quarta-feira, 16 de novembro de 2011

DN de 2011-11-16 . III - O telefone que continua a escorrer sangue

A criminalidade violenta é recorrente em países desenvolvidos.
Por exemplo, na Alemanha, entre 2000 e 2007, foram assassinados à luz do dia, nos seus restaurantes, 10 pequenos empresários de origem estrangeira.
A policia só resolveu o caso quando uma cúmplice se entregou, confirmando motivações xenófobas.
Acho estranho, porque, mais ou menos a meio deste período, em Hamburgo, testemunhei o interrogatório, em plena rua, de um ciclista rodeado por oito polícias.
Mas pode ser má vontade minha.
De vez em quando, há um caso de assassínio em grupo de estudantes ou pessoal hospitalar na Alemanha, na Finlandia, na Noruega, nos USA, sem que a policia ou técnicos de sociologia detetem os sinais.
É conhecida a correlação entre as leis e o controle de porte de armas, e este tipo de crimes, mas o que me interessa focar é o fenómeno do aumento da criminalidade violenta em Portugal, especialmente entre jovens,sem que o senhor ministro da administração interna, autor da metáfora "o meu telefone escorre sangue", saia do secretismo em que provavelmente está a analisar estes casos.
Esperemos que não diga o mesmo que os seus colegas de governo, que não há dinheiro, porque "não há dinheiro" pode ser a desculpa de um assaltante quando é apanhado, evitando as fastidiosas correlações deste blogue entre a criminalidade e o abandono escolar, o desemprego, a incapacidade educacional e financeira de encarregados de educação (quando os há), as deficientes condições de habitação e sociais, a deficiente integração de imigrantes.
As politicas de governos anteriores tambem achavam fastidiosas estas correlações, desde a superioridade e a distancia a estas minudencias da senhora ex-ministra Maria de Lurdes Rodrigues, até ao comportamento desligado da realidade criminal e da realidade da sinistralidade rodoviária do senhor ex-ministro Rui Pereira.
Por isso é preocupante o secretismo deste ministério quanto a medidas dissuasoras do crime, embora se saiba há muito que, tal como na medicina, são as práticas preventivas que devem prevalecer sobre as remediadoras.

Tudo isto a propósito da noticia do DN de 2011-11-16 sobre o sequestro em Santarem de uma rapariga de 17 anos à saída da sua escola secundária, por um grupo de 4 jovens "desenraizados", entre os 18 e os 25 anos de idade.
O sequestro manteve-se durante uma semana, durante a qual o grupo continuou as suas atividades de roubo e tráfico de drogas, inserido em grupo mais vasto e experiente.
Neste caso pareceu correto o trabalho da polícia.
Mas, o que sucederá a seguir, do ponto de vista judicial?
Que eufemismo, "desenraízados".
Sucedem-se as gerações de jovens deitados ao abandono e à impreparação para um trabalho inserido nas comunidades, sem que se debata publicamente medidas preventivas e corretivas.
Chamar a isso "desenraizados"...


PS 1- Referindo no texto acima o problema da sinistralidade rodoviária, devo reconhecer como altamente positivo o anuncio que o senhor ministro da administração interna fez no Parlamento, em 2011-11-16 , de que em 2012 serão instalados radares de controle de velocidade no valor de 4 milhões de euros. Não posso porem deixar de criticar o secretismo como método de trabalho do senhor ministro. os problemas da criminalidade e da sinistralidade são tão graves que o debate aberto é desejável.
Salvo melhor opinião, claro.
PS 2 - Das declarações do senhor ministro no Parlamento sobre o orçamento para 2012, prevendo a admissão de 800 agentes da GNR e 300 da PSP para combater o aumento da criminalidade violenta, deduz-se que o atual governo já compreendeu a correlação entre desemprego e criminalidade. Mas vai pelas medidas remediadoras. Faltam as preventivas. Se me fosse dado sugerir, é um trabalho para sociólogos e técnicos de serviço social, de que há tantos no desemprego. Salvo melhor opinião, claro.

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