segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

As lágrimas amargas de Elsa Fornero

Roubei o título a Fassbinder.


Lágrimas amargas é melodramático, mas lágrimas são lágrimas.
E muitas vezes são sentidas.
Elsa Fornero sentiu-as, embora seja ministra.
O drama de uma paixão homosexual dos anos 70 de Fassbinder não será uma metáfora para a crise das dívidas públicas que nos atormenta, mas os mecanismos cerebrais que desencadeiam as lágrimas são os mesmos, por imposição do código genético e da evolução ao longo dos milénios.
Petra von Kant move-se num contexto de emoções desequilibradas, com sadismos, ciumes, frustrações de orientações sexuais, e chora.
Elsa Fornero acreditou em sistemas de pensões corretoras das desigualdades sociais.
Mas o sistema financeiro governado pelos decisores do BCE e da UE não quer estar ao serviço da ideia solidária da Europa (Jacques Delors tambem acha).
O BCE não quer injetar liquidez para o conjunto da Europa, mesmo fabricando moeda e subindo um pouco a inflação, para que a uma empresa portuguesa pudesse ser exigida  a mesma taxa de juro que a uma empresa alemã ou holandesa.
E então Elsa Fornero chora.
Esta senhora é professora na universidade de Turim de Macroeconomia e de Economia da poupança, da previdencia e dos fundos de pensões.
Como independente, participou num governo da comuna de Turim em aliança com partidos de esquerda e centro esquerda.
Defende, acima de tudo, a equidade (se cá viesse, como diz a canção...) e a sustentabilidade.
As lágrimas são sinceras.
Tanto quanto entendi do italiano, a medida adotada pelo governo italiano consiste em desindexar as pensões, poupando as  menores, relativamente à inflação  (indexação automática das pensões foi coisa que nunca houve em Portugal, os aumentos de pensões e salários de um ano correspondiam sempre aos aumentos de preços do ano anterior quando a inflação subia; mas também somos uma economia menos produtiva...).
A senhora ter-se-á comovido e não conseguiu articular a palavra sacrificios (requeridos por este ciclo que psicologicamente afeta as pessoas).
Talvez, quando a emoção passar, as lágrimas secarem e a razão regressar, se possa pensar em dar prioridade à Declaração universal dos direitos humanos, do direito ao emprego e à segurança social, sobre as regras dos rankings, dos credit default swaps e dos crowding out.
Parafraseando o novo primeiro ministro italiano, que se comova, mas que corrija as coisas, sem se importar de propor  correções tambem nos outros paises da Europa.
Sem prejuizo das medidas de contenção, claro (prefiro dizer contenção; austeridade parece-me que será em situações mais graves; não pioremos as coisas, não?).


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