Não gosto da publicidade aos portugueses de sucesso.
Lembro-me sempre dos elogios dos senhores professores da instrução primária aos meninos que traziam umas redações muito bem feitas em casa.
Preferiria a divulgação do que os portugueses normais e médios poderiam fazer para melhorar o país, se deixassem uns e se preparassem outros para o fazer.
Também não gosto dos exemplos de sucesso que vêm de fora, muito seguros da sua superioridade.
Mas o exemplo da Irlanda é importante.
Refiro-me ao método eleitoral usado nas eleições presidenciais.
Foi utilizado o método preferencial, em que cada eleitor ordena os candidatos pela ordem decrescente de preferencia.
Assim se salvaguarda a vontade dos eleitores quando o seu candidato preferido não tem hipótese de vencer.
As regras eleitorais constituem um capítulo da matemática complexo e evoluido.
O teorema de Kenneth Arrow demonstra a impossibilidade de satisfação de todos os princípios eleitorais.
Isto para dizer que os fazedores de opinião portugueses ainda não analisaram bem os dados do problema, porque parece que continuam a defender a questão da governabilidade associada ao combate ao sistema proporcional, por exemplo, na questão dos círculos uninominais. Isto é, continuam a defender os princípios de governo de partido único, inspirados no "quem ficar em primeiro fica com tudo" norte-americano, que vem diretamente do século XVIII, antes dos trabalhos dos matemáticos Condorcet e Charles Bordas. No caso das presidenciais, ainda têm ainda muita dificuldade em aceitar o método preferencial adotado na Irlanda. Não foi o caso, mas o sistema preferencial permite, e é desejável, que um candidato que seja o segundo classificado quanto às primeiras escolhas, possa ser o candidato eleito. E evitam-se as segundas voltas.
Parafraseando Julio Dantas, como é diferente a compreensão matemática das regras eleitorais em Portugal.
Ver a problemática das regras eleitorais em:
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2009/08/homenagem-schulberg-e-governabilidade.html
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
Eleições na Irlanda
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regras eleitorais
Afeganistão, 29 de outubro de 2011
Julgo que nenhum dos soldados americanos que morreram no Afeganistão foi mobilizado compulsivamente, como acontecia nas guerras da Argélia e das colónias portugesas.
Mas ainda assim me parece justificado recordar Boris Vian e a sua canção "O desertor", no dia seguinte à morte de mais 13 soldados americanos no Afeganistão.
Morreram no Afeganistão 378 soldados americanos de Janeiro a 29 de outubro de 2011. Tinham morrido 499 em 2010. O contingente americano é de 100.000 soldados.
É necessário mudar a mentalidade dos senhores da guerra.
Esperava-se isso do presidente Obama, que combatesse a geração de violencia pela própria violencia e que contribuisse para a alteração do mandato para a guerra das Nações Unidas.
Em Inglaterra, o governo continua a desculpar-se com a impreparação do governo afegão para manter a sua presença.
Há porém movimentos pela paz em Inglaterra, como se pode ver pelo video seguinte, de que retirei estes números, relativos ao período de 2001 a 2011, com especial agravamento nos ultimos anos:
- custo da guerra para os ingleses: 29.000 milhões de euros
- soldados ingleses mortos: 380
- civis mortos pelas forças de intervenção e governamentais: 9.300
- civis mortos pelas forças afegãs anti-governamentais: 5.500
- civis mortos de fome, doença e miséria: 25.000
Nota: dado que a língua portuguesa suscita frequentemente erros de interpretação, provavelmente pela sua própria natureza, devo dizer que não tenho simpatia nenhuma pelas forças afegãs anti-governamentais, vulgo talibans, que praticam o oposto da democracia; mas sinto-me obrigado a defender a ideia de não violencia de Gandhi.
Mas ainda assim me parece justificado recordar Boris Vian e a sua canção "O desertor", no dia seguinte à morte de mais 13 soldados americanos no Afeganistão.
Morreram no Afeganistão 378 soldados americanos de Janeiro a 29 de outubro de 2011. Tinham morrido 499 em 2010. O contingente americano é de 100.000 soldados.
É necessário mudar a mentalidade dos senhores da guerra.
Esperava-se isso do presidente Obama, que combatesse a geração de violencia pela própria violencia e que contribuisse para a alteração do mandato para a guerra das Nações Unidas.
Em Inglaterra, o governo continua a desculpar-se com a impreparação do governo afegão para manter a sua presença.
