segunda-feira, 17 de maio de 2010

Economicómio L - Meditação sobre as desigualdades sociais (à espera que os meus amigos economistas façam umas contas melhores)

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A minha professora de História, em chegando ao Renascimento, à Reforma e à Contra-Reforma, falou-nos nas revoltas populares na Alemanha do século XV.

Bem procurávamos no livro oficial do Mattoso e nada.
Porém, os camponeses esfomeados assaltavam os cavaleiros na estrada.
Roubo e morte.
Eram os flagelos da fome, da peste e da guerra nos documentos da época.
Era a luta de classes, definidas as classes pelo seu papel nos mecanismos da produção e da distribuição da riqueza.

Mas não podia falar-se em luta de classes, era proibido.

Aliás, os economistas que bem interpretam os factos vieram dizer-nos antes do Lehman Bros que já não fazia sentido falar-se em luta de classes.

Mas vêm dizer-nos que as desigualdades sociais são agora tantas (e Portugal é campeão nisso), e a crise ameaça exacerbá-las tanto, que podemos ter perturbações sociais se não se tomarem medidas.

Mas ainda há dúvidas sobre que medidas eliminam as desigualdades sociais?

Talvez ainda haja, especialmente quando se critica o serviço nacional de educação como tendo por objetivo formatar todos por igual e nivelar por baixo. Queremos sempre que os nossos filhinhos sejam mais iguais do que os outros, não é? (se o serviço nacional de educação não está bem, corrijam-no se fazem favor, não difamem os professores).

Assim é difícil.

Vêm os economistas bem pensantes que sempre disseram que a situação atual era previsível, dizer agora que a única saída é o crescimento (será iuma redundancia porque só pode ser redistribuido aquilo que se produzir).

Mas que para isso, dizem eles, os economistas bem pensantes, têm os 90% (de cidadãos de menores rendimentos) de se contentar com os 10% do bolo, porque ficariam melhor do que se tivessem um bolo mais pequeno a dividir equatitativamente pelos 100% de cidadãos ( i.é, para os cidadãos de menores rendimentos: 0,1 /0,9 = 0,11 vezes o rendimento médio per capita; para os cidadãos de maiores rendimentos: 0,9/0,1 = 9 vezes o rendimento médio per capita).

Mas imaginemos que os impostos subiam para os maiores rendimentos, taxando a 20% os 16 mil milhões de depósitos “off-shore” (que por acaso foi o que fez o governo da terra de Spinoza) de tal maneira que os cidadãos de maiores rendimentos colocavam o seu capital ainda mais “off-shore”.
Então, admitindo que o rendimento baixava 70% (i.é, que o novo bolo era apenas 0,3 vezes o bolo anterior), e que a distribuição das fatias do bolo era equitativa, teríamos o seguinte rendimento médio per capita para toda a população: 0,3/1 = 0,3).

Por outras palavras (ou por outros números), um abaixamento dos rendimentos globais de 70% traduzir-se-ia num aumento do rendimento médio per capita, para 90% de cidadãos, de (0,3/0,11 - 1)x100% = 172% .

E como ensina a matemática, os estímulos à produção podem induzir variações previamente parametrizáveis em torno do valor médio…

Não bate muito certa, esta conclusão, com a ideia de que tem de se pagar muito bem aos bons gestores a dádiva de trabalharem para os comuns dos cidadãos.

Quem diria, a matemática ao serviço da luta de classes…

Quisera eu que não houvesse luta de classes nem condomínios fechados com segurança privativa 24 horas por dia…


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2 comentários:

  1. 0,3x0,11=0,033!!!
    O que queremos redistribuir? A riqueza ou a pobreza?
    Concordo que viver num país sem condomínios fechados com segurança 24horas/dia é bom. Mas sempre é melhor ter um país com condomínios fechados para alguns do que um bairros de lata para todos.
    Mais uma vez afirmo:
    - Os economistas não foram perdidos nem achados nas políticas, sucessivamente erradas, praticadas pelos sucessivos governos de pseudo-esquerda ou pseudo-direita.
    Volto a lembrar que Pinto de Sousa é (ou dizem ser) engenheiro, Santana Lopes e Barroso são do direito e Guterres era também engenheiro.
    PJP

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  2. Carissimo PJP

    A hipótese que presidiu às minhas contas era que, caso o ministro das finanças mudasse e implementasse medidas populistas, o rendimento (o bolo), baixaria de 100% para 30%. Como sabe, é impossível passar de 100 a 0 num ano e portanto a hipótese é plausível.
    O rendimento médio passaria de 0,11xRendimento original/População para 0,3xRendimento original/População.
    Quererá isso dizer que para 90% da população estivemos, não a distribuir pobreza, mas antes riqueza.
    Ou não? Claro que no fim do ano poderiamos abdicar de algumas das medidas populistas para o bolo voltar a aumentar ou, pelo menos a não baixar mais.
    Mas talvez possamos transferir o centro do debate para outra questão, cuja é:
    Porque taxou o governo holandês em 20% os depósitos legais em "off-shores" dos cidadãos holandeses, por acaso de montante igual ao dos cidadãos portugueses, e o governo português não o quer fazer, e o máximo que fez foi taxar as mais valias em bolsa mas só para contribuintes em nome individual?
    Aceito propostas de resposta mas darei depois a minha resposta. Valeu?
    Entretanto, não se esqueça que os ministros das finanças desses engenheiros e juridicos eram todos economistas de partidos de pseudo esquerda e pseudo direita.

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