http://fcsseratostenes.blogspot.com/2010/09/almoco-na-esplanada-da-gulbenkian-6-as.html
O meu amigo, depois da primeira leitura do livro "Os últimos 200 anos da nossa economia e os próximos 30" tinha ficado a pensar no assunto das dez principais exportadoras portuguesas que, no seu conjunto, contribuem, paradoxalmente, para o desequilíbrio da balança de pagamentos, e decidiu apostrofar-me por causa do texto que escrevi em 1 de Setembro passado.
Que afinal lhe fazia confusão a diferença (Exportações - Importações) ser negativa.
Dizia ele:
- Como é que é possível? Então a Auto Europa recebe um kit de peças da fábrica da Volkswagen na Alemanha que nos custa X, mais um kit de auto rádios e de eletrónicas com software de comando do Japão que nos custa Y, mais um kit do outro lado do sol posto que nos custa Z.
Total importado I = X+Y+Z.
Quando se exporta o carrito exportamos I mais o valor acrescentado da assemblagem portuguesa.
- Bem, não sei explicar bem isto, mas parece-me que é assim, e não é nada bonito:
A Auto Europa, para além de I importado, recebe ainda os fornecimentos nacionais no valor A. A malta assembla e monta tudo acrescentando o valor B da mão de obra portuguesa, produzindo assim o carrito. Chamemos P = A+B à parte portuguesa.
Esse carrito é então mandado para a Alemanha e ficou pelo valor exportado de:
V=(I + P) (1 + pL + gL)
sendo L a taxa de lucro (o motor principal da economia segundo os Adam Smithistas) expressa por unidade , p a parte do lucro português expressa também por unidade, g a parte do lucro germânico e p+g = 1.
O meu amigo aquiesceu mas nada disse, enquanto enrolava o espaguete do seu prato de Bolonha.
O valor exportado, que será contabilizado no PIB (produto interno bruto), será:
V=(I + P) + (I + P)pL + (I + P)gL
sendo (I + P)gL o lucro germânico que vai ser :
• contabilizado no PNB (produto nacional bruto)da Alemanha, e que vai ser
• descontado ao PIB português para cálculo do PNB português
É aqui que bate o ponto, as grandes empresas exportadoras portuguesas contribuem bem para o PIB, mas a sua contribuição para o PNB é mais reduzida.
Quer dizer , continuei eu, ignorando o ar enfadado do meu amigo, que por cada carrito a Alemanha paga-nos em divisas:
• o valor das divisas que a Auto Europa tinha exportado para obter I , compensando-as
• o valor de P + (I + P)pL
mas vai exigir à Auto Europa o pagamento de um tributo no valor do lucro germânico (I + P)gL
O meu amigo passou à sobremesa, aparentemente indiferente e concentrado na toilette de uma jovenzinha alemã, provável estudante do programa Erasmus.
- Mostra lá o papel, disse ele (ele sempre gostou de se entreter com manipulações matemáticas, e foi o que fez).
Aqui tens, chega-se a esta inequação, as exportações da Auto Europa só serão maiores do que as importações se se verificar
P + (I + P)pL > (I + P)gL
P +IpL + PpL > IgL + PgL
P – PgL +PpL > IgL – IpL
P [ 1 – (gL – pL)]) > I (gL - pL)
P > I (gL - pL) / [(1 – (gL - pL)]
- Realmente é, tens razão, isso quer dizer que, se os lucros forem fraternalmente repartidos entre a Alemanha e Portugal, basta que a componente portuguesa seja maior que zero para haver predomínio das exportações sobre as importações.
- O que pelos vistos não acontece.
Imagina que L=0,6 (60% de lucro), g=0,6 e p=0,4.
Então
P > I 0,12 / 0,86
Temos de concordar que é um pouco violento, a incorporação nacional ter de ser sempre maior do que 14% da parte importada para fazer pender a balança para o lado certo.
- Bem, a Volkswagen não é propriamente uma instituição de beneficência.
- Razão tinha aquele ministro, a mão de obra em Portugal está barata.
- Razão têm os economistas, aquele que dizia que o rendimento do trabalho é quase sempre muito menor do que o rendimento do capital, e aqueles que dizem, pobre país em que o PNB é muito mais pequeno do que o PIB, já de si não muito grande… Temos de aumentar o valor acrescentado dos bens transacionáveis exportados, como diz o livrinho “Os últimos 200 anos da nossa economia…” e aplicar as 25 medidas recomendadas.
Homem, então você quer fechar a Auto-Europa e lançar a malta para o desemprego?
ResponderEliminarAmável Anónimo
ResponderEliminarNem pensar.
Se escrevi alguma coisa que pudesse induzir nesse erro, peço desculpa.
Estou como o senhor professor Daniel Bessa, que questionado sobre o assunto disse que, com a fábrica a funcionar, ao menos se salvavam as mais valias.
E eu acrescento que, com a fábrica fechada, o nosso endividamento seria maior.
Logo, a situação é como na marinha, quando o barco está a naufragar, mas até ao último minuto a bomba de esgoto deve estar a funcionar; tira menos água do que a que entra, mas deve estar a funcionar.
Pode ser que entretanto cheguem reforços.