Há porém movimentos pela paz em Inglaterra, como se pode ver pelo video seguinte, de que retirei estes números, relativos ao período de 2001 a 2011, com especial agravamento nos ultimos anos:
- custo da guerra para os ingleses: 29.000 milhões de euros
- soldados ingleses mortos: 380
- civis mortos pelas forças de intervenção e governamentais: 9.300
- civis mortos pelas forças afegãs anti-governamentais: 5.500
- civis mortos de fome, doença e miséria: 25.000
Nota: dado que a língua portuguesa suscita frequentemente erros de interpretação, provavelmente pela sua própria natureza, devo dizer que não tenho simpatia nenhuma pelas forças afegãs anti-governamentais, vulgo talibans, que praticam o oposto da democracia; mas sinto-me obrigado a defender a ideia de não violencia de Gandhi.
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Jorge Palma, Com todo o respeito
Jorge Palma lançou o seu novo disco, Com todo o respeito.
"Há tanta corrupção neste país,
arrogancia e ganancia sempre impunes,
e as sopas dos pobres lá estão,
com todo o respeito
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
somos roubados,
com todo o respeito,
ficamos calados,
com todo o respeito.
E eu, com todo o respeito,
não me calo.
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
ao entretenimento e ao remoto controle
há-de haver mais um comboio
para o centro comercial."
Não, não é a revolução acompanhada à viola e ao sintetizador.
Jorge Palma é um musico sério, com uma sólida formação musical e pianista.
É pena que não tenha uma voz bonita e que fume tanto (existe uma correlação), mas é uma jóia de pessoa.
Recordo-me dele quando começou a cantar e a compor, há mais de 40 anos, um entre muitos jovens que exprimiam através da musica e do canto a necessidade de mudar a coisa pública que se vivia então.
Devia ser mais escutado.
http://www.dn.pt/galerias/audios/?PageIndex=1§ion=Artes#grelha
"Há tanta corrupção neste país,
arrogancia e ganancia sempre impunes,
e as sopas dos pobres lá estão,
com todo o respeito
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
somos roubados,
com todo o respeito,
ficamos calados,
com todo o respeito.
E eu, com todo o respeito,
não me calo.
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
ao entretenimento e ao remoto controle
há-de haver mais um comboio
para o centro comercial."
Não, não é a revolução acompanhada à viola e ao sintetizador.
Jorge Palma é um musico sério, com uma sólida formação musical e pianista.
É pena que não tenha uma voz bonita e que fume tanto (existe uma correlação), mas é uma jóia de pessoa.
Recordo-me dele quando começou a cantar e a compor, há mais de 40 anos, um entre muitos jovens que exprimiam através da musica e do canto a necessidade de mudar a coisa pública que se vivia então.
Devia ser mais escutado.
http://www.dn.pt/galerias/audios/?PageIndex=1§ion=Artes#grelha
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Jorge Palma
domingo, 30 de outubro de 2011
E esta, hein? notícias do telejornal de 30 de outubro de 2011
Ocorre-me o comentário de Fernando Peça, "e esta, hein?"
Primeiro , a notícia de que o G20, a reunir em Cannes, terra também de cinema, vai estudar medidas de limitação da influência dos bancos para evitar falências de bancos que tenham de ser pagas pelos contribuintes. Quem diria? será que os políticos, tão acusados de serem os mandados do poder financeiro, tentam explicar aos mandantes que a ganância tem de ser moderada sob pena de extinguir a fonte de rendimentos? Como a dialética é exuberante...
Depois, vem a notícia de que os presidentes do Conselho e da Comissão europeus enviaram uma carta ao G20 a pedir apoio económico para a saída da crise da Europa, para relançamento do crescimento e do emprego.
Que extraordinário, também , especialmente depois de, em campanhas eleitorais apaixonadas, os vencedores terem garantido que a culpa era dos assalariados gregos e portugueses, e dos governos que tinham aumentado as despesas públicas.
Afinal havia outra, como diz a canção, havia outra razão.
Talvez por isso o senhor primeiro ministro português anda tão pessimista quanto à necessidade de mais medidas de austeridade.
Os bancos europeus descontrolaram-se com a política de empréstimos e foram os trabalhadores por conta de outrem os responsáveis, por isso a pagarão.
Talvez rever os fatores do PIB; avaliar a sua contribuição para o PIB e selecionar os que realmente interessam. Poderemos não ter crescimento, mas apenas o PIB que interessa ao bem estar essencial das populações.
A alternativa é andarmos sempre com as ilusões do crescimento, como a imagem do horizonte que é a linha que se afasta de nós à medida que nos aproximamos dela (duvido que seja possível uma política de emprego com a política monetária seguida pela UE até agora), à espera da retoma da acumulação de capital, e da próxima crise.
Aguardemos a reunião do G20.
