quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Ao manifestante desconhecido





Felicitações à revista Time, por ter tido o discernimento de escolher para personalidade do ano o manifestante desconhecido, desde a Tunisia, o Egito e a Siria, até aos ocupantes de Londres, Wall Street, Madrid.
Por não querer encandear os leitores com o brilho de grandes inventores, políticos, atores ou economistas, que afinal pouco contribuiram para o cumprimento dos artigos XXII  e XXIII da Declaração universal dos direitos humanos:

art. XXII: "Todas as pessoas, como membros da sociedade, têm direito à segurança social e à realização, pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade" 
art. XXIII:  "Todas as pessoas têm direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego".

O manifestante desconhecido fez mais por isso e foi portanto bem escolhido.
Duvido que os politicos e os economistas com poder decisório tenham percebido.
Duvido que o primeiro ministro e o seu adjunto, vaiados em Matosinhos em 14 de dezembro de 2011 tenham percebido.

A fé na sua ideologia será superior à força com que a senhora jovem desempregada com o filho ao colo bateu no tejadilho do carro oficial por entre seguranças preocupados.
A fé, sem razão, nas ideologias, em vez do estudo das necessidades reais e da escolha participada e alargada das soluções, independentemente das ideologias, gera, como Goya pintou, monstros.
Por isso há manifestantes desconhecidos, mesmo que muitos reproduzam o erro dos decisores, e tenham fé sem razão em ideologias.
Como Paul Krugmann escreveu, "who’s really being un-American here? Not the protesters, who are simply trying to get their voices heard. No, the real extremists here are America’s oligarchs, who want to suppress any criticism of the sources of their wealth".




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