domingo, 30 de junho de 2013

A segurança rodoviária vista do Metro


O título pode parecer estranho. Que tem a segurança rodoviária que ver com o metropolitano? A cultura em Portugal assenta no conceito de compartimentação que, em ultima análise, radica na especialização de áreas do cérebro.
Porém, o que distingue o cérebro da espécie humana das outras espécies, e até mesmo dos seus antecessores Cromagnons, é a facilidade de comunicação entre os hemisférios cerebrais e a capacidade de desempenho da função vicariante quando alguns centros especializados do cérebro são danificados.
Quer isto dizer que uma maior comunicação entre áreas aparentemente distintas representa sempre um estádio superior de organização (sem de qualquer maneira pretender insinuar que quem não concordar comigo seja vítima de qualquer limitação).
Donde, poderemos colocar a hipótese de que o desenvolvimento dos transportes colectivos corresponderá a um aumento da segurança rodoviária (quanto mais não seja pela redução dos fluxos de tráfego rodoviário), além de que a exportação para a rodovia dos critérios de segurança usados na ferrovia só poderá ser útil à comunidade, pese embora a consequente redução dos tempos de percurso e dos caudais de tráfego.
Tudo isto a propósito de recente viagem de regresso a Lisboa, pela A1, num domingo à tarde.
As 3 vias de transito da auto estrada (antigamente o Código da Estrada chamava-lhes faixas de rodagem) eram percorridas a velocidades médias da ordem de 140 km/h (i.é, cerca de 20m/s) por grupos ou trens de automóveis de grande densidade, que o mesmo é dizer que as 3 vias se encontravam cheias e o intervalo entre automóveis era claramente inferior a 2 segundos . Este é o  intervalo de tempo necessário para que, considerando o tempo de reacção expectável dos condutores menos rápidos a reagir, a travagem de qualquer automóvel, por motivo da desaceleração do carro que o precede, seja feita sem  ter de recorrer a uma taxa de desaceleração maior pelo facto de se ter aproximado demais durante o tempo de reacção e consequente efeito em cadeia perturbador. Como se sabe, o critério de segurança na ferrovia é um pouco mais apertado (considera a distancia de travagem até à posição do veículo da frente ou seu cantão, e não até ao ponto ocupado pela sua traseira após a sua desaceleração ).  Como sempre acontece nestas circunstancias, eram frequentes as mudanças de via por condutores insatisfeitos com a velocidade de 20m/s, o que vinha agravar as condições de segurança, comprometendo até o critério do intervalo de segurança de 2 segundos (correspondente para esta média a 40 metros percorridos sem que um condutor padrão se aperceba que o carro da frente abrandou).
Porque nos deslocamos assim em grupo violando racionalmente as leis da segurança?
Não é porque sejamos irracionais, sôfregos na condução ou mal formados.
Simplesmente porque algures nos nossos cérebros estão os mecanismos que foram  deixados nos neurónios pelos mesmíssimos genes que comandam o comportamento em grupo (cardume, rebanho, manada, bando de pássaros) dos animais que utilizam as técnicas de deslocação em grupo para resistir aos predadores.
Os periféricos visuais dos peixes e dos pássaros, quando se deslocam em grupo, estão constantemente a monitorizar a posição do indivíduo à frente, ao lado e atrás. E é a reacção do indivíduo mais próximo do predador que comanda a reacção dos outros indivíduos. É uma gestão colectiva dos riscos e da mobilidade. Não há condutores iluminados de multidões que assumam as decisões sobre os movimentos, nem grupos organizados de enquadramento do colectivo. O lugar de qualquer vítima dos predadores é imediatamente reconstituído pelo critério de monitorização mútua.
Dir-se-á que esta gestão é uma forma superior, encontrada pela evolução das espécies para reagir aos ataques  (é curioso verificar no software da lógica de segurança que controla os itinerários dos comboios  a existência desta função de monitorização mútua entre componentes dos sistemas, com alguma função vicariante em caso de avaria).
Ficará por avaliar a hipótese de resposta à questão: até que ponto será uma forma superior  a organização  dos carnívoros que tiveram de desenvolver a sua eficiência muscular, de modo que a energia que têm de dispender seja sempre inferior à obtida com predação? Dito de outra forma: estão os carnívoros condenados a caçar para não morrer, e por isso não só têm de competir em velocidade com os herbívoros , como têm de ter maior força muscular e são normalmente obrigados a caçar em grupo (os documentários do National Geographic ou do Odisseia raramente  mostram, mas já o fizeram, cenas em que o coice dum búfalo mata uma leoa, e digo leoa porque a evolução das espécies determinou que fossem as leoas a caçar em grupo, coordenadas à distancia por um leão).
É verdade que há predadores solitários. O tubarão , por exemplo, uma verdadeira obra de arte de engenharia de detecção à distancia e também de força muscular e de mobilidade ao nível da boca e dentes (rotáveis).
Mas o habitat em que os tubarões se desenvolvem não é o mesmo dos carnívoros como as hienas, que têm mesmo de se organizar em grupo, por falta de outros atributos, força muscular, por exemplo. Por isso, um grupo de hienas tem de se subdividir em sub-grupos, abordar em pontos e alturas distintas toda a estrutura da manada e, persistentemente, flagelar os flancos, infiltrar-se , manter a ligação, como se houvesse correias de transmissão, entre os sub-grupos já no meio da manada, e os que estão fora. A manada continua a correr e vai sacrificando os mais velhos e os mais fracos.  Porém a força do número, pelo menos enquanto a evolução das espécies não inventar bactérias e vírus que massacrem de forma mais eficaz os herbívoros, permitirá que as manadas continuem o seu curso.
Não quero com isto dizer que os condutores das auto-estradas são uma manada, sujeita aos ataques dos predadores tipo hiena  que fazem condução perigosa e provocam acidentes com prejuízo para toda a comunidade.
Quero apenas chamar a atenção para a necessidade de manter o objectivo de chegar em segurança e garantir o respeito pelas normas de segurança de qualquer meio ou sistema de transporte.

E isso não tem mesmo que ver com o Metro?

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Excerto de um poema de Golgona Anghel

Um excerto de "Como uma flor de plástico na montra de um talho", de Golgona Anghel, ed. Assírio e Alvim, que me entretenho a imaginar tenha sido lido por Jerónimo de Sousa antes do seu aparte para o primeiro ministro: "Mal empregada ginjinha que bebestes" (em Alcobaça), que poesia fria e cortante:



"...Mas é preciso fugir ao máximo dos museus de cera,
perseguir os funcionários públicos do senso comum,
evitar que as mulheres feias tenham filhos.
Aliás, é urgente matar toda a gente que tem fome.
Por isso, não me venhas com xaropes e bancos alimentares.
Não me trates as doenças.
Não levantes a mão.
Vem, vem apenas,
come as you are
- embora seja tarde.
... ... ... ... ... ... ... ... ...

Vem sem falta - 
o palco está vazio,
a sala cheia.
Com o passo lento das derrotas,
um macaco vestido de Shakespeare
conduzir-te-á até ao último ato."

Os malefícios do tabaco e a lei da física, o governo dos nibelungos paralisado perante o que há a fazer (e há tanto, como é que eles não vêem?) e o diagnóstico do livro de Pedro Adão e Silva "E agora?"