Primeiro , a notícia de que o G20, a reunir em Cannes, terra também de cinema, vai estudar medidas de limitação da influência dos bancos para evitar falências de bancos que tenham de ser pagas pelos contribuintes. Quem diria? será que os políticos, tão acusados de serem os mandados do poder financeiro, tentam explicar aos mandantes que a ganância tem de ser moderada sob pena de extinguir a fonte de rendimentos? Como a dialética é exuberante...
Depois, vem a notícia de que os presidentes do Conselho e da Comissão europeus enviaram uma carta ao G20 a pedir apoio económico para a saída da crise da Europa, para relançamento do crescimento e do emprego.
Que extraordinário, também , especialmente depois de, em campanhas eleitorais apaixonadas, os vencedores terem garantido que a culpa era dos assalariados gregos e portugueses, e dos governos que tinham aumentado as despesas públicas.
Afinal havia outra, como diz a canção, havia outra razão.
Talvez por isso o senhor primeiro ministro português anda tão pessimista quanto à necessidade de mais medidas de austeridade.
Os bancos europeus descontrolaram-se com a política de empréstimos e foram os trabalhadores por conta de outrem os responsáveis, por isso a pagarão.
Talvez rever os fatores do PIB; avaliar a sua contribuição para o PIB e selecionar os que realmente interessam. Poderemos não ter crescimento, mas apenas o PIB que interessa ao bem estar essencial das populações.
A alternativa é andarmos sempre com as ilusões do crescimento, como a imagem do horizonte que é a linha que se afasta de nós à medida que nos aproximamos dela (duvido que seja possível uma política de emprego com a política monetária seguida pela UE até agora), à espera da retoma da acumulação de capital, e da próxima crise.
Aguardemos a reunião do G20.
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Formas de falar dos senhores políticos neste fim de outubro de 2011
Há tempos este blogue dedicou-se à semiótica aplicada aos gestos (sinais) do senhor ministro Vitor Gaspar.
A semiótica pode ter aplicações até na criminologia, na avaliação do grau de verdade do que um suspeito diz, mas não era o caso.
Como não é agora o caso a observação de algumas formas de falar de senhores ministros e do senhor presidente da Republica. Já aqui tambem tinha sido comentada a forma desabrida como o senhor ministro da economia fala ("isso tem de acabar"), mesmo nos casos em que lhe dou razão , ou pelo menos, alguma. Mas tambem não é agora o caso.
Vejamos então:
1 - "o diabo às vezes está nos detalhes", presidente da Republica, a propósito dos detalhes técnicos das decisões do Conselho Europeu . É um dito interessante, possivelmente regionalista. Na minha região diz-se mais "o esfolar do rabo é que é dificil", mas concordo. O meu problema não é esta forma de falar. O meu problema é parecer-me de uma grande ingenuidade o que também disse na conferencia ibero-americana: que os mercados andam a funcionar com "falta de transparencia" e "insuficiencia de regulação". É que tambem estou de acordo, mas falta de transparencia e insuficiencia de regulação é o que acontece quando se deixam os mercados funcionar, que é o que postula a cartilha liberal que orienta a posição ideológica do senhor presidente da Republica e do senhor primeiro ministro. Quanto à transparencia, este blogue já propôs uma coisa muito concreta (ver "Justiça Fiscal", de Saldanha Sanches, ed. Fundação Manuel dos Santos) : levantamento imediato do sigilo bancário. Quanto à regulação, estamos de acordo, mas penso que a regulação em que estou a pensar não é a mesma regulação em que o senhor presidente pensou. Enfim, esperar que o setor privado melhore, quando tem uma divida maior do que o setor público, parece-me que não há mercado que consiga, por mais transparente e regulado que esteja, mas enfim, eu sou um ignorante em economia.
2 - "a diplomacia deve ser a vanguarda das exportações, da internacionalização das PME e da captação de investimento estrangeiro", Paulo Portas. Estou de acordo, sinceramente o digo, e se Paulo Portas diz isso e eu também, tão afastado que estamos no pensamento, é porque é verdade. Difícil compatibilizar com a cartilha neo-liberal da escola de Chicago tão defendida pelo governo, não é? Mas deixe-me fazer-lhe um alerta: é que vanguarda tem conotações leninistas, embora seja legítimo desenvolver o princípio, em certas condições em que os mercados funcionam sem transparencia, desregulados e com algumas crises de inibição e falta de flexibilidade; porém, o objetivo deve ser o das atividades serem fruto de trabalho em equipa e de debate generalizado (ver "A sabedoria das multidões", de James Surowiecky, ed.Lua de Papel).
3 - "Muitos países da UE só têm 12 vencimentos", Miguel Relvas, a propósito da supressão dos 13º e 14º vencimentos. Acho que os meus cabelos brancos me autorizam a supor que houve aqui uma imprudencia adolescente do senhor ministro. Penso que não é ofensa. Ser-se adolescente é ser-se generoso, embora essa generosidade possa ser consequencia de não se atribuir valor a alguns conceitos, como o da garantia do pleno emprego e da segurança social, por exemplo. Os mecanismos cerebrais da mielinização não foram ainda executados em toda a sua plenitude, e os psiquiatras estão de acordo em que a conclusão desse processo está a fazer-se cada mais tarde nas novas gerações. Nestas condições, os adolescentes têm dificuldaed em "se pôr na pele" dos outros, por exemplo dos que não usufruem dos privilégios que eles usufruem, como os iPhones e os iPads, e por isso são insensíveis, não por maldade mas incapacidade de processamento, não racional, mas emocional, das circunstancias decorrentes das condições de vida ou da deterioração dessas condições. Mas deixemos os adolescentes e centremo-nos no que qualquer jornalista de especialidade foi correr investigar. Que o salário bruto anual médio holandês, sem 13º e sem 14º meses, é 3 vezes o salário médio português, com 13º e 14º meses. Bom, a Holanda é um misto de off-shore e in-shore, com práticas fiscais que deveriam merecer um puxão de orelhas dos burocratas de Bruxelas, mas vamos então para a Islandia, que disse que não pagava a irreponsabilidade dos bancos e por isso não pode "ir aos mercados". A comparação nas mesmas condições dá 4 vezes a favor dos islandeses (e noruegueses tambem). Estará a Irlanda mais próxima? os irlandeses tambem têm de pagar as aventuras de bancos com prejuizos 5 vezes maiores do que os do BPN; mas têm um salário bruto 3,5 vezes superior. Bom, o salário bruto português é 4 vezes superior ao da Roménia. Depois disto, terá o senhor ministro aprendido que não podem apresentar-se numeros apenas sobre uma parte do problema (sim, já sei que a produtividade é maior nesses países; a produtividade, o controle dos custos dos fatores de produção e a planificação da distribuição de rendimentos entre o setor transacionável e o não transacionável)? Terá? estuda-se na matemática e na lógica... mas sobre este assunto quero acrescentar duas pequenas observações, embora, por simplicidade, eu prefira que os 13º e 14º meses sejam integrados nos 12 vencimentos (evidentemente que, perante as comparaçoes anteriores, eliminar simplesmente iria piorar o nosso "ranking") .
3.1 - Seja uma taxa de juro de 2,4% ao ano e 0,2% por mês; se o subsidio de férias fôr de 1000 euros e só se pagar em Julho, o orçamento de estado pode contar com uma capitalização de 1000x0,002 (6+5+4+3+2+1) = 42€ ; quanto ao subsidio de Natal temos 1000x0,002 (11+10+9+8+7+6+5+4+3+2+1) = 132€ ; total capitalizado por funcionário público graças aos subsídios de férias e de Natal: 42+132 = 174€; e para 700.000 funcionários públicos: 121,8 milhões de euros; o senhor ministro disse que é disparate haver 13º e 14º meses? funciona como aforro do estado e garantia de disponibilidade para o consumo de férias e de Natal ;
3.2 - não seria melhor uma campanha publicitária intensiva do estilo "faça férias cá dentro" e "compre o que é nosso", para limitar as férias no estrangeiro e a importação de bens para as compras do Natal, sem estes cortes antipáticos? e não seria mais correto "correr" o pessoal todo a certificados de aforro, mesmo com um prazo de carência de 5 anos e a juros ainda mais baixos em lugar de corte simples? seria uma parceria publico-privada democratizada; não acha imprudente provocar um corte tão brusco? as leis da Física explicam que variações de estado bruscas induzem forças de readaptação de grande amplitude... enfim, vamos ver como evoluem as coisas, mas por favor não venha com a desculpa de que a troica não apreendeu bem nas primeiuras negociações a dimensão da dívida das empresas públicas, que há muitos anos que um pequeno grupo de funcionários das empresas públicas vem protestando que não está certo recair nas empresas públicas o serviço da dívida dos investimentos nas grandes infra-estruturas... é que já era coisa sabida há muito...
4 - "a subida do salário mínimo para 600 euros, como pretendem os comunistas (aqui ficaria melhor o PCP, ou então "como pretendem comunistas", porque pode haver comunistas que não se identificam com o PCP, ou comunistas que trocariam a subida do salário mínimo por outras medidas, como o levantamento do sigilo bancário e uma efetiva equidade fiscal, ou comunistas que não se identificam com as práticas de outros comunistas em outras coordenadas de espaço ou de tempo) seria demagógico e condenar a economia portuguesa ao que aconteceu a seguir ao 25 de Abril, com aumento de salários e o maior recuo das exportações dos ultