quinta-feira, 28 de junho de 2012
Parecer sobre a revisão dos PNAEE e PNAER, junho de 2012
Em primeiro lugar, desejo felicitar os autores do plano pelo domínio de um assunto de grande complexidade e diversidade.
Observações:
1 – penso que os sistemas de produção solar térmica por concentração e sais fundidos, pelo seu rendimento, deveriam ser estudados com implementação de um plano de instalação faseado e em colaboração com a Estremadura e Andaluzia espanholas;
2 – o aumento de produção de energia eólica deveria, julgo, ser maior do que os 1,6 GW a instalar, canalizando esse aumento para a exportação (através do reforço da interligação à Espanha e Europa, eventualmente com recurso a linhas de transmissão em tensão continua) e para a produção de hidrogénio e gaseificação do carvão (obtenção de hidrogénio a partir do carvão). Por isso deveria ser calendarizada e explicitada a operacionalização de mais instalações eólicas
3 – relativamente às questões de aquecimento e arrefecimento, julgo que deveriam ser calendarizadas medidas de racionalização da “queima” do gás natural, através da exploração de pilhas de combustível ao nível doméstico, de empresas e de bairro (co-geração de eletricidade e de calor a partir de pilhas de combustível)
4 – energia das correntes marítimas ou marés: sem prejuízo das experiencias ao longo da costa portuguesa, deveria ser calendarizada a instalação de geradores de pás submersas nos estuários dos principais rios, em coordenação, no caso do rio Tejo, com especialistas de hidráulica para compatibilização com as questões de aumento do assoreamento devido à ponte Vasco da Gama, proteção contra descalçamento de pilares e proteção contra marés extraordinárias como inundações e maremotos.
5 – o peso de novas instalações solares fotovoltaicas, dado o abaixamento dos custos de produção, deveria ser maior; no caso de edifícios, deveria ser calendarizada a instalação de falsas fachadas de painéis fotovoltaicos em edifícios ao serviço do Estado e inclusão da sua obrigatoriedade, juntamente com as medidas de isolamento térmico, nas normas construtivas de novos edifícios. Seria portanto desejável um conjunto de medidas fiscais para estimular a instalação destes painéis (visando sempre o consumo próprio do produtor e não a injeção na rede e venda ao distribuidor) e a construção ou remodelação de edifícios segundo os princípios das “casas passivas” . Deveria ser calendarizada a introdução dos requisitos de eficiencia energética no normativo nacional. Julgo que as medidas referidas no plano deveriam ser pormenorizadas e calendarizadas.
6 – no caso dos transportes nas áreas metropolitanas, penso que deveria ser mais pormenorizada e operacionalizada a intenção de transferência de passageiros.km para o modo ferroviário, através da realização de inquéritos de mobilidade e a implementação de um programa de construção de parques de estacionamento e de portagens à entrada das cidades; seria também desejável o estabelecimento de relações institucionais permanentes com a engenharia das empresas de transportes especializada na eficiência energética, nomeadamente com objetivo de atualizar um normativo com requisitos de construção de novas linhas e estações com eficiência energética
7 – considerando a disponibilidade comercial dos veículos puramente elétricos para serviço urbano, julgo que o plano deveria incluir uma calendarização para a implementação progressiva de frotas de táxis e de mini-autocarros elétricos em todas as cidades, de frotas de veículos elétricos de apoio nas empresas de serviço público e câmaras, e o estudo de exploração no máximo dentro de 2 anos de autocarros elétricos urbanos de porte normal
8 – relativamente à construção da barragem do Tua e às questões da classificação do Alto Douro Vinhateiro, sugiro a alteração do projeto para a construção da barragem a 6 km da foz do Tua (preservando o primeiro troço da linha ferroviária pré-existente) e o abaixamento da cota da albufeira para 160 m (obrigando à construção de um troço alternativo de linha ferroviária entre Castanheiro e Santa Luzia)
9 – o plano deveria, julgo, definir uma maior coordenação com o ministério da agricultura e do mar, nomeadamente na pormenorização e calendarização da instalação faseada de várias centrais de biomassa, da gestão florestal e de meios de transporte necessários à implementação dessa instalação, do controle da desflorestação, do plantio direto sem lavrar o solo, da racionalização do pastoreio e do sequestro de carbono e produção de biogasóleo pela cultura de algas, da produção de metano a partir de digestores anaeróbicos de dejetos e resíduos vegetais, e da produção industrial de bio-carvão ou carvão vegetal enquanto sequestrador de carbono e fertilizante
10 – incluir nas medidas para testar novos métodos de produção de energia elétrica de origem não fóssil instalações experimentais baseadas na diferença de temperaturas, de que é exemplo uma instalação experimental no metro de Madrid
11 - seria desejável complementar as referencias à intensidade energética definindo o critério para a sua quantificação e a partir daí definir o objetivo de consumo útil de energia elétrica, os ritmos de crescimento da produção elétrica de origem não fóssil e da produção elétricca exportada, e os ritmos de redução da produção de energia elétrica com origem fóssil, a energia elétrica importada e os desperdícios de consumo (ou potenciais de poupança)
12 - finalmente, seria desejável a DGEG manter um gabinete de especialistas de engenharia de eficiência energética em ligação permanente com as instituições e entidades envolvidas no esforço de racionalização da produção e consumo de energia, nomeadamente universidades e empresas de transportes, monitorizando a evolução das medidas, mantendo-se atualizada relativamente aos estudos e experiencias de novas técnicas em todo o mundo para maior eficiencia energética ou para produção de energia (nomeadamente a nuclear e a com origem nos hidratos de metano), organizando os processos de implementação das medidas racionalizadoras para obtenção dos correspondentes fundos europeus de apoio à redução de emissões de gases de efeito de estufa (todas as medidas deste parecer são suscetíveis de candidatura a estes fundos, desde que integradas em projetos consistentes) e disseminando o relato da sua atividade e os resultados de forma facilmente acessível pelo público.
Com os melhores cumprimentos
_________________
Referencia: "10 tecnologias para salvar o planeta, como conciliar clima e energia" de Chris Goodall, ed. Livros Horizonte
Linhas de orientação da revisão do PNAEE e PNAER em:
http://www.dgeg.pt/aaaDefault.aspx?f=3&tituloarea=Notícias+/+Eventos&back=1&id=12976
ou em:
https://skydrive.live.com/redir?resid=95CA2795D8CD20FD!1403
terça-feira, 26 de junho de 2012
Semiótica, a interpretação dos sinais dos governantes
Um dos interesses dos blogues é o de permitir aos psicólogos e sociólogos recolherem elementos para avaliação da vida quotidiana dos cidadãos e cidadãs.
Do ponto de vista de quem escreve, há ainda a irresistível necessidade de exprimir o que se pensa de fenómenos que nos afetam.
Para este humilde escriba, a semiótica dos decisores é uma fonte de grande interesse.
Por se ver por exemplo o senhor ministro de voz pausada encravado com o reconhecimento de que receita fiscal, ao fim de 5 meses, caiu 2,8% relativamente ao ano anterior. Ele foi avisado, inclusivamente por correlegionários seus, dos malefícios da lei de Laffer, que chega um momento em que aumentar impostos significa perda de receita. A forma como se exprime, e por isso invoco a semiótica, indicia pouca capacidade em relacionar os seus cálculos financeiros com as leis da física e com a técnica de navegação.
Indicia uma fé cega nos objetivos, só desmentida quando é evidente o afastamento do objetivo (é a diferença entre a ciência e o senso comum: a demonstração cientifica dispensa a evidencia próxima) paradoxalmente à prática da marcha à vista.
No fim dos anos 40 do século XX, Norbert Wiener desenvolveu a teoria da predição, que no fundo foi a generalização do que os engenheiros militares balísticos já sabiam. Por isso não é aceitável virem senhores ministros das finanças e primeiros ministros dizerem que “ainda é cedo” para considerar seja que medidas forem, embora tristemente (indiciando, pela calma forçada e contida com que respondem a acusações de graves atentados aos princípios da democracia, uma preparação específica) vão colocando a hipótese de afinal não atingirem o défice objetivo sem renegociação (podem sempre justificar que os condicionalismos externos a isso obrigam, uma vez que que parece estar esgotada a desculpa do governo anterior).
Em marinharia, desprezam-se os navegadores à vista, os que só reagem à vista do rochedo, os que não sabem ler uma carta, nem identificar os rochedos e as ameaças à navegação, nem traçar uma rota de longa distancia considerando os desvios devidos às influencias externas das correntes e dos ventos.
Ministros das finanças e primeiros ministros que navegam à vista ignoram as conquistas da ciência, e só colocando a ciência na equação, como costuma dizer o professor Carvalho Rodrigues, a rota será segura.
A surpresa com os números do desemprego (excluindo a hipótese hipócrita de que os governantes apenas estão a aplicar a lei de Philips de modo a reduzir a procura e as importações) e da redução da receita fiscal assim o mostram.
De 1 de Janeiro a 31 de maio de 2012:, relativamente a igual período de 2011:
- aumento do IRS de 13,1% para 3.333 milhões de euro
- redução do IRC de 15% para 1.819 milhões de euro
- redução do IVA de 2,8% para 5.719 milhões de euro
PS em 2 de julho de 2012 - defice público no 1ºtrimestre de 2012: 7,9% do PIB; sendo o objetivo para 2012 de 4,5%, seria necessário que em cada um dos três trimestres seguintes o défice fosse de 3,4%, o que parece muito dificil com as medidas trecessivas tomadas pelo governo. Entretanto, ignora-se qual o défice privado, de particulares, de bancos e de empresas, o que significa que não está a haver monitorização e controle do endividamento; tinham pois razão os econmistas que reivindicaram uma auditoria à dívida, para se saber para onde está a ir o dinheiro. Enfim, malefícios do contexto.
Do ponto de vista de quem escreve, há ainda a irresistível necessidade de exprimir o que se pensa de fenómenos que nos afetam.
Para este humilde escriba, a semiótica dos decisores é uma fonte de grande interesse.
Por se ver por exemplo o senhor ministro de voz pausada encravado com o reconhecimento de que receita fiscal, ao fim de 5 meses, caiu 2,8% relativamente ao ano anterior. Ele foi avisado, inclusivamente por correlegionários seus, dos malefícios da lei de Laffer, que chega um momento em que aumentar impostos significa perda de receita. A forma como se exprime, e por isso invoco a semiótica, indicia pouca capacidade em relacionar os seus cálculos financeiros com as leis da física e com a técnica de navegação.
Indicia uma fé cega nos objetivos, só desmentida quando é evidente o afastamento do objetivo (é a diferença entre a ciência e o senso comum: a demonstração cientifica dispensa a evidencia próxima) paradoxalmente à prática da marcha à vista.
No fim dos anos 40 do século XX, Norbert Wiener desenvolveu a teoria da predição, que no fundo foi a generalização do que os engenheiros militares balísticos já sabiam. Por isso não é aceitável virem senhores ministros das finanças e primeiros ministros dizerem que “ainda é cedo” para considerar seja que medidas forem, embora tristemente (indiciando, pela calma forçada e contida com que respondem a acusações de graves atentados aos princípios da democracia, uma preparação específica) vão colocando a hipótese de afinal não atingirem o défice objetivo sem renegociação (podem sempre justificar que os condicionalismos externos a isso obrigam, uma vez que que parece estar esgotada a desculpa do governo anterior).
Em marinharia, desprezam-se os navegadores à vista, os que só reagem à vista do rochedo, os que não sabem ler uma carta, nem identificar os rochedos e as ameaças à navegação, nem traçar uma rota de longa distancia considerando os desvios devidos às influencias externas das correntes e dos ventos.
Ministros das finanças e primeiros ministros que navegam à vista ignoram as conquistas da ciência, e só colocando a ciência na equação, como costuma dizer o professor Carvalho Rodrigues, a rota será segura.
A surpresa com os números do desemprego (excluindo a hipótese hipócrita de que os governantes apenas estão a aplicar a lei de Philips de modo a reduzir a procura e as importações) e da redução da receita fiscal assim o mostram.
De 1 de Janeiro a 31 de maio de 2012:, relativamente a igual período de 2011:
- aumento do IRS de 13,1% para 3.333 milhões de euro
- redução do IRC de 15% para 1.819 milhões de euro
- redução do IVA de 2,8% para 5.719 milhões de euro
PS em 2 de julho de 2012 - defice público no 1ºtrimestre de 2012: 7,9% do PIB; sendo o objetivo para 2012 de 4,5%, seria necessário que em cada um dos três trimestres seguintes o défice fosse de 3,4%, o que parece muito dificil com as medidas trecessivas tomadas pelo governo. Entretanto, ignora-se qual o défice privado, de particulares, de bancos e de empresas, o que significa que não está a haver monitorização e controle do endividamento; tinham pois razão os econmistas que reivindicaram uma auditoria à dívida, para se saber para onde está a ir o dinheiro. Enfim, malefícios do contexto.
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Noticias dos estaleiros de Viana do Castelo em Junho de 2012
Continua, passo a passo, a fúria assassina contra os estaleiros navais de Viana, até ao estrangulamento total, pronto para a privatização a preço que agrade ao “mercado internacional”.
Recentemente foi a anulação do concurso para a compra de chapa e de motore par ao inicio da construção dos navios asfalteiros para a Venezuela. Já é impossível cumprir o contrato.
Vem agora desistir-se do projeto do navio de apoio logístico (projeto oferecido pelos construtores dos submarinos portugueses como contrapartida).
Já não se fabricam os patrulhas oceânicos, apesar do elevado nível de tecnologia de telecomunicações atingido no exemplar único.
Entretanto um grupo de deputados visita o navio Atlântida ancorado no Alfeite há 7 meses, recusado com base em argumentos tecnicamente (refiro-me a tecnicamente do ponto de vista de técnica da engenharia, que é o que faz mover as coisas) discutíveis e com argumentação populista (criou-se um clima nos Açores contra este navio), numa operação altamente lesiva das contas do estaleiro.
Na visita à Colômbia o senhor primeiro ministro explicitou que temos um estaleiro para privatizar.
Trata-se de um programa que previa a conclusão do caderno de encargos e o lançamento do concurso em Junho de 2012 (noticia do dia 19 de Março de 2012 com origem no ministério da Defesa: o concurso será lançado no prazo de 45 dias; assim se enganam as cidadãs e cidadãos e se vai arrastando o processo).
Todo este processo, justificado pelo governo com a necessidade de injeção de capitais (para onde irão os capitais injetados enquanto os dedos ficam sem anéis?) me faz lembrar o ataque que o jovem yupi fez ao Brás & Brás, com êxito para ele, yupi.
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/search?q=br%C3%A1s
Sinceros votos de felicidades à recentemente eleita comissão de trabalhadores; que possam cumprir a promessa de defesa da construção naval nos estaleiros:
http://www.dn.pt/inicio/economia/interior.aspx?content_id=2545487&page=-1
ver também:
http://apodrecetuga.blogspot.com/2012/04/os-estaleiros-de-viana-do-castelo.html
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El bucle de deuda continua
A televisão espanhola entrevistou cidadãs e cidadãos comuns sobre o plano de auxilio à banca espanhola.
A moça poderia ser uma estudante de comunicação nas empresas ou uma vendedora numa loja de um centro cmercial, mas respondeu com mais sabedoria do que os sábios financeiros que nos oprimem: "eso es el bucle de deuda continua" (o ciclo vicioso da dívida).
Talvez tenha lido a opinião de um financeiro do governo chinês, já há vários meses, que nao era saudável a Europa emprestar dinheiro a bancos que depois o emprestavam aos governos.
Na verdade, o governo espanhol pede à União Europeia para o BCE emprestar aos bancos espanhois a juro baixo para depois o governo espanhol poder pedir-lhes empréstimos a juros mais altos?! Ou não entendi bem?