Os malefícios do tabaco e a lei da física
Tentemos analisar alguns dos maleficios do tabaco segundo as leis da física.
Segundo o diretor geral da Saúde, a diminuição do consumo do tabaco permitiria poupanças nos hospitais públicos.
Porém, e aqui entra a lei da conservação num sistema isolado, a diminuição das despesas públicas seria compensada pela diminuição da receita fiscal devida pelo consumo do tabaco.
Para complicar a coisa, e de acordo com a lei do aumento da entropia de um sistema entregue a ele próprio (os economistas talvez falem em auto-regulação do sistema) a redução do consumo do tabaco levaria a uma taxa de mortalidade menor e consequentemente, ao aumento da longevidade, com o aumento das despesas com a segurança social.
Nesta perspetiva, para os contabilistas do ministerio das finanças o ideal seria um grande consumo de tabaco para contribuir para  a receita fiscal e, através do aumento da mortalidade,  levar à redução da despesa pública, compensando os encargos com o tratamento com o encurtamento da vida do doente.
Sendo o assunto tétrico, parece evidente que o critério de prioridade deverá ser o do bem estar da sociedade, gastando-se em despesa pública na educação e na publicidade (ou obrigando por normalização as entidades privadas que exercem a educação e a publicidade) o que for preciso para informar a população de que "fumar mata", compensando-se o prazer da dopamina estimulada pela nicotina com o encurtamento da vida do fumador.
O governo dos nibelungos paralisado perante o que há para fazer
Pode-se transpor isto para, por exemplo, "a austeridade mata", contrariando assim o prazer que o governo dos nibelungos tem em de forma masoquista insistir em que a austeridade estimula o prazer da consolidação orçamental (o primeiro momento da última construção da realidade virtual do primeiro ministro nibelungo) a que se segue o estado de síndroma de abstinencia, de ansiedade por falta do estímulo (o segundo momento do mesmo delírio, a que o primeiro ministro nibelungo chamou da reforma estrutural, pese embora primeiro ter definido que ia cortar 4,7 mil milhões de euros de despesa pública sem saber onde), terminando tudo, agora, na hora do investimento para repor os níveis de dopamina (como repete o ministro das finanças dos mais nibelungo que o país teve, que o momento é de investimento, que agora que não chove, que ele descobriu que "prejedica" o investimento, volta a ser a hora do investimento; pese embora o valor exagerado do défice, 10% no primeiro trimestre, quando o objetivo anual passou de 4,5 para 5,5%, o crescimento da dívida pública, o aumento das taxas de juro).
O governo, pela voz do seu primeiro ministro, insiste na ideia peregrina de que a austeridade é expansionista, apesar da demonstração dos erros do excel de Rheinart e Rogoff  (nunca contrariada com cálculos, a demonstração dos erros, pelos próprios nem pelo ministro nibelungo das finanças, que com ar vitimizado se queixou que os blogues andavam a dizer mal duma crença dele) e da evidencia do alheamento da realidade dos rapazes de Bocconi, Alesina e Ardagna (que fizeram poutro Excel concluindo que a austeridade do corte das despesas públicas provocava aumento da confiança dos privados e esta, tal como a euforia da dopamina devida à nicotina,  levava ao aumento do investimento privado (esta é outra crença cega dos haieckistas, que a diminuição do investimento público "dá espaço" ao investimento privado sem necessidade de planeamento integrado e transversal).
E contudo, nenhum governante nibelungo parece ter conhecimento em que área deve investir-se para retomar o crescimento.
Nem que a solução de maior disponibilidade para o investimento público, os fundos QREN/Horizonte 2020, têm um grande inconveniente: exigem um programa e um projeto bem elaborado para cada empreendimento, e os governantes nibelungos não sabem, não aprenderam a fazer projetos deempreendimentos, só ccronogramas financeiros, mas até nisso ignoram a relação entre um pagamento e as condições técnicas (técnicas do ponto de vista de engenharia) que justificam o pagamento.
Provavelmente porque são economistas de aviário, formados em faculdades seguidoras de Haieck, que depois confirmaram as suas crenças em gabinetes de bancos centrais ou não, reforçando a sua fé por interação com outros economistas de aviário, portugueses ou europeus, sem experiencia de vida em empresas, sem nunca terem feito ou pegado num cronograma de execução de um empreendimento, de obra real,  que não fosse o cronograma financeiro teórico de empréstimos.
Esta ignorancia é muito grave porque inviabiliza o aproveitamento dos fundos europeus do QREN/Horizonte 2020 para investimento com benefícios (não admira, quando o passado do primeiro ministro nibelungo incluiu empresa de formação insinuando-se em câmaras municipais para, com fundos QREN, dar formação  a arquitetos ou, mais prosaicamente, a operadores de aeródromos municipais contra a ameaça de ataque terrorista).
E há tanto para fazer, como é que eles não vêem?
Assim se compreende o alheamento do governo dos nibelungos em resolver o problema dos estaleiros de Viana do Castelo, apesar das diretivas europeias admitirem, como era o caso dos patrulhões, a intervenção de fundos públicos em questões de defesa nacional.
Ou a submissão ao ditado das empresas de energia contendo o investimento nas renováveis (o excesso de produção pode ser exportado para a Europa, embora isso exija investimento em linhas de transmissão; a energia renovável pode ser utilizada na produção de combustíveis para aquecimento e para o setor do transporte, requerendo evidentemente investimento ).
Ou a incapacidade de compreender os benefícios de uma central solar de sais fundidos.
Ou os benefícios de incluir na obra do porto de contentores da Trafaria o fecho da Golada (para conter a perda de areia da Caparica).
Ou a incompreensão dos benefícios do transporte de passageiros em alta velocidade para Madrid, sem prejuízo das mercadorias de Sines, e que isso tem de ser feito compreendendo , o que os nibelungos não têm conseguido, todas, mas todas as questões técnicas dos percursos do lado espanhol (viram algum nibelungo apoiar a travessia dos Pirineus por Huesca? a médio prazo, claro, mas os planos fazem-se a médio prazo tambem, quando a curto nem sequer se sabe que projetos se estão fazendo do lado português - o segredo é a morte do negócio).
Ou a importancia que tem concentrar investimento público (com fundos QREN/Horizonte 2020) no programas de reabilitação urbana (reabilitação urbana não é pintar fachadas, é emparcelar artigos de matriz em novas construções (recuperando alguns elementos da construção primitiva) de acordo com os requisitos de habitação moderna).
Ou a incapacidade de ver que o desemprego é grande na agricultura (vamos dizer assim: a senhora ministra da agricultura do governo nibelungo gostaria de, por uma manifestação de fé, que fosse verdade que o desemprego na agricultura era baixo, mas a informação que retiro de um estudo de Pedro Lourtie é de que é  na agricultura, silvicultura e pescas que é maior a percentagem de desempregados entre os diplomados de um dado ano letivo). Precisamente num setor em que a qualificação é essencial para o sucesso dos investimentos em aquacultura (consumo anual de peixe: 600 mil toneladas das quais 300 mil são de aquacultura, a maior parte importada; o que vale por dizer que é num dos setores em que mais importante era investir em "know how" que se está paralisado)
Ou a necessidade de prescindir da alguma receita fiscal para promover a transferencia do transporte individual para o transporte coletivo nas áreas metropolitanas, reduzindo com isso o desperdicio em combustiveis fósseis dado que a eficiencia energética do transporte coletivo é superior?
Não, os governantes nibelungos não compreendem isso, como demonstrou o secretário de estado Paulo Nuncio em entrevista com José Gomes Ferreira: "só o investimento privado pode fazer crescer o PIB", recitando a frase com o mesmo ar com que recitaria o Pai Nosso, sem admitir contraditório, nem sequer o risco das mais valias dos investimentos privados irem parar aos offshores ou, na melhor das hipóteses, à Holanda ou à Suiça.
E contudo, o próprio correlegionário presidente da câmara do Porto, Rui Rio, já explicou que por cada euro que o Estado investe na reabilitação vem o investimento privado e investe até 10 euros (eu penso que era isso que Haieck tambem pensava, mas os haieckistas são mais haieckistas que Haieck).
E muito triste (confesso que penso compreender a tristeza) Rui Rio diz "Não compreendo o governo".
O diagnóstico do livro de Pedro Adão e Silva
Perante este triste panorama, é de citar o livro de Pedro Adão e Silva "E agora?"
Não o li, mas assisti com gosto à sua entrevista de apresentação do livro.
O diagnóstico está correto. Com estes partidos não se consegue.
Os partidos deviam abrir-se, como dizia António Coutinho, com os meios da internet isso agora é fácil. As assembleias de freguesia deviam ser orgãos de informação e consulta obrigatória pelo governo central para recolha e sondagem de opinião dos cidadãos.
As eleições internas dos partidos deveriam ser acessíveis a qualquer cidadão segundo a votação preferencial (ordenamento dos candidatos por ordem de preferencia; obviamente votação apenas num partido).
Os partidos têm de mudar, a alternancia não resolve. E porque tem o dirigente máximo do partido que ganhou as eleições de ser o primeiro ministro até ao fim da legislatura? (nas democracias anglo-saxónicas o primeiro ministro muda, como recentemente aconteceu na Austrália sem que o partido deixe de estar no poder).
Caímos nas casas negras do jogo da Glória, temos de recuar , e quando voltamos a avançar caimos outra vez. Não há esperança que uma alternancia departidos resolva isto nas próximas eleições. Estes partidos são círculos fechados, são pequenos meios dominados por pequenos tiranos. E os tiranos que agora compõem o governo são fanáticos radicais, fundamentalistas da austeridade mítica, quanto mais cortes mais depressa se começa crescer. Falta abertura e debate alargado para soluções técnicas com retorno. Não se pode sair deste ciclo nos tempos mais próximos, apesar de personalidades da mesma cor politica do governo dos nibelungos advogarem medidas contra o desemprego e a favor do crescimento. Nem sequer se pode sair do euro, ele próprio vítima dos tratados paralisantes (nem sequer se fabricam euros para estimular o investimento nos paises que precisam, não se reduzem os juros aos governos que precisam, não se transferem os excedentes para os défices, não se "autoriza" uma pequena inflação para haver mais dinheiro em circulação...).
Mas, como diz o livro, devemos ser otimistas.

1 - Informação sobre a "austeridade expansionista dos rapazes de Bocconi" retirada do artigo de Paul Krugman no Quociente de Inteligencia do DN de 22 de junho de 2013 citando os seguintes livros:
-"The alchemists: three central bankers and a world on fire" de Neil Irwin, ed. Penguin
-"Austerity: the history of a dangerous idea" de Mark Blyth, ed.Oxford University Press
-"The great deformation: the corruption of capitalism in America" de David Stockman, ed. Public Affairs

2 - Informação sobre o estudo de Pedro Lourtie sobre a empregabilidade dos cursos superiores com base no relatório do Gabinete de planeamento, estratégia, avaliação e relações internacionais do ministério da educação e ciência (GPEARI), retirado do suplemento Zoom do DN de 27 de junho de 2013.







quarta-feira, 26 de junho de 2013

Como é diferente o amor emPortugal

Como é diferente o amor em Portugal, escreveu Julio Dantas na sua Ceia dos cardeais.
E não é só o amor que é diferente, é a subserviencia aos neoliberais de Bruxelas e Frankfurt dos senhores governantes em Portugal enquanto em Espanha polidamente informam os benfeitores da troika que se quiserem mandar dinheiro para os bancos é o que quiserem mas memorandos não.

vista panorâmica do anfiteatro do parque da Bela Vista, com o palco à direita, o bar em frente e contentores para garrafas e copos por todo o lado
trabalhos preparatórios do espetáculo; é verdade que felizmente dá trabalho a muita gente, mas qual é a componente transacionável?


E outro exemplo tão interessante em como é diferente em Espanha:
-  Custo do bilhete mais barato no parque da Bela Vista para assistir em Lisboa ao espetáculo de Bon Jovi em 26 de junho de 2013: 59 euros.
- custo do bilhete mais barato no estádio Vicente Calderon para assistir em Madrid ao mesmo espetáculo em 27 de junho de 2013: 15 euros.
Não vale a pena argumentar (apesar, ou talvez "et pour cause", porque "contra factos há sempre argumentos",  como dizia aquele senhor novo governante de quem Batista Bastos diz que tem a voz em formação, coisa estranha num professor tão cotado, sabendo-se que os professores interessados em que a sua mensagem chegue aos alunos aprendem a colocar a voz, muitos deles com algum esforço, mas também é verdade que o tempo de trabalho dos professores não é só o tempo em que estão em cima do estrado) porque as pessoas não mudam os seus esquemas de raciocinio que consideram superiores à realidade, mas choca, e muito, ver como parte da sociedade portuguesa está imune à crise (cerca de 500 bilhetes vip vendidos a cerca de 300 euros) e nada se faz para reduzir o fosso entre ricos e pobres, para repartir com mais eficácia os sacrificios por todos, e canhestramente vai-se cortando nas despesas do funcionalismo público, que representa 10% da população ativa.
Graves dificuldades de interpretação da realidade, a mim me parece, quando se chega a este ponto.
Imagino a "organização" do espetáculo de Lisboa a explicar a Bon Jovi que não há problema, que há poder de compra para encher o recinto. E a de Madrid a dizer que há uma grande crise e o senhor a prescindir do seu "cachet" para ter o estádio cheio.
Enfim, faz tudo parte da encenação em que na peça atual figuramos como provincianos.
Já era assim no tempo do rei da pimenta; os fidalgos de Lisboa andavam vestidos de sedas caras, embora nada produzissem de transacionável.

consciencia ambientalista e comunitária entre assistentes a um jogo de futebol da copa - como é diferente em Portugal, em que os carros são deixados amontoados no meio das avenidas enquanto os espetadores cumprem religiosamente o dogma "panem et circensis";    com a devida vénia à Reuters e DN


Tambem no Brasil é diferente.
Perante manifestações de protesto a presidente anunciou:
- elaboração do plano nacional de mobilidade urbana (a senhora já percebeu uma coisa que o senhor secretário de estado em Portugal tem dificuldade: é que tem de se cortar no desperdicio do transporte individual com uma quota exagerada nas deslocações urbanas relativamente ao transporte coletivo, nomeadamente ferroviário; e que o direito à mobilidade é um direito constitucional);
- afetação prioritária dos recursos do petróleo à educação (não há petróleo explorável em Portugal, mas a eletricidade com origem renovável em Portugal pode ser exportada, embora isso não contribua para já para resolver o problema da educação em Portugal; é que segundo a OCDE, no relatório "Education at a glance 2013", o desafio em Portugal continua a ser "aumentar s baixas taxas de escolaridade"; como são polidos, apenas dizem que quanto menor for a escolarização, maior é o risco de desemprego; se fossem mais crus diriam que o estado da educação que temos, indesejável já no anterior governo e indesejável no atual, proporciona abandono escolar, desemprego, vandalismo e criminalidade ; mas como os senhores governantes acham que se deve deixar o mercado funcionar, assim continuamos)
- importar  médicos para reforço do sistema unico de saúde (será que Portugal vai exportar médicos?)
- reuniões com representantes dos manifestantes (já imaginaram o senhor presidente português, o senhor primeiro ministro ou o senhor presidente do supremo tribunal a receber representantes de manifestantes e discutor com eles propostas e medidas concretas? já imaginaram? caíam os parentes na lama, não era? num país em que nem os ministros sabem as linhas com que se cose o tal guião da reforma do Estado, e muito menos que medidas concretas para o crescimento económico, pese embora as conferencias de imprensa mais ou menos surrealistas do senhor ministro Alvaro)
- "quero contribuir para ... uma profunda reforma política, que amplie a participação popular" declarou a senhora (idem, idem, idem, idem ...  ...  ...  ...  ...  ...  ...)
- "precisamos de oxigenar o nosso sistema politico, encontrar mecanismos que tornem as nossas instituições mais transparentes mais resistentes aos malfeitores e, acima de tudo, mais permeáveis à influencia da sociedade", declarou também a senhora (idem, idem, idem, idem ...  ...  ...  ...  ...  ...  ...)

É verdade que o Brasil não é Portugal, que tem recursos que não temos e que tem indicadores de bem estar que têm de melhorar.
Mas não é o mercado a funcionar que resolve os indicadores, nem reduz as desigualdades.
E uma cooperação mais apertada entre Portugal e o Brasil seria bem vinda, quanto mais não fosse para picar o crâneo dos burocratas neoliberais de Bruxelas e Frankfurt.
Era bonito, para que nos  libertássemos da maldição de Fernandes Tomás, quando em 1820 disse com despudor "passe o senhor Brasil muito bem".

Como é diferente em Portugal, onde governos que prometem no 5º mês do ano que "agora", com a diminuição do défice e com a estabilização financeira, é a hora do investimento, para um mês depois reconhecer que o défice foi de 10% no 1º trimestre quando a meta é de 5,5% em 2013 (já foi de 4,5%) e que os juros estão a subir.
É que nos outros países quando um governo diz uma coisa e acontece outra muda-se de primeiro ministro e de ministro das finanças, mesmo sem mudar mais nada (aqui discordo de quem quer eleições já; eu por mim esperava por 2015).
Mas aqui é isto que se vê.

PS em 27 de junho de 2013 - Realizou-se o espetáculo, parece que a contento dos apreciadores. Terão sido 20.000? 1,4 milhões de euros de receita? Quanto terá ficado para receita fiscal? 400.000 euros?quanto terá ido para o exterior? 800.000 euros? E os combustiveis fósseis consumidos por 10.000 deslocações? Pobre país, com uma dívida externa tão grande (não, não é só a dívida pública, a privada também é externa), a continuar a endividar-se. Mas o poder de compra existe...






O far-west dos cabos de televisão, internet, telefonia e afins

Nas fotografias seguintes podem ver-se exemplos do far-west dos cabos de televisão, internet, telefonia e afins. Isto é um bocadinho como o princípio da conservação da energia. Num sistema isolado não há nada de novo, apenas transformações de uma forma noutra.
Antigamente havia aquele espetáculo horrivel das antenas a estragar a panoramica dos telhados. Agora, as antenas dos telhados caem de podres, com exceção das antenas para os telemóveis, que tambem desfeiam mais do que o aceitável. 
De modo que a falta de estética transferiu-se dos telhados para as fachadas e para os postes de telecomunicações.
Riqueza por um lado, que Portugal está sempre na moda com a adesão às 4as gerações de iPods e iPads com Androids e afins, e com as super alta definições de TV.
Para isso há dinheiro (precisamos de tanta alta definição?, precisamos de tanto Android?), mas para a estética não há.
Opções, ou as telecomunicações na favela dos ricos.










Segurança Social por Raquel Varela

Era inevitável, com o ataque dos senhores governantes à Segurança Social, que se sucedessem os livros sobre o assunto.
Por exemplo:
-Segurança social, o futuro hipotecado, Fernando Ribeiro Mendes, ed. Fundação Francisco Manuel dos Santos
- Quem paga o Estado Social em Portugal? , Raquel Varela , ed. Bertrand
- Como salvar a minha reforma, David Almas e Joaquim Madrinha, ed. Lua de papel

Alguns comentam com serenidade os argumentos e as propostas dos senhores governantes e dos seus jornalistas e comentadores de serviço.
A doutrina oficial é de que o crescimento demográfico, aumentando o numero de reformados e diminuindo o numero de ativos, agravada esta diminuição pela crise internacional e globalização associada, tornou insustentável a Segurança Social.
Mais explicam os defensores do pensamento unico dominante que são os ativos que pagam as reformas.
De facto é verdade, é o sistema pay as you go ou de repartição que é o mais favorável se houver crescimento demográfico e emprego.
Nada impede portanto que o sistema se vá adaptando às condições reais aumentando a componente de capitalização.
Claro que o objetivo da alta finança internacional é privatizar a segurança social, absorver e acumular os seus capitais. O modelo até já está definido através do ministro de Pinochet José Piñeras e no Chile o sistema de reformas é mesmo por capitalização de contas individuais.
Mas lá está, ou 8 ou 80, um ""mix" seria mais conveniente, e a capitalização poderia não ser feita só por privados.
Mas parece que os senhores goernanates, ou por incapacidade ou por opção ideológica, têm dificuldade em resolver isto.
O numero de ativos e a taxa de emprego não diminuem principalmente por razões demográficas.
Diminuem por razões tecnológicas.
Graças ao desenvolvimento tecnológico e de técnicas de gestão, basta uma população ativa de 40% para manter a economia de um país.
E até para que ela cresça, se oprimirmos convenientemente os 60% restantes.
Com uma boa taxa de abstenção, levando esses 60% a desacreditar no sistema democrático e contando com a falta de solidariedade da maioria dos 40% empregados, é possivel manter o sistema a funcionar. Desde que se dê emprego aos policias de choque, evidentemente.
Temos então, por dedução lógica, que a insustentabilidade da segurança Social se deve a razões tecnológicas (quem me acusar de marxista dirá que por razões de modo de produção).
E para manter a sustentabilidade da segurança social em época de diminuição da população ativa, sem penalizar os pensionistas, é necessário e suficiente que o PIB cresça.
(ver
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2013/05/um-pouco-de-teoria-da-seguranca-social.html      )

Isto é, que haja investimento, que nas condições atuais só poderá vir do QREN/Horizonte 2020, mas isso exigiria que os senhores governantes compreendessem a problemática dos investimentos (há que investir na produção de energia, de combustíveis a partir das renováveis, em centrais solares de sais fundidos, em transportes coletivos, em aquacultura, na reabilitação urbana ... ) e que os técnicos tivessem autonomia para fazer os projetos (sem o que não haverá financiamento), e que não houvesse tanta fé no aumento da procura interna porque o peso da procura interna no PIB já é demasiado e porque a procura interna acabará por se desviar para a procura externa, nem que seja através da compra de camarões, ameijoas e pangasius vietnamitas ou laranjas da África do Sul, isto para não falar nos BMW, Audi, Mercedes e férias no Caribe ou no Dubai.

Tudo isto a propósito do ultimo livro coordenado por Raquel Varela, "A segurança social é sustentável, trabalho, estado e segurança social em Portugal", ed. Bertrand.
Algumas ideias:
- se a segurança social falhar, a população desenvolverá técnicas de subsistencia e de economia paralela, desde aluguer de quartos ao comércio informal de comida e vestuário
- nem sempre a segurança social é uma conquista das organizações dos trabalhadores; o primeiro sistema foi instituido por Bismarck e até no Chile dos ultimos anos de Pinochet, José Piñeras instituiu a segurança social, embora privada, depois de uma década da sua ausencia
- o pensamento unico atual neo-liberal pretende transferir a riqueza publica da segurança social para a riqueza privada, através da transferencia do rendimento do trabalho para o capital devida a salários baixos e cortes nas despesas públicas, sendo certo que a soma dos ativos investidos em todo o mundo por detentores de mais de um milhão de dólares é superior ao total das dívidas públicas de todo o mundo (isto é, afinal não há crise de crédito)
- em 1973 os rendimentos do trabalho eram 49,2% e os do capital 50,8%;
  em 1975 os rendimentos do trabalho eram  64,7% e os do capital 35,3%;
  em 1983 os rendimentos do trabalho eram  50,2% e os do capital 49,8%;
- Einstein, durante a crise de 1930, escreveu que  "esta crise...baseia-se num conjunto de condições inteiramente novo, devido ao rápido progresso nos métodos de produção. Apenas uma fração do trabalho humano disponivel no mundo é necessário para a produção da quantidade total de bens de consumo necessários à vida. Sob um sistema económico completamente livre, este facto conduz ao desemprego, enquanto a maioria das pessoas são obrigadas a trabalhar pelo salário minimo que permite mantê-las vivas".
Como solução, Einstein propunha que "em cada ramo de industria o numero de horas de trabalho deveria ser reduzido por lei de forma que o desemprego fosse sistematicamente abolido. Ao mesmo tempo, o salário minimo deveria ser estabelecido de forma que o poder de compra dos trabalhadores acompanhe o ritmo da produção".
Mas os economistas têm dificuldade em compreender os fenómenos físicos que Einstein dominava.
- as causas fundamentais da crise de 1929 são muito semelhantes às da crise de 2007-2008, continuando a não ser razoável fazer recair sobre os trabalhadores o seu ónus.
- o orçamento de estado de 2013 prevê o défice do sistema previdencial de repartição (pay as you go) para 2023.

A problemática da segurança social é efetivamente complexa e requer uma preparação matemática e uma capacidade de concentração, abstração e análise já razoáveis.
Precisamente por isso os senhores governantes e seus comentadores de serviço inundam a opinião pública
com a ideia da insustentabilidade da segurança social por causas exclusiva da demografia, ocultando a importancia dos modos de produção e da organização do trabalho.
Do ponto de vista técnico, não me parece ético.


PS em 16 de outubro de 2013, dia de divulgação do OE para 2014, em que 82% da "austeridade" vem de cortes na função publica, reformados, educação e saúde, e 4% vem de receita de taxas sobre a banca e empresas energéticas -  Amável comentador que não gosta de escrever chamou-me a atenção para outra perspetiva sobre a sustentabilidade da segurança social não depender apenas da pirâmide demográfica: com o progresso tecnológico, as grandes empresas passaram a ser de capital intensivo e não de mão de obra intensiva; logo, é natural que as contribuições do capital para a segurança social sejam mais elevadas do que o que se verifica (50% do rendimento nacional é atribuido ao trabalho e paga 75% da receita dos impostos). A menos que, graças à redução dos
salários, se volte ao tempo em que as fragatas britanicas perseguiam os negreiros porque as explorações agricolas com escravos davam mais rendimento do que as que tinham incipientes máquinas de vapor, e em que os escravos da barca Charles em moçambique preferiam viver alimentados numa fazenda do que morrer de fome no desemprego.



terça-feira, 25 de junho de 2013

A eficiencia energética cresce

A eficiencia energética cresce com o transporte público.
Cartaz na traseira de alguns autocarros, em campanha de colaboração com a UITP.
Pena os carros de alta gama em que se fazem transportar os senhores governantes não terem de andar atrás dos autocarros.
Podia ser que aprendessem alguma coisa sobre eficiencia energética, pese embora a diminuição das receitas fiscais e o aumento da despesa com as redes de transporte coletivo (compensada com a diminuição do défice externo).


segunda-feira, 24 de junho de 2013

Bruce Springsteen no Brasil?

Grato a Pacheco Pereira por no seu programa de televisão ter apresentado este video de Bruce Springsteen.
Talvez ajude a perceber as manifestações no Brasil.
Talvez o problema das desigualdades e da insuficiencia dos indices de desenvolvimento humano.
O que não é bem a mesma coisa do indicador PIB.
Na verdade, a ciencia e as comunidades movem-se em sentidos diferente da economia das faculdades e dos bancos centrais:
"este mundo cão é um lugar engraçado para se viver,
os especuladores são ricos e quem trabalha é pobre"




I ain't got no home, I'm just a ramblin' around
A hard working ramblin' man, I go from town to town
The police make it hard wherever I may go
And I ain't got no home in this world anymore

I was farmin' on the shares and always I was poor
My crops I laid into the banker's door
And my wife took down and died upon the cabin floor
And I ain't got no home in this world anymore

Now as I look around it's mighty plain to see
This wide wicked world is a funny place to be
The gamblin' man is rich and the workin' man is poor
And I ain't got no home in this world anymore
                              




domingo, 23 de junho de 2013

Entrevista de Ferraz da Costa - crédito às pequenas e médias empresas

Existe uma dificuldade grave de perceção do problema do crédito às pequenas e médias empresas.
É, de facto, uma questão importante e deve haver apoio.
Mas existe um grande problema de falta de dimensão, por definição, que limita a eficácia dos empréstimos e investimentos.
Para além de raramente o setor estar virado para os tais bens e serviços transacionáveis que servem para combater a dívida externa (problemas mais graves do país: a dívida externa e o baixo PIB).
Uma das soluções para o problema da falta de dimensão é a associação das pequenas empresas em cooperativas. Há muitos exemplos de sucesso. As cooperativas de produção de vinho são um exemplo.
Dificuldade: a desconfiança congénita dos portugueses, e a sua insegurança que reduz a sua capacidade de trabalhar em grupo.
Quanto à falta de orientação para o setor transacionável, temos mais um exemplo de que as regras do mercado livre e da esperança na iniciativa privada não funciona em Portugal, por mais sucesso que tenha noutros países.
Parecerá que, para aumento do investimento para aumento do PIB  e redução da dívida externa, devemos caminhar, mesmo que transitoriamente, no sentido de uma planificação da economia, para escolha das áreas onde investir e oferecendo um guião de atuação em que a iniciativa privada se iria incorporando.
Um pouco como aquela ideia das autoestradas com "trens" de automóveis equipados com sistema de condução automática, ou com os pacotes de mensagens nas redes informáticas.
Já não estamos em época de correias de transmissão, de veios mecânicos e correias a ligar aos tornos, mas será ingenuidade esperar que basta emprestar a pequenas empresas, ou reduzir-lhes o IRC (deve reduzir-se, asim como IVA deve reduzir-se, mas não exageremos nem acreditemos que é o suficiente)  para que o PIB volte a crescer e a divida externa a diminuir ( ingenuidade só ultrapassada pela ideia de que a austeridade conduziria ao equilibrio orçamental e isso aumentaria a confiança dos investidores privados que investiriam mais).
Planificação da economia, precisa-se (pessoalmente diria que a prioridade é o investimento na produção go-alimentar, na produção de energia e na aplicação de fundos QREN/Horizonte 2020 nas infraestruturas de ligação a Espanha e à  Europa).
Sugiro, sobre a dimensão das empresas, a leitura da entrevista de Ferraz da Costa no DN/Dinheiro Vivo de 2013-06-22 (ver a resposta a questão sobre o estudo da OCDE sobre a diminuição do custo do trabalho e o aumento da produtividade em Portugal) :
http://www.dinheirovivo.pt/Economia/Artigo/CIECO184826.html?page=0


PS em 23 de junho - o facto de citar Ferraz da Costa não significa que concorde com tudo o que diz (discordo por exemplo da apreciação que faz do ministro das finanças, que pessoalmente considero incompatível com uma solução correta para a crise), mas que se deverá ponderar as suas obserações, nomeadamente sobre os maus resultados de novo investimento estrangeiro, as demoras da justiça e a burocracia e incerteza fiscal.

sábado, 22 de junho de 2013

Pequeno estudo de um caso de transportes na área metropolitana de Lisboa

Seja a área metropolitana de Lisboa.
Prescindamos do que já tinha tido tempo de ter sido resolvido, a saber um esquema mais justo de distribuição das receitas do passes segundo os passageiros.km transportados por cada modo de transporte, e a aceitação dos passes por todas as empresas, acabando com as exceções como a Fertagus e a TST.
Considere-se antes um caso de deslocação casa-emprego, não suscetível de generalização, pelo menos imediatamente, incluindo-se no pequeno estudo a comparação entre o transporte individual e o transporte coletivo.
Seja a deslocação entre uma habitação perto do largo de Santos o Velho e o local de trabalho no centro da Moita.

