Embora o governo saído das eleições de junho de 2011 conduza uma campanha violenta, do ponto de vista moral, de descrédito dos profissionais das empresas públicas de transporte, responsabilizando-as, independentemente das políticas governamentais anteriores, pelo elevado nível de endividamento do setor empresarial público, dedico este capítulo a uma enumeração simples de técnicas de execução do trabalho no dia a dia, perante situações concretas que se deparam aos profissionais, tendo em vista os objetivos de serviço público, os quais evidentemente incluem a preocupação de escolher as melhores soluções técnico-económicas.
Se bem que, como qualquer escolha e porque há sempre um fator de subjetividade, se corra o risco de acusação de má gestão ou má execução.
Os destinatários das linhas seguintes são portanto os executantes das tarefas e das funções que integram o universo das empresas públicas de transportes.
Claro que estas sugestões podem ser aplicadas em empresas privadas, mas julgo que interessa focar a natureza pública, considerando o valor estratégico da gestão dos transportes, a preocupação tradicional com o contínuo aperfeiçoamento dos profissionais das empresas públicas, e a experiencia estrangeira que indica que as empresas de transporte públicas têm tendência para sobreviverem à tendência privatizadora dos governos (sem esquecer que a experiência no negócio dos transportes dos respetivos governantes é normalmente reduzida, pelo menos em termos de visão integradora).
1 – antes de mais, interpretar corretamente o enunciado e os dados do problema ou a solicitação que lhes for colocada, quer seja de rotina, quer seja uma ação nova, para que não haja duvidas sobre o que se está a tentar resolver; lembrem-se que em qualquer voo rotineiro ou saída para o mar tem de fazer-se previamente um “check-list”;
2 – respeitar o método científico e os manuais de instruções dos fabricantes, observando e investigando em profundidade as causas e as circunstâncias dos fenómenos e das ocorrências, mantendo atualizados os registos das novidades técnicas dos equipamentos e sistemas e, através de revistas e da divulgação das reuniões com os grupos nacionais e internacionais em que as empresas estão representadas, do que se vai fazendo lá fora; fazer com que, como diz o professor Carvalho Rodrigues, a ciência faça parte da equação, que o debate seja feito com a análise objetiva dos dados ;
3 – saber trabalhar em equipa, inter-agindo com as outras áreas e disciplinas, alargando o debate com as áreas relacionadas (sendo que numa empresa pública de transportes qualquer assunto tem as mais das vezes implicações com todas ou quase todas as áreas) descentralizando as funções, as tarefas e a representação ou delegação das áreas, pondo hipóteses, mesmo que aparentemente sejam estranhas, ensaiando e medindo com aparelhos de medida para avaliar os resultados, aprofundando a análise dentro de cada especialidade, fazendo a integração de todas, e respeitando os planeamentos; nunca esquecer que, por mais elevado que seja o seu lugar hierárquico ou por mais elevado que seja o seu coeficiente de inteligência ou de aptidões psicotécnicas, ou por mais elevado que seja o seu nível de qualificação técnica, ninguém é mais inteligente do que o conjunto do grupo de profissionais;
4 – ter mais consideração pelas reuniões, apesar de exigirem previamente um grande esforço de preparação e, durante as próprias reuniões, outro grande esforço para interpretação de dados relacionais, e levar para elas um bloco de notas ou um computador portátil, tomar notas e dar-lhes seguimento (as empresas já dispõem de equipamentos atualizados, mas infelizmente são raros os utilizadores da rede interna wireless e não se tira o devido rendimento, por falta de interesse dos potenciais utilizadores, das redes virtuais de acesso a partir do exterior ao computador pessoal do profissional); lembrem-se de que as redes wireless e “em nuvem” (clouding computer) têm recursos de comunicação e arquivo que facilitam o trabalho em equipa e individual;
