O senhor primeiro ministro afirmou:
“…só vamos sair desta situação empobrecendo, em termos relativos e em termos absolutos, na medida em que o nosso Produto Interno Bruto (PIB) está a cair…
Mas se alguém souber de uma forma de diminuir a dívida, o défice, enriquecendo e gastando mais, digam, se fazem favor…”
Não me parece correta a formulação do convite, já que as alternativas nunca são simples e exclusivas.
Só uma análise primária ou uma mente afetada por condicionamentos limitadores, como por exemplo a de Mofina Mendes no seu monólogo do cântaro, poderia insistir numa argumentação do tipo: ou empobrecer ou reduzir a dívida enriquecendo e gastando mais.
Ainda se fosse gastando mais em investimento reprodutivo e em consequência enriquecendo, já que ninguém enriquece a trabalhar honestamente por conta de outrem (atenção, não façam interpretações primárias, eu disse a trabalhar honestamente por conta de outrem, não disse a trabalhar honestamente sem mais nada), ainda se poderia corresponder ao convite literalmente.
Pelo que, como não é o caso do senhor primeiro ministro (análise primária ou mente afetada), terá sido a vertigem de um lapsus linguae, semelhante ao pequeno lapso de lógica quando diz que não há alternativa, porque se não há alternativa qualquer politico faria o mesmo que ele, contrataria um bom contabilista e acertaria as contas.
Embora se saiba que nunca há uma solução apenas…
De modo que, apesar do convite estar formalmente enviesado, eu faço as minhas sugestões para diminuir a dívida, reconhecendo que não poderemos fugir a algum empobrecimento (redução do PIB), embora a repartição do esforço exigido possa ser mais bem distribuido do que até agora foi anunciado:
1 – pegando na perseguição implacável à evasão fiscal anunciada pelo governo, retomo a proposta de Saldanha Sanches e proponho a medida com efeitos imediatos de levantamento do sigilo bancário, para particulares e empresas; embora seja um fator de estimulo à fuga de capitais, teria efeitos de redução do défice nos tempos mais próximos;
2 – considerando que no orçamento de estado de 2012 estão 4.500 milhões de euros para garantias do BPN, que vêm juntar-se aos 1.800 milhões de 2010, valores para que não chegam os subsídios de férias e de Natal cativados (3.000 milhões de euros), proponho que se declare a impossibilidade de manter a solução pensada para o BPN, se volte atrás (se se pode voltar atrás com o contrato do TGV também se pode voltar atrás aqui, não? não pode é dizer-se que não há medidas para reduzir o défice, para mais quando a tia de Bruxelas se quer informar do negócio com o BIC angolano) e distribua-se o BPN pelos acionistas da SLN que ainda tem muitas empresas e ativos a funcionar;
3 – numa perspetiva de gastar em investimento, empobrecendo para já mas enriquecendo mais tarde (ou melhor, crescendo ou otimizando o PIB), seguir as 25 medidas do livro de Luís Monteiro:
e as 22 medidas dos economistas aterrorizados (taxa das transações financeiras, mudança de politica do BCE, politicas de emprego, imposto progressivo, etc, etc.):
4 – auditoria ao destino dos empréstimos recebidos da troica com determinação da distribuição por setores e avaliação da sua contribuição para a diminuição da dependência do estrangeiro (ou melhoria da balança de pagamentos)
5 – renegociação, numa primeira fase, das comissões dos empréstimos da troica, estimadas em 655 milhões de euros (numa segunda fase renegociar a taxa de juro, não por ser alta, mas por não ser para amigos, considerando que os juros do empréstimo de 78.000 milhões de euros atingem 3.000 milhões de euros).
Não diga, senhor primeiro ministro, que não há alternativas.
Diga que não concorda com elas e não as quer discutir com argumentos (digo argumentos, não digo números, porque se escondermos números, só estamos a contar meia verdade).
Não haver alternativa é como dizia a Volkswagen nos seus tempos de contenção, o cliente pode escolher a cor que quiser para o seu Volkswagen, desde que seja preto.
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