domingo, 23 de maio de 2010

Economicómio LII - E contudo ele existe…

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Saíram os resultados das vendas de automóveis ligeiros nos primeiros quatro meses de 2010.
Em Portugal venderam-se mais 59,1% (na UE mais 4,8%) do que no mesmo período de 2009, atingindo 70 mil unidades (na UE 4,8 milhões).
A análise estatística contem em si a armadilha de que alguns dados omissos podem subverter a interpretação dos dados disponíveis.
Neste caso, os incentivos ao abate de automóveis e os planos de renovação de frotas podem fazê-lo, mas o indicador 70 mil automóveis vendidos em 4 meses e 210 mil por ano parece ser fiável.
Admitindo 15 mil euros por unidade, teremos cerca de 3 mil milhões de euros por ano.
Trata-se de um investimento que beneficiará cerca de 70 x 1,2 = 84 mil cidadãos e cidadãs, se não considerarmos os benefícios decorrentes para outros cidadãos e cidadãs da utilização dos 70 mil automóveis por esses 84 mil cidadãos e cidadãs (1,2 é a média de ocupação dos automóveis ligeiros em Portugal).
Trata-se ainda de um investimento cujo diferimento por um ano traria custos marginais irrelevantes.
Isto é, em termos macroeconómicos, parecerá difícil justificar um investimento deste tipo, especialmente se nos lembrarmos que a estimativa para a ligação TGV Poceirão- Lisboa é da ordem de 2 mil milhões de euros (evidentemente que esta estimativa tem de se alargar no contacto com a realidade da obra, mas orçamento é orçamento).
Claro que não podemos comparar diretamente os investimentos; quando muito comparava-se, para o valor de 2 mil milhões de euros, uma linha de metro, completamente equipada, incluindo o material circulante, com 10 km de comprimento e servindo diariamente 100 mil passageiros.
Mas são difíceis de fazer, estas contas e estas comparações.
Especialmente quando entramos em linha de conta com a energia que cada modo de transporte necessita, globalmente, para transportar um passageiro durante um quilómetro.
Pena não ver o TGV discutido nesta perspetiva.
O TGV e os restantes modos de transporte.
Mas dir-se-ia que, parafraseando Galileu: e contudo ele existe (o dinheiro, de empréstimo interno ou externo).


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