Depois da entrevista com as delegações dos sindicatos, o senhor ministro dos transportes afirmou:
1 - "a reforma vai afetar os trabalhadores, os utentes e o país"
2 - "a situação é mais grave do que pensávamos inicialmente ... teremos de ir mais além do que pensávamos inicialmente"
Estamos de acordo relativamente a 1.
Normalmente quando uma reforma afeta toda a gente é sinal que não deve ser feita.
Mas o governo insiste em fazê-la porque diz que a situação é insustentável.
Muito bem, mas devia fazer o favor de mostrar os cálculos que demonstrem que a insustentabilidade do que está é maior do que a insustentabilidade dos prejuizos que o senhor ministro reconhece que vão ser provocados aos trabalhadores, aos utentes e ao país. Favor contabilizar os prejuizos decorrentes dos despedimentos e desemprego, da sobrecarga da segurança social, dos tratamentos de depressões, da pressão sobre o aumento da criminalidade, vandalismo e indiferença cívica, do efeito negativo sobre o PIB da quebra do consumo. Explicar tambem, por favor, o conceito de fusão da gestão de empresas mas não da operação (então não era para evitar redundancias de linhas de exploração?).
Sobre o que está posso dar umas dicas: em muitos setores das empresas de transporte já se aplicavam medidas estruturais de aumento da eficiencia e já existiam propostas de aplicação de outras (suscitando reação, claro, mas escrevo isto só para que não se pense que mudar de estrutura resolve; como dizia o guru, "structure follows strategy", e se a estratégia ainda está no segredo dos deuses, só há linhas orientadoras, estaremos certamente mal).
E sobre o magno problema da dívida, posso fazer a sugestão habitual: negociação da redução da taxa e do alargamento dos prazos, convergencia dos custos de produção e do preço de venda do título de transporte (há processos de o fazer sem despedimentos, mas é preciso ter experiencia de transportes).
2 - Custa muito acreditar numa afirmação destas. Quando toda a campanha eleitoral foi preenchida com certezas de que se tinham soluções (a validação dos resultados eleitorais depende fortemente do que se diz na campanha e do que se faz depois, sendo certo que a desculpa dos dados ocultos é curta, porque há anos que se criticava o facto de, desde 1992, no tempo do governo PSD, o Estado fazer recair sobre o metropolitano de Lisboa a dívida contraida para construção das infra-estruturas) , quando os livros, os artigos na revista do DN (a Economia divertida, uma rubrica até interessante) e o blogue do senhor ministro ressumavam segurança de dados e de reformas, custa muito aceitar agora este argumento. Em linguagem corrente, não sabiam onde iam meter-se? Que experiencia de transportes têm e onde a obtiveram os senhores assessores do senhor ministro que assim informaram tão mal o senhor ministro no seu período inicial? Os livros não dizem que antes de avançar devem fazer-se sondagens? Que dos dados das sondagens se fazem extrapolações e que aos resultados se aplicam os coeficientes de segurança, para não haver surpresas? Não foram seguidos, os livros?
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