Percurso total com recurso ao transporte coletivo: 21km, assim repartidos: 0,5km a pé, 2,4 km de elétrico, 8,4 km de barco, 8,2 km de comboio e 1,5 km de bicicleta (guardada durante a noite junto da estação do comboio).
Duração média do percurso total: 60 minutos
Custo mensal: 64€/mês
Custo por km:    64€/(22dias uteis x 21km x 2) = 6,9 cent./km
Velocidade média: 21 km/h

Percurso total com recurso ao transporte individual: 38 km
Duração: 50 minutos
Custo por km (considerando: uma amortização de 2250€/ano para uma utilização de 8 anos de um carro de 20.000 euros e valor residual de 2.000 euros; percurso anual médio de 15.000 km; consumo de 6 litros/100km  e 1,5€/litro; 1000€/ano de seguros, revisões, IUC, estacionamentos e portagens), temos que cada km  ficará por : (2250+1000)/15000 + ((6 x 1,5)/100) = 0,307€/km    ou 30,7 cent./km
Custo mensal: (22 x 38 x 2 x 0,307) = 513€/mês
Velocidade média: 45,6 km/h

Conclusão: para usufruir de uma velocidade mais elevada e de menos 10 minutos por viagem, o transporte individual fica mais caro 513 - 64 = 449€/mês
Investindo esta poupança a uma taxa de juro de 2,4% ao ano, teriamos em 10 anos 60.950€.
Multiplicando pelo numero de cidadãos em identicas circunstancias que trabalham na área metropolitana de Lisboa e supondo que a generalização é legitima, poderemos fazer uma ideia do desperdício privado que a politica de transportes oficial provoca, "empurrando" o contribuinte para o automóvel, na mira do imposto sobre os combustíveis.
Isto para não falar no desperdício motivado pela pior eficiencia energética do transporte individual agravada pela importação de combustíveis.

De notar que o sucesso do transporte coletivo depende da viabilidade da inserção no percurso total de troços de modos suaves (pedonal ou bicicleta).

Donde, é urgente que as empresas de transporte coletivo dinamizem os parques de bicicletas junto das estações ou paragens (bicicletários, como dizem os brasileiros)

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Enquanto, no solstício de verão...

Enquanto, no solstício de verão, a terra se afasta mais do sol, no afélio, e a altura do sol ao meio dia atinge o seu máximo, ou dito de outro modo, a declinação máxima atinge 23º27', acontecimentos extraordinários chegam ao nosso conhecimento.

1 - pobre Barroso - escrevo pobre porque o senhor considera-se um grande político. Chamou reacionária à politica de defesa do audiovisual europeu que recusou a "globalização" e subordinação cultural aos USA. É natural que não se importe com o predomínio da cultura anglo saxónica, sendo que neste caso cultura é mais a sua vertente de subcultura, ou subproduto contrastante com a elevada cultura que tambem existe nos USA, mas que não nos chega nos filmes de maior sucesso, nem nos DVD, nem nos seus musicos, nem nos iPADs. Muito contente o senhor que montou o ecran iMax digital, como se fosse precisamente disso que os portugueses precisavam para equilibrar o defice (as pessoas ficam felizes ao ver os filmes nos iMax, diz o candido senhor). O iMax é ideal para nos mostrar aqueles filmes de zombies, de vampiros ou de piratas efabulados, e que são ótimos para atrasar o procesode mielinização dos adolescentes. Talvez Durão Barroso ache que são muito bons (será a recordação do "panem et circensis"). Como são incultos e desprovidos de sensibilidade para os assuntos de cultura os senhores dirigentes da Comissão Europeia... ou talvez acharão, como nos seus gloriosos tempos de MRPP, que a cultura europeia está muito "aburguesada" e como tal, à boa maneira da revolução cultural, deve ser amputada. Durão Barroso foi um distinto militante do MRPP quando jovem. Quando se é jovem, o cérebro humano encontra-se na plenitude das suas capacidades, em termos de processamento, de memorização, de formação de padrões cognitivos. Foi justamente nesta época que, de acordo com testemunhos de colegas, ele defendia as suas ideias através da violencia sobre os que chamava de social fascistas e revisionistas. Um seu colega até bastante tarde confessava que  a sua primeira reação ao ouvir falar de Durão Barros era de medo, recordando essa violencia. Outro colega , que usufruia da amizade do senhor nos tempos do MRPP, conta ainda hoje, bem humorado, como lhe ficou reconhecido quando o próprio Barroso o avisou para retirar o carro de determinado local onde eles iriam fazer uma expedição punitiva contra os carros dos social fascistas.
É natural que pessoalmente não tenha consideração de nenhuma espécie por senhores deste tipo. A sua participação na cimeira dos Açores preparatória da guerra do Iraque confirma essa impressão.

2 - o povão - interessante seguir as manifestações de brasileiros contra o aumento de 10% dos transportes. É mais um exemplo de como nós, portugueses, somos diferentes: os nossos transportes aumentam e os utilizadores voltam-se contra os trabalhadores de transportes que protestam, não contra o governo. Mas talvez devido à experiencia dos portugueses com os desperdicios com a construção de estádios, autoestradas com beneficio para os concessionários das PPP e aos indicios de corrupção, os brasileiros protestam tambem contra corrupção e os gastos com os estádios. Como dizia um  manifestante, "o futebol não educa". Ou como escreveu Neymar, jogador de futebol: "Sempre pensei que não devia ser preciso sair à rua para exigir melhores condições detransportes, saúde, educação e segurança...quero um Brasil mais justo, mais seguro, com melhor saúde e mais honesto". Ou como dizia um manifestante ao reporter da RTP:
"é a revolução"  (não será, não, que a revolução requer um plano, mas será o povão a explicar o que quer, e o que quer não será a minimização do Estado que os senhores engravatados saidos das faculdades de economia apregoam). Mas nós portugueses somos diferentes. O governo manobrará para que os jovens e os desempregados culpem os reformados, quer recebam reformas de fome, quer razoáveis. E não sei se nas eleições ficará claro que deve ser a economia a modificar-se para que a comunidade tenha um minimo de bem estar e desemprego a diminuir, e não o estado de bem estar a modificar-se para que a economia cumpra os requisitos das faculdades de economia e dos bancos centrais.

3 - quando o mercado não funciona - de um discurso do ministro da saúde: "uma das soluções orais que era fornecida aos hospitais a 20 euros por embalgem, é agora fornecida pelo laboratório militar a 3 euros". Eu espero que os publicanos não venham reclamar que o Estado está a fazer concorrencia à iniciativa privada. Aliás foi a própria industria privada que desistiu de fabricar os medicamentos que o laboratório militar fabrica. Só que muitas vezes grupos económicos ou financeiros não desistem e continuam a lucrar indevidamente com o cliente público, quer se trate de juros de empréstimos, de PPP , de resgate de bancos, de privatizzações/concessões  ou de rendas de energia. É uma pena não se fazer como o laboratório militar. Já o professor Daniel Barbosa dizia que se o mercado funcionar mal com preços elevados, o que há a fazer é lançar o produto na quantidade justa para os preços baixarem. A lei da concorrencia não pode ser invocada quando por assimetria de informação, por escassez ou por abuso de posição as empresas estão a prejudicar os contribuintes.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

A ponte de Skagit River - não basta a manutenção

Ponte de treliças com o tabuleiro inferior de tramos independentes; a carga demasiado alta de um camião partiu  a primeira e o esforço resultante sobre as outras secções foi sucessivamente ultrapassando a resistencia das que iam ficando; o acidente ocorreu em 23 d e maio de 2013; foi reposto o tráfego em 19 de junho de 2013 com um vão provisório
A manutenção das pontes é essencial. A ponte de Minneapolis caiu em 2007 por falta de manutenção (fratura progressivamente maior não detetada).
Depois disso, os USA concretizaram um plano de monitorização permanente das pontes.
No caso da ponte de Skagit River, no caminho de Vancouver para Seattle, a inspeção tinha sido recente e a manutenção estava em dia.
No entanto, recentemente tinha havido colisões de cargas com as vigas superiores das treliças, sendo que a altura livre nas vias exteriores é menor do que nas vias interiores.processando-se o tráfego pelo interior das treliças.
Custa a imaginar como nos acessos à ponte não existia uma cércea para detetar cargas de dimensão superior à admissível.  Havia plano de marcha e o camião era precedido por um carro de apoio.
Isto apenas para dizer que nas terras de paises desenvolvidos donde veio o senhor ministro da economia também há problemas.
E até se poderá dizer que o projeto foi otimista por não prever redundancia em caso de falha de uma secção.
No acidente houve apenas 3 feridos ligeiros que foram retirados do rio, mas infelizmente morreu um policia de transito nas operações de desvio por outra ponte.
Custo previsto de um tramo definitivo para substituir o tramo provisório já em serviço: 5,6 milhões de euros.

Interessante dispor-se desta informação tão próximo dos acontecimentos, enquanto nós, por cá, cultivando o secretismo pacóvio, continuamos à espera do relatório final do acidente de Alfarelos e sem réstia de esperança de conhecer as causas dos acidentes rodoviários que vão continuando a matar gente.


















http://en.wikipedia.org/wiki/I-5_Skagit_River_Bridge_collapse

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Nós os portugueses, pelo snailfish, as expropriações e a prosmicuidade entre o setor financeiro e o poder politico

Liparis Liparis  (seasnail ou snailfish) origem: Wikipedia



Snailfish, ou peixe caracol, nome cientifico Liparis liparis, era um discreto, pequeno e desengonçado peixinho de muitos mares, incluindo o Atlantico Norte, e todas as profundidades, de aspeto grotesco, parecido com um girino, de pele gelatinosa e, quando muito, até 30 cm.
Com boa vontade, parecido tambem com o peixe Nemo, embora não tanto exigente como ele nos locais para depositar os ovos.
Referenciado como sem interesse comercial.
O pobre peixe existe para comer os pequenos crustáceos e os organismos mais pequenos que ele, para poder alimentar os peixes maiores e as aves mergulhadoras.
Utilidade comercial: ser comido para os humanos comerem os peixes que o comem.
Nunca se tinha ouvido falar dele e até está pouco estudado, havendo biólogos que nem o distinguem numa família própria.
Era menos falado que o verdinho, outro peixinho que graças à sagacidade da senhora ministra Cristas saltou para as páginas dos jornais por a UE ter autorizado o aumento da quota de pesca por Portugal.
Ironizo quando falo de sagacidade, claro.
E de repente, o peixe caracol é o centro das atenções.
Foi apanhado o seu DNA em embalagens de "bacalhau com natas" congelado.
Deixe-se o conflito psicológico, os preconceitos alimentares (assim como assim, os insetos tambem são fontes de proteinas e vitaminas) e as vestes rasgadas dos defensores da moralidade pública, e veja-se o caso com serenidade (parece que o pobre peixe não tem o mercurio nem o cadmio nem os coli fecais que podemos encontrar noutros alimentos) .
Deu la Deu Martins serviu uma dieta de tripas enquanto oferecia aos castelhanos carne do lombo.
A grande superficie comercial que vendeu o peixe caracol disfarçado de bacalhau retirou imediatamente o produto da venda e chamou a atenção que, sendo um grupo estrangeiro, tem fornecedores portugueses e foi o fornecedor português que lhe vendeu o peixe caracol. A embalagem até traz a etiqueta: "Compro o que é nosso".
E de facto é irónico, porque é mesmo nosso, achar que não há problema em pulverizar o peixe caracol no meio das natas como se fosse bacalhau.
Eu confesso que não era capaz de distinguir.
Não estou a fazer apreciações legalistas porque é efetivamente fraude económica, tal como foi fraude ganhar um concurso há uns anos para fornecer rolhas de cortiça a um grande engarrafador de vinho chileno e a cortiça que foi depois forneida era de qualidade inferior à da amostra que venceu o concurso.

origem: DN

E se o peixe caracol tem valor alimentar, se não tem contraindicações de saúde, se é saboroso e se é mais barato, nada a objetar, sem prejuizo de se pensar a sério em eleborar um plano de execução de instalações de aquacultura em Portugal para reduzir as 300 mil toneladas de peixe de aquacultura importado anualmente pelo país (nenhum país é soberano se importar mais de 50% da sua alimentação).
Apenas refiro o expediente muito português de se dizer "ninguém vai reparar".
É uma questão essencial.
"Ninguem vai reparar".
É essencial porque revela a falta de rigor científico e de respeito pelo método científico que enforma a vida da comunidade portuguesa.
Estudar e verificar a composição de um congelado alimentar, estudar os limites e as implicações de uma expropriação para construir uma infraestrutura de serviço público exige tempo.
Mais vale passar por cima dos pormenores (que podem ser eles tambem, essenciais).
A referencia às expropriações vem a propósito da forma discreta de corrupção descrita por Paulo Morais: seja um terreno de aptidão agrícola com pouco valor comercial e sem autorização camarária para construção; o proprietário vende-o barato; o novo proprietário convence vereadores e técnicos da câmara a alterarem o plano diretor e autorizar um belo projeto urbanistico; acontece que o novo proprietário já sabia que se projetava a passagem de uma infraestrutura rodoviária, ferroviária ou aeroportuária por aquele terreno; o valor da expropriação é agora fixado em função das mais valias da operação urbanistica; o Estado compra assim o terreno para passar a sua autoestrada por um preço dezenas de vezes superior ao preço por que o primeiro proprietário o vendeu; foi assim criado um valor virtual que contribuiu para a dívida nacional (a população viveu acima das suas posses? sim, em 15% da dívida, apenas, responde Paulo Morais).
Existe outro tipo de expropriações, mais benigno, mais parecido com o caso do peixe caracol.
Quando houve necessidade de expropriar os terrenos entre Carnide e a Pontinha, para instalar o parque de material e oficinas do metropolitano de Lisboa, alguem da câmara municipal se lembrou de que se projetava a envolvente de Carnide e que pelo menos um parte das expropriações poderia "anexar-se" às do metropolitano. Porque "ninguem vai reparar". De facto, ninguem reparou, os terrenos da fábrica de telhas e tijolos foram convertidos parte em linhas de garagem do metro, parte em alcatrão da avenida envolvente de Carnide e parte, uns pequenos triangulos, em baldios ou hortas esporádicas ao lado da avenida. As pobres habitações que lá existiam demoraram um pouco a desabitar, mas conseguiu-se com muito mérito do colega advogado que tratou da aquisição de uns apartamentos no Cacem para o realojamento das pessoas e, mais importante do que isso, conseguiu convencer a senhora relutante em deixar a sua barraca com quintal que partilhava com o cão, arranjando uma familia para ficar com ele, que não ficaria bem no apartamento do Cacem.

Quanto ao peixe caracol e à sua comercialização pelo fornecedor português do grande supermercado, ocorre-me, na esperança de que não haja um excesso de perseguição justiceira, o episódio bíblico da senhora de vida fácil . Nosso senhor Jesus Cisto teria dito: Vai e não voltes a pecar, vai e comercializa o peixe caracol a um preço mais baixo, em embalagem bem identificada e com menos lucro, vai e expropria só o que é necessário e por um preço justo sem beneficiares politicos, nem vereadores nem empreiteiros, nem outros grupos económicos, financeiros ou familiares. Mas nosso senhor Jesus Cristo é o que dizem os evangelhos, escritos muitos anos depois e não há outras fontes que nos dêem o retrato histórico da  pessoa.
Então o que ele diz é o que nós gostariamos que ele dissesse, como quando citamos um grande economista para justificar o que dizemos no nosso próprio interesse.
Ou melhor dizendo, os atores desta história do peixe caracol vão continuar a representar a sua telenovela como muito bem entenderem.
No fundo, porque têm audiencia.
Só por isso.
E o pedido do profeta, vai e expropria só o que é necessário e pelo preço justo, não vai ser acatado por quem se move nos meios influentes financeiro e politico. A especulação com as expropriações e a apropriação de mais valias sem correspondencia com o valor intrinseco dos terrenos ou outros bens é possivel num contexto que não é a causa de um efeito mas é um catalizador, e que é a promiscuidade entre os agentes dos grupos financeiros, sejam eles caixa banco de investimento, Goldman Sachs, JPMorgan ou BESI, os membros do governo, os dirigentes de bancos centrais nacionais ou europeus, deputados membros de grandes gabinetes de advogados, agentes económicos de grandes grupos. E que não reduz a influencia ao caso das expropriações, antes passando pelas celebérrimas PPP, pela obsessão das privatizações-concessões, pelos concursos públicos de ajustes mais ou menos diretos.
Nós, portugueses, somos assim.
Ligamos mais importancia aos "fait divers" do que à necessidade de elaborar um plano de instalação de aquacultura em Portugal para produção de peixe até 300 mil toneladas por ano.






Susana Gaspar

Susana Gaspar, soprano, a quem desejo as maiores felicidades na sua carreira, incluindo o concurso Singer of the world em Cardiff.
Tenho pena de não a ter visto no S.Carlos, numa representação tipo estudio da ópera Comedy on the bridge, de Martinu. Mas tive o prazer de a ver como uma esplendida Lauretta em Gianni Schicchi de Puccini (ou de como a apropriação de uma herança pode envolver-se em muitas duvidas)
Já se sabe que a ópera é subversiva, ou pode querer dizer o contrário do que os senhores governantes de serviço querem que se diga.
No caso da Comedy on the bridge, composta imediatamente antes da II grande guerra por um compositor checo, denuncia-se o carater desumano e a irracionalidade da guerra.
Foi representada em Lisboa com Susana Gaspar em 2008, na programação de Cristopher Damon, que a senhora ministra de então, Canavilhas, acabou por demitir.
Com a desculpa de que a sua programação não era a que os espetadores do S.Carlos desejavam.
Eu, espetador do S.Carlos, nunca deleguei na senhora Canavilhas o meu desejo de programação e senti-me defraudado por perder a continuaçao do trabalho de Cristopher Damon (de todas as óperas que ele apresentou confesso que não gostei de uma delas, mas gostei muito da maioria).
Por isso comparei a ação da senhora ministra à da heroina da ópera Sansão e Dalila, e achei que mais uma vez, agora na Cultura, o anterior governo preparou o terreno para o descalabro do atual governo.
Com um orçamento exiguo e impedimentos burocráticos que limitam a possibilidade de retorno do investimento (publicidade, patrocinios de intercambios com outros teatros, ...) o S.Carlos definha.
Mas convem aos senhores governantes, a ópera pode ser subversiva.
Excerto da entrevista a Susana Gaspar, pelo DN, depois de lhe perguntar se esperava ter mais convites de Portugal e como vê a situação do S.Carlos:
"... vou cantar a Portugal, em setembro, os Ruckert lieder, com outros musicos portugueses que estudam no estrangeiro... não espero ter mais convites, mas gostava de ter...sei que a situação do S.Carlos está muito mal, o que me põe muito triste...a cultura é mesmo muito importante e saber que a estão a matar,a destruir,  e mais , à própria vontade de se fazer cultura e arte em Portugal... isso para mim é destruir um país."

