quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Vamos pôr as coisas assim

Como dizem os anglo-saxónicos, vamos pôr as coisas assim:

Não gosto que façam coisas aos meus amigos que os deixem tristes e desesperançados.
Não gosto que digam deles que são oportunistas e não merecem o que ganham.
Não gosto que retirem rendimentos aos meus vizinhos.
Não gosto que dificultem a vida aos meus conhecidos, especialmente aqueles com mais idade ou aqueles que, por serem doentes ou terem menos rendimentos, precisam de cuidados especiais.
Por isso digo que as coisas chegaram a um ponto em que posso legitimamente dizer que as instituições não estão a funcionar regularmente.
Não posso com isto influenciar nenhum orgão de decisão do meu país.
Estou apenas a exercer o meu direito à livre expressão.

Tambem não gosto que profissionais de contabilidade altamente qualificados sejam colocados em lugares em que têm de decidir sobre assuntos que afetam um universo que não conhecerão o suficiente para poder assumir as decisões.
Refiro-me ao titular do ministério das finanças, demasiado próximo do pensamento unico neo-liberal dos centros de decisão do BCE, demasiado longe dos mais desfavorecidos e com pouca sensibilidade para compreender o significado e as consequencias sociais de uma taxa de desemprego excessiva.
Refiro-me ao titular do ministério da saúde que decide sobre cortes no sistema de transplantes, sobre aumentos de taxas que por excessivas limitarão o acesso (apesar da orientação teórica ser não deixar ninguem por atender) e sobre proibições de credenciais para tratamento em entidades privadas que já  aumentaram, conforme os profissionais atempadamente avisaram, os tempos de espera.
Lamento que o senhor ministro se justifique sistematicamente com relatórios que lhe são apresentados garantindo que os parametros de decisão são identicos em outros paises  (pode ser, mas as circunstancias e os critérios de construção dos indicadores são os mesmos? como pode o senhor ministro avaliar se não tem formação médica? e quem pode afirmar que os critérios seguidos pelas seguradoras de saúde podem ser estendidos a toda a população independentemetne do seu potencial económico?) e com conversas com diretores gerais (onde é que existe uma disciplina cientifica em que exista unanimidade em problemas de variáveis multiplas? tem sempre de se ouvir outras opiniões).
E lamento tambem pelo próprio senhor ministro, que nas ultimas entrevistas já revelou, pela forma como responde aos entrevistadores, que não se sente bem com as decisões que tomou, que se encontra em situação semelhante ao seu colega da administraçáo interna, com o telefone a escorrer sangue todos os dias, enquanto continua a criminalidade e a sinistralidade rodoviária, e enquanto continua a degradação dos indicadores do serviço nacional de saude devido às medidas que teve de tomar para "ajustar" os critérios contabilisticos.

Dado o ponto a que chegámos, de não funcionamento regular das instituições, e insistindo os senhores ministros com formação contabilistica que "não há dinheiro", será legitimo o governo estancar a saida de divisas para o estrangeiro, colaborando com as forças politicas a que a isso se dispusessem .
Mas não é isso que se vê.
Parafraseando a senhora doutora Ferreira Leite, podiam-se suspender as regras comunitárias de alfandegas abertas e suspender as importações de bens não essenciais e de bens que podem ser substituidos internamente durante 6 meses, para ver como ficavam as coisas.
Se a situação é assim excecional...

Por tudo isto, como escrevi ao principio, vamos pôr as coisas assim: o cabeçalho deste blogue manter-se-á negro enquanto o povo português estiver a sofrer este tratamento pouco digno.

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