O senhor secretário de estado dos transportes afirmou:
"Acredito muito que se fizermos o que nos propomos fazer, em silêncio, no sentido de não haver ruído para fora, em diálogo dentro dos grupos de trabalho que estão criados, conseguiremos ter um serviço público adequadamente estruturado...Não temos nenhuma agenda escondida, deixemos que o grupo de trabalho cumpra a sua missão sem ruído e sem perturbações"
Não estão em causa os conhecimentos de transportes e a probidade em função do desejo de servir a coisa pública dos membros dos grupos de trabalho, apesar do elevado risco de se defenderem interesses mais ou menos privados.
O que está em causa é o método e a forma de falar dos senhores governantes.
Trabalhar em silencio, como se se tratasse de um conclave no Vaticano ou de uma reunião de um comité central, é o oposto do método democrático.
Melhorar um sistema de transportes não é eleger um papa nem escolher uma tese que as maiorias terão de aprovar.
Não é que o método democrático não tenha riscos, cuja solução de forma simplificada está tratada no texto sobre o brainstorming, em:
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2011/10/brain-storming.html
Se forem cumpridas as regras, o método democrático funciona, especialmente nos tempos que correm, em que a Internet permite trabalhar em rede e a informática e as telecomunicações viabilizam a gestão descentralizada.
Não é assim que funcionam as consultas públicas dos estudos de impacto ambiental?
Por isso, as palavras do senhor secretário de estado, defendendo o trabalho em silencio, avesso à audição dos orgãos representativos dos trabalhadores e das empresas, vão ao arrepio do debate aberto e participativo, a que depreciativamente chama ruido.
E não será uma contradição invocar silencio para o grupo de trabalho e dizer que não tem uma agenda escondida?
E esta maneira de falar, primeiro depreciadora para quem trabalha ou trabalhou nas empresas publicas de transporte: "Os sonhos e as fantasias trouxeram-nos até aqui e queremos que os cidadãos conheçam a realidade ..." (é fantasia trabalhar para que as pessoas tenham transporte na cidade? e não é o que todos querem, que os cidadãos saibam que a dívida dos investimentos foi abusivamente descarregada nas empresas públicas?); e depois ameaçadora, que se não for feito o que o governo vai querer fazer, "a exceção do dia de greve sem transportes vai ser todos os dias, uma cidade sem sistema de transportes".
Parafraseando o senhor secretário de estado da juventude, quem não concordar que saia da cidade e volte de automóvel.
Sinceramente, gostaria que os senhores governantes falassem de outro modo.
Seria mais fácil argumentar e contra-argumentar.
Esta a razão por que a greve também não me parece ser a melhor forma de oposição às medidas esperadas do governo, porque prejudica mais os utilizadores do que o governo, embora a lei da greve seja clara no que se refere a serviços mínimos, exatamente para não prejudicar os utilizadores, e sobre a possibilidade de requisição civil.
Pessoalmente, preferiria a divulgação sistemática das razões das empresas públicas, e greves-relampago de 5 minutos, encadeadas no tempo por categorias profissionais distintas mas limitando a paralisação a menos de uma hora por dia.
É que o conflito, com o governo a preferir o silencio, é capaz de estar para durar, e assim se reduziriam as perdas de quem aderisse à greve, ou os pagamentos pelos sindicatos do tempo perdido .
Mas é capaz de ser apenas uma ideia de branstorming, provavelmente uma ideia de "low cost", como o bilhete a 50% ou o talão de desconto no passe depois das 21:00 ...
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