sábado, 24 de dezembro de 2011

Falas de governantes - A matriz de análise

Fala pausada, professoral, definitiva, sem contestação.
A matriz de análise que o senhor deputado fez só vê um inimigo que desapareceu há décadas - diz o senhor ministro das finanças Vitor Louçã Gaspar para quem ousou criticar o desvio do rendimento no sentido do trabalho para o capital.
Confesso que gosto de uma boa imagem e de uma boa argumentação.
Matriz é uma boa imagem, faz lembrar os determinantes das matemáticas gerais, os vetores dos campos de tensões, o cruzamento de variáveis.
Matriz de análise deve referir-se ao  método marxista de estudar as relações entre os modos de produção, agora formas tecnológicas de produzir, e a sua propriedade.
Eu diria que se o senhor ministro ponderasse com mais cuidado os coeficientes de uma matriz deste género, podia ser que não tivesse precisado de 3 orçamentos retificativos para 2012 ainda o ano não começou.
Podia ser que não insistisse em que a repartição dos sacrificios é equitativa quando só a repetição à Goebels (não estou a dizer que o senhor é nazi; estou a dizer que dizer muitas vezes uma coisa em que as pessoas não acreditam pode levar a que elas acreditem, especialmente se for dita e redita em voz pausada) pode tornar isso verdade.
Podia ser que soubesse responder à pergunta do Parlamento sobre a aplicação dos 6.000 milhões de euros do fundo de pensões que vai obrigar a aumentar a despesa publica em 2012 de 480 milhões de euros.
Os 6.000 milhões de euros  a uma taxa de juro de 2% com uma amortização em 15 anos correspondem aos 480 milhões necessários para pagar as pensões.
Podia ser que tivesse optado por outra medida que não a de agravar o defice de 2012 com mais despesa, classificada como extraordinária, para pagar dividas (as dividas pagam-se de acordo com um plano de amortização e juros, portanto, por definição, sem surpresas de calendário - consta que serão 0,7% do PIB a agravar).
Curioso como daqui conclui o governo que vai renegociar ou reestruturar o pagamento da dívida à troica.
Curioso porque há bem pouco tempo eram violentamente criticados pelo governo quem propusesse essa hipótese.

E então o inimigo desapareceu há décadas.
O inimigo que leva a reestruturação da dívida?
Ou referir-se-ia o senhor ministro, por um fenómeno de projeção de um fantasma, ao desaparecimento há décadas de um projeto falhado que degenerou relativamente à matriz de análise? como se a experiencia não tivesse já demonstrado que todos os projetos têm falhado.
Ou seria o fascismo a que se referia? desaparecido há décadas?!
Fascismo é o regime plutocrata que institucionaliza a discriminação entre os beneficiários dos melhores rendimentos e os de menores rendimentos, entre os povos de maior riqueza e os povos que não conseguiram rentabilizar as suas potencialidades, em ambiente económico capitalista de condicionamento de iniciativas.
O coeficiente de Gini, ou das desigualdades, ajuda a compreender o que é fascismo ou o que um sistema de organização não deve fazer.
Matriz de análise desatualizada?
Como seria bom se fosse.
Seria sinal de que não era preciso eliminar as desigualdades.

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