Deixo aqui o registo da manifestação de trabalhadores do setor de transportes no dia 20 de outubro de 2011 contra a politica do ministério dos transportes expressa no Plano estratégico.
Iniciando a descida da Calçada do Combro, no sítio onde circulava o machimbombo.
O machimbombo tinha este nome por corruptela de machine-pump, a máquina de vapor que tracionava o cabo enterrado ao qual o veículo se ligava por garra operada pelo condutor. Funcionava desde o Largo de Camões até ao Largo da Estrela, e foi desativado no principio do século XX por substituição de tecnologia e sem sobressaltos do ponto de vista de quadros de pessoal.
Será bom que o dogma privatizador, ou melhor, o programa de entrega por concessão a operadores privados não esqueça a legislação europeia, que determina a realização de concursos públicos internacionais aos quais podem concorrer empresas públicas em igualdade de circunstancias com as privadas, isto é, livres do serviço da dívida da construção das infra-estruturas.
Se a ideia, através da fusão do metro e da Carris, é desarticular estas empresas, deixar sair os seus técnicos e lançar um programa de rescisões mais ou menos hostis, então não será de admirar que o concurso seja ganho pela Transdev, pela Barraqueiro, pela Arriva... sendo interessante ver depois quantos dos técnicos que vão trabalhar no adjudicatário sairam do metro ou da Carris.
Mas pode ser que os trabalhadores do metro estejam disponiveis para concorrer, eventualmente com perda de algumas regalias, mas era interessante ver esse concurso, em igualdade de circunstancias, entre uma empresa publica e empresas privadas.
Não falo por ser melhor ou pior a empresa publica ou privada, mas convirá analisar caso a caso, ver a experiencia e a prática dos funcionários do metro, considerar que a anunciada concessão significa uma ofensa para quem trabalhou no metro e deu o seu melhor e apresentou resultados que, quando comparados com os outros metropolitanos, não deslustram (sublinho, por exemplo, a excelente eficiencia energética da frota do metropolitano de Lisboa), para agora verem esquecido o que fizeram.
Estamos de facto perante um dogma, o da privatização/concessão, porque uma entrega a uma empresa privada exige que o seu lucro seja inferior ao diferencial de eficiencia entre a gestão privada e a gestão publica (estou a reduzir o diferencial de eficiencia ao respeito pela gestão publica por direitos laborais que podem não existir na gestão privada porque sinceramente, nunca achei que os meus colegas das empresas privadas trabalhassem com mais dedicação do que eu, peço desculpa pela imodéstia, quer nos primeiros dez anos da minha vida ativa, em que o meu vencimento era 60% do vencimento dos meus colegas que trabalhavam em empresas privadas, quer mais tarde, em que os vencimentos se igualaram ).
E que o governo não se iluda com poupanças graças aos despedimentos, porque os despedimentos têm custos, e graves, não só nas indemnizações, mas principalmente nos custos de aumento de depressões e do vandalismo.
Finalmente, uma nota de reportagem insólita, mas possivelmente de grande significado.
Um dos organizadores da manifestação, depois de meia hora de espera na Rua Borges Carneiro, perto do gabinete do senhor primeiro ministro, informou os colegas de que a delegação dos manifestantes estava no gabinete da secretaria em reunião para entrega das resoluções, pelo que sugeria a dispersão. Mas que a policia pedia que se desmobilizasse pelo lado sul, pela rua Almeida Brandão, que a policia se tinha mostrado muito colaborante, que têm os mesmos problemas que nós e pedia uma salva de palmas para a policia.
Alguem gritou Viva a policia, e os manifestantes bateram palmas.
Até eu.
Quem diria.
Ou como sentenciaria Julio Dantas, como é diferente a manifestação em Portugal.
Votos de que continue assim, embora fosse preferivel não haver motivos para fazer manifestações.
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