sábado, 3 de dezembro de 2011

Le roi d'Ys

Ópera de Eduard Lalo, estreada em 1888, com uma história de ciumes, vinganças e fantasias milagrosas em ambiente mais ou menos medieval, ou gótica, como agora se diz, com a moda do senhor dos aneis.
Ver em:
http://operaparaprincipiantes.blogspot.com/2011/02/le-roi-dys.html
 e em:
http://www.youtube.com/watch?v=MxuKA4sXNkY&feature=related

Não será o melhor exemplo para convencer as pessoas a gostarem de ópera, mas continuo a pensar que os compositores de ópera conseguiram traduzir emoções, sentimentos  e dilemas humanos.
No fundo, dilemas é um problema fundamental da humanidade, julgo eu.
Oiço na Antena 2 uma área do Roi d'Ys e ocorre-me que toda a ópera é uma metáfora do que nos atormenta.
Na ópera, a filha do rei, por ciúmes e vingança, ou por divergência de interesses, destroi a cidade sabotando as comportas do dique de proteção.

Foi o que fizeram os gurus  da não intervenção financeira como Alain Greenspan, sacerdotes da ideologia neo liberal de deixar os mercados funcionar.
Deixaram as comportas da desregulação financeira abertas.
Abate-se a crise sobre o país de Obama, e chama-se outro guru neo liberal, Tim Gaithner, para o Tesouro.
Diziam os gregos clássicos que o antídoto da   mordedura do cão é a saliva do próprio cão.
No caso da ópera, a sabotadora é atormentada pelo remorso (coisa que os adeptos do neo-liberalismo não conhecem)  e o santo protetor da cidade salva a cidade das inundações aceitando o seu sacrifico humano .

Talvez a metáfora não seja perfeita, porque não são os decisores, crentes ferverosos nos dogmas da minimização da despesa publica e da recessão criativa ("só cresceremos depois de terminado o período de declínio económico" -  que La Palice peça aos deuses comiseração) que vão sacrificar-se para a entidade poderosa salvar a civitatis.
Parece que no nosso caso o sacrificio humano que se pede é antes o dos habitantes.

Mas é interessante, a ideia da ópera.
Haver entidades míticas a quem se sacrifica, recebendo-se em troca a salvação.
Quem cria o problema sacrifica-se existencialmente para o resolver; toda e qualquer semelhança com mitos religiosos ou existencialistas é pura coincidencia.
Fecunda, a imaginação humana.

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