Este é o testemunho de uma pessoa de 32 anos, que trabalha no estrangeiro como alguns dos senhores governantes atuais gostam, revelando incultura e ignorancia de que, de acordo com as regras do sistema de repartição da segurança social "pay as you go", o Estado português teve despesa com a formação dos emigrantes, que depois vão pagar as reformas dos reformados estrangeiros.
Enfim, malhas que o império tece.

domingo, 16 de junho de 2013

Nós, os portugueses, contra Einstein

Gosto dos portugueses, claro, mas isso não deve impedir a auto-critica.
Os portugueses têm o grande defeito de se fecharem em círculos restritos, fechados a uma visão integrada e abrangente.
Há quem se queixe de que os portugueses não valorizam o que fazem, mas reparem na preocupação que eles têm em acharem que são os melhores do mundo, que os seus atores são muito bons, que os seus jovens cientistas têm a comunidade científica aos seus pés, que os nossos criadores de moda são os  melhores, que os gestores das nossas empresas são muito bons, que o nosso vinho é melhor do que o espanhol (evidentemente que para umpaladar habituado desde criança a umtipo de bebida, uma bebida difernte não é tão agradável), que o nosso sol e as nossas praias são melhores do que as do Mediterraneo, que os jogadores de futebol portugueses são os melhores, etc, etc. Até no caso dos senhores ministros há portugueses que acham que fazem muito bem e outros que são extremamente incompetentes.
Trata-se de um sintoma típico de insegurança, quer as queixas de subvalorização, quer as gabações.
O grande e nocivo problema é que este defeito de considerar uma minoria como o suprasumo é uma forma de imobilismo que impede o progresso.
Não se consegue sair do círculo vicioso da mediocridade.
Prevalece o culto dos bonzos e do magister dixit.
Qualquer área de atividade é normalmente dominada por um grupo que se fecha à penetração do exterior.
O imperativo da renovação dos elementos dominantes defronta-se com o problema de que os sucessores (delfins, na gíria) só poderão vingar por subserviencia e incapacidade de contrariar o pensamento dominante.
Existem então duas classes de bajuladores: uma. de sinceros bajuladores que evidenciam a sua incompetencia, e outra de bajuladores disfarçados que esperam a sua oportunidade.
Nenhuma é saudável, nenhuma contraria o unanimismo.
Qualquer oposição que possa trazer nova luz à discussão é considerada uma afronta aos elementos dominantes, evidenciando claramente a sua insegurança e receio de perda.
Quer se trate de um clube de futebol, do executivo de uma câmara municipal, ou do governo.
Perante o avolumar dos problemas, decide-se reforçar o unanimismo e proclama-se a necessidade de consensos, agravando o problema.
Os governos nomeiam pessoas da sua confiança oriundos dos meios restritos em que se movem.
Porque os meios são restritos, sobrepõem-se as atividades na esfera pública e na privada, com conflitos de interesses escolasticamente negados, mas promíscuos na realidade.
A necessidade é outra, é a de dissensos, para que todas as hipóteses sejam analisadas e possa ser escolhida uma solução com plano de recuo (plano B) e com monitorização de resultados.
Tudo isto exigiria uma formação teórica e prática no método científico e a aplicação de princípios da física e da matemática, nomeadamente da estatística , da recolha de dados e do seu tratamento.
Não é isso que se vê, com a agravante da crónica dificuldade portuguesa da interpretação de textos (outra forma de insegurança radicada na precipitação com que se escolhe a primeira interpretação que parece ameaçar as convicções próprias).
Por isso as medidas que se tomam vão normalmente no sentido contrário ao que poderia aliviar o problema.
Veja-se a questão da lei eleitoral, por exemplo, que se pretende mudar diminuindo a componente proporcional e, portanto, caindo no unanimismo imobilista e alienado de soluções inovadoras (pese o risco de soluções inovadoras, que como tal exigem monitorização e plano B).
Por isso digo que é um defeito dos portugueses, aceitar que lhes digam que não há alternativa.
Há sempre alternativa, pode é durar mais tempo do que o desejável.
Nada há de determinista na natureza.
Nem a estupidez humana, que Einstein me perdoe, ele que tinha menos dúvidas sobre a expansão infinita dela do que sobre a expansão do universo.



sábado, 15 de junho de 2013

Cartier





futura loja Cartier na avenida da Liberdade


Cartier, lojas de luxo.
O meu colega mais velho, numa deslocação de serviço a Paris, em 1992, desviou-me, passando o edificio da Opera, pela rue de la Paix e pela praça Vendome. Quis-me mostrar as montras das lojas Cartier. Tive de lhe agradecer, era uma informação que se dá a todos os maridos quando vão a Paris com as consortes.
Mas fiquei a pensar que não tinha intenção nenhuma de comprar fosse o que fosse numa loja Cartier.
Não que as peças não sejam bonitas e que seu trabalho não  mereça o dinheiro.
Mas contento-me com as peças das ourivesarias da rua Tomé de Barros Queirós, ali a S.Domingos.
Quem não se contentar, ou quem de terras do petróleo venha a Lisboa às compras, vai ter dentro de pouco tempo uma loja Cartier na Avenida da Liberdade.
Será a economia de mercado a funcionar, num país em que o PIB diminui, a dívida externa aumenta e o desemprego aumenta, mais uma loja de luxo em Lisboa.
Haverá justificação, os turistas de terras do petróleo são capazes de gostar, se a gestão da Cartier decidiu investir, haverá justificação.
Pela minha parte vou continuar a dispensar tais serviços, e a dita economia de mercado não se importará com isso.
Recordo que no rés do chão do prédio que lá estava, de que se conservaram as paredes exteriores, funcionava uma loja de carimbos e fotogravuras. Lá se fabricavam os carimbos de borracha para as máquinas manuais de impressão de bilhetes do metropolitano, desde a inauguração em 1959 até à entrada no euro em 2002 (coincidindo com a entrada em serviço do atual sistema de títulos de transporte).
O carimbo com a designação do tipo de bilhete e o preço era colado num cilindro rotativo acionado por um motor elétrico. Podia imprimir duma vez 1 ou 10 bilhetes, com desconto neste caso. A velocidade de rotação era limitada por um par de platinados cuja faísca introduzia uma resistencia adicional no circuito do motor. Antiquada, a tecnologia? Claro que era, mas os 10 bilhetes eram fabricados em 7,5 segundos. Nenhuma máquina de bilhetes moderna fabrica um bilhete em 0,75 segundos. Evidentemente que não se põe o problema, agora, com os "chips" embebidos no cartão para utilização simples ou múltipla, mas é um facto, a máquina de carimbos era eficiente em termos de produtividade no tempo.


um pouco mais abaixo, na avenida da Liberdade, contrastes da economia de mercado







sexta-feira, 14 de junho de 2013

Notícias em 14 de junho de 2013 - a ópera subversiva e a praça Taksim

Notícias do dia:

1 . ópera subversiva - Ópera "Aliados", de Sebastian Rivas, libreto de Esteban Buch, sobre a visita de Thatcher a Pinochet, em prisão domiciliária perto de Londres, para um chá, em 1999, já na velhice de ambos.
Reagan e Thatcher promoveram efetivamente uma revolução aplicando as ideias de Haieck e de Friedman.
Pinochet já antes o tinha tentado.
É pois natural a sintonia entre Thatcher e Pinochet.
Thatacher agradeceu a Pinochet ter trazido a democracia ao Chile (!!!), mas não esquecer, contudo , que até ela escreveu a Haieck dizendo que há coisas que não se podem fazer num país democrático (lembrete para os senhores da troika).
A ópera vai ser estreada no teatro de Gennevilliers, perto de Paris.
Após anos e anos do triunfo das ideias neoliberais, só possivel graças ao dominio mundial do problema da energia pelos USA e seus aliados (confirmado pela papel desempenhado pelo clã Bush no controle da energia primária) é bom que se divulgue esta associação.
Afinal o mercado livre não traz a felicidade dos povos.
Se os pobres de hoje vivem melhor do que os de há 20 anos, isso deve-se à tecnologia e ao progresso da medicina assistencial, não à economia de mercado.
Aliás, estudando a história da ciencia e tecnologia e a história da economia, vê-se que elas se desenvolvem em sentidos inversos: a ciencia com base na partilha do conhecimento, a economia com base na sua apropriação.
Mas não podemos exigir aos eleitores um mestrado em história das ciencias.
A aguardar mais informação sobre a ópera "Aliados".



2 - Praça Taksim - Salvo melhor opinião, há um pormenor importante que mostra a diferença entre as manifestações na praça Taksim, em Istambul, e as manifestações da chamada "primavera árabe". É que na praça Taksim são mostrados cartazes com a figura de Kemal Ataturk, que conseguiu, depois da queda do império otomano e da derrota na I grande guerra, transformar o estado turco num estado laico com estruturas democráticas modernas. O grande peso da população rural, subjugada pela tradição religiosa, tem dado a maioria ao partido islamico no poder.
Transcrevo, com a devida vénia ao DN e ao seu cronista J.M.Pureza, um pequeno texto de Kees van der Pijl, professor de relações internacionais na universidade de Sussex: "o lento ressurgimento do Islão politico dá hoje ao partido no poder na Turquia  um papel comparável ao da democracia cristã na Europa ocidental pós 1945, que serviu também para facilitar o desenvolvimento capitalista através de uma estética politica de compensação desenvolvida fundamentalmente contra a esquerda laica".
Interessante verificar, nesta perspetiva, que 7 séculos depois da idade média e 3 séculos depois do iluminismo e da revolução francesa, continuam a ser grupos restritos, por vezes familiares como o clã Bush, e como os grandes grupos económicos e financeiros, a dominar a gestão da res publica, sob uma difusa opressão religiosa, clerical e tradicional, ou emanada de faculdades de economia, condicionando as consciencias e as ações.
Mas enfim, como dizia Manuel Alegre, "há sempre alguem que resiste".



quinta-feira, 13 de junho de 2013

O elevador da pensão de Vila Nova de Xarem

A burocracia é, do ponto de vista psiquiátrico, um sintoma de insegurança ou escrúpulo de regulamentação. A pessoa que por um motivo ou outro adquiriu poder (normalmente por desatenção de quem lho deu) perde-se no pormenor do que acha que seria bom estar estabelecido para que fosse considerado um bom gestor ou regulamentador.
Como qualquer doença, atua no sentido inverso ao do progresso.

