informação sobre um desenvolvimento do Instituto Politécnico da Guarda: os Magiceye e Magickeyboard, que permitem, através de uma aplicação informática sobre uma webcam, fazer as funções do rato, cursor e teclado de um computador com o comando pelos olhos. Isto quer dizer que as pessoas com esclerose lateral amiotrófica podem utilizar o computador, porque já funciona.
Sem prejuízo do mérito de grandes investigadores de grandes institutos de investigação, que pesquisam a viabilidade de comandar o computador pelos impulsos dos neurónios e assim geram "papers" nas revistas das suas carreiras, esta aplicação já funciona e é útil.
Quem escreve este blogue, que não seria capaz de desenvolver este sistema, está mais uma vez comovido.
Sem prejuízo do mérito de grandes investigadores de grandes institutos de investigação, que pesquisam a viabilidade de comandar o computador pelos impulsos dos neurónios e assim geram "papers" nas revistas das suas carreiras, esta aplicação já funciona e é útil.
Quem escreve este blogue, que não seria capaz de desenvolver este sistema, está mais uma vez comovido.
Economicómio LXIII - a maior exportadora portuguesa
O economista Alvaro Santos Pereira, professor numa universidade dos USA, tem uma pequena rubrica na revista do DN de domingo - Economia divertida. E confirma o que dizia o prof.Daniel Barbosa. A mão de obra portuguesa é a maior exportadora portuguesa, mais do que a GALP (1.800 milhões de euros em 2009, embora a empresa não explique qual a componente importada) ou a Auto Europa. São as remessas dos emigrantes, agora também altamente qualificados. As divisas que mandam valem mais do que o turismo e muitas das 20.000 exportadoras. Em termos de valor acrescentado, estamos a subsidiar, fornecendo fatores de produção a custo zero, economias como a da Suiça e do Luxemburgo, onde os indicadores negativos que são tão propagados cá não têm aplicação lá.
Isto é, o problema principal está na incapacidade de organização do trabalho coletivo cá, de pôr as pessoas a fazer aquilo que podem fazer . O que é natural, quando o auto-elogio é a principal arma de promoção de um dirigente, seja do que for.
E como dizia Luisa Schmidt num "Certo olhar", com a sua pronuncia de patrícia dos nossos dias, o auto elogio desmerece do próprio.
Isto é, o problema principal está na incapacidade de organização do trabalho coletivo cá, de pôr as pessoas a fazer aquilo que podem fazer . O que é natural, quando o auto-elogio é a principal arma de promoção de um dirigente, seja do que for.
E como dizia Luisa Schmidt num "Certo olhar", com a sua pronuncia de patrícia dos nossos dias, o auto elogio desmerece do próprio.
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Microensaio de semiótica
A semiótica é a arte dos sinais.
Tome-se a fotografia de três políticos e estude-se os sinais dos seus rostos.
Estão os três, o português, o francês e a alemã, a fixar o rosto do senhor presidente da Comissão Europeia, que não se vê na fotografia.
Faço este microensaio porque estive nalgumas reuniões com colegas estrangeiros e gostava de analisar as suas expressões faciais, até porque tenho uma deficiência de discernibilidade auditiva que me dificultava a compreensão das palavras.
O politico português exprime o desencontro grande entre a realidade e a construção otimista que só existia na sua cabeça. Os músculos flácidos, descaídos, do seu rosto mostram a impotência, não só para resolver as questões, como de as compreender, às questões e às soluções. Mas a melancolia estará associada à esperança de as certezas viverem independentemente da realidade. E, até certo ponto, às vezes todos os esforços devem orientar-se para a transformação da realidade. Por exemplo, se se vive num deserto, há que plantar árvores e regá-las para deixar de ser deserto. Mas há que fazer contas. Será talvez uma visão marxista, esta de querer transformar o mundo.
O político francês mostra uma ligeira desconfiança. As tribos francas pouco se distinguiam das germânicas originalmente. Distinguem-se mais agora porque decidiram adquirir a língua latina. Fizeram bem, dos sons mais bonitos que existem são as falas de Racine e de Rostand. Mas tão desconfiados que eles são dos povos do sul. Recordo-me de um colega recém-chegado a Lisboa, para assistir à colocação em serviço da estação Campo Grande, equipada com os primeiros motores de agulha franceses. Assustou-se porque não viu os protocolos de ensaio realizados escrupulosamente de acordo com o manual da fábrica. Como bom francês, achava que ninguém em Portugal entendia a língua de Montesquieu e disse ao meu lado para o compatriota: “Ils vont tout casser”. Não partiram, os ensaios tinham sido feitos e o pessoal tinha compreendido como funcionavam os novos mecanismos.
A política alemã tem uma expressão olímpica no seu rosto. Torce o pescoço e franze (curioso, o som deste tempo de verbo é o mesmo de um nome próprio alemão muito usado) os músculos dos olhos e da boca, como se tivesse coisas mais importantes a dedicar a sua atenção do que à conversa dos povos do sul, mal esperando para poder voltar a cabeça para a frente. Os olhos semicerrados exprimem também desconfiança, e um certo mal estar por não poder dizer em claro: trabalhem para poderem pagar os BMW , os Audi e os Mercedes, para isso vos emprestamos dinheiro. Recordo-me dum colega alemão que “ralhou” comigo um belo dia por não ter recebido a minha resposta ao questionário que ele conduzia no grupo. Tive de esperar o intervalo para, a sós, lhe mostrar cópia do email que o colega do sul lhe tinha enviado atempadamente com a resposta que ele tinha recebido mas não tinha registado. Males de quem confunde uma produtividade mais baixa dos povos do sul com o valor da produção (para a nossa economia, não deveria ser prioritário, neste momento, aplicar medidas de aumento da produtividade,mas sim medidas de aumento da produção com retorno; depois de aumentada a produção, então será a fase de aumentar a produtividade, isto é, aproveitar os mesmos meios de produção para produzir ainda mais).
Enfim, talvez esta semiótica não fosse tão crua se os nossos políticos não quisessem voar tão alto, e se começassem a levar para as suas reuniões pessoal mais ligado às estruturas sindicais, assim a modos como que à maneira dos Lula e dos Morales.
Mas deliro, provavelmente, embora não me pareça errada a interpretação semiótica nem o método proposto.
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politica da UE,
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