Este excerto de abril de 2011:
"Ajudam-se os bancos alemães e franceses (e espanhóis, no nosso caso) a evitarem as consequências mais danosas de uma excessiva exposição aos activos tóxicos das dívidas públicas dos países da periferia europeia, enquanto as populações destes países europeus têm de suportar o custo total da desmesurada expansão do crédito que caracterizou a última década. Com amigos assim, quem precisa de diabolizar o FMI?
Este é exactamente um dos temas de hoje do Wall Street Journal, que em mais um artigo arrasador para o nosso país (um país de trabalhadores "under-educated" e "under-trained")..."
pode ser lido em :
http://desmitos.blogspot.com/2011/04/com-amigos-como-estes-quem-precisa-do.htmlEmbora discordando de muita da argumentação do senhor ministro no seu blogue, julgo que a sua leitura é instrutiva.
Coisa que não posso dizer das suas intervenções que vejo reproduzidas na comunicação social.
Especialmente pela forma como fala.
Estranho, como no blogue o seu discurso era (era, porque desde junho de 2011 que não publica) calmo, cordato e didático.
E agora, nas suas intervenções, está tenso, é agressivo, professoral, relapso perante a informação contraditória.
Por exemplo, volta-se para os senhores deputados e pergunta: "Acham bem que as irmãs solteiras dos funcionários da CP viajem de graça?"
Não sei se consigo responder à pergunta, dadas as minhas limitações, mas vou tentar, em intenção do senhor ministro.
Há muitos, muitos anos, mas já depois da fusão das empresas de transporte ferroviário (foi, a CP resultou de uma fusão de várias companhias; no domínio dos transportes e das energias a centralização tem algumas vantagens sobre a dispersão), e numa altura em que as comunicações rodoviárias eram rudimentares, era difícil , por razões de equilíbrio da despesa pública, atrair bons técnicos ao serviço ferroviário.
Para compensar o baixo salário, entre outras agora chamadas regalias, benesses ou mordomias, a CP ofereceu passagens gratuitas (e em primeira classe, numa altura em que havia carruagens de terceira classe, de bancos corridos de pau) aos seus funcionários e familiares.
Visto de outra perspetiva, a CP estava a poupar nas despesas de pessoal, incluindo nas futuras pensões de reforma.
O que certamente agradaria ao senhor ministro.
Passaram os anos e é natural, por razões inerciais, que as "regalias" fossem sendo deixadas.
Por exemplo, anos antes de eu entrar para o metropolitano, era tradição os seus técnicos não trabalharem em exclusividade.
Muitos dos meus antecessores trabalhavam, por vezes na zona da fronteira do desejável, em gabinetes de projeto que prestavam serviços ao metropolitano.
A alta direção da empresa tolerava o facto porque assim podia pagar menos aos seus funcionários e podia garantir a sua qualidade.
A coisa foi-se compondo e, quando comecei a trabalhar, a não exclusividade já não era bem vista, dados os possiveis conflitos de interesses, tirando o caso dos colegas que mantinham uma atividade como professores.
No entanto, era o tempo em que nas empresas privadas se ganhava , a todos os niveis, cerca de 50% mais do que nas empresas e funcionalismo publicos.
Mas voltando à CP, há sempre uma grande inércia que se opõe à mudança das coisas.
E isso até nem é muito mau, porque permite aos sistemas uma certa segurança e resistencia às medidas fraturantes impostas de supetão por jovens seguros de si mas pouco experientes no negócio.
De modo que chegamos assim à atualidade com disposições e expedientes que originalmente eram economizadores e que agora são considerados regalias.
Porquê?
Porque aconteceu aquele fenómeno de crescimento mais acentuado dos salários das empresas públicas relativamente aos salários das empresas privadas (excluindo os cargos de direção, claro, claro).
Realmente, houve tempo em que se ganhava melhor nas empresas privadas, e não havia falta de trabalho, pelo que o argumento da segurança não era muito apropriado. Estava-se num ponto favorável da curva dos rendimentos decrescentes, como dizem os economistas.
Não será razão para perguntar tão zangado: "Acham bem?", pois não?
Porque assim até parece que o senhor ministro está a dar razão ao Wall street journal, que os trabalhadores portugueses são uns sub-educados e sub-formados, passe o anglicanismo.
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