5 – dar importância aos mecanismos de tomada de decisão no espírito das alíneas anteriores , e constituir uma massa crítica, ou opinião pública, que vá impondo esse espírito, mesmo nas decisões sobre questões estratégicas, como a estrutura das empresas, o plano de expansão das redes, as prioridades das empresas em função do contexto de contenção e de secretismo que a tradição reserva aos governantes ou aos gestores, mas que serão melhor resolvidas se se utilizarem os métodos de participação alargada, tal como definidos no livro “A sabedoria das multidões” de James Surowiecky, ed.Lua de Papel
6 – registar sempre as ações que são pedidas e, caso o sistema de gestão documental da empresa não tenha aptidão para isso, de que é exemplo o caso do SAP-DMS (o seu sistema de pesquisa é muito pouco eficaz porque muita da documentação está em tif e porque o acesso aos documentos por assunto nas pastas pessoais não tem nada de amigável ) fazê-lo de modo rastreável, permitindo a reconstituição da evolução do processo (sugiro para isso o registo das referencias do sistema de gestão documental ou dos emails, ou das reuniões, em quadros Excel ou em bases de dados de exibição rápida e acesso ao assunto ou à entidade a quem se dirigiu); se consultarem as normas de qualidade, lá verão que a rastreabilidade de um projeto é uma das condições do seu desenvolvimento correto;
7 – imaginar que o seguimento de uma solicitação recebida é uma missão que precisa de ser monitorizada, quer seja o pedido de reparação de um equipamento, ou de um sistema, de uma estação ou de uma carruagem, quer seja uma reclamação ou um pedido de informação de um passageiro ou de uma entidade exterior, quer seja uma ação tática (planeamento a curto prazo) ou estratégica (planeamento a médio e longo prazo); pensem que deverá ser um ponto de honra não deixar esmorecer um assunto, mesmo que esteja dependente de uma ação exterior, e não deixar atrasar a sua resolução – o objetivo é ter o assunto resolvido e resolvê-lo em conjunto, não ter despachado um pedido para a sua resolução e nunca mais pensar nele;
FIM
(ver o capítulo anterior em:
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2011/10/sugestoes-13-para-o-plano-estrategico.html ;
Nota - Estas sugestões para o plano estratégico de transportes foram escritas anteriormente à política de esvaziamento das empresas públicas de transportes e ao plano estratégico de transportes do governo saído das eleições de junho de 2011; foram ainda escritas com base na experiencia do autor no metropolitano de Lisboa e no relacionamento que no âmbito da empresa este teve com organizações internacionais da especialidade; tentou, porém, dar-lhe uma natureza generalizável, numa perspetiva integradora, submetida à preocupação central com a eficiência energética e a redução das emissões de gases com efeito de estufa, infelizmente nem sempre compreendida nem aceite por muitos governos, pese embora a clara orientação da UE para os transportes ferroviários. É intenção do autor tentar atualizar o texto quando se virem alguns resultados da política do governo.
Cada texto contem no fim o endereço do texto anterior e do texto seguinte. )
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2011/10/sugestoes-13-para-o-plano-estrategico.html ;
Nota - Estas sugestões para o plano estratégico de transportes foram escritas anteriormente à política de esvaziamento das empresas públicas de transportes e ao plano estratégico de transportes do governo saído das eleições de junho de 2011; foram ainda escritas com base na experiencia do autor no metropolitano de Lisboa e no relacionamento que no âmbito da empresa este teve com organizações internacionais da especialidade; tentou, porém, dar-lhe uma natureza generalizável, numa perspetiva integradora, submetida à preocupação central com a eficiência energética e a redução das emissões de gases com efeito de estufa, infelizmente nem sempre compreendida nem aceite por muitos governos, pese embora a clara orientação da UE para os transportes ferroviários. É intenção do autor tentar atualizar o texto quando se virem alguns resultados da política do governo.
Cada texto contem no fim o endereço do texto anterior e do texto seguinte. )
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