Do ponto de vista psiquiátrico, não parece ser saudável. Parece configurar um comportamento alheado da realidade, mas de quem tem força para nos impor tal tipo de comportamento. Do ponto de vista do processo histórico, parece estarmos no tempo dos Sforza, quando os banqueiros tomaram o poder. Ou no tempo de Carlos V, D.João III e Filipe I, os grandes contraentes de empréstimos que serviam para tudo menos para a produção: para fazer exércitos, comprar sedas ou armar armadas invencíveis.
Isto do ciclo vicioso da dívida faz-me lembrar os entusiastas do "moto continuo", que acham que um sistema isolado pode permanecer eternamente a girar sem ser alimentado por uma energia exterior.
Falta o respeito da Física pelos senhores economistas e financeiros.
PS - No dia seguinte ao da escrita deste post, Viriato Soromenho Marques, a propósito da politica financeira da UE (de afastamento da união orçamental e financeira) , citou no DN Nietzsche e a sua hipótese de que a loucura individual é rara, mas que em instituições são relativamente frequentes comportamentos aparentemente demenciais. Achei aplicável ao que deixei escrito. Trata-se do perigo da diminuição da idade mental dos individuos quando em coletivo. Na base deste fenómeno está a polarização em torno do indivíduo mais forte do grupo. Assunto já estudado na Sabedoria das Multidões, de James Surowiecki, e que não deve desmerecer das decisões coletivas, desde que respeitadas as regras da sabedoria das multidões".
A moça poderia ser uma estudante de comunicação nas empresas ou uma vendedora numa loja de um centro cmercial, mas respondeu com mais sabedoria do que os sábios financeiros que nos oprimem: "eso es el bucle de deuda continua" (o ciclo vicioso da dívida).
Talvez tenha lido a opinião de um financeiro do governo chinês, já há vários meses, que nao era saudável a Europa emprestar dinheiro a bancos que depois o emprestavam aos governos.
Na verdade, o governo espanhol pede à União Europeia para o BCE emprestar aos bancos espanhois a juro baixo para depois o governo espanhol poder pedir-lhes empréstimos a juros mais altos?! Ou não entendi bem?
Do ponto de vista psiquiátrico, não parece ser saudável. Parece configurar um comportamento alheado da realidade, mas de quem tem força para nos impor tal tipo de comportamento. Do ponto de vista do processo histórico, parece estarmos no tempo dos Sforza, quando os banqueiros tomaram o poder. Ou no tempo de Carlos V, D.João III e Filipe I, os grandes contraentes de empréstimos que serviam para tudo menos para a produção: para fazer exércitos, comprar sedas ou armar armadas invencíveis.
Isto do ciclo vicioso da dívida faz-me lembrar os entusiastas do "moto continuo", que acham que um sistema isolado pode permanecer eternamente a girar sem ser alimentado por uma energia exterior.
Falta o respeito da Física pelos senhores economistas e financeiros.
PS - No dia seguinte ao da escrita deste post, Viriato Soromenho Marques, a propósito da politica financeira da UE (de afastamento da união orçamental e financeira) , citou no DN Nietzsche e a sua hipótese de que a loucura individual é rara, mas que em instituições são relativamente frequentes comportamentos aparentemente demenciais. Achei aplicável ao que deixei escrito. Trata-se do perigo da diminuição da idade mental dos individuos quando em coletivo. Na base deste fenómeno está a polarização em torno do indivíduo mais forte do grupo. Assunto já estudado na Sabedoria das Multidões, de James Surowiecki, e que não deve desmerecer das decisões coletivas, desde que respeitadas as regras da sabedoria das multidões".
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Minha senhora!
Minha senhora, minha senhora, olhe que a saida não é por aí. Se fosse, era mais larga. Sabe? isto não é como procurar Berlin no mapa. Tem de se obedecer às leis da física e da matemática.Se a Europa é um conjunto, os elementos do conjunto têm de obedecer às mesmas leis, por exemplo, o mesmo juro das eurobond, a possibilidade de o BCE emprestar diretamente a juro baixo aos governos...custa a aceitar?
Meine Dame, meine Dame, aussehen wie die Ausgabe nicht da ist. Wenn es war, war größer. Do you know? das ist nicht wie der Blick auf die Karte Berlin. Sie müssen den Gesetzen der Physik gehorchen und matemática.Se Europa gibt eine ganze Reihe Mitglieder müssen den gleichen Gesetzen gehorchen, zum Beispiel, die das gleiche Interesse der Eurobond, die Möglichkeit der EZB leihen direkt zu niedrigen Zinsen Regierungen, um Kosten zu akzeptieren ...?
Meine Dame, meine Dame, aussehen wie die Ausgabe nicht da ist. Wenn es war, war größer. Do you know? das ist nicht wie der Blick auf die Karte Berlin. Sie müssen den Gesetzen der Physik gehorchen und matemática.Se Europa gibt eine ganze Reihe Mitglieder müssen den gleichen Gesetzen gehorchen, zum Beispiel, die das gleiche Interesse der Eurobond, die Möglichkeit der EZB leihen direkt zu niedrigen Zinsen Regierungen, um Kosten zu akzeptieren ...?
segunda-feira, 25 de junho de 2012
Se vende, con grandes ventajas para el comprador
Se vende con grandes ventajas para el comprador:
Granjas en una área de reserva natural, muy cerca de playas rodeadas de montañas de mediterrânica vegetación.
Área tranquila, con grande produtividad para el cultivo de ervas aromáticas.
Casas con su elegante diseño interior y piscina.
Posibilidad de conexión a la alarma central abierta las 24 horas del día y de contratación de guardias de seguridad privados y de agricultores de casa permanentes con salarios muy bajos, más bajos que en Colombia, y de despido rápido e fácil.
Muy excelente oportunid para inversionistas colombianos que deseen invertir en Europa y disfrutar de los beneficios de residente en Portugal que el ministro portugués ha ofertado a Colombia, de pronto que invirtan más de 500.000 euros.
PS - Amável comentador chamou-me a atenção para que o texto poderia ser interpretado como insinuação de que as medidas propostas seriam de estímulo à produção de plantas alucinógenas. Não era a ideia, no universo colombiano, este blogue está com os colombianos que propõem a mediação e o debate aberto e participado para acabar com o terrorismo das FARC e a dependencia do cultivo de droga, e com Shakira, que propõe o investimento massivo na educação.
Granjas en una área de reserva natural, muy cerca de playas rodeadas de montañas de mediterrânica vegetación.
Área tranquila, con grande produtividad para el cultivo de ervas aromáticas.
Casas con su elegante diseño interior y piscina.
Posibilidad de conexión a la alarma central abierta las 24 horas del día y de contratación de guardias de seguridad privados y de agricultores de casa permanentes con salarios muy bajos, más bajos que en Colombia, y de despido rápido e fácil.
Muy excelente oportunid para inversionistas colombianos que deseen invertir en Europa y disfrutar de los beneficios de residente en Portugal que el ministro portugués ha ofertado a Colombia, de pronto que invirtan más de 500.000 euros.
PS - Amável comentador chamou-me a atenção para que o texto poderia ser interpretado como insinuação de que as medidas propostas seriam de estímulo à produção de plantas alucinógenas. Não era a ideia, no universo colombiano, este blogue está com os colombianos que propõem a mediação e o debate aberto e participado para acabar com o terrorismo das FARC e a dependencia do cultivo de droga, e com Shakira, que propõe o investimento massivo na educação.
sábado, 23 de junho de 2012
Cenas domésticas numa manhã de junho de 2012 num bairro de Lisboa
Bem comportadamente, faço o que me pedia a mensagem recebida da Autoridade Tributária (nome bem escolhido, na verdade, um pouco autoritário, mas bem escolhido, até porque a explicitação da autoridade na designação de uma atividade deste tipo, do tipo fiscal, que é um nome menos elegante, deixa vir à superfície o que o subconsciente freudiano revela, que a autoridade assim é forte com os fracos e fraca com os fortes, mas não vale a pena chorar sobre o leite derramado), através do serviço de avisos eletrónicos da viaCTT.
Que me dirigisse com toda a documentação e a notificação dessa mensagem à repartição de finanças do meu bairro.
O tempo de espera excedeu ligeiramente os 18 minutos de média anunciados pelo monitor de televisão e visor das senhas de espera; que orgulhosamente anunciava que neste ano já tinham sido feitos 1 milhão e duzentos mil atendimentos (excelente produtividade).
O meu atendimento foi um sucesso, tendo a senhora funcionária pública verificado com eficiência os documentos dos tratamentos médicos e dos pagamentos de seguros efetuados em 2011.
No posto de atendimento ao lado, uma senhora de ar paciente, aparentemente reformada há mais anos do que eu, fazia o mesmo, mas com mais elegância e método de organização da documentação e respondendo com clareza e um sorriso doce às rebuscadas perguntas do agente inquiridor.
Recordei que na base do relacionamento entre a Autoridade Tributária e o cidadão existe sempre uma desconfiança, tal como a exigência dum registo criminal por tudo e por nada, mas o exemplo da senhora do lado moderou-me.
E tive ainda tempo para tratar de assunto de outra natureza, noutro balcão da mesma repartição de finanças.
Total de tempo gasto: 45 minutos.
Ora, tinha-se dado o caso de ter deixado a minha mulher na loja do bairro de um dos operadores de telecomunicações móveis.
Que era necessário mudar de cartão porque a rede de telemóveis agora era 4G e ia deixar de ser 3G.
Saí da repartição de finanças e fui ter com ela à loja de telecomunicações.
Não era o caso de haver poucas assistentes a atender e muitos clientes.
A pobre assistente que a atendia esforçava-se por transferir a lista de contactos do telemóvel antigo para o novo (ah, já agora, como tem pontos acumulados, porque não leva um novo?), sobraçando um molho de cabos de ligação.
Até que confessou que não havia cabo com ficha compatível com aquele novo modelo de telemóvel.
Não disse, mas pensei, como pode existir uma empresa de tanto sucesso no fabrico de telemóveis, do seu software, nas potencialidades que a rede 4G suporta, que é incapaz de compreender uma coisa que toda a industria que a antecedeu compreendia e praticava: a normalização, para que as coisas fossem compatíveis.
Claro que a transferência da lista de contactos se pode fazer por bluetooth, por ligação USB a um computador, etc, etc., mas não esteve ao alcance da simpática atendedora.
Valeu o jornal de que me tinha munido para a espera na repartição de finanças.
Tempo de espera gasto na loja do operador de telecomunicações: 85 minutos.
Observações finais, que para isso escrevi o “post”:
1 – a produtividade comparada entre um serviço público e um serviço privado de grande difusão parece ser claramente superior no caso público;
2 – o peso dos serviços de telecomunicações particulares na estrutura de consumos do PIB parece ser claramente exagerado, obrigando a gastar recursos humanos e de meios de investimento que fazem muita falta no setor transacionável para diminuir a dependência do exterior através das importações
3 – em consequência, parecerá desejável reduzir a oferta dos serviços de telecomunicações e a variedade de modelos dos equipamentos, embora se reconheça a sua contribuição para um certo volume de emprego temporário, e que nesse caso teria de haver um desvio dos recursos para atividades mais produtivas.
PS - Amável comentador chamou-me a atenção para que a senhora assistente da operadora de telecomunicações não terá ficado bem na descrição que fiz.
Não era a ideia; a baixa produtividade do seu serviço não é da sua responsabilidade, antes da administração e direção da operadora, paradoxalmente muito bem cotada na opinião pública e na imprensa.
As coisas não funcionam bem ou mal por serem privadas ou públicas, mas também por serem bem ou mal geridas, e, neste caso concreto, a produtividade dum serviço público e dum serviço privado está bem à vista, sem com isto querer naconalizar a operadora de telecomunicações, claro.
Que me dirigisse com toda a documentação e a notificação dessa mensagem à repartição de finanças do meu bairro.
O tempo de espera excedeu ligeiramente os 18 minutos de média anunciados pelo monitor de televisão e visor das senhas de espera; que orgulhosamente anunciava que neste ano já tinham sido feitos 1 milhão e duzentos mil atendimentos (excelente produtividade).
O meu atendimento foi um sucesso, tendo a senhora funcionária pública verificado com eficiência os documentos dos tratamentos médicos e dos pagamentos de seguros efetuados em 2011.
No posto de atendimento ao lado, uma senhora de ar paciente, aparentemente reformada há mais anos do que eu, fazia o mesmo, mas com mais elegância e método de organização da documentação e respondendo com clareza e um sorriso doce às rebuscadas perguntas do agente inquiridor.
Recordei que na base do relacionamento entre a Autoridade Tributária e o cidadão existe sempre uma desconfiança, tal como a exigência dum registo criminal por tudo e por nada, mas o exemplo da senhora do lado moderou-me.
E tive ainda tempo para tratar de assunto de outra natureza, noutro balcão da mesma repartição de finanças.
Total de tempo gasto: 45 minutos.
Ora, tinha-se dado o caso de ter deixado a minha mulher na loja do bairro de um dos operadores de telecomunicações móveis.
Que era necessário mudar de cartão porque a rede de telemóveis agora era 4G e ia deixar de ser 3G.
Saí da repartição de finanças e fui ter com ela à loja de telecomunicações.
Não era o caso de haver poucas assistentes a atender e muitos clientes.
A pobre assistente que a atendia esforçava-se por transferir a lista de contactos do telemóvel antigo para o novo (ah, já agora, como tem pontos acumulados, porque não leva um novo?), sobraçando um molho de cabos de ligação.
Até que confessou que não havia cabo com ficha compatível com aquele novo modelo de telemóvel.
Não disse, mas pensei, como pode existir uma empresa de tanto sucesso no fabrico de telemóveis, do seu software, nas potencialidades que a rede 4G suporta, que é incapaz de compreender uma coisa que toda a industria que a antecedeu compreendia e praticava: a normalização, para que as coisas fossem compatíveis.
Claro que a transferência da lista de contactos se pode fazer por bluetooth, por ligação USB a um computador, etc, etc., mas não esteve ao alcance da simpática atendedora.
Valeu o jornal de que me tinha munido para a espera na repartição de finanças.
Tempo de espera gasto na loja do operador de telecomunicações: 85 minutos.
Observações finais, que para isso escrevi o “post”:
1 – a produtividade comparada entre um serviço público e um serviço privado de grande difusão parece ser claramente superior no caso público;
2 – o peso dos serviços de telecomunicações particulares na estrutura de consumos do PIB parece ser claramente exagerado, obrigando a gastar recursos humanos e de meios de investimento que fazem muita falta no setor transacionável para diminuir a dependência do exterior através das importações
3 – em consequência, parecerá desejável reduzir a oferta dos serviços de telecomunicações e a variedade de modelos dos equipamentos, embora se reconheça a sua contribuição para um certo volume de emprego temporário, e que nesse caso teria de haver um desvio dos recursos para atividades mais produtivas.
PS - Amável comentador chamou-me a atenção para que a senhora assistente da operadora de telecomunicações não terá ficado bem na descrição que fiz.
Não era a ideia; a baixa produtividade do seu serviço não é da sua responsabilidade, antes da administração e direção da operadora, paradoxalmente muito bem cotada na opinião pública e na imprensa.
As coisas não funcionam bem ou mal por serem privadas ou públicas, mas também por serem bem ou mal geridas, e, neste caso concreto, a produtividade dum serviço público e dum serviço privado está bem à vista, sem com isto querer naconalizar a operadora de telecomunicações, claro.
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Notícias da barragem doTua em junho de 2012
Notícias da barragem do Tua
(ver http://www.facebook.com/valedotua
e
http://www.linhadotua.net/3w/index.php )
Aguarda-se a reunião da UNESCO até ao inicio de Julho de 2012 em S.Petersburg para sabermos mais sobre o pedido ao governo português de interrupção das obras da barragem do Tua.
Entretanto, a senhora ministra Assunção Cristas terá afirmado que não havia dinheiro para pagar as indemnizações aos empreiteiros (contrato é contrato, embora esta afirmação tenha sido contornada juridicamente no caso do TGV Poceirão-Caia já contratado) e que as obras não colidiam com a zona protegida do Alto Douro Vinhateiro.
Dada a formação profissional do escriba deste blogue (ou deformação; quem poderá garantir que a sua formação não é uma deformação?) parece-lhe (parece-lhe só; quem poderá garantir que tem certezas?) que poderá sempre estudar-se soluções que minimizem efeitos.
Foi o que tentou fazer em
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2011/02/tua-tua.html
propondo o estudo da solução da cota de 160m (barragem a 6 km da foz) em vez da cota de 170m (barragem a 1 km da foz) para a qual está sendo construída a barragem, com substituição do troço ferroviário submerso entre Castanheiro e Santa Luzia por um novo troço de cremalheira através das serras de Castanheiro e de Paradela, e suportando a diminuição do volume armazenado e de produção anual.
Se a UNESCO não aceitar a argumentação do governo português e insistir na desclassificação do Douro Vinhateiro, e considerando que segundo o senhor secretário de estado da cultura é prioritário não perder essa classificação, então humildemente sugiro que se estude a solução da cota de 160 m e do desvio da barragem para 6 km de distancia da foz.
Humildemente, claro, sem certezas indiscutíveis e considerando que a utilidade da barragem e da central hidro-elétrica é, graças à sua caraterística de reversibilidade, a de poupar a importação de mais de meia centena de milhões de metros cúbicos de gás natural (vantagem cumulativa, como não se diz nas promoções, com as medidas de poupança energética a nível nacional, e com os benefícios da exportação da energia elétrica nas trocas fronteiriças).
PS - Gostaria de esclarecer melhor a minha opinião.
Como técnico, é extremamente importante para mim o argumento de que a central hidro-elétrica do Tua produziria cerca de 250 GWh por ano com a cota 160m (inferior à cota de 170 m para a qual a barragem está sendo construida).
Não concordo com a argumentação de algumas associações ambientalistas, que põem a questão em termos de: ou a barragem ou (exclusivo) a linha do Tua, o Douro Vinhateiro e o ambiente, desprezando a produção hídrica por ser apenas 0,5% da produção total anual de energia elétrica em Portugal (ca 50.000 GWh). Prefiro a expressão: a barragem e a linha do Tua, o Douro Vinhateiro e o ambiente, com as alterações propostas; quanto à produção de 250 GWh, são duas vezes e meia o consumo anual do metropolitano de Lisboa; bom seria poder dizer que toda a energia do metropolitano vem de fontes não fosseis; isso seria um ótimo argumento, por reduzir a "pegada ecológica" do metro, para reduzir os desperdícios em combustíveis fósseis da circulação automóvel nas áreas metropolitanas.
Por outro lado, por mais que se eliminem os desperdícios energéticos, o que deverá ser um objetivo expresso pela redução ao valor médio da intensidade energética europeia (consumo por PIB per capita), os custos dos investimentos necessários (por exemplo, para melhorar o isolamento das casas, para reurbanizar áreas metropolitanas, para reorganizar os sistemas ferroviários, para substituir a iluminação pública e privada por outra mais eficiente) impõem um tempo dilatado.
As equações para o balanço do consumo de energia elétrica mostram as variáveis que devem crescer e as que devem diminuir:
Consumo = Consumo util + desperdicio (potencial de poupança)
e
Consumo util = Produção interna de origem não fóssil + Produção interna com combustiveis fósseis importados + Energia importada - Energia exportada - desperdício
Fixado o consumo util a partir do valor de intensidade elétrica objetivo, convirá reduzir:
- a produção interna com combustiveis fósseis (para equilibrar a balança de pagamentos; necessidade de negociar a redução das "rendas"),
- a energia importada (para equilibrar a balança de pagamentos),
- o desperdício;
e convirá aumentar:
- a produção interna de origem não fóssil,
- a energia exportada (exige o reforço da rede de interligação com Espanha e a Europa, eventualmente com investimento em linhas de muito alta tensão de tensão contínua e longa distancia, um problema de planeamento e cooperação com Espanha semelhante ao das ligações ferroviárias, incompatível com visões públicas setoriais e com estratégias de administrações de grandes empresas privadas).
Por tudo isso, não posso concordar com a desistencia da construção de barragens, pelo que apoio, nesse aspeto, o plano nacional de ação para as energias renováveis (PNAER).
PS em 2 de julho de 2012 - noticiado que a CP deixou de pagar os taxis que substituiam o serviço da linha do Tua encerrada. E que o comboio turistico entre Régua e Tua é um sucesso. Pena não seguir até ao Pocinho com vapor, mas para isso é preciso investimento (é aliás uma hipótese a eletrificação da ligação a Salamanca para exportar o minério de Moncorvo).
PS em 10 de julho de 2012 - consta que a conferencia de S.Petersburgo da UNESCO pediu ao governo português para "abrandar" a construção da barragem do Tua. O que se ganhará em abrandar? A ideia não seria "rever" o projeto? É que abrandar não significa evitar a irreversibilidade do disparate, como destruir o troço de via férrea em viaduto já destruido. Mas enfim, será um eufemismo para pôr no relatório.
(ver http://www.facebook.com/valedotua
e
http://www.linhadotua.net/3w/index.php )
Aguarda-se a reunião da UNESCO até ao inicio de Julho de 2012 em S.Petersburg para sabermos mais sobre o pedido ao governo português de interrupção das obras da barragem do Tua.
Entretanto, a senhora ministra Assunção Cristas terá afirmado que não havia dinheiro para pagar as indemnizações aos empreiteiros (contrato é contrato, embora esta afirmação tenha sido contornada juridicamente no caso do TGV Poceirão-Caia já contratado) e que as obras não colidiam com a zona protegida do Alto Douro Vinhateiro.
Dada a formação profissional do escriba deste blogue (ou deformação; quem poderá garantir que a sua formação não é uma deformação?) parece-lhe (parece-lhe só; quem poderá garantir que tem certezas?) que poderá sempre estudar-se soluções que minimizem efeitos.
Foi o que tentou fazer em
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2011/02/tua-tua.html
propondo o estudo da solução da cota de 160m (barragem a 6 km da foz) em vez da cota de 170m (barragem a 1 km da foz) para a qual está sendo construída a barragem, com substituição do troço ferroviário submerso entre Castanheiro e Santa Luzia por um novo troço de cremalheira através das serras de Castanheiro e de Paradela, e suportando a diminuição do volume armazenado e de produção anual.
Se a UNESCO não aceitar a argumentação do governo português e insistir na desclassificação do Douro Vinhateiro, e considerando que segundo o senhor secretário de estado da cultura é prioritário não perder essa classificação, então humildemente sugiro que se estude a solução da cota de 160 m e do desvio da barragem para 6 km de distancia da foz.
Humildemente, claro, sem certezas indiscutíveis e considerando que a utilidade da barragem e da central hidro-elétrica é, graças à sua caraterística de reversibilidade, a de poupar a importação de mais de meia centena de milhões de metros cúbicos de gás natural (vantagem cumulativa, como não se diz nas promoções, com as medidas de poupança energética a nível nacional, e com os benefícios da exportação da energia elétrica nas trocas fronteiriças).
PS - Gostaria de esclarecer melhor a minha opinião.
Como técnico, é extremamente importante para mim o argumento de que a central hidro-elétrica do Tua produziria cerca de 250 GWh por ano com a cota 160m (inferior à cota de 170 m para a qual a barragem está sendo construida).
Não concordo com a argumentação de algumas associações ambientalistas, que põem a questão em termos de: ou a barragem ou (exclusivo) a linha do Tua, o Douro Vinhateiro e o ambiente, desprezando a produção hídrica por ser apenas 0,5% da produção total anual de energia elétrica em Portugal (ca 50.000 GWh). Prefiro a expressão: a barragem e a linha do Tua, o Douro Vinhateiro e o ambiente, com as alterações propostas; quanto à produção de 250 GWh, são duas vezes e meia o consumo anual do metropolitano de Lisboa; bom seria poder dizer que toda a energia do metropolitano vem de fontes não fosseis; isso seria um ótimo argumento, por reduzir a "pegada ecológica" do metro, para reduzir os desperdícios em combustíveis fósseis da circulação automóvel nas áreas metropolitanas.
Por outro lado, por mais que se eliminem os desperdícios energéticos, o que deverá ser um objetivo expresso pela redução ao valor médio da intensidade energética europeia (consumo por PIB per capita), os custos dos investimentos necessários (por exemplo, para melhorar o isolamento das casas, para reurbanizar áreas metropolitanas, para reorganizar os sistemas ferroviários, para substituir a iluminação pública e privada por outra mais eficiente) impõem um tempo dilatado.
As equações para o balanço do consumo de energia elétrica mostram as variáveis que devem crescer e as que devem diminuir:
Consumo = Consumo util + desperdicio (potencial de poupança)
e
Consumo util = Produção interna de origem não fóssil + Produção interna com combustiveis fósseis importados + Energia importada - Energia exportada - desperdício
Fixado o consumo util a partir do valor de intensidade elétrica objetivo, convirá reduzir:
- a produção interna com combustiveis fósseis (para equilibrar a balança de pagamentos; necessidade de negociar a redução das "rendas"),
- a energia importada (para equilibrar a balança de pagamentos),
- o desperdício;
e convirá aumentar:
- a produção interna de origem não fóssil,
- a energia exportada (exige o reforço da rede de interligação com Espanha e a Europa, eventualmente com investimento em linhas de muito alta tensão de tensão contínua e longa distancia, um problema de planeamento e cooperação com Espanha semelhante ao das ligações ferroviárias, incompatível com visões públicas setoriais e com estratégias de administrações de grandes empresas privadas).
Por tudo isso, não posso concordar com a desistencia da construção de barragens, pelo que apoio, nesse aspeto, o plano nacional de ação para as energias renováveis (PNAER).
PS em 2 de julho de 2012 - noticiado que a CP deixou de pagar os taxis que substituiam o serviço da linha do Tua encerrada. E que o comboio turistico entre Régua e Tua é um sucesso. Pena não seguir até ao Pocinho com vapor, mas para isso é preciso investimento (é aliás uma hipótese a eletrificação da ligação a Salamanca para exportar o minério de Moncorvo).
PS em 10 de julho de 2012 - consta que a conferencia de S.Petersburgo da UNESCO pediu ao governo português para "abrandar" a construção da barragem do Tua. O que se ganhará em abrandar? A ideia não seria "rever" o projeto? É que abrandar não significa evitar a irreversibilidade do disparate, como destruir o troço de via férrea em viaduto já destruido. Mas enfim, será um eufemismo para pôr no relatório.
quinta-feira, 21 de junho de 2012
Os 40% dos pilotos, ou o peso dos fatores de produção e os constrangimentos externos
Declaração de interesses: o humilde escriba deste blogue depende em 99% dos rendimentos da sua pensão, correspondente a 40 anos de descontos relativos a salários que estavam claramente abaixo da média nacional para a sua categoria profissional até meados dos anos 90, quando efetivamente a ultrapassaram. Apesar dos cortes dos dois subsidios considera-se privilegiado relativamente à maioria dos portugueses e não vê com bons olhos a campanha contras as “regalias” dos trabalhadores com convenções coletivas de trabalho, considerando que os esforços de nivelamento deverão sempre tender para que ele se faça por cima e não por baixo e respeitando um justo equilíbrio entre os rendimentos do capital e os do trabalho.
Eis porque, meu caro cronista preferido, peço desculpa por o tratar assim, que sou mais velho, e me encanto, mesmo sendo indiferente ao futebol, com o humanismo de crónicas como:
http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=2614815&seccao=Ferreira Fernandes&tag=Opini%E3o - Em Foco
me choca lê-lo em:
http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=2619195&seccao=Ferreira Fernandes&tag=Opini%E3o - Em Foco
a zurzir nos 40% de espaço agasalhado nas cobertas das naus da Índia para os comerciantes que pagavam 30.000 reis e para a tripulação, para trazerem as sedas que pudessem para alem da pimenta do rei:
http://nautarch.tamu.edu/shiplab/01monteiro/CarreiraIndias02.htm
É que se insinua subliminarmente nas mentes dos leitores uma correlação forte entre esta taxa, de 40%, classificada como chantagem dos assalariados poderosos da cabina de condução (ai o salto fácil para o cockpit dos pilotos da TAP e para os maquinistas do metropolitano de Lisboa e da CP), e o triste fim da Companhia das Índias.
Ora, consultados os textos da história económica deste País, fiquei com a ideia de que a aproximação do fim do século de 500 coincidiu com a lenta agonia do comércio da pimenta que alimentava a casa real (o rei da pimenta, ali ao terreiro do paço) porque:
- a companhia holandesa das Indias e os ingleses se estabeleceram também no Índico e combatiam os portugueses (grande ajuda nesse sentido deram os espanhóis com a união pessoal dos Filipes; o eclipse da companhia das Índias portuguesa coincide temporalmente com o fim do comércio com a Holanda por pressão espanhola - 1620);
- as quantidades de pimenta trazida foram diminuindo e as margens de lucro da pimenta foram baixando, pela simples razão que as margens de lucro de outras mercadorias foram subindo (era o mercado a funcionar), embora, graças à inflação, os valores não variassem muito
- graças à inflação (andámos metidos nas aventuras da Armada Invencível, não foi? Houve epidemias também de peste negra e crises cerealíferas), os custos de construção das naus foram-se agravando
- numa tentativa de aumentar a produtividade, fez-se a má escolha tecnológica de construir naus maiores mas menos resistentes ao temporal dado que eram sobrecarregadas (lá está, o tal espaço dos agasalhados vinha sobrelotado; naus maiores significava menos tripulações a quem pagar)
- o numero de naufrágios aumentou (natural que os salários e prémios, com o aumento do risco, subissem, não? engraçado, os superpetroleiros sul-coreanos e chineses também começaram a dar problemas por esses mares fora por causa da ganância da grande construção a baixo preço)
- a estratégia dos ocupantes filipinos mudou para a exploração das rotas africana e sul-americana em detrimento das rotas do Índico, para melhor explorar o açúcar brasileiro e os escravos africanos (foi, não gostámos que o município de Queen’s rejeitasse a estátua de Catarina, mas o negócio negreiro ensombra mesmo a história deste País, não é?)
Isto é, então como agora, já uns diriam que os 40% que os agasalhados exigiam do espaço das naus eram uma consequência da evolução do mercado, enquanto outros diriam que o mercado da pimenta estava a evoluir mal por causa dos 40% do pessoal do cockpit (quem apareceu primeiro, o ovo ou a franga?).
Em vez de se analisarem as coisas com base em dados recolhidos cientificamente, tratá-los cientificamente e debater soluções cientificamente, mesmo que a TAP faça como o presidente Obama fez com a GM, que fez dos sindicatos acionistas (porque carga de água é que só os pilotos é que podem ser acionistas? O resto do pessoal não pode?).
E está a vender bem, a GM.
Eu não sei se a opinião pública já endogeneizou uma coisa que o senhor secretário de estado dos transportes já disse, que o problema da dívida do metropolitano e das empresas públicas de transportes é dos financiamentos para a construção das estações e das linhas, o que pressupõe que não são as regalias dos maquinistas que furam as contas (eu também não concordo que se estejam a prejudicar os passageiros com paralisações, nem sequer concordei com o não serviço do RockinRio; mas que se deve expressar discordância duma politica de transportes como esta, deve; por mim, preferiria greves de zelo com ligeiros atrasos na circulação para pedagogia aos passageiros sobre procedimentos de segurança, como se faz nos aviões, e troca de impressões sobre as dificuldades de emprego dos passageiros).
Créditos - História económica de Portugal 1143-2010, Leonor Freire Costa, Pedro Lains e Susana Munch Miranda, ed.a esfera dos livros
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terça-feira, 19 de junho de 2012
Fernando Pessoa - o Banqueiro Anarquista
121, 122, 123, 124, 125, 126, 127, 128, 129, 130, 131, 132 … conto mentalmente 12 segundos depois do arranque.
