Vendas a descoberto, vendas a nu, ou "short-selling" - venda por uma pessoa, que as detém provisoriamente por empréstimo, de ações pertencentes a terceiros, pelo seu preço no instante t1, esperando ou provocando o abaixamento do seu valor no instante posterior t2, altura em que as volta a comprar pelo preço mais baixo, lucrando a diferença.
Vem isto a propósito da prorrogação em 10 de novembro de 2011 por mais 3 meses da interdição pelo banco nacional francês de vendas a descoberto. Trata-se de uma medida contra a crise, tal como a proposta de taxação das transações financeiras.
O livro "A sabedoria das multidões" dedica um capítulo a este tipo de manipulações bolsistas especulativas. O senhor primeiro ministro diria, embora correndo o risco de melindrar o senhor ministro das finanças, que são malabarices - qualidade de quem pratica jogos malabares - de investidores com pouco sentido ético; ou talvez não achasse isso e considerasse estas práticas como justas atividades para obter lucros; embora não pareça saudável uma valorização de ações em bolsa a que não corresponda um valor acrescentado efetivo através do crescimento de produção de bens.
Serve tambem de pretexto para contar a história que António Tabucchi, escritor italiano e professor de literatura portuguesa, contou sobre Berlusconi.
Num belo dia de outubro deste ano, Berlusconi pediu ao seu amigo diretor do principal jornal de Milão que publicasse a notícia de que ele, Berlusconi, iria demitir-se.
O jornal publicou a notícia, as ações na bolsa de Milão foram abaixo e os colaboradores de Berlusconi compraram os lotes de ações que mais lhes interessavam. No dia seguinte Berlusconi desmentiu a demissão, as ações voltaram a subir e os colaboradores de Berlusconi venderam novamente as ações, lucrando a diferença.
Ironicamente, um mês depois, o senhor parece que tem mesmo de demitir-se.
Esta história faz-me lembrar também uma câmara municipal do sotavento algarvio em que numa zona de moradias junto da praia existia uma estação de tratamento de esgotos a funcionar de forma incompleta, libertando assim cheiros inconvenientes e desvalorizando as casas. Dizem as más línguas que as obras da ETAR se prolongaram o tempo suficiente para que o poder económico local pudesse comprar as casas.Seguiu-se a rápida conclusão da ETAR e a valorização das casas, que foram então vendidas novamente.
"Short-selling" é assim mais um exemplo de que o sistema financeiro vigente não serve os interesses das comunidades e, portanto, deverá ser mudado.
Pelo menos era o que Obama dizia, que não tinha sido eleito para fazer a vontade aos senhores de Wall Street, e é o que se verifica na UE, com a incapacidade do poder politico se libertar do poder financeiro, isto para não falar dos cancros das "off-shores" que sugam os dinheiros que fazem falta nos paises.
Com todo o respeito pelos senhores banqueiros, especialmente os portugueses, que andam tão receosos de ser nacionalizados com os 12 mil milhões da troica, parece mesmo que o sistema financeiro devia ser mudado.
Sem comentários:
Enviar um comentário