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A discussão sobre os honorários do principal gestor da EDP fez-me reparar na notícia do DN sobre os resultados desta empresa (ou grupo de empresas).
Admitindo que tem fundamento o sentimento de auto-estima do referido gestor que considera justo o seu salário e boa a sua gestão, terei de admitir que os seguintes indicadores são compatíveis:
(1) Dívida da empresa do 4ºT/2009 para o 1ºT/2010:
crescimento de 4,3%, de 14 mil milhões de euros para 14,6 mil milhões de euros
(2) Lucros no 1ºT/2010:
crescimento de 17% para 309 milhões de euros
(3) Taxa da divida relativamente ao lucro:
(1)/(2) = 4,6
De facto, crescendo a dívida, a situação agrava-se, mas não é assim tão má porque a taxa da divida diminui.
Porque é tão grande a dívida?
Não parece difícil a resposta: porque os investimentos são elevados (barragens, parques eólicos) e porque as tarifas são “reguladas”, isto é os preços estão artificialmente baixos.
No entanto, um cidadão vulgar como eu fica na dúvida se estas justificações são suficientes.
Por isso seria muito bom se a empresa, no seu site, explicasse os indicadores, as suas causas e circunstancias.
É verdade que a questão é complexa e os critérios de cálculo dos custos e dos benefícios não são de aceitação universal (outro grupo em que a dívida é enorme é a famosa SONAE, também com grandes investimentos e uma balança de pagamentos com grandes fluxos nos dois sentidos; mas isso é outra conversa) .
Como são complexas as questões da ocultação das despesas públicas nas contas de empresas públicas e privadas, para fugir ao famoso indicador do défice público (será que a epidemia das privatizações é para fugir às despesas públicas? o problema é que se perdem os geradores de receitas públicas, isto é, os aneis).
Mas seria bom que a EDP pusesse mesmo mais informação no seu site.
E, porque não se revêem as estratégias de distribuição de lucros e de fixação dos salários do gestores? Quanto mais não fosse para reduzir a dívida.
Também parece fácil a resposta: porque a EDP é uma empresa privada de participação da instituição pública progressivamente menor.
E porque a instituição pública não utiliza as regras de gestão participada, debatida e analítica e porque as instituições privadas também não utilizam essas regras.
Como não está ao meu alcance a promoção dessas regras, por mais que propagandeie a “Sabedoria das multidões”, apenas posso sublinhar:
Que os bons investimentos (por exemplo, aqueles que reduzem a dependencia energética ou melhoram a eficiência energética dos modos de transporte) provocam dívidas.
E é bom de ver como é complicado calcular o período de retorno do investimento e contabilizar o seu benefício em unidades muitas vezes rejeitadas pelo senso comum, que tanta dificuldade tem nos tempos que correm em aceitar uma dívida prolongada no tempo (por exemplo, a ultima amortização dos empréstimos para os caminhos de ferro de Fontes Pereira de Melo pagou-se no ano 2000).
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