Sinto um ligeiro balanço; o maquinista cortou a tração, entrou em deriva por inércia.
Atingiu os 45 km/h ao fim de 12 segundos com uma taxa de aceleração de 1 metro por segundo quadrado.
As políticas de poupança de energia obrigam ao limite de 45 km/h.
Enfio a mão esquerda no bolso para retirar os Contos Completos de Fernando Pessoa. Vou aproveitar a viagem de metropolitano para começar a ler o Banqueiro Anarquista.
Reparo na mulher ainda jovem mas pobremente vestida que se equilibra junto das portas.
Costumo vê-la quando viajo a esta hora, no princípio da noite.
É muito magra e tem o rosto precocemente envelhecido.
Não dobra o joelho esquerdo e por isso arrasta a perna com um movimento circular enquanto se debruça a pedir esmola.
Não reparou no título do livro e pede-me uma “small coin”.
Tento afastá-la com uma cara fechada mas ela diz que tem fome e corrige o pedido para uma pequena moeda, que também tem frio e está a juntar 8 euros para comprar um casaco ali, e aponta para a superfície; repete o pedido, uma moeda e um sorriso, foi o que disse.
Duas mulheres bem vestidas, de aparência nórdica, desviam a cara e interrompem a conversa animada.
Outro nórdico, seguramente um técnico que veio vender qualquer coisa neste país, de gravata amarela e casaco de riscas, rebusca nos bolsos e também contribui com uma moeda.
A meu lado uma mulher jovem e robusta masca obsessivamente uma pastilha elástica.
Recebo os eflúvios do mentol que não desejo, mas ela está alheada da cena que a rodeia e pressiona compulsivamente o visor do seu telemóvel onde se mostram as cartas de poker.
Obterá os seus rendimentos de algum negócio que consegue gerir mas depende completamente do jogo. Possivelmente terá deixado de fumar e não consegue retirar doutros centros de interesse que não a pastilha elástica e o poker do telemóvel a produção de dopamina nas suas sinapses de prazer.
Entra na estação seguinte mais um mendigo.
É negro, traz um barrete magrebino e usa uma barba rala e encaracolada.
Já iniciei a leitura do Banqueiro Anarquista e já sei que ele é anarquista, para grande espanto do seu interlocutor, no conto, em teoria e na prática, contrariamente ao comum dos anarquistas, que só o são em teoria.
Sigo o raciocínio do banqueiro:
“O que é um anarquista? É um revoltado contra a injustiça de nascermos desiguais socialmente, e daí resulta a revolta contra as convenções sociais que tornam essa desigualdade possível.
As injustiças da Natureza, vá: não as podemos evitar. Agora as da sociedade e das suas convenções – essas, por que não evitá-las?”
E eis como Fernando Pessoa, que não gostava de aventuras progressistas nas ideologias políticas, sabia identificar a origem dos males das sociedades e das suas incapacidades de solução.
“O mal verdadeiro são as convenções e as ficções sociais que se sobrepõem às realidades naturais, família, Estado, religiões, dinheiro.
As ficções são más porque não são naturais.
Qualquer sistema que não seja puramente anarquista, e que não queira como este a abolição de todas as ficções, será também uma ficção a implantar em vez de outra. Será mesmo um crime por ser uma perturbação social com o fim expresso de deixar tudo na mesma”
Ocorre-me que Fernando Pessoa estava desgostoso com a experiencia soviética (o Banqueiro anarquista é de 1922), e desiludido com a experiencia portuguesa da I Republica.
Que pensaria ele dos seguidores de Hayeck e Friedmann que, depois da crise financeira internacional de 2008 insistem nas teses neo-liberais e na cisão das sociedades castigando uma parte da população com medidas de rigor austeritário e de congelamento e decrescimento do PIB? Impondo os dogmas de desregulação do mercado e das formas de produção e de propriedade?
“Não será realizável o sistema anarquista? Se o atual sistema é injusto, há vantagem, porque há justiça, em substitui-lo por um mais justo. O critério de justiça é o de ser verdadeiro e natural (que é o que é do instinto) por oposição à mentira das convenções.
E o natural ou é realizável ou não é”
Será que Fernando Pessoa já tinha a consciência ecologista do que é sustentável?
“A sociedade pode ser natural e então pode haver a sociedade anarquista e livre.
Ou a sociedade não pode ser natural por ser essencialmente ficção e então, teremos de aceitar a ficção a que estamos habituados, o atual sistema burguês.
Mas a passagem material ao sistema anarquista não poderá ser feita de modo gradual através de realizações materiais e sociais. Só poderá haver uma adaptação mental, um estado intermédio de transição entre a sociedade burguesa e anarquista, uma adaptação dos espíritos à sociedade livre.
Ainda haveria uma hipótese de passagem material à sociedade livre, a ditadura revolucionária, a ditadura do proletariado.
Mas um regime revolucionário tem de ser despótico, tem de criar uma tirania, mesmo que seja nova, uma tirania.
E isso é o que os verdadeiros anarquistas não querem, embora na prática também acabem por fazer quando uns mandam e obrigam outros a ser o que eles querem .
Pelo contrário, a revolução social deve ser preparada por um trabalho intenso e contínuo, de ação direta e indireta, tendente a dispor todos os espíritos para a vinda da sociedade livre, e a enfraquecer até ao estado comatoso todas as resistências da burguesia”
Enquanto Fernando Pessoa teorizava sobre a revolução, ou o banqueiro por ele, entraram na nova estação, que era de correspondência, um grupo de alunas da universidade vestidas de preto, de uma tuna, que se puseram a ensaiar com duas violas, e mais um pedinte, equipado com uma trompa do Nepal, que se pôs a roncar com o instrumento estendido até ao chão.
“No estado social presente não é pois possível um grupo de homens trabalharem juntos pela liberdade, contra as ficções sociais, sem espontaneamente criarem tirania nova entre si. O que há a fazer? Simples … trabalharmos para o mesmo fim, mas separados”
Fernando Pessoa ainda não tinha vivido a crise da desregulação financeira de 1929, nem conheceria a de 2008, e não podia saber que não é por falta de coragem que as populações preferem manter-se sob o domínio dos grandes grupos financeiros. Talvez receiem o desconhecido de si próprios.
Seguramente, resolveram dar ouvidos à propaganda intensa de quem culpou ao longo dos anos o estado providencia por gastar dinheiro, de quem desacreditou o espírito do serviço público e os servidores públicos, de quem lhes inculcou o dogma da supremacia do individualismo ou da esperança na lotaria das oportunidades. Nas tentativas de revolução social aconteceu o previsto, criou-se tirania nova.
Mas isso, tanto sobre a desregulação financeira como sobre as revoluções falhadas, o banqueiro ainda não tinha dados históricos sobre que pudesse estabelecer doutrina. Nem dispunha dos desenvolvimentos da teoria da negociação de John Nash, nem do equilíbrio de Pareto, nem das técnicas de abordagem e resolução dos problemas, de coordenação e convergencia de trabalho em equipa de elementos de sensibilidades e vontades diversas.
“Por isso decidi subjugar a principal ficção social, o dinheiro, e fiz-me banqueiro. Deu em resultado eu enriquecer, portanto tive uma compensação egoísta e libertei-me do dinheiro conseguindo a liberdade. Posso ter usado a tirania contra quem precisou do meu banco, mas não criei nenhuma tirania nova. A tirania é das ficções sociais e não dos homens. Se destruirmos todos os capitalistas e subsistir o capital, outros capitalistas surgirão. Mas se destruirmos o capital deixará de haver capitalistas”.
O comboio chegou à minha estação ao mesmo tempo que o banqueiro terminava a sua fastidiosa peroração e se levantava da mesa com o seu paciente interlocutor.
Teria Fernando Pessoa querido traduzir para português o pessimismo de Scopenhauer e de Nietzsche, a incompletude dos objetivos falhados na organização da sociedade? Da decadência das soluções políticas que sistematicamente não dão resposta à humanidade e preferem deixá-la a contas com as leis da seleção natural e do interesse e da vontade do poder egoístas? Do fanatismo moral e da insustentável e irracional movimentação humana, como moléculas num recinto fechado?
É um facto que da sua poesia ressuma isso mesmo.
Mas não sou grande intérprete do seu pensamento nem da sua poesia.
Os mendigos do metropolitano lá continuaram.
Citações: Contos completos, Fernando Pessoa, ed.Antígona, Maio de 2012
Sinto um ligeiro balanço; o maquinista cortou a tração, entrou em deriva por inércia.
Atingiu os 45 km/h ao fim de 12 segundos com uma taxa de aceleração de 1 metro por segundo quadrado.
As políticas de poupança de energia obrigam ao limite de 45 km/h.
Enfio a mão esquerda no bolso para retirar os Contos Completos de Fernando Pessoa. Vou aproveitar a viagem de metropolitano para começar a ler o Banqueiro Anarquista.
Reparo na mulher ainda jovem mas pobremente vestida que se equilibra junto das portas.
Costumo vê-la quando viajo a esta hora, no princípio da noite.
É muito magra e tem o rosto precocemente envelhecido.
Não dobra o joelho esquerdo e por isso arrasta a perna com um movimento circular enquanto se debruça a pedir esmola.
Não reparou no título do livro e pede-me uma “small coin”.
Tento afastá-la com uma cara fechada mas ela diz que tem fome e corrige o pedido para uma pequena moeda, que também tem frio e está a juntar 8 euros para comprar um casaco ali, e aponta para a superfície; repete o pedido, uma moeda e um sorriso, foi o que disse.
Duas mulheres bem vestidas, de aparência nórdica, desviam a cara e interrompem a conversa animada.
Outro nórdico, seguramente um técnico que veio vender qualquer coisa neste país, de gravata amarela e casaco de riscas, rebusca nos bolsos e também contribui com uma moeda.
A meu lado uma mulher jovem e robusta masca obsessivamente uma pastilha elástica.
Recebo os eflúvios do mentol que não desejo, mas ela está alheada da cena que a rodeia e pressiona compulsivamente o visor do seu telemóvel onde se mostram as cartas de poker.
Obterá os seus rendimentos de algum negócio que consegue gerir mas depende completamente do jogo. Possivelmente terá deixado de fumar e não consegue retirar doutros centros de interesse que não a pastilha elástica e o poker do telemóvel a produção de dopamina nas suas sinapses de prazer.
Entra na estação seguinte mais um mendigo.
É negro, traz um barrete magrebino e usa uma barba rala e encaracolada.
Já iniciei a leitura do Banqueiro Anarquista e já sei que ele é anarquista, para grande espanto do seu interlocutor, no conto, em teoria e na prática, contrariamente ao comum dos anarquistas, que só o são em teoria.
Sigo o raciocínio do banqueiro:
“O que é um anarquista? É um revoltado contra a injustiça de nascermos desiguais socialmente, e daí resulta a revolta contra as convenções sociais que tornam essa desigualdade possível.
As injustiças da Natureza, vá: não as podemos evitar. Agora as da sociedade e das suas convenções – essas, por que não evitá-las?”
E eis como Fernando Pessoa, que não gostava de aventuras progressistas nas ideologias políticas, sabia identificar a origem dos males das sociedades e das suas incapacidades de solução.
“O mal verdadeiro são as convenções e as ficções sociais que se sobrepõem às realidades naturais, família, Estado, religiões, dinheiro.
As ficções são más porque não são naturais.
Qualquer sistema que não seja puramente anarquista, e que não queira como este a abolição de todas as ficções, será também uma ficção a implantar em vez de outra. Será mesmo um crime por ser uma perturbação social com o fim expresso de deixar tudo na mesma”
Ocorre-me que Fernando Pessoa estava desgostoso com a experiencia soviética (o Banqueiro anarquista é de 1922), e desiludido com a experiencia portuguesa da I Republica.
Que pensaria ele dos seguidores de Hayeck e Friedmann que, depois da crise financeira internacional de 2008 insistem nas teses neo-liberais e na cisão das sociedades castigando uma parte da população com medidas de rigor austeritário e de congelamento e decrescimento do PIB? Impondo os dogmas de desregulação do mercado e das formas de produção e de propriedade?
“Não será realizável o sistema anarquista? Se o atual sistema é injusto, há vantagem, porque há justiça, em substitui-lo por um mais justo. O critério de justiça é o de ser verdadeiro e natural (que é o que é do instinto) por oposição à mentira das convenções.
E o natural ou é realizável ou não é”
Será que Fernando Pessoa já tinha a consciência ecologista do que é sustentável?
“A sociedade pode ser natural e então pode haver a sociedade anarquista e livre.
Ou a sociedade não pode ser natural por ser essencialmente ficção e então, teremos de aceitar a ficção a que estamos habituados, o atual sistema burguês.
Mas a passagem material ao sistema anarquista não poderá ser feita de modo gradual através de realizações materiais e sociais. Só poderá haver uma adaptação mental, um estado intermédio de transição entre a sociedade burguesa e anarquista, uma adaptação dos espíritos à sociedade livre.
Ainda haveria uma hipótese de passagem material à sociedade livre, a ditadura revolucionária, a ditadura do proletariado.
Mas um regime revolucionário tem de ser despótico, tem de criar uma tirania, mesmo que seja nova, uma tirania.
E isso é o que os verdadeiros anarquistas não querem, embora na prática também acabem por fazer quando uns mandam e obrigam outros a ser o que eles querem .
Pelo contrário, a revolução social deve ser preparada por um trabalho intenso e contínuo, de ação direta e indireta, tendente a dispor todos os espíritos para a vinda da sociedade livre, e a enfraquecer até ao estado comatoso todas as resistências da burguesia”
Enquanto Fernando Pessoa teorizava sobre a revolução, ou o banqueiro por ele, entraram na nova estação, que era de correspondência, um grupo de alunas da universidade vestidas de preto, de uma tuna, que se puseram a ensaiar com duas violas, e mais um pedinte, equipado com uma trompa do Nepal, que se pôs a roncar com o instrumento estendido até ao chão.
“No estado social presente não é pois possível um grupo de homens trabalharem juntos pela liberdade, contra as ficções sociais, sem espontaneamente criarem tirania nova entre si. O que há a fazer? Simples … trabalharmos para o mesmo fim, mas separados”
Fernando Pessoa ainda não tinha vivido a crise da desregulação financeira de 1929, nem conheceria a de 2008, e não podia saber que não é por falta de coragem que as populações preferem manter-se sob o domínio dos grandes grupos financeiros. Talvez receiem o desconhecido de si próprios.
Seguramente, resolveram dar ouvidos à propaganda intensa de quem culpou ao longo dos anos o estado providencia por gastar dinheiro, de quem desacreditou o espírito do serviço público e os servidores públicos, de quem lhes inculcou o dogma da supremacia do individualismo ou da esperança na lotaria das oportunidades. Nas tentativas de revolução social aconteceu o previsto, criou-se tirania nova.
Mas isso, tanto sobre a desregulação financeira como sobre as revoluções falhadas, o banqueiro ainda não tinha dados históricos sobre que pudesse estabelecer doutrina. Nem dispunha dos desenvolvimentos da teoria da negociação de John Nash, nem do equilíbrio de Pareto, nem das técnicas de abordagem e resolução dos problemas, de coordenação e convergencia de trabalho em equipa de elementos de sensibilidades e vontades diversas.
“Por isso decidi subjugar a principal ficção social, o dinheiro, e fiz-me banqueiro. Deu em resultado eu enriquecer, portanto tive uma compensação egoísta e libertei-me do dinheiro conseguindo a liberdade. Posso ter usado a tirania contra quem precisou do meu banco, mas não criei nenhuma tirania nova. A tirania é das ficções sociais e não dos homens. Se destruirmos todos os capitalistas e subsistir o capital, outros capitalistas surgirão. Mas se destruirmos o capital deixará de haver capitalistas”.
O comboio chegou à minha estação ao mesmo tempo que o banqueiro terminava a sua fastidiosa peroração e se levantava da mesa com o seu paciente interlocutor.
Teria Fernando Pessoa querido traduzir para português o pessimismo de Scopenhauer e de Nietzsche, a incompletude dos objetivos falhados na organização da sociedade? Da decadência das soluções políticas que sistematicamente não dão resposta à humanidade e preferem deixá-la a contas com as leis da seleção natural e do interesse e da vontade do poder egoístas? Do fanatismo moral e da insustentável e irracional movimentação humana, como moléculas num recinto fechado?
É um facto que da sua poesia ressuma isso mesmo.
Mas não sou grande intérprete do seu pensamento nem da sua poesia.
Os mendigos do metropolitano lá continuaram.
Citações: Contos completos, Fernando Pessoa, ed.Antígona, Maio de 2012
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Critica de cinema - O cavalo de Turim
Durante 2horas e três quartos o filme mantem-nos agarrados numa ação lenta, obssessiva e repetitiva com o fundo da musica minimalista e do ruido do vento no exterior da quinta decadente.
O episódio de Nietzsche abraçado ao pescoço de um cavalo que o cocheiro maltratou em Turim, antes de entrar em loucura, é apenas referido.
O filme mostra a decadencia do talvez cocheiro e da filha na quinta, a insustentabilidade do modo de produção, a falta da água, a mono-alimentação, a proximidade da morte da égua.
Dois episódios interrompem a não ação: uma trupe de ciganos de que um velho deixa delicadamente um livro como paga da água (era uma biblia de que é lido um texto ambíguo, como se fosse um apelo à ilusão e à fuga da triste realidade que é insuportável para toda a humanidade, como decadentemente Nietzsche considerava as religiões) ; e a visita declamatória do vizinho que despeja o pessimismo de Nietzsche sobre o tampo da mesa, culpando "eles" por tudo destruirem, por criarem máscaras de preconceitos e de moral que ocultam a realidade dolorosa.
Dizem os críticos que a mensagem do realizador Bela Tarr é difícil de entender e que é muito próxima da de Nietzsche.
Pode ser, o pessimismo que advem de, ao fim de tantos séculos, depois de tanta conquista tecnológica, a forma de produção e de vida ainda ser insustentável para a humanidade e a vontade do poder se sobrepor ao objetivo do bem comum.
Será mesmo que só alguns podem ter vida desafogada?
http://www.trailers.com.pt/o-cavalo-de-turim/
http://visao.sapo.pt/o-cavalo-de-turim-e-o-vento-la-fora=f669530
O episódio de Nietzsche abraçado ao pescoço de um cavalo que o cocheiro maltratou em Turim, antes de entrar em loucura, é apenas referido.
O filme mostra a decadencia do talvez cocheiro e da filha na quinta, a insustentabilidade do modo de produção, a falta da água, a mono-alimentação, a proximidade da morte da égua.
Dois episódios interrompem a não ação: uma trupe de ciganos de que um velho deixa delicadamente um livro como paga da água (era uma biblia de que é lido um texto ambíguo, como se fosse um apelo à ilusão e à fuga da triste realidade que é insuportável para toda a humanidade, como decadentemente Nietzsche considerava as religiões) ; e a visita declamatória do vizinho que despeja o pessimismo de Nietzsche sobre o tampo da mesa, culpando "eles" por tudo destruirem, por criarem máscaras de preconceitos e de moral que ocultam a realidade dolorosa.
Dizem os críticos que a mensagem do realizador Bela Tarr é difícil de entender e que é muito próxima da de Nietzsche.
Pode ser, o pessimismo que advem de, ao fim de tantos séculos, depois de tanta conquista tecnológica, a forma de produção e de vida ainda ser insustentável para a humanidade e a vontade do poder se sobrepor ao objetivo do bem comum.
Será mesmo que só alguns podem ter vida desafogada?
http://www.trailers.com.pt/o-cavalo-de-turim/
http://visao.sapo.pt/o-cavalo-de-turim-e-o-vento-la-fora=f669530
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Como é diferente o amor pela ópera na Turquia
Não entendam como um convite a um passeio turístico a Istanbul, em época de crise, mesmo com a desculpa de ser cultural.
Mas passou-me pelos olhos o anuncio do festival de ópera em Julho, em Istanbul, interessada que está a Turquia em fazer "charme" à Europa ocidental e central e segura do seu clima mediterrânico e do seu PIB crescente (aguardam-se as negociações com os revoltados curdos).
E lembrei-me da aversão que os nossos governantes têm à ópera.
Com alguma razão, quanto a mim, que ela pode ser subversiva, quando põe a nú as fragilidades do pensamento de quem detem o poder politico (ver o Don Carlos, o MacBeth ou o Boris Godounov) ou o poder financeiro (ver o Banksters, do nosso Corte Real, ou Dias Levantados, do também nosso Pinho Vargas) alem de requerer produções muito caras.
Ver o programa de Istanbul, de 7 a 19 de Julho de 2012, incluindo temas clássicos nos teatros da Europa ocidental e central, como o Rapto no Serralho, e Bajazeto, em:
http://www.istanbuloperafestival.gov.tr/eng/index.htmlhttp://www.istanbuloperafestival.gov.tr/eng/index.html
E lembrei-me também do esforço dos trabalhadores da cultura e da ópera do S.Carlos, reduzidos pelo garrote financeiro a montarem um festival no largo de S.Carlos praticamente sem referencias de ópera, de 30 de junho a 31de julho. Ver em:
http://www.festivalaolargo.com/#
Vejam ainda o programa com que o senhor secretário de estado da cultura convenceu o maestro Vitorino de Almeida a realizar concertos sinfónicos pelo país fora, com base nas várias orquestras descentralizadas existentes, de 14 de Junho a 30 de Setembro. Como de forma algo provinciana, de quem não está à vontade quando fala de musica sinfónica e, muito menos, de ópera, disse o senhor secretário de estado que esta iniciativa, que custou 495 mil euros (tanto, 25 mil euros por concerto? talvez aplicar uma taxa por cada minuto de telenovela nas televisões para cobrir as despesas…), “mostrava o lado informal da musica sinfónica” (o que é o lado informal da música sinfónica?).
Ver em:
http://sol.sapo.pt/inicio/Cultura/Interior.aspx?content_id=51859
Mas não deixem de ver o ar provinciano das fotografias do concerto inaugural com as senhoras ministras e senhores ministros sentados na plateia improvisada no palácio da Ajuda, constrangidas e constrangidos por terem de marcar presença numa coisa tão chata como um concerto sinfónico (vá lá que não era ópera), a que nunca iriam se não fossem ministros dum governo para quem a cultura não interessa, ou só interessa se tiver valor mediático, como as perucas trans-seculares de Joana Vasconcelos nos quartos de Versailles. Que ar de baile de bombeiros e de cerimonial do regime com que ficaram todos.
http://www.portugal.gov.pt/pt/fotos-e-videos/fotos/20120614-sec-orquestra.aspx
http://www.grandeorquestradeverao.pt/programacao/programacao/
Ou, de como, mais uma vez parafraseando Júlio Dantas, como é diferente o amor pela ópera na Turquia.
Mas passou-me pelos olhos o anuncio do festival de ópera em Julho, em Istanbul, interessada que está a Turquia em fazer "charme" à Europa ocidental e central e segura do seu clima mediterrânico e do seu PIB crescente (aguardam-se as negociações com os revoltados curdos).
E lembrei-me da aversão que os nossos governantes têm à ópera.
Com alguma razão, quanto a mim, que ela pode ser subversiva, quando põe a nú as fragilidades do pensamento de quem detem o poder politico (ver o Don Carlos, o MacBeth ou o Boris Godounov) ou o poder financeiro (ver o Banksters, do nosso Corte Real, ou Dias Levantados, do também nosso Pinho Vargas) alem de requerer produções muito caras.
Ver o programa de Istanbul, de 7 a 19 de Julho de 2012, incluindo temas clássicos nos teatros da Europa ocidental e central, como o Rapto no Serralho, e Bajazeto, em:
http://www.istanbuloperafestival.gov.tr/eng/index.htmlhttp://www.istanbuloperafestival.gov.tr/eng/index.html
E lembrei-me também do esforço dos trabalhadores da cultura e da ópera do S.Carlos, reduzidos pelo garrote financeiro a montarem um festival no largo de S.Carlos praticamente sem referencias de ópera, de 30 de junho a 31de julho. Ver em:
http://www.festivalaolargo.com/#
Vejam ainda o programa com que o senhor secretário de estado da cultura convenceu o maestro Vitorino de Almeida a realizar concertos sinfónicos pelo país fora, com base nas várias orquestras descentralizadas existentes, de 14 de Junho a 30 de Setembro. Como de forma algo provinciana, de quem não está à vontade quando fala de musica sinfónica e, muito menos, de ópera, disse o senhor secretário de estado que esta iniciativa, que custou 495 mil euros (tanto, 25 mil euros por concerto? talvez aplicar uma taxa por cada minuto de telenovela nas televisões para cobrir as despesas…), “mostrava o lado informal da musica sinfónica” (o que é o lado informal da música sinfónica?).
Ver em:
http://sol.sapo.pt/inicio/Cultura/Interior.aspx?content_id=51859
Mas não deixem de ver o ar provinciano das fotografias do concerto inaugural com as senhoras ministras e senhores ministros sentados na plateia improvisada no palácio da Ajuda, constrangidas e constrangidos por terem de marcar presença numa coisa tão chata como um concerto sinfónico (vá lá que não era ópera), a que nunca iriam se não fossem ministros dum governo para quem a cultura não interessa, ou só interessa se tiver valor mediático, como as perucas trans-seculares de Joana Vasconcelos nos quartos de Versailles. Que ar de baile de bombeiros e de cerimonial do regime com que ficaram todos.
http://www.portugal.gov.pt/pt/fotos-e-videos/fotos/20120614-sec-orquestra.aspx
http://www.grandeorquestradeverao.pt/programacao/programacao/
Ou, de como, mais uma vez parafraseando Júlio Dantas, como é diferente o amor pela ópera na Turquia.
art.58º da Constituição, novamente
Este blogue repete o post de dia 4 deste mês, a propósito da declaração do senhor presidente da Republica Portuguesa de que a sua casa civil não vê inconstitucionalidades na nova lei laboral
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2012/06/indignacao-o-artigo-58-da-constituicao.html
«Artigo 58º da Constituição da Republica Portuguesa:
(Direito ao trabalho)
1. Todos têm direito ao trabalho.
2. Para assegurar o direito ao trabalho, incumbe ao Estado promover:
a) A execução de políticas de pleno emprego
etc, etc.
Aceita-se que em situação de emergencia não se possam cumprir plenamente os artigos da Constituição.
Só que, em tais situações de emergencia, isto é, em que as instituições não podem funcionar de forma regular, aquilo que se tem de fazer não pode ser decidido apenas por um grupo; têm de ser todos chamados a participar.
Por isso, e por não ser o que está a acontecer, o registo deste "post" é o da indignação.»
Reafirmando a necessidade em qualquer sociedade de, especialmente em caso de emergência como é o da avaliação continua da execução do memorando da troica, envolver o máximo de sensibilidades e recolher o máximo de contribuições da população, privilegiando a cooperação em diversidade e não o monolitismo necessariamente representante de uma parte minoritária da população, recordo que o senhor presidente da Republica foi eleito por 23,2% dos eleitores inscritos, em eleições com 46,6% de votantes, e que a lei laboral foi aprovada pelos partidos do governo que tiveram um conjunto de 29,67% de votos entre os eleitores inscritos, em eleições com 58,9% de votantes.
Não se contesta a legitimidade das instituições perante estes números, apenas se exprime a opinião de que a casa civil da presidência da Republica deveria ter mais sensibilidades representadas.
Com este desprezo das técnicas de avaliação da opinião pública, está também a desprezar-se a recomendação do professor Sampaio Nóvoa no seu discurso de dia 10 de Junho, de que a ciência (de análise de resultados e de organização do trabalho coletivo), deveria ser considerada na abordagem das questões.
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2012/06/indignacao-o-artigo-58-da-constituicao.html
«Artigo 58º da Constituição da Republica Portuguesa:
(Direito ao trabalho)
1. Todos têm direito ao trabalho.
2. Para assegurar o direito ao trabalho, incumbe ao Estado promover:
a) A execução de políticas de pleno emprego
etc, etc.
Aceita-se que em situação de emergencia não se possam cumprir plenamente os artigos da Constituição.
Só que, em tais situações de emergencia, isto é, em que as instituições não podem funcionar de forma regular, aquilo que se tem de fazer não pode ser decidido apenas por um grupo; têm de ser todos chamados a participar.
Por isso, e por não ser o que está a acontecer, o registo deste "post" é o da indignação.»
Reafirmando a necessidade em qualquer sociedade de, especialmente em caso de emergência como é o da avaliação continua da execução do memorando da troica, envolver o máximo de sensibilidades e recolher o máximo de contribuições da população, privilegiando a cooperação em diversidade e não o monolitismo necessariamente representante de uma parte minoritária da população, recordo que o senhor presidente da Republica foi eleito por 23,2% dos eleitores inscritos, em eleições com 46,6% de votantes, e que a lei laboral foi aprovada pelos partidos do governo que tiveram um conjunto de 29,67% de votos entre os eleitores inscritos, em eleições com 58,9% de votantes.
Não se contesta a legitimidade das instituições perante estes números, apenas se exprime a opinião de que a casa civil da presidência da Republica deveria ter mais sensibilidades representadas.
Com este desprezo das técnicas de avaliação da opinião pública, está também a desprezar-se a recomendação do professor Sampaio Nóvoa no seu discurso de dia 10 de Junho, de que a ciência (de análise de resultados e de organização do trabalho coletivo), deveria ser considerada na abordagem das questões.
sábado, 16 de junho de 2012
Dificuldades de linguagem e de expressão
É natural que a linguagem, como mecanismo d expressão e comunicação diretamente ligado aos centros de controle e pensamento cerebrais, induza entendimentos diferentes do que o emissor da mensagem pretendeu.
Se os autores das sentenças passaram muito tempo longe do país, ou se se dedicaram a atividades afastadas da realidade concreta vivida pelos seus concidadãos e concidadãs, este risco é agravado pelas dificuldades de vocabulário que daí advêm.
Talvez as dificuldades de expressão e de interpretação sejam afinal uma caraterística própria da população portuguesa, da sua forma de comunicar.
Na verdade, a quantidade de informação contida numa frase é muitas vezes inferior à que se encontra numa frase de idêntica dimensão expressa noutra língua.
Não admira assim que um senhor ministro, lendo pausadamente o seu discurso, pronuncie “precule” em vez de, alegadamente, pronunciar “preclue”, do verbo “precluir”.
Nem que outro, momentaneamente embaraçado por lhe faltar o vocábulo, tenha recorrido ao anglicanismo “thing” (“coisa/coiso”), como é vulgar ver nos adolescentes que inventaram o verbo “coisar”, provando aliás a tal ligação direta entre os mecanismos de pensamento e a linguagem.
Ou o caso do senhor consultor do governo para as privatizações, que aliás explicou posteriormente outro raciocínio. Terá talvez confundido “urgência” com “emergência”. Não que eu acredite que o senhor queira desobedecer à troica, que desde o principio achou que os salários portugueses não valiam o que os trabalhadores produziam. Mas que era necessário não agravar a imagem dos detentores do poder politico e económico no país, e não contradizer o que se costuma dizer nos seminários de sensibilização, que é preciso que a mão de obra seja qualificada e que isso só se consegue com remuneração adequada.
Enfim, desencontros de linguagem, alheamentos da realidade, como aquele senhor primeiro ministro que só muito recentemente tomou conhecimento, pelos jrnais, de que a maternidade Alfredo da Costa ia fechar (como se interrogava um comentador sério de direita já há uns tempos, “em que bolha vive o primeiro ministro?” - se isto é assim com a maternidade, não admira que por alheamento da realidade os problemas do estaleiro de Viana, as indefinições do QREN e da linha ferroviária para Madrid-Irun se arrastem sem solução), dificuldades de entendimento que geram impossibilidade de trabalho em equipa produtivo, e mais grave de tudo, por impedir a solução, recusa terminante em aceitar os defeitos próprios.
Não nos entendemos, mas achamos que entendemos.
Ilusões, como o cérebro é habilidoso em criar.
Se os autores das sentenças passaram muito tempo longe do país, ou se se dedicaram a atividades afastadas da realidade concreta vivida pelos seus concidadãos e concidadãs, este risco é agravado pelas dificuldades de vocabulário que daí advêm.
Talvez as dificuldades de expressão e de interpretação sejam afinal uma caraterística própria da população portuguesa, da sua forma de comunicar.
Na verdade, a quantidade de informação contida numa frase é muitas vezes inferior à que se encontra numa frase de idêntica dimensão expressa noutra língua.
Não admira assim que um senhor ministro, lendo pausadamente o seu discurso, pronuncie “precule” em vez de, alegadamente, pronunciar “preclue”, do verbo “precluir”.
Nem que outro, momentaneamente embaraçado por lhe faltar o vocábulo, tenha recorrido ao anglicanismo “thing” (“coisa/coiso”), como é vulgar ver nos adolescentes que inventaram o verbo “coisar”, provando aliás a tal ligação direta entre os mecanismos de pensamento e a linguagem.
Ou o caso do senhor consultor do governo para as privatizações, que aliás explicou posteriormente outro raciocínio. Terá talvez confundido “urgência” com “emergência”. Não que eu acredite que o senhor queira desobedecer à troica, que desde o principio achou que os salários portugueses não valiam o que os trabalhadores produziam. Mas que era necessário não agravar a imagem dos detentores do poder politico e económico no país, e não contradizer o que se costuma dizer nos seminários de sensibilização, que é preciso que a mão de obra seja qualificada e que isso só se consegue com remuneração adequada.
Enfim, desencontros de linguagem, alheamentos da realidade, como aquele senhor primeiro ministro que só muito recentemente tomou conhecimento, pelos jrnais, de que a maternidade Alfredo da Costa ia fechar (como se interrogava um comentador sério de direita já há uns tempos, “em que bolha vive o primeiro ministro?” - se isto é assim com a maternidade, não admira que por alheamento da realidade os problemas do estaleiro de Viana, as indefinições do QREN e da linha ferroviária para Madrid-Irun se arrastem sem solução), dificuldades de entendimento que geram impossibilidade de trabalho em equipa produtivo, e mais grave de tudo, por impedir a solução, recusa terminante em aceitar os defeitos próprios.
Não nos entendemos, mas achamos que entendemos.
Ilusões, como o cérebro é habilidoso em criar.
sexta-feira, 15 de junho de 2012
Da Bica a S.Paulo
A cultura antiga grega e romana e os arquitetos do Renascimento e do classicismo privilegiavam o equilibrio das proporções.
A harmonia das proporções gera no observador uma sensação de bem-estar.
Vou da Bica até S.Paulo.
Quero dizer que percorro a rua de S.Paulo até à praça do mesmo nome.
É esta praça que motiva o meu comentário sobre o classicismo das proporções.
A praça de S.Paulo, não sendo grande, é equilibrada nas suas dimensões e proporções.
Mas mantem-se o desespero da ruína que já tinha visto na Bica.
Grandes edifícios que perderam as suas empresas de importação e exportação, as suas lojas e os seus habitantes estão em ruínas.
Os gestores da cidade ao longo dos anos deixaram que a atividade económica se deslocasse para outras zonas.
As portas das lojas abandonadas recordam-me a visita que fiz a Bucareste em 2003.
A maioria das lojas ao longo da principal avenida de Bucareste estavam fechadas, com o correio apodrecendo por trás das grades enferrujadas e empenadas.
Florescerá a economia noutras zonas que não a rua de S.Paulo ou a avenida principal, e isso tranquilizará os economistas, mas choca que a rua de S.Paulo e a avenida principal da Bucareste de 2003 possam desaparecer completamente sem que ninguém se incomode.
É verdade que existe um plano diretor organizado pela câmara municipal de Lisboa para enquadrar a recuperação da zona, o qual inclui aliás a construção da grande sede da EDP.
Mas a verdade é que a comunidade de cidadãs e cidadãos não está organizada para, ao longo dos dias, preparar a solução, quebrar as burocracias bloqueantes da estrutura de propriedade e indivisibilidade dos prédios, debater hipóteses de projetos (para o QREN ou sucedâneo, claro) , definir planeamentos e avançar no caminho para uma reurbanização efetiva com o repovoamento da zona.
Seria uma intervenção de emergência, salvo melhor opinião.
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quinta-feira, 14 de junho de 2012
Securitarium VII - o telefone que continua a escorrer sangue
Este blogue registou por diversas vezes a sua indignação perante o que lhe pareceu o afastamento da realidade do anterior senhor ministro da administração interna, Rui Pereira:
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/search?q=securitarium
Apesar das declarações do atual senhor ministro, Miguel Macedo, e de muito faladas reformas, tende este blogue a considerar que o senhor ministro e os seus colaboradores diretos não abordam as questões da segurança contra a criminalidade e a segurança rodoviária com espírito científico.
Desanima ler as notícias de assaltos a moradias de estrangeiros no Algarve enquanto alguns cidadãos tentam montar uma industria de turismo do tipo residencia senior.
Desanima ler as notícias com crimes de morte entre familiares.
Desanima o alheamento do senhor ministro e dos seus colaboradores relativamente ao estudo das causas e das circunstancias ligadas a estes crimes.
Desanima ouvir o senhor ministro que espera de algumas ações que acordou com as suas forças de segurança, no sentido de uma maior visibilidade no Algarve, um "esbater do sentimento de insegurança na população".
É que não me interessa, como população, que o meu sentimento se esbata. Interessa-me que a criminalidade baixe a níveis toleráveis, o que não é o caso.
Porque só seria o caso se houvesse coragem da parte dos senhores governantes de reconhecer que estão a contribuir para esta criminalidade com as suas politicas (não digo que o façam de propósito, nem que seriam possiveis politicas que eliminassem totalmente a criminalidade, mas que parece haver uma correlação entre as politicas do governo e a criminalidade, parece) .
E que negá-lo adia as soluções.
Perante a última série de crimes entre familiares e o assassínio de uma senhora, presidente de uma junta de freguesia, e o seu marido, por um empreiteiro que se sentiu prejudicado pela exigencia de procedimentos legais, o DN ouviu uma especialista de psicologia forense.
"Historicamente, a literatura da criminologia aponta que sempre que há um fenómeno de grande crise económica há uma tendencia para um aumento do crime, contra o património e contra as pessoas."
Sabemos que o orçamento do ministério da administração interna foi reforçado para combater este fenómeno de aumento tendencial da criminalidade em periodo de crise (tal como foi reforçado o orçamento para fiscais de finanças; isto é, nestes ministérios acredita-se que o aumento de produção requer mais pessoal; nos outros só se pede aumento de produtividade, para se produzir o mesmo com menos pessoal).
Mas as boas práticas dizem que melhor do que os remédios é a prevenção.
E para isso era preciso estudar as causas e circunstancias da criminalidade.
Como não parece ser esse o caminho, o telefone do senhor ministro, como ele próprio disse, e os telefones dos senhores ministros que vierem depois (porque o que não se faz hoje que deveria fazer-se, especialmente combatendo o abandono ecolar, terá consequencias futuras), continuarão a escorrer sangue.
PS em 15 de junho de 2012 - possivelmente para contrariar a tendencia para o aumento da perceção de insegurança e intranquilidade, e na esperança deque não se verifique um efeito de contágio ou de imitação, o DN de hoje refere a estatistica da direção geral de politicas de justiça,com 145 homicidios em 2008 e 117 homicidios em 2011. Trata-se de valores intoleráveis, apesar da baixa, e não tranquiliza nada a afirmação do senhor ministro de que as forças de segurança estão agora melhor equipadas.
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/search?q=securitarium
Apesar das declarações do atual senhor ministro, Miguel Macedo, e de muito faladas reformas, tende este blogue a considerar que o senhor ministro e os seus colaboradores diretos não abordam as questões da segurança contra a criminalidade e a segurança rodoviária com espírito científico.
Desanima ler as notícias de assaltos a moradias de estrangeiros no Algarve enquanto alguns cidadãos tentam montar uma industria de turismo do tipo residencia senior.
Desanima ler as notícias com crimes de morte entre familiares.
Desanima o alheamento do senhor ministro e dos seus colaboradores relativamente ao estudo das causas e das circunstancias ligadas a estes crimes.
Desanima ouvir o senhor ministro que espera de algumas ações que acordou com as suas forças de segurança, no sentido de uma maior visibilidade no Algarve, um "esbater do sentimento de insegurança na população".
É que não me interessa, como população, que o meu sentimento se esbata. Interessa-me que a criminalidade baixe a níveis toleráveis, o que não é o caso.
Porque só seria o caso se houvesse coragem da parte dos senhores governantes de reconhecer que estão a contribuir para esta criminalidade com as suas politicas (não digo que o façam de propósito, nem que seriam possiveis politicas que eliminassem totalmente a criminalidade, mas que parece haver uma correlação entre as politicas do governo e a criminalidade, parece) .
E que negá-lo adia as soluções.
Perante a última série de crimes entre familiares e o assassínio de uma senhora, presidente de uma junta de freguesia, e o seu marido, por um empreiteiro que se sentiu prejudicado pela exigencia de procedimentos legais, o DN ouviu uma especialista de psicologia forense.
"Historicamente, a literatura da criminologia aponta que sempre que há um fenómeno de grande crise económica há uma tendencia para um aumento do crime, contra o património e contra as pessoas."
Sabemos que o orçamento do ministério da administração interna foi reforçado para combater este fenómeno de aumento tendencial da criminalidade em periodo de crise (tal como foi reforçado o orçamento para fiscais de finanças; isto é, nestes ministérios acredita-se que o aumento de produção requer mais pessoal; nos outros só se pede aumento de produtividade, para se produzir o mesmo com menos pessoal).
Mas as boas práticas dizem que melhor do que os remédios é a prevenção.
E para isso era preciso estudar as causas e circunstancias da criminalidade.
Como não parece ser esse o caminho, o telefone do senhor ministro, como ele próprio disse, e os telefones dos senhores ministros que vierem depois (porque o que não se faz hoje que deveria fazer-se, especialmente combatendo o abandono ecolar, terá consequencias futuras), continuarão a escorrer sangue.
PS em 15 de junho de 2012 - possivelmente para contrariar a tendencia para o aumento da perceção de insegurança e intranquilidade, e na esperança deque não se verifique um efeito de contágio ou de imitação, o DN de hoje refere a estatistica da direção geral de politicas de justiça,com 145 homicidios em 2008 e 117 homicidios em 2011. Trata-se de valores intoleráveis, apesar da baixa, e não tranquiliza nada a afirmação do senhor ministro de que as forças de segurança estão agora melhor equipadas.
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Quadras de Santo António
Para compensar a melancolia do passeio pela Bica, transcrevo algumas quadras de escritores a quem o DN as pediu. Peço desculpa por ter mexido nas métricas dos autores:
- de Margarida Rebelo Pinto:
Dai-lhes dias de prazer
e hábitos de franciscano
que mais vale ser do que ter
quando for tudo p'lo cano
- de Lidia Jorge
Santo António que de divino
tens a divisa matreira
não segures um menino
segura Lisboa inteira
- de Miguel Real
Tejo de azul profundo
Lisboa de branco-gris
Portugal sempre no fundo
Set'Antóin'que p'lít'c'infeliz
Que não esqueçam os nossos governantes as festas para compensar a austeridade franciscana que se impõe à população. E quando tudo se perder apesar das políticas de austeridade, consolem-se as cidadãs e cidadãos que mais vale ser pobre feliz que rico infeliz. E no caso de Lisboa, pobre cidade abandonada, bem precisa de proteção divina. Pena ser o Tejo tão azul, a cidade tão bonita, de gris e de iris, e a politica ser tão infeliz; que ao longo da História nos arrasta para o fundo, embora nos livros de História venha que os nossos governantes sempre tiveram as melhores políticas.
- de Margarida Rebelo Pinto:
Dai-lhes dias de prazer
e hábitos de franciscano
que mais vale ser do que ter
quando for tudo p'lo cano
- de Lidia Jorge
Santo António que de divino
tens a divisa matreira
não segures um menino
segura Lisboa inteira
- de Miguel Real
Tejo de azul profundo
Lisboa de branco-gris
Portugal sempre no fundo
Set'Antóin'que p'lít'c'infeliz
Que não esqueçam os nossos governantes as festas para compensar a austeridade franciscana que se impõe à população. E quando tudo se perder apesar das políticas de austeridade, consolem-se as cidadãs e cidadãos que mais vale ser pobre feliz que rico infeliz. E no caso de Lisboa, pobre cidade abandonada, bem precisa de proteção divina. Pena ser o Tejo tão azul, a cidade tão bonita, de gris e de iris, e a politica ser tão infeliz; que ao longo da História nos arrasta para o fundo, embora nos livros de História venha que os nossos governantes sempre tiveram as melhores políticas.
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terça-feira, 12 de junho de 2012
A Bica nas festas de Santo António de Lisboa
Subindo pela travessa mesmo ao lado do elevador (ascensor) da Bica vou dar ao largo de Santo António.
Na tarde amodorrada vão-se preparando as mesas e os cartazes com os preços.
Um jovem morador passeia o seu cão de água, entediado por não ter nada que fazer.
Parece já estar reformado, com uma doença talvez do foro psicológico.
É a mãe que vai arrumando as mesas para os forasteiros de logo à noite.
Os prédios estão em estado de pré-ruina.
Mesmo aqueles cuja fachada foi picada e repintada.
Digo isto porque as cantarias das janelas já não estão alinhadas na horizntal, porquea meio da fachada nota-se claramente uma barriga.
Quase todos estão desabitados.
Lá em baixo na rua da Boavista ainda sobrevivem restaurantes e lojas de ferramentas e acessórios para canalização e rega.
Os restaurantes sobrevivem com a juventude das escolas de arte, cinema, comunicação, gestão que rodeiam a zona do antigo instituto industrial.
Que susto, penso eu, ao ver as ruinas e os prédios desabitados, cruzando-me com os turistas curiosos, de calções e sandálias.
Num rés do chão cortam-se tábuas.
Apesar de tudo ainda há quem more aqui, e se lamente no balcão dos restaurantes, que agora já não vão almoçar fora ao domingo, e não sabem como háo-se arranjar o dinheiro ara a iscrição do filho na univeridae. O filho tem 39 anos. Foi o que eu ouvi enquanto bebia uma água, que estava calor.
Sente-se por todo o lado o abandono, o desemprego, o desprezo pela força de trabalho de uma população.
Ao longo dos anos os senhores gestores e decisores foram patrocinando a construção na periferia de Lisboa, foram estimulando, ou representando os interesses, de outras formas de organização comercial. De forma alienada transferiram também serviços públicos para longe do centro da cidade. As casas estão em ruina e a população exemplifica o que é a desigualdade.
A desigualdade vem expressa nas contas do PIB.
Quando uma fatia da cidade se desagregou assim; quando a população de Lisboa era em 1980 superior a 800.000 habitante e agora mal ultrapassa 500.000; quando desapareceram as crianças do bairro da Bica; quando as lojas de acessórios para rega estão vazias; quando as ruinas dominam; mas mesmo assim o PIB no 1º trimestre de 2012 foi de 42,5 mil milhões de euros quando no 1º trimestre de 2009 foi de 41,9 mil milhões de euros, então é porque a maioria da população não é precisa, e os senhores decisores politico financeiros não precisam de se preocupar com eles.
