Tenho seguido com um misto de incredulidade (será incredulidade porque ainda sofro de ingenuidade) e de indignação a sucessão de noticias sobre as dificuldades da Fabrequipa em consequencia do negócio das contrapartidas das Pandur para as forças armadas.
O conhecimento mais próximo que tenho deste assunto foi o da história indigna do fecho da Sorefame.
Embora sem estar ligado diretamente aos serviços do metropolitano de Lisboa de material circulante, por diversas vezes visitei a Sorefame.
Testemunhei assim a sua capacidade técnica na montagem das automotoras do metro, dos pendolino para a CP e de vagões para países do mediterrâneo oriental.
Ouvi colegas lamentarem-se das movimentações de alguns técnicos de topo para se assenhorearem da empresa depois da saida da Bombardier (polarizada pela ideia de concentrar em Espanha as suas atividades, dada a maior dimensão do seu mercado).
Nem isso conseguiram. E uma das atividades previstas por eles era a montagem das Pandur.
Para agravar o problema, veio a apetencia por negócios imobiliários na zona, que foi ao ponto de vergar o traçado da linha de metropolitano prevista para o centro da Amadora, para correspondencia com a linha da CP na estação da Amadora, desviando-a para a "nova centralidade" da Reboleira, como eufemisticamente a autarquia da Amadora tentou justificar mais um erro de traçado na rede do metro.
Os senhores governantes da altura, muito senhores da sua competencia e da sua capacidade de defender os interesses nacionais, foram tomando decisões nos precisos termos em que o podiam fazer, isto é, como governantes sujeitos a ilusões criadas pelos seus cérebros.
Como qualquer ser humano, sendo certo que aqueles seres humanos que não querem correr os riscos de criar situações muito desagradáveis, como a que atualmente afeta a Fabrequipa, sujeitam as convicções dos seus cérebros ao referendo e exame por outros cérebros que eventualmente ajudem a encontrar melhores soluções. É assim que vem descrito na Sabedoria das Multidões, de James Surowiecky, não é esta conceção ultrapassada de democracia que a votação de uma minoria de cidadãos que possa ser interpretada como uma maioria de votantes possa limitar as áreas de tomada de decisão a círculos fechados da comunidade.
Desconheço os pormenores dos contratos das Pandur e das contrapartidas e não posso assim garantir que a Fabrequipo tem toda a razão no conflito que tem com a Generl Dnamics, acionista maioritária da Steyer, o fornecedor das Pandur.
Por principio sou contra contrapartidas pelas tentações que possa originar (veja-se o caso das condenações já pronunciadas em tribunal contra as partes alemãs das inconformidades com o contrato dos dois submarinos, tambem gerido pelos mesmos senhores governantes que gerira o contrato das Pandur e o fecho da Sorefame). Quando podia fazê-lo, inscrevia nas cláusulas dos contratos em que participei a obrigatoriedade da incorporação nacional ser superior a um determinado valor, correspondente à viabilidade efetiva de incorporação, sem contratos paralelos. Porém, uns senhores burocratas com poder nas definição das diretivas europeias, privilegiando as suas convicções cegas e ideológicas, proibiram esse tipo de cláusulas. Parece que percebiam mais disso do que eu, mas penso que se deixaram apenas levar cegamente pela fé irracional no ideal místico da concorrencia.
E eis-nos agora a assistir à luta, ou talvez lhe possamos chamar à concorrencia para a execução do contrato, incluindo as contrapartidas, entre duas forças: dum lado, a Faberquipa, a empresa média e a sua força de trabalho, acusada de baixa produtividade por administrativos sem provas, e do outro, a General Dinamics, grande empresa dos USA.
Será novamente a fábula de La Fontaine, do lobo e do cordeiro, com o lobo a reivindicar a liberdade de poder exercer a sua força muscular e o seu aparelho de dentição.
Pena os senhores eleitores não terem estas coisas presentes quando depositam o seu voto nas urnas.
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