sexta-feira, 4 de novembro de 2011

A religião da morte e o telefone que escorre sangue

Declaração inicial: este blogue discorda das motivações políticas e da prática do senhor ministro da administração interna, duvida até, possivelmente de forma injusta, mas duvida que ele apreenda as causas das coisas, mas reconhece que é uma pessoa de bem e bem intencionada.
Assim o mostra a sua renuncia ao subsidio de alojamento e a frase que pronunciou, em resposta ás perguntas do entrevistador do Correio da Manhã, quando utilizou a metáfora do seu telemóvel a escorrer sangue.
Transcrevo:


" ...Em termos quantitativos, os relatórios (de segurança interna) espelham um abaixamento do índice de criminalidade. Nos primeiros seis meses do ano de 2011, houve 3,4% de abaixamento de crimes reportados - embora no caso de 2011 os dados sejam provisórios. Mas - e este ‘mas' é muito importante - continua a verificar-se a tendência que se registava em 2010, que é um aumento da criminalidade mais grave e violenta.
- O que levou a esse aumento?
- Bom, foi um conjunto de razões. Isso significa que temos que olhar para esses actos criminosos com muita atenção, e ter a percepção muito clara de que há uma parte da criminalidade em Portugal em relação à qual não havia muito o hábito de lidar mas que merece uma atenção especial.
- Há alguma tendência de crime específica?
- Com armas de fogo. Costumo dizer que o meu telemóvel escorre sangue, porque só recebo aqui as más notícias."

Mas noto, com pena, que o senhor ministro não quis responder à questão sobre o que terá levado ao aumento da criminalidade com armas de fogo.
Existe uma correlação forte entre a criminalidade e a desestruturação de uma sociedade em que o desemprego, a desintegração de imigrantes e o insucesso escolar crescem.
E essa desestruturação, desde despedimentos a arrefecimento da economia, está indissociada da politica do governo a que pertence o senhor  ministro.
Não basta combater a criminalidade com melhorias nas forças de segurança, sobre o que não estou habilitado  a pronunciar-me. Apenas tenho dados sobre a correlação de que falei, e em paises estrangeiros, porque em Portugal é dificil recolher, tratar e disseminar dados.
Esse era o grande erro do antecessor do senhor ministro: fiava-se em estatisticas que não explicavam a realidade palpável. Não têm de explicar, mas devem ser acompanhadas de um tratamento de dados que ponha hipóteses a testar sobre causas e circunstancias. E devem ser analisados e disseminadas as conclusões sobre cada caso ou tipo de caso.
Não só na segurança interna, mas tambem na segurança rodoviária, um cancro crónico na sociedade portuguesa, especialmente entre os jovens.
Lamentavelmente o senhor ministro não estimula a atividade das entidades que tratam da segurança rodoviária. 
Embora o agravamento em termos estatisticos não seja relevante, a verdade é que continua a verificar-se um numero exagerado de mortes em acidentes rodoviários, com destaque para a morte de jovens durante a noite ou  madrugada.
Os meios de comunicação social dão a noticia, por vezes emocionalmente, mas o esquecimento sobrevem rapidamente.
Porque perdeu o controle do seu veículo a jovem grávida que morreu numa rotunda de Peniche, perdendo-se também a criança? Se a análise e disseminação do acidente não é feita, perde-se a oportunidade de prevenir junto de outras pessoas este tipo de acidentes.
Porque não se sabem os resultados da investigação do acidente em que morreu um jovem que seguia na bagageira de um ligeiro de mercadorias, as 6 da manhã de um sábado? ou o casal de jovens namorados que morreu numa colisão frontal em hora semelhante? ou a senhora jovem que morreu entalada numa colisao em cadeia no IC19 numa manhã de sábado?

Porque se despistam os camiões com reboque em dias de chuva?
Porque não se fazem campanhas didáticas e se controla mais apertadamente a velocidade de todos os veículos, em função das condições climáticas e da presença de areia ou lama, como muito bem define o código da estrada?
Os jovens são eternos e têm reflexos rápidos, mas as máquinas não são perfeitas, nem os automóveis se conduzem com um joy-stick dum jogo de computador. Os pedais de travão não imobilizam um automóvel, iniciam um processo de desaceleração. Qualquer condutor deve contar com 2 segundos como reserva de segurança, tempo durante o qual o automóvel mantem a sua velocidade a caminho do obstáculo inesperado.

A morte de jovens na estrada é uma tragédia e um tributo em sacrifícios humanos à religião cega do individualismo rodoviário. Privilegiar o culto da velocidade e da mobilidade do automóvel  privado contribui para esta religião da morte.



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