Sofrem, mas o PIB aumenta, para quê preocuparem-se, os gestores politico-financeiros, se as exportações da GALP de refinados para Espanha, de descapotáveis da Auto Europa para a China, de eletrónica automóvel da Grundig de Braga e dos sistemas de travagem da Continental de Palmela para a Alemanha já ombreiam com as importações que no 1º trimestre de 2012 foram, as importações:
- 16,5 mil milhões de euros (quando no 1º trimestre de 2009 tinham sio de 14,4 mil milhões, vejam lá como apesar da diminuição da procura as importações continuam a subir; bem, tambem está aqui o dinheiro dos empréstimos da benemérita, a troica); e as exportações:
- 15,9 mil milhões de euros, quando no 1º trimestre de 2009 tinham sido de 11,2 mil milhões.
Mas cuidado, senhores gestores, que não quereis saber que a procura, isto é, o consumo das famílias, diminua, que todos os bairros da Bica do País estejam em ruinas, desde que tenhais o PIB em ordem.
É que a inflação está nos 3 %. Com a recessão de 2% dá uma recessão efetiva de 5%.
Isto é, o PIB no 1º trimestre de 2012 está, a preços de 2006, ao nível do 1º trimestre de 2005.
Recuou-se 7 anos.
Além de que a economia paralela cresce (quereis que as sardinhas do largo de Santo António na Bica paguem IVA? E a costureira dos fatos dos marchantes, quereis que pague todo o IVA, porque uma parte coitada tem de escrever num papel, senão a junta de freguesia não lhe paga; ainda haverá freguesia da Bica no pós tão perclara reforma das freguesias? que em vez de repovoar a cidade oficializa a desertificação?).
Realmente, que importa a procura, isto é, o consumo das famílias, no 1º trimestre de 2009 ter sido de 27,3 mil milhões de euros e no 1º trimestre de 2012 ter sido 27,6 mil milhões (não se esqueçam que há que descontar 3% da inflação para comparar, isto é, a preços de 2006 no 1º trimestre de 2009 o PIB foi de 26,3 e no 1º trimestre de 2012 foi de 24,9).
Que importa?
Deixem morrer em paz a cidade, com as suas festas, os seus bairrismos, as suas ineficiências, os seus velhos frágeis e os seus jovens paralisados, o abandono das suas populações, enquanto as desigualdades funcionam mesmo e o sucesso de outras faixas da população e de outras zonas do País mantêm o PIB.
Vai ser uma noite animada, na Bica.
Os jornais vão trazer reportagens e fotografias da animação.
O senhor gestor político da cidade vai aparecer com cara sorridente.
Muito satisfeito consigo próprio.
Fonte dos dados sobre o PIB:
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sábado, 9 de junho de 2012
Entrevista na RTP em 6 de junho de 2012 a Abeb Selassie, da troica
http://www.rtp.pt/noticias/?article=560472&layout=122&visual=61&tm=6&
A entrevistadora é bonita, bem educada na forma como coloca as perguntas, e está informada.
Tem um acento engraçado no seu inglês. Fecha as vogais abertas, mas isso até deve ser um toque atrativo para o entrevistado.
Primeira pergunta:
- Como explica a elevada taxa de desemprego, foi uma surpresa para si?
- Penso que está mais alta do que previmos no programa, penso que há vários fatores por trás disso (a pergunta era: como explica a taxa de desemprego? E o entrevistado está a fugir). Quando elaborámos o programa usámos a relação histórica entre exportação e emprego em Portugal (ah! Usaram essa relação, que para um ignorante como eu talvez seja a relação entre o peso do setor de bens transacionáveis na economia portuguesa e a taxa de emprego; na minha ignorância, os senhores da troica estavam à espera que o peso do setor transacionável se iria manter, pelo que o emprego só baixaria no setor não transacionável; seria isso? Ficaram então surpreendidos porque o emprego caiu mais do que o esperado? Surpreendido fico eu por terem ficado surpreendidos; no setor transacionável também houve arrefecimento da economia e da procura externa; o que cresce nas exportações deve-se ao aumento da exportação de produtos refinados graças à entrada em serviço de refinarias que já estavam programadas há muito, antes deste governo, e como tal é surpreendente que não tenham previsto isso, e também às exportações para a China da Auto Europa, embora duvide que já tenham contabilizado a exportação dos lucros). Um dos objetivos desta missão foi tentar perceber esta taxa de desemprego elevada e trabalhar muito para perceber isso (ah! afinal não fui só eu que não percebi a tal explicação da relação histórica entre exportação e emprego, os senhores da troica também estão a trabalhar hard work para tentar perceber)
Nova pergunta, vagamente venenosa embora envolta num bonito sorriso:
- É consequência das medidas de austeridade?
- Penso que há vários fatores em jogo (devia estar distraído, o entrevistado, porque deixou sair outra vez o bordão de que se necessita para ganhar tempo enquanto se tenta arranjar uma desculpa). A fraca atividade económica (por Mercúrio, cortes não é no que dá, enfraquecimento da atividade económica? Onde está a surpresa? A entrevistadora não consegue disfarçar um sorrido condescendente, muito condescendente, perante a resposta ingénua) mas estamos a trabalhar para que seja temporária (o trabalho dos senhores da troica para isso deve ser árduo, muito árduo) e vamos tentar garantir que o alivio económico aumente para que haja uma recuperação mais rápida e mais emprego (por Mercúrio, o senhor terá pensado na quantidade de informação que esta frase oca contem? Julgo detetar um traço de sadismo no sorriso da entrevistadora, cujo subconsciente a leva a pôr a mão à frente da boca). Claro que o desemprego elevado tem algum efeito nos objetivos de consolidação orçamental (ah!, finalmente o economista bem comportado da London School define uma correlação) , mas neste momento não vejo uma ameaça para atingir o défice definido, pelo que não propomos novas medidas (isto é, não vai ser preciso aumentar mais o desemprego? É que o senhor economista bem comportado não disse o que aprendeu na London School, que um dos objetivos principais é diminuir a procura interna, e isso consegue-se mais facilmente reduzindo os salários, o que se consegue facilmente aumentando o desemprego).
A entrevistadora é bem educada, não insiste porque já viu que não vêm respostas concretas e pergunta:
- Mais austeridade ou pedimos adiamento do objetivo de 4,5 % do defice?
- Se não se atingir o objetivo por causa da atividade económica e não por causa de derrapagens políticas (emerge para mim mais uma evidencia da minha ignorância, que não sei o que são derrapagens políticas, será o senhor deputado Jerónimo de Sousa a pedir a senhores assim para terem vergonha na cara, que não sabem o que é a vida de quem trabalha e de que quem quer trabalhar e não encontra trabalho?), então deixam-se os estabilizadores automáticos operarem para ajustarem os objetivos se fo necessário (ai a escola de Londres e os estabilizadores automáticos; diminui a atividade económica diminuem automaticamente as receitas fiscais, mas o governo aumentou os impostos; o outro estabilizador é o subsidio de desemprego e ele vai aumentar o défice; ai que confusão quando não se quer assumir que os sacrifícios não estão a ser proporcionais aos rendimentos). Mas o objetivo está ao vosso alcance de acordo com as informações de que dispomos (e são fiáveis, as informações?).
A entrevistadora endurece um pouco o rosto e pergunta:
- É possível neste momento cortar-se salários?
- Não falámos disso (!?!?!?) sempre dissemos que este programa não pode ser apenas sobre cortes (por Mercúrio, afinal é mais o que nos une do que o que nos divide; o senhor afinal compreende-nos, parece saber o que significam os cortes). Também deve haver aumento da produtividade e reformas estruturais (pronto, lá vem a conversa de economista a que só se pode responder com a pergunta da adolescente à senhora doutora Ferreira Leite: que produtividade pode ter a minha mãe se foi despedida? E que reformas estruturais se podem fazer em empresas desorganizadas? Vai dar-se prioridade aos setores primário e secundário relativamente ao terciário, isto é, reorganizar o primário e o secundário depois da desindustrialização e dos subsídios de arranque da vinha e reduzir os rendimentos do terciário e subi-los nos outros? Ou também não se falou disto?).
Depois de umas banalidades sobre os lobies da energia o entrevistado chama a atenção para que a energia é um fator importante no custo de um produto, mas não sei se os senhores da troica dominam todos os dados do problema, nomeadamente a importância das renováveis na diminuição da importação de petróleo e gás e a importância da libertação do setor dos transportes relativamente ao petróleo.
É simpático este senhor, especialmente quando diz, em reposta à pergunta da entrevistadora se o governo tem feito o suficiente, que “a chave é que todos os setores da economia têm de ser capazes de contribuir para os sacrifícios que estão a ser feitos". E digo simpático porque isso era o que dizia Álvaro Cunhal às entrevistadoras da televisão nos longínquos anos de 1974 e 1975, quando era preciso repartir o esforço por todos.
Diz Abeb Selassie: vemos os salários baixos e que os trabalhadores estão a contribuir de forma importante; é importante que os mercados de produtos também contribuam com melhorias de competitividade e redução de custos (de lucros e de isenções, e melhorias de organização e métodos, penso eu).
A entrevista termina com a esperança no bom comportamento da zona Euro (podiam ter falado na obstrução da Alemanha da senhora Merkel…).
A entrevistadora agradece com um sorriso rasgado e o entrevistador, educadamente, também.
PS - O senhor Selassie é de longe mais aberto do que o senhorPoul Thomson, que o precedeu. Este aproveitou uma entrevista para dizer claramente que os salários em Portugal eram mais altos do que o que produziam. Indicou claramente o caminho para igualizar os salários aos da Polónia, Hungria, Eslováquia, paises bálticos, Bulgária, Roménia. Ao menos foi franco, propôs uma Europa bem dividida do ponto de vista de nivel de vida, nivelando Portugal por baixo. Receio que o senhor Selassie, mostrando compreensão perante a baixa de salários que se vem verificando em Portugal, apenas esteja a consolar-nos. Continua-se porém a falar de modo confuso, porque noutras entrevistas a troica diz que os salários em Portugal são altos e rigidos (!?). E não se faz uma análise crítica a cada tipo de salário (por exemplo a grande amplitude do leque salarial) e a cada tipo de empresa, se contribui ou não para o setor transacionável ou para a dimunição das importações, ou para a eficiencia das atividades correntes (por exemplo, a eficiencia energética nos transportes). Com o aplauso do senhor ministro das finanças, o que vemos são medidas de compendio teóricas que podem dar mau resultado na prática. Lamento não ter visto nesta entrevista uma análise mais concreta. Consta que o senhor Selassie terá estado mais próximo disso na entrevista ao Diario Económico, ameaçando com o fim das portarias de extensão da aplicação de acordos coletivos (o argumento é ser um mecanismo quase automático de aumento de salários relativamente ao valor produzido). Segundo Silva Peneda, que não é um perigoso esquerdista, o fim das portarias visa precisamente acabar com a contratação coletiva e com a regulação do mercado de trabalho (sabe-se no que dá a desregulação, especialmente a oriunda dos meios académicos). E se os salários estão mais altos do que deviam em Portugal,porque não os sobem nos países de grande produtividade? Talvez porque não quererão reconhecer que os salários são apenas um fator no custo de produção (embora o senhor Selassie o tenha referido na entrevista à RTP).
E salários baixos, será que os senhores da troica ignoram que são um convite à baixa qualificação? Ou quererão que algumas, poucas empresas pageum bons salários a trabalhadores qualificados e a maioria das empresas pageu baixos salários a mão de obra pouco qualificada? Uma espécie de beta mais nas primeiras e gamas nas segundas, como já vinha explicado no admirável mundo novo.
Mas são contraditórias, as entrevistas e, na opinião do humide escriba, não contêm medidas concretas contra o desemprego (claro, o objetivo é conter a procura).
A entrevistadora é bonita, bem educada na forma como coloca as perguntas, e está informada.
Tem um acento engraçado no seu inglês. Fecha as vogais abertas, mas isso até deve ser um toque atrativo para o entrevistado.
Primeira pergunta:
- Como explica a elevada taxa de desemprego, foi uma surpresa para si?
- Penso que está mais alta do que previmos no programa, penso que há vários fatores por trás disso (a pergunta era: como explica a taxa de desemprego? E o entrevistado está a fugir). Quando elaborámos o programa usámos a relação histórica entre exportação e emprego em Portugal (ah! Usaram essa relação, que para um ignorante como eu talvez seja a relação entre o peso do setor de bens transacionáveis na economia portuguesa e a taxa de emprego; na minha ignorância, os senhores da troica estavam à espera que o peso do setor transacionável se iria manter, pelo que o emprego só baixaria no setor não transacionável; seria isso? Ficaram então surpreendidos porque o emprego caiu mais do que o esperado? Surpreendido fico eu por terem ficado surpreendidos; no setor transacionável também houve arrefecimento da economia e da procura externa; o que cresce nas exportações deve-se ao aumento da exportação de produtos refinados graças à entrada em serviço de refinarias que já estavam programadas há muito, antes deste governo, e como tal é surpreendente que não tenham previsto isso, e também às exportações para a China da Auto Europa, embora duvide que já tenham contabilizado a exportação dos lucros). Um dos objetivos desta missão foi tentar perceber esta taxa de desemprego elevada e trabalhar muito para perceber isso (ah! afinal não fui só eu que não percebi a tal explicação da relação histórica entre exportação e emprego, os senhores da troica também estão a trabalhar hard work para tentar perceber)
Nova pergunta, vagamente venenosa embora envolta num bonito sorriso:
- É consequência das medidas de austeridade?
- Penso que há vários fatores em jogo (devia estar distraído, o entrevistado, porque deixou sair outra vez o bordão de que se necessita para ganhar tempo enquanto se tenta arranjar uma desculpa). A fraca atividade económica (por Mercúrio, cortes não é no que dá, enfraquecimento da atividade económica? Onde está a surpresa? A entrevistadora não consegue disfarçar um sorrido condescendente, muito condescendente, perante a resposta ingénua) mas estamos a trabalhar para que seja temporária (o trabalho dos senhores da troica para isso deve ser árduo, muito árduo) e vamos tentar garantir que o alivio económico aumente para que haja uma recuperação mais rápida e mais emprego (por Mercúrio, o senhor terá pensado na quantidade de informação que esta frase oca contem? Julgo detetar um traço de sadismo no sorriso da entrevistadora, cujo subconsciente a leva a pôr a mão à frente da boca). Claro que o desemprego elevado tem algum efeito nos objetivos de consolidação orçamental (ah!, finalmente o economista bem comportado da London School define uma correlação) , mas neste momento não vejo uma ameaça para atingir o défice definido, pelo que não propomos novas medidas (isto é, não vai ser preciso aumentar mais o desemprego? É que o senhor economista bem comportado não disse o que aprendeu na London School, que um dos objetivos principais é diminuir a procura interna, e isso consegue-se mais facilmente reduzindo os salários, o que se consegue facilmente aumentando o desemprego).
A entrevistadora é bem educada, não insiste porque já viu que não vêm respostas concretas e pergunta:
- Mais austeridade ou pedimos adiamento do objetivo de 4,5 % do defice?
- Se não se atingir o objetivo por causa da atividade económica e não por causa de derrapagens políticas (emerge para mim mais uma evidencia da minha ignorância, que não sei o que são derrapagens políticas, será o senhor deputado Jerónimo de Sousa a pedir a senhores assim para terem vergonha na cara, que não sabem o que é a vida de quem trabalha e de que quem quer trabalhar e não encontra trabalho?), então deixam-se os estabilizadores automáticos operarem para ajustarem os objetivos se fo necessário (ai a escola de Londres e os estabilizadores automáticos; diminui a atividade económica diminuem automaticamente as receitas fiscais, mas o governo aumentou os impostos; o outro estabilizador é o subsidio de desemprego e ele vai aumentar o défice; ai que confusão quando não se quer assumir que os sacrifícios não estão a ser proporcionais aos rendimentos). Mas o objetivo está ao vosso alcance de acordo com as informações de que dispomos (e são fiáveis, as informações?).
A entrevistadora endurece um pouco o rosto e pergunta:
- É possível neste momento cortar-se salários?
