sábado, 15 de outubro de 2011

A intervenção social da Igreja

Sem esquecer a história da Igreja, o papel da Inquisição no afundamento da cultura portuguesa e a colaboração da Igreja com o regime entre a I e a II Repúblicas, tem de se reconhecer que existe uma doutrina social da Igreja.
E que nos períodos difíceis alguns membros da Igreja dizem as coisas claramente.

Por exemplo, o antigo bispo de Setubal , Manuel Martins, vem dizer que as politicas de austeridade são uma grande desgraça e podem fazer verter o sangue, que já há pessoas com lágrimas de sangue.

Vem ainda o bispo das forças armadas, Januário Torgal, dizer que há falta de lucidez da parte do primeiro ministro, que o povo é abusado e que deveria haver diálogo e a renegociação da dívida.
Na verdade, quando o primeiro ministro diz que se estivesse persuadido que  solução era outra a adotaria, isso significa (agora sou eu a falar) que o critério que usa para aferir da correção de uma solução é a sua convicção.
Temos de concordar que isso viola o princípio do método científico e a prática democrática de encontrar soluções em conjunto.

Diz tambem o bispo das forças armadas o mesmo que este blogue diz, que os "desvios", justificativos do não cumprimento das anteriores garantias do primeiro ministro, não estão devidamente fundamentados.
Por exemplo, quando o senhor primeiro ministro vem dizer que não é responsável pelo défice orçamental, terá de se lhe dizer, olhe que é, olhe que é responsável por um quarto da execução do orçamento de 2011 (3 meses é um quarto de um ano).

Vamos admitir que, no tempo em que estive ativo profissionalmente, submeti a aprovação superior e foi aprovado um orçamento de atividades para o ano X.
Como em qualquer ano X-i, a execução do orçamento ficava sempre aquem, porque à semelhança do cliente do self-service, punhamos sempre no orçamento mais atividades do aquelas que podiamos executar, e a grande maioria era despesa.
Digamos que o orçamento era despesa por um lado e beneficios por outro, na medida em que com a despesa se obtinham ganhos de produtividade e de melhoria de qualidade de serviço.
Mas não interessa agora para o caso e admitamos que o orçamento para o ano X era executável.
Vamos supor que a meio do ano X a administração da empresa se lembrou de fazer uma reestruturação redentora, claramente para corrigir a minha ineficiência e falhas de atingimento de objetivos.
Analisada a situação a meio do ano, verificou-se que apenas tinha sido executado 40% do orçamento.
Situação simpática do ponto de vista dos colegas financeiros que tinham de arranjar o financiamento, mas desagradável porque implicava perda de receitas para os setores que aguardavam as nossas atividades para melhorar a produção.
Em resumo, o meu orçamento, a meio do ano, na altura em que deixei de ser responsável por ele, tinha um desvio de 10% relativamente aos objetivos.
Mas então sobreveio a reestruturação redentora e nos 3 meses seguintes outro responsável alterou o programa de atividades de acordo com o seu próprio programa (ou ausencia dele) e, consequentemente, eliminou atividades que iriam gerar beneficios.
No controle dos 9 meses verificou-se que a execução estava apenas em 60% e o desvio já ia em 15%.
O desvio tinha aumentado porque não se tinham executado ações geradoras de beneficios.
Que se diria do novo responsável se viesse dizer que o novo desvio tinha sido ocultado por mim ou tinha sido uma surpresa?
Provavelmente o que eu diria era que a avaliação do desempenho profissional do novo responsável, se dependesse de mim, seria mazinha.

Pois não foi o que o senhor primeiro  ministro disse? Que tinha surgido um "desvio" inesperado que era preciso combater com mais cortes nos rendimentos do trabalho, no valor de mil milhões de euros, porque não tinham sido aribuidas concessões de jogo, não tinham sido atribuidas bombagens em barragens, não tinham sido atribuidas licenças de fotovoltaicas (até aqui receitas orçamentadas em 700 milhões de euros) e não tinha sido vendido património orçamentado em 300 milhões de euros, por ser de venda irrealizável (experimentaram capitais chineses?).
Pela maneira como falou, ou a semiótica é uma palavra vã, o senhor primeiro ministro não tinha informação suficiente para esclarecer todos os dados do problema.
Por exemplo, isso das bombagens para as barragens.
É uma ação indispensável para rentabilizar as eólicas (a energia que a rede não pode absorver nos periodos de vazio quando há vento é utilizada para bombear a água previamente turbinada para as barragens, para posterior produção de eletricidade).
Mas uma fação dentro do partido do governo defende que as eólicas não são rentáveis e fica mais barato ter grandes centrais de gás natural a produzir energia na base do diagrama.
Talvez por isso o governo não tomou as medidas para bombear mais água para as barragens.
Mas vem agora dizer que não teve receitas?
Evidente, não teve receitas porque alterou o programa de atividades, que tinha sido aprovado pelo orgão soberano da comunidade portuguesa em 2010 para valer por todo o 2011.
Isto é, contrariamente ao que disse, o defice tambem é seu, senhor primeiro ministro, pelo que não tem a minha confiança como cidadão.

Como tambem disse o senhor bispo Januário, não venham por favor com mais desvios.
Apresentem os cálculos fundamentadores, por favor, deixem de falar em desvios como argumento metafísico.

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