Curiosa esta vizinhança, entre o edifício da câmara municipal e a dependência do crédito agrícola, em igualdade de expressão arquitetónica.
Vem a propósito da promiscuidade já evidente, nos tempos que correm, entre o poder político e o poder económico.
Todos conhecemos ex-ministros que são grandes gestores de empresas de sucesso, sem que o sejam por concurso público.
A revista de sábado do DN chama a atenção para isso: Hintze Ribeiro e Luciano de Castro, os grandes políticos do tempo da bancarrota dos anos 90 do século XIX, alternavam na administração do Crédito Predial.
E, continuando a percorrer a revista do DN, tudo isto é como Marx dizia, as coisas acontecem duas vezes , da primeira vez como tragédia, da segunda como farsa.
Mas pode ser que os cidadãos e cidadãs eleitores tenham isto presente nas próximas eleições, especialmente que os grandes gestores das empresas de sucesso que já foram ministros são tambem grandes negadores de Marx, o que é natural.
Ah, a propósito, o DN tambem refere hoje que, de acordo com o portal base.gov, a direção geral de impostos comemorou o seu aniversário com uma festa que importou entre 220 mil e 400 mil euro (fonte: blogue de Fernando Fonseca).
Possivelmente por ajuste direto.
Será verdade? É que por vezes há "gralhas" no portal base.gov, e a festa até poderia ter sido por inscrição prévia e paga pelos participantes.
E aqui estou eu outra vez a recordar a discriminação de que fui vitima quando me proibiram o ajuste direto que propus na minha vida profissional.
Na minha proposta estava a fundamentação técnica da exceção, conforme as diretivas 17 e 18 de 2004 da CE, e assinei essa proposta, sem nunca me terem demonstrado, com argumentos técnicos (técnicos da especialidade, não juridicos ou económicos) que estava errado.
Nas comemorações da direção de impostos talvez tenha havido a fundamentação da urgencia.
Se assim foi, será mais uma demonstração da grande falha nacional de não se saber programar as coisas com antecedência, como se fosse dificil prever a aproximação de uma data.
É mesmo uma grande falha, a dificuldade de planear.
PS - Verifico, ao rever o texto, que um leitor mais precipitado poderia concluir que eu estava a defender soluções marxistas para evitar a promiscuidade entre o poder político e o poder económico.
Ora, eu referi apenas a análise e o diagnóstico, por Marx, de uma situação que historicamente parece comprovada. Depois de Marx, a economia política e a ciencia da gestão evoluiram criando instrumentos para evitar essa promiscuidade.
É pela não utilização desses instrumentos, não existentes no tempo de Marx (no fundo o controle mútuo de entidades não dependentes da mesma hierarquia e monitorizáveis pelas instituições públicas e pelos cidadãos e cidadãs) que este humilde blogue protesta.
Aliás, de que se queixava Eisenhower, no seu discurso de despedida, ao referir-se ao complexo político-militar industrial?
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