Devo ao senhor professor Daniel Bessa, economista ex-ministro, o ter-me ensinado, através da comunicação social, a lei de Philips, a saber, que, se quisermos manter o custo de vida baixo, há que aumentar o desemprego.
Esta informação foi honesta, numa altura em que se queria fazer crer à população, isto é, às vítimas da lei, que se podia desenvolver a economia mantendo os preços baixos e criando emprego.
Infelizmente tal não é verdade na maior parte dos casos, e será pouco honesto querer fazê-lo crer à população, apesar de ser bem simples explicar a lei: com a condição de haver produção e oferta suficiente, aumentando o desemprego vai diminuir-se o poder de compra e a procura; se a procura baixa, o preço vai atrás.
Mas o senhor professor vem agora ensinar, como lhe ensinaram, como ele próprio disse, que as políticas económicas ou são expansionistas ou são restritivas.
Com o que todos concordamos, porque o crescimento está ameaçado com as medidas do PEC do nosso descontentamento.
E a metáfora do senhor professor é esta: estas medidas restritivas são como carregar com toda a força no travão e o carro ameaçar sair da estrada, pelo que se deve conduzir carregando no travão com um pé e no acelerador com o outro pé, para existir algum crescimento.
Já não posso concordar, pelo menos na parte automóvel.
Ensinaram-me na escola de condução que devia ser o mesmo pé a carregar ora no acelerador ora no travão.
Mais tarde, experimentei carregar simultaneamente no travão e no acelerador. Mas segui os conselhos dos mais experientes e fiz isso com o mesmo pé (confesso que é um bocadinho dificil, só serve para condução desportiva com as rodas tratoras a patinhar, ou para aguentar o carro numa subida em ponto morto, mas consegue-se; especialmente se os pedais forem adaptados - cuidado porem com a adaptação e com a condução que se torna arriscada, pelo que se deve seguir o aviso: não tente fazer isso).
Acionar o acelerador com um pé e o travão com o outro tem o grande risco de ser mais longa a cadeia de controle mútuo entre a pressão no acelerador e a pressão no travão. É necessário ver primeiro o efeito para depois alterar as duas pressões . Isto é, é preferível controlar a travagem doseando apenas a pressão no travão esquecendo o acelerador, ou dosear a aceleração esquecendo o travão.
Esta é a primeira metáfora que me deixa preocupado com os senhores economistas.
A segunda vem do senhor professor Carlos Costa, governador do banco de Portugal, que nos propõe a seguinte metáfora: a economia portuguesa é como um quadrireator em que dois dos motores vão desacelerar - um é o consumo público e outro é o consumo privado; dos outros dois motores, um é a exportação, que, se se portar bem, evitará que o avião perca altitude, e o outro é o investimento, que se está a engasgar.
Por Mercúrio, um motor só é muito pouco, e ainda por cima aumentamos o volume das exportações mas dão-nos menos pelo que exportamos, não porque o euro se desvalorize, mas porque a concorrencia é muita e porque muitas das nossas exportações têm pouco valor acrescentado, com a agravante disso mesmo, o euro está muito forte.
Como dizia o professor Daniel Barbosa nos anos 60 do século passado, o turismo (não era preciso ser de alta qualidade) e a emigração é que aguentavam a balança de pagamentos.
Ou por outras palavras, não vejo outra saída para a metáfora que não seja dar um bocadinho mais de gás ao motor do investimento.
Não pode ser só cortes.
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