quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Hoje, 29 de dezembro, faz anos



Hoje, 29 de dezembro de 2011, faz 52 anos que o metropolitano de Lisboa iniciou a sua exploração.
Recebi um email com o comunicado da sua comissão de trabalhadores, que ainda a tem, felizmente.
Congratula-se com o serviço ininterrupto e dedicado, e com os niveis de segurança e comodidade que foram atingidos:

https://skydrive.live.com/?cid=95ca2795d8cd20fd&id=95CA2795D8CD20FD%211077#cid=95CA2795D8CD20FD&id=95CA2795D8CD20FD%211078

Interessante pensar que ao longo destes anos o serviço não foi mesmo descontinuado, apesar de, a seguir ao 25 de abril de 1974, algum boicote de fornecedores estrangeiros  e algum radicalismo das propostas do então MRPP.




Teremos de pedir desculpa por alguns falhanços durante as sucessivas obras de expansão, com alguns troços afetados durante algum tempo, mas sempre com circulação de comboios nos outros troços, quer estivéssemos em período de férias, quer nos feriados mais importantes.
Nem todas as atividades têm esta continuidade de horários.

A inauguração - destino do próximo comboio, Entrecampos
Talvez merecessem um bocadinho mais de respeito, ao menos in abstractum, os trabalhadores de uma empresa assim, a trabalhar por objetivos como o serviço público e os indicadores comparados com as empresas homólogas.
E os problemas técnicos complexos que foram surgindo e sendo resolvidos.
E os salários abaixo da média das empresas privadas durante tantos anos, com as receitas contidas por imposição de um teto para as tarifas, para virem agora jovens gestores dizer com ar zangado "vamos acabar com as regalias" (dizer e escrever, no tosco plano estratégico de transportes).
Que história tantas vezes mal contada.

O material circulante do tipo da inauguração, ML-7, mantido em estado de operacionalidade
Ah, sim, houve greves prejudiciais muito antipáticas para a população, que deve ser servida e que agora tem vencimentos médios mais baixos.
Nostra culpa no que nos toca, pronto.
Também estamos a aprender neste contexto que nos foi preparado ao longo dos anos para nos ser agora servido; as reivindicações dos trabalhadores do metro são as mesmas dos seus passageiros; e ninguém vai dizer a sério que a nossa pequenina economia foi a responsável por toda a crise internacional que é o que nos está agora a condicionar, pois não?
Vamos todos ver o que é que se pode fazer, mas todos mesmo, sem haver distorção de acumulação de rendimentos em setores restritos da população deste país.
E não pode ser com desemprego que se combate a crise, porque isso vai contra a declaração dos direitos humanos.

Por isso, enviei à CT um textozinho com umas sugestões concretas, coisas que podem não significar nada para quem não tem de estar nestas frentes de trabalho, assuntos de pormenor e pequeninos a que não descerão as altas individualidades que decidem da vida dos seus concidadãos e concidadãs, mas que exigem conhecimentos técnicos; só para ver se se minimizam alguns danos, no meu fraco entender, claro:

Como se costuma dizer, assino por baixo.
É de facto grave o que os senhores do governo e os seus mandatários estão fazendo com falinhas mais ou menos  mansas e ares professorais em programas de televisão, mas também com ignorância das coisas dos transportes, escondida atrás da fé cega nas "privatizações".
Gostaria de sublinhar duas ações que neste período de contenção e de saída de técnicos me parecem importantes para que a experiência acumulada não se perca:

1 - edição dos normativos para projeto de estações (não servem só para obra nova, servem tambem para manutenção) e coleções de Especificações técnicas (importante em disciplinas em que os metropolitanos têm caracteristicas particulares, como a sinalização ferroviária, as telecomunicações, a alimentação de energia, a via férrea, o material circulante). 
Existe muito trabalho feito, já inserido no SAP-DMS, que deverá ser aprovado pelo CA (caso não o tenha já sido) e atualizado, idealmente, semestralmente. 
Não é o mesmo que as fichas de procedimentos de manutenção, já em vigor ou em atualização. Incluir aqui, relacionando com o ponto 2, o acervo de normas portuguesas e internacionais relativas a caminhos de ferro (ligação à APNCF) e recomendações da UITP/Comité de metros;

2 - organização do arquivo técnico e de sistema de procura, por tópicos, e acesso a documentação técnica inserida ou a inserir no SAP-DMS. Não é o mesmo que a digitalização de desenhos e documentos nas salas de desenho, sendo de âmbito mais vasto, e terá de ser executado por empresa do exterior especializada em classificação, arquivo e acessibilidade (rastreabiidade) de documentos. 

Refiro ainda outra ação muito importante, por razões de segurança, que é a da verificação de projetos e acompanhamento de obras adjacentes aos tuneis, viadutos e estações, para o que deverá continuar a haver um corpo técnico com conhecimentos desta problemática.
Verifica-se assim que, mesmo integrando o metropolitano numa empresa mais vasta, a necessidade de garantir a segurança de circulação justifica a continuidade de um corpo técnico especializado.
A ligação a organismos internacionais, via APNCF e UITP é tambem muito importante porque a forma como estão estruturados os temas técnicos que eles tratam não se compadece com a estrutura deformada atual e, previsivelmente, futura, do metropolitano. 
Ao argumento dos ministérios das finanças e da economia de que não há dinheiro (por isso mesmo, haveria que evitar desastres que ficarão muito mais caros) parece-me que se poderá responder que então entremos em economia de emergência, o que é incompativel com a continuidade dos lucros dos bancos, off-shores, e a concentração dos rendimentos em minorias. Isto é, se o argumento é não haver dinheiro, a economia tem de ser nacionalizada e não privatizada. Mas são os senhores ministros que estão a dizer isso quando dizem que não há dinheiro, não sou eu.

Cumprimentos e, apesar de tudo, parabéns a nós todos.

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