Oiço e vejo na TV os sábios financeiros da Europa forte que se escandalizam com a descoberta de dívidas ocultas (embora os profissionais do meio saibam que estas coisas podem ocultar-se mas não ignoradas; é um problema filosófico: eu não vejo a face oculta de um objeto, apenas a face visível, mas sei que não pode existir um objeto com aquela face visível que não tenha uma face oculta, a menos que seja uma fita de Moebius, mas a fita de Moebius é uma abstração).
E reparo que os sábios financeiros europeus falam grego.
Quando dizem Europa, por exemplo, quando dizem crise, especuladores, caos, catastrófico.
É como na medicina, decifra-se a tabuleta na rua grega e lê-se otorrinolaringologista, eletroencefalograma, cardiologista.
Mas os sábios financeiros europeus não parecem reparar nisso.
Na verdade, eles falarem grego não confere aos gregos da atualidade qualquer tratamento de favor, mas quer-me parecer que os sábios financeiros europeus, a menos que queiram utilizar outros sinónimos para caos e catástrofe, deveriam ter mais respeito pela língua e pela cultura grega (faz-me lembrar o esquecimento do exército americano em proteger o museu de Bagdad, que abriga testemunhos do nascimento da cultura humana, em favor do ministério do petróleo).
Afinal, se a Europa existe foi porque Zeus a raptou, em vez de se resignar a vê-la de longe.
Pode ser que o senhor ministro das finanças português, que é um leitor de Voltaire, explique aos seus homólogos o rapto de Europa e as suas vertentes prolíficas e povoadoras.
Seria um "rewind" da história mas, como diz o senhor ministro da economia, agora com outro modelo, embora o modelo em que eu estou a pensar não deva ser o mesmo modelo do senhor ministro da economia, que por acaso, também é uma palavra grega.
Gueiaças (olá, em grego).
Sem comentários:
Enviar um comentário