- Não falámos disso (!?!?!?) sempre dissemos que este programa não pode ser apenas sobre cortes (por Mercúrio, afinal é mais o que nos une do que o que nos divide; o senhor afinal compreende-nos, parece saber o que significam os cortes). Também deve haver aumento da produtividade e reformas estruturais (pronto, lá vem a conversa de economista a que só se pode responder com a pergunta da adolescente à senhora doutora Ferreira Leite: que produtividade pode ter a minha mãe se foi despedida? E que reformas estruturais se podem fazer em empresas desorganizadas? Vai dar-se prioridade aos setores primário e secundário relativamente ao terciário, isto é, reorganizar o primário e o secundário depois da desindustrialização e dos subsídios de arranque da vinha e reduzir os rendimentos do terciário e subi-los nos outros? Ou também não se falou disto?).
Depois de umas banalidades sobre os lobies da energia o entrevistado chama a atenção para que a energia é um fator importante no custo de um produto, mas não sei se os senhores da troica dominam todos os dados do problema, nomeadamente a importância das renováveis na diminuição da importação de petróleo e gás e a importância da libertação do setor dos transportes relativamente ao petróleo.
É simpático este senhor, especialmente quando diz, em reposta à pergunta da entrevistadora se o governo tem feito o suficiente, que “a chave é que todos os setores da economia têm de ser capazes de contribuir para os sacrifícios que estão a ser feitos". E digo simpático porque isso era o que dizia Álvaro Cunhal às entrevistadoras da televisão nos longínquos anos de 1974 e 1975, quando era preciso repartir o esforço por todos.
Diz Abeb Selassie: vemos os salários baixos e que os trabalhadores estão a contribuir de forma importante; é importante que os mercados de produtos também contribuam com melhorias de competitividade e redução de custos (de lucros e de isenções, e melhorias de organização e métodos, penso eu).
A entrevista termina com a esperança no bom comportamento da zona Euro (podiam ter falado na obstrução da Alemanha da senhora Merkel…).
A entrevistadora agradece com um sorriso rasgado e o entrevistador, educadamente, também.
PS - O senhor Selassie é de longe mais aberto do que o senhorPoul Thomson, que o precedeu. Este aproveitou uma entrevista para dizer claramente que os salários em Portugal eram mais altos do que o que produziam. Indicou claramente o caminho para igualizar os salários aos da Polónia, Hungria, Eslováquia, paises bálticos, Bulgária, Roménia. Ao menos foi franco, propôs uma Europa bem dividida do ponto de vista de nivel de vida, nivelando Portugal por baixo. Receio que o senhor Selassie, mostrando compreensão perante a baixa de salários que se vem verificando em Portugal, apenas esteja a consolar-nos. Continua-se porém a falar de modo confuso, porque noutras entrevistas a troica diz que os salários em Portugal são altos e rigidos (!?). E não se faz uma análise crítica a cada tipo de salário (por exemplo a grande amplitude do leque salarial) e a cada tipo de empresa, se contribui ou não para o setor transacionável ou para a dimunição das importações, ou para a eficiencia das atividades correntes (por exemplo, a eficiencia energética nos transportes). Com o aplauso do senhor ministro das finanças, o que vemos são medidas de compendio teóricas que podem dar mau resultado na prática. Lamento não ter visto nesta entrevista uma análise mais concreta. Consta que o senhor Selassie terá estado mais próximo disso na entrevista ao Diario Económico, ameaçando com o fim das portarias de extensão da aplicação de acordos coletivos (o argumento é ser um mecanismo quase automático de aumento de salários relativamente ao valor produzido). Segundo Silva Peneda, que não é um perigoso esquerdista, o fim das portarias visa precisamente acabar com a contratação coletiva e com a regulação do mercado de trabalho (sabe-se no que dá a desregulação, especialmente a oriunda dos meios académicos). E se os salários estão mais altos do que deviam em Portugal,porque não os sobem nos países de grande produtividade? Talvez porque não quererão reconhecer que os salários são apenas um fator no custo de produção (embora o senhor Selassie o tenha referido na entrevista à RTP).
E salários baixos, será que os senhores da troica ignoram que são um convite à baixa qualificação? Ou quererão que algumas, poucas empresas pageum bons salários a trabalhadores qualificados e a maioria das empresas pageu baixos salários a mão de obra pouco qualificada? Uma espécie de beta mais nas primeiras e gamas nas segundas, como já vinha explicado no admirável mundo novo.
Mas são contraditórias, as entrevistas e, na opinião do humide escriba, não contêm medidas concretas contra o desemprego (claro, o objetivo é conter a procura).
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What happen with Metro do Mondego?
O administrador pela Câmara de Miranda do Corvo do Metro do Mondego apresentou a sua demissão, afirmando que a ausencia de representante do Estado na assembleia geral é uma falta de respeito pelas populações e que, apesar das dificuldades financeiras do país, esta não é a forma correta de governar.
Em janeiro de 2012 o senhor ministro da economia e dos transportes, em visita à região, tinha garantido o prosseguimento das obras.
Mas elas estão suspensas (aguardarão a reprogramação do QREN ou seu sucedâneo?).
A realidade é que, quem tem o poder de decidir não precisa de se deslocar entre casa e trabalho numa região acidentada e com más estradas.
Se precisasse, talvez compreendesse a razão da obra.
Há dois anos atrás foi desativado o ramal ferroviário da Lousã, obsoleto.
Já estão realizadas as obras doa lataforma da via na maior parte do trajeto Coimbra-Serpins (35 km) mas os ultimos concursos de construção civil e os das especialidades foram suspensos há cerca de dois anos.
Da estimativa original de 450 milhões de euros foram gastos 150 milhões.
Será o senhor ministro servido informar os cidadãos se já foi submetido o projeto ao QREN, ou se é para deixar apodrecer, ou se há outra solução, quiçá uma privatização do que puder dar lucro a detentores de capitais dos BRICAS (A deAngola)?
A região tem elevado interesse económico em turismo e produção de bio-massa .
Em janeiro de 2012 o senhor ministro da economia e dos transportes, em visita à região, tinha garantido o prosseguimento das obras.
Mas elas estão suspensas (aguardarão a reprogramação do QREN ou seu sucedâneo?).
A realidade é que, quem tem o poder de decidir não precisa de se deslocar entre casa e trabalho numa região acidentada e com más estradas.
Se precisasse, talvez compreendesse a razão da obra.
Há dois anos atrás foi desativado o ramal ferroviário da Lousã, obsoleto.
Já estão realizadas as obras doa lataforma da via na maior parte do trajeto Coimbra-Serpins (35 km) mas os ultimos concursos de construção civil e os das especialidades foram suspensos há cerca de dois anos.
Da estimativa original de 450 milhões de euros foram gastos 150 milhões.
Será o senhor ministro servido informar os cidadãos se já foi submetido o projeto ao QREN, ou se é para deixar apodrecer, ou se há outra solução, quiçá uma privatização do que puder dar lucro a detentores de capitais dos BRICAS (A deAngola)?
A região tem elevado interesse económico em turismo e produção de bio-massa .
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sexta-feira, 8 de junho de 2012
O xadrez e a senhora Merkel
Já tentei neste blogue aplicar análises de xadrez à situação política.
Tratei do sacrifício da dama, que, no caso da senhora Merkel, poderá constituir uma boa solução.
Ver:
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2011/12/o-sacrificio-da-dama.html
Se a tendência das ultimas eleições nos estados alemães se confirmar, termos provavelmente depois das eleições para o Bundestag uma politica convergente com os outros países da UE no sentido das eurobonds, dos empréstimos do BCE sem intermediários privados e com o BCE a funcionar como reserva federal.
Hoje volto ao tema, com um problema do tipo “dominação da dama”.
Esperemos que sim, que seja a dominação da dama e não a dominação pela dama.
A solução do problema é muito interessante.
A ideia é empurrar a dama para uma posição em que possa ser tomada.
Uma posição tal que, para onde quer que ela vá, e pode ir para muitas casas embora seja travada por algumas peças da mesma cor, acabará mal.
Para isso não são necessárias peças muito fortes, mas apenas bem colocadas, laboriosas e com espírito de sacrifício.
No fundo, as qualidades que permitem às pessoas normais atingirem os objetivos do bem comum, sem necessidade das grandes lideranças.
Solução do problema : 1. Xyz . Dxb2, ficando a dama negra dominada; sendo X = a terceira letra antes de F; y = a segunda letra depois de f; z = 125/25
Tratei do sacrifício da dama, que, no caso da senhora Merkel, poderá constituir uma boa solução.
Ver:
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2011/12/o-sacrificio-da-dama.html
Se a tendência das ultimas eleições nos estados alemães se confirmar, termos provavelmente depois das eleições para o Bundestag uma politica convergente com os outros países da UE no sentido das eurobonds, dos empréstimos do BCE sem intermediários privados e com o BCE a funcionar como reserva federal.
Hoje volto ao tema, com um problema do tipo “dominação da dama”.
As brancas jogam e ganham |
Esperemos que sim, que seja a dominação da dama e não a dominação pela dama.
A solução do problema é muito interessante.
A ideia é empurrar a dama para uma posição em que possa ser tomada.
Uma posição tal que, para onde quer que ela vá, e pode ir para muitas casas embora seja travada por algumas peças da mesma cor, acabará mal.
Para isso não são necessárias peças muito fortes, mas apenas bem colocadas, laboriosas e com espírito de sacrifício.
No fundo, as qualidades que permitem às pessoas normais atingirem os objetivos do bem comum, sem necessidade das grandes lideranças.
Solução do problema : 1. Xyz . Dxb2, ficando a dama negra dominada; sendo X = a terceira letra antes de F; y = a segunda letra depois de f; z = 125/25
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A proposta de lei centralizadora
A carta de José António Costa Martins Moreira, que se pode ler na ligação abaixo, reflete a preocupação, por parte de quem tem experiencia na problemática desportiva, sobre a legislação centralizadora e limitativa do associativismo e do progresso desportivo do País expressa na proposta de lei 63/XII.
A verdade dos argumentos não se restringe ao campo desportivo.
São, sem dúvida causas que se opõem ao progresso do País, a centralização, a falta de confiança na capacidade de iniciativa das cidadãs e cidadãos, a burocracia dos aparelhos (partidários ou institucionais), o predomínio do interesse de grupos (económicos ou profissionais) e a crença de que os salvadores da pátria é que sabem.
Entendo esta carta como um apelo às iniciativas da sociedade civil, e ao direito à expressão sobre assuntos em que se tem experiencia.
Embora longa (felicitações ao DN por não a ter resumido), convido à sua divulgação.
http://www.dn.pt/inicio/opiniao/opiniaodoleitor.aspx?content_id=2596890&page=-1
A verdade dos argumentos não se restringe ao campo desportivo.
São, sem dúvida causas que se opõem ao progresso do País, a centralização, a falta de confiança na capacidade de iniciativa das cidadãs e cidadãos, a burocracia dos aparelhos (partidários ou institucionais), o predomínio do interesse de grupos (económicos ou profissionais) e a crença de que os salvadores da pátria é que sabem.
Entendo esta carta como um apelo às iniciativas da sociedade civil, e ao direito à expressão sobre assuntos em que se tem experiencia.
Embora longa (felicitações ao DN por não a ter resumido), convido à sua divulgação.
http://www.dn.pt/inicio/opiniao/opiniaodoleitor.aspx?content_id=2596890&page=-1
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Rodoviarium XXIX - continuam as mortes de jovens nas estradas
Não quero dar lições a ninguém, nem sequer a ministros que têm a responsabilidade e a obrigação, por diretiva europeia, de reduzir a sinistralidade rodoviária.
Mas são preocupantes a inoperância dos senhores ministros, de que a alienação da realidade do senhor ex-ministro Rui Pereira foi um exemplo trágico, e a aparente incapacidade (porque nenhuma afirmação pública do senhor ministro contradiz esta aparência - ver http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2011/11/religiao-da-morte-e-o-telefone-que.html) do atual senhor ministro Miguel Macedo debater as relações de causa e efeito e as correlações que envolvem a elevada taxa de sinistralidade rodoviária.
Não quero dar lições a ninguém, mas era dispensável toda a polémica sobre os concursos da ANSR – Autoridade nacional para a segurança rodoviária; que em tempos de guerra não se limpam armas, e era urgente aplicar medidas para reduzir a sinistralidade (de que uma das mais urgentes é precisamente o lançamento de campanhas publicitárias mostrando as boas práticas de condução, uma vez que as campanhas pela negativa são contraproducentes).
Vem isto a propósito de continuarem os acidentes mortais com jovens.
Na técnica de transportes, um acidente, especialmente se pouco comum ou de consequências graves, requer uma análise das causas e circunstancias.
As empresas de transporte, numa ótica de auto-desculpabilização, têm tendência para esquecer a divulgação dos relatórios ou minimizar a gravidade do que originou o acidente.
Aparentemente, o ministério da administração interna comporta-se da mesma maneira, senão pior, abandonando a ANSR à sua divulgação mensal de estatísticas, com pouca visibilidade das poucas recomendações.
6 de Junho de 2012, 04:00, Vila Nova de Gaia – um grupo de 5 crianças, entre os 13 e os 16 anos, roubou um carro; depois de um carro patrulha ligar os “pirilampos” , aceleraram e despistaram-se ao fim de uma reta, com o pavimento ligeiramente molhado; morreram 3 no local e estão duas em estado grave no hospital
7 de Junho de 2012, 19:20, Leça da Palmeira – um carro parou numa passadeira de peões para dois adultos e uma criança de seis anos atravessarem; outro carro bateu por trás e empurrou o primeiro que atropelou os peões; a criança está em estado grave no hospital
Há cerca de um mês, uma menina de 11 anos que se tinha apeado do autocarro depois das aulas foi atropelada mortalmente por uma moto numa povoação em que não existe passadeira para travessia de peões.
Discutir publicamente as causas e as circunstancias destes acidentes e as medidas a implementar para os reduzir, deveria ser tarefa prioritária, desde os ministérios, aos institutos relacionados, até à própria comunicação social.
É um escândalo dar-se prioridade à campanha futebolística em detrimento do debate público e exigência de resolução destes crimes.
Não quero dar lições a ninguém, mas a primeira medida parece ser uma campanha publicitária que leve os espetadores a conduzir a uma velocidade mais moderada.
Porque é certo que existe uma correlação entre a taxa de sinistralidade e a velocidade média dos veículos.
Eu sei que o excesso de velocidade é uma compensação das frustrações e das contrariedades dos condutores e condutoras, que o sentimento de auto-estima na condução é a sublimação da insegurança relativamente ao posicionamento social ou hierárquico no mundo do trabalho, que é uma forma de afirmação de uma personalidade adolescente que ainda não ultrapassou a fase da mielinização, mas também sei que, se na televisão passarem sistematicamente (e obrigatoriamente, como serviço publico) imagens com o abrandamento de veículos à aproximação de passadeiras de peões e de paragens de transportes coletivos, os condutores e as condutoras melhorarão o seu comportamento (e evitando imagens negativas porque a defesa instintiva é sempre dizer: coitados, o que acontece aos outros).
Quanto ao caso do despiste e Gaia, uma pequena notícia no DN do mesmo dia dá a resposta:
A comissária europeia para a educação declarou que, em 2011, Portugal foi, com uma taxa de 23,2%, o terceiro pior país da UE em abandono escolar, e que “os estados membros têm de fomentar e aumentar a qualidade do ensino secundário e acesso ao ensino superior”.
Salvo melhor opinião, não querendo dar lições a ninguém, as entidades relacionadas com a sinistralidade rodoviária deveriam estudar e publicar as correlações entre o abandono escolar e o furto e despiste de automóveis e, sendo certo que o abandono escolar está correlacionado com a incapacidade parental, intelectual ou financeira, para assegurar a educação dos filhos, deveriam também estudar e disseminar os resultados do estudo sobre as correlações entre a sinistralidade rodoviária e a incapacidade parental, intelectual e financeira.
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