Sabe-se que em Portugal a burocracia está instituida, de forma crónica.
Agradeço ao DN a noticia sobre dois exemplos desta doença:
1 - a exigencia pelo atual governo do preenchimento de um formulário anexo ao IRS com informações que o sistema informático já possui (para isso se gastaram fundos comunitários)
2 - o encarecimento artificial dos serviços públicos de registo de propriedade, beneficiando claramente os notários privados (a lei da concorrencia determina que nenhum ato do governo deverá prejudicar um setor relativamente ao outro)
Entretanto, o próprio governo atual parece moderar a sua fúria contra o Simplex do governo anterior (é no que dá quando a cultura dos comentários das caixas da internet enforma a opinião das juventudes partidárias que sustentam os governantes).
Ainda no DN uma figura de destaque do partido no poder, mas que em certos domínios não poupa críticas, comentava há tempos que a politica fiscal deveria impedir o fecho de pequenas empresas, em vez de lhes exigir draconianamente máquinas de registo e software de transmissão automática de faturas.

Dir-se-á que se está a alargar a base tributária, contribuindo para aumentar o PIB, que deve ser o objetivo principal.

Não, não está, a observação sugere que esse alargamento é inferior ao que se perde por saída da atividade.

A minha história ilustra este facto, e permito-me acrescentar uma sugestão (que o atual ministro das finanças nunca se dignará considerar).

Vila Nova de Xarem tinha uma pensão que albergava alguns turistas franceses e alemães de não muito grande poder económico, nos meses de inverno.
Vila Nova de Xarem está a 30 minutos em marcha repousada de um dos areais mais acolhedores do sotavento algarvio, que permite aos turistas fazer longos percursos ao longo da frente de água e retemperarem-se em Vila Velha de Xarem, acantonada à volta de um castelo anti-filipino, mas que pelas reminiscencias onomásticas incorporará pedras muçulmanas.

O regulador das atividades económicas (o tal da insegurança e do escrúpulo regulamentador) impôs à senhora da pensão, para continuar a trabalhar, a instalação de um elevador para acesso aos 3 andares, o equipamento de todos os quartos com WC e a remodelação da cozinha para os pequenos almoços.
Eu estimei a obra do elevador e sua ligação aos andares em 50 mil euros, ao que a senhora disse que nem pensar.

um elevador assim, de montagem exterior, resolveria o problema


E assim a senhora, que empregava a filha e o  marido, e no verão dava trabalho a equipas de limpeza, limita-se agora a exercer sózinha uma atividade que eu não digo qual é por receio da insegurança do regulador, mas que atesto que é séria, útil e está registada oficialmente.

Trata-se assim de um exemplo de trabalhar abaixo das potencialidades deste país.
Porque de facto é impossível, com os juros e as exigencias dos bancos, os requisitos do regulador e as dificuldades crónicas de controle efetivo dos preços de construção civil, pôr a pensão a funcionar.

Dirão os senhores governantes que por um passe de mágica as faturas eletrónicas e o seu software (o tal negócio que a senhora ainda gere obrigou a um investimento nestas maravilhas de 1500 euros; mais uma vez se verifica a regra da corrupção em Portugal: por metade do preço o fornecedor teria tido lucro, menos é certo, mas lucro, entendendo-se aqui por corruptor violador da lei da concorrencia, não quem passa a fatura de 1500 euros, mas quem influenciou de forma assimétrica o mercado, de modo a favorecer setores de atividade), a benevolencia dos bancos e as normas invocadas pelo regulador inseguro resolveriam o assunto.
Não resolvem coisa nenhuma, Eduardo III de Inglaterra, já o sabia, inseguro também, enfrentando a crise económica da peste negra (curioso, simultaneamente com a crise portuguesa de 1383), e enganando com compensações Wat Tyler.
É desumano cortar condições de trabalho a quem trabalha.
Depois não se admirem da atividade paralela (com que direito se poderá condenar a senhora se alugar o quarto a uma "prima" holandesa nos gloriosos dias de junho?).
Se os senhores burocratas regulamentadores tivessem alguma experiencia de vida útil, saberiam que pessoas como esta senhora precisariam de gabinetes de apoio técnico na sua câmara municipal de aceso público, que lhe preparasse o processo e controlasse a obra.
Mas isso seria aumentar as competencias do setor público e cortar  oportunidades ao "mercado" de iniciativa privada de gabinetes e empreiteiros de construção civil .
Melhor ficar tudo como está, no imobilismo, para não contariar a cartilha do estado mínimo (é possível que os senhores governantes ignorem a experiencia dos GAT, gabinetes de apoio técnico, quando a seguir ao 25 de abril foi necessário corrigir e substituir o parque habitacional existente, vulgo barracas).

Solução, já proposta no DN pela figura destacada do partido do poder e, passe a imodéstia, neste blogue: qualquer cidadão que trabalhe para o turismo declarará, na comissão municipal de turismo da sua câmara, por sua iniciativa e sem multas nem investigações inquisitoriais, quanto estima lucrar durante o ano. Os softwares podem estar apenas nessas comissões, que nas câmaras já há muita gente que sabe trabalhar com computadores.
E só.
Deviam experimentar, para ver se aprendiam alguma coisa com a experiencia dos outros em vez de considerar os velhos como estando a mais e recebendo reformas insustentáveis.

Ainda o apanhamos, ainda o apanhamos

um americano no Terreiro do Paço, no início da Rua da Prata, no seu percurso de Belem para Santa Apolónia;
foto de 1895 em "História do elétrico da Carris", de Marina Tavares Dias, ed. Quimera; quando a ação de os Maias termina  em 1885, a carreira 
de Santa Apolónia, inaugurada em novembro de 1873 até ao Aterro (Av.24 de julho),  só chegava a Alcantara; Carlos da Maia, morador na Rua das Janelas Verdes, tinha um transporte coletivo para a Baixa à sua porta


"Os dois amigos lançaram o passo, largamente. E Carlos, que arrojara o charuto, ia dizendo na aragem fina e fria que lhes cortava a face:
- Que raiva ter esquecido o paiozinho! Enfim, acabou-se. Ao menos, assentámos a teoria definitiva da existência. Com efeito, não vale a pena fazer um esforço, correr com ânsia para coisa alguma.
Ega, ao lado, ajuntava, ofegante, atirando as pernas magras:
-Nem para o amor, nem para a glória, nem para o dinheiro, nem para o poder...
A lanterna vermelha do «americano», ao longe, no escuro, parara. E foi em Carlos e em João da Ega uma esperança, outro esforço:
- Ainda o apanhamos!
- Ainda o apanhamos!
De novo a lanterna deslizou e fugiu. Então, para apanhar o «americano», os dois amigos romperam a correr desesperadamente pela Rampa de Santos e pelo Aterro, sob a primeira claridade do luar que subia."


americanos na Rua do Arsenal, no seu percurso de Santa Apolónia para Belém; notar a circulação pela esquerda, em vigor até 1929;
 em "História do elétrico da Carris", de Marina Tavares Dias, ed. Quimera


Este é o texto final de Os Maias, de Eça de Queirós.
Depois de encontrada a solução para os males do mundo, e decretada solenemente a inutilidade de qualquer esforço de correr atrás seja do que for, o grito libertador ecoa para os lados das escadinhas da praia em Santos, onde o aterro ganhava espaço ao rio em obra pública mais consistente do que o pífio arranjo estético da zona ribeirinha a que assistimos encolhidos, tolhidos pelo peso da dívida maior do que a de Fontes Pereira de Melo, e os dois burgueses, sem preocupações financeiras e atrasados para a ceia na Baixa, correm desalmadamente para apanhar o "americano" da linha para Santa Apolónia. 
Dir-se-ia hoje que correriam para apanhar o comboio europeu. 
Que ainda o podemos apanhar, apesar do atual governo contribuir com grande esforço e incontestável eficácia, para a persistencia da divergencia dos indicadores principais, entre Portugal e a Europa.

"Ainda o apanhamos, ainda o apanhamos".

Com este primeiro ministro e este ministro das finanças é claro que não, mas há que correr mais um bocadinho e, quanto à opinião pública, deixem-me recordar a propósito que, se na Austrália vigorassem os métodos fechados de tomada de decisão, a propósito dos arranjos pífios da frente ribeirinha, nunca a ópera de Sidney teria visto a luz do dia (conceito arquitetónico diferente do geralmente aceite), nem tampouco, quando se fala em investimento público em época de crise , a ponte Brisbane (deuses, os senhores governantes não saberão como foi comprado o Afonso de Albuquerque na bancarrota do fim de século?).

Mas coragem, "ainda o apanhamos".


campaínha para o sinal de pedido de paragem
A rampa de Santos, junto das escadinhas da praia, nos dias que correm, com o largo de Santos o Velho ao fundo