Continua a novela do PET, com mais uma visita do senhor ministro da economia e transportes ao Parlamento.
Interessam-me hoje, dessa visita, aspetos menos técnicos.
Gostaria de comentar a linguagem do senhor ministro.
Há dias, a propósito dos dias de férias dos trabalhadores das empresas públicas de transportes, fez uma cara zangada e disse "isso tem de acabar".
Já concordei que a diminuição dos dias de férias é um caso a considerar, em muitos anos me sobraram dias de férias que não gozei, senti-me mal quando o meu colega do metro de New York me disse que tinha 12 dias uteis de férias por ano.
Só que a redução deverá ser devidamente integrada na análise de todos os setores, de modo a não haver exceções na distribuição dos sacrifícios.
Contanto que não haja exceções, evidentemente.
Mas o que me choca é a linguagem utilizada pelo senhor ministro: "isso tem de acabar".
É olímpico, imperativo e fatal.
No dia 28 de outubro a expressão utilizada pelo senhor ministro, a propósito do excesso de tarifas e de títulos de transporte na região de Lisboa, foi: "é de uma irracionalidade inqualificável a existência de 500 títulos de transporte".
Concordo que há demasiados títulos. Sempre defendi que o metropolitano só deveria ter um bilhete, sem coroas, e um passe intermodais.
Já em 1978 pensava assim e uniformizámos a largura dos bilhetes, para poderem servir nos obliteradores do metro e da Carris (na altura ainda não havia "chips", apenas bandas magnéticas cujas tecnologias não foram adotadas por razões económicas; já na altura se pensava em economizar).
Porém, a mentalidade de compartimentação estanque e de quintais privados impediu a integração dos modos de transporte em Lisboa (embora a tecnologia dos cartões "contactless" tenha permitido, tal como no Porto, alguns progressos para os cidadãos e cidadãs).
Mas lá por não concordar não chamo irracionais inqualificáveis às soluções que os colegas escolheram.
Acho que o senhor ministro devia usar uma linguagem mais urbana.
E que não devia aplicar a técnica do papão para fundamentar as propostas de despedimento de uns para garantir a manutenção do emprego de outros.
Dizer que, ou se despedem alguns ou terão de se fechar as empresas e todos são despedidos,é tal forma grave que simultaneamente deveriam ser apresentados os cálculos que fundamentem tal afirmação.
Até porque o próprio senhor ministro apresenta hipóteses de soluções, como a afetação de parte do IMI, beneficiando do seu aumento, para financiamento dos transportes coletivos.
Aqui não critico a linguagem, critico o ar de descobridor da pólvora. O secretário de estado dos transportes
do governo anterior propôs a afetação aos transportes públicos de parte do imposto sobre os combustíveis rodoviários.
Há anos que o metro de Lisboa propôs em vão a solução do metro de Hong Kong, em que o governo atribui ao metro não só a concessão da construção e exploração da nova linha, mas também as mais valias resultantes para as urbanizações que a nova linha vai servir . Ver neste blogue, anteriormente à apresentação do PET:
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2011/10/sugestoes-4-para-o-plano-estrategico-de.html
O mais perto que se conseguiu foi um mau contrato para o estado feito com o promotor de uma urbanização à volta da estação de Amadora Este, que acabou por não vingar.
O que não era nenhuma inovação: a construção da ponte sobre o Tejo em 1966 beneficiou de receitas obtidas com a emissão de licenças de construção dos edificios na margem sul servidos pela nova ponte. E o mesmo se passou com a ponte Vasco da Gama.
Sinceros aplausos, se levar a medida para a frente (já que não é possível evitar o sacrifício do aumento do IMI), mas não fale o senhor ministro como se estivesse a estudar uma inovação, até porque, se garantir o emprego de todos, estará a fazer aquilo que os ministros da economia devem fazer, pese embora os teóricos das doutrinas económicas mais na moda defenderem que o mais importante é conter a inflação através do crescimento do desemprego quando a taxa de acumulação de capital desacelera.
Aguardemos os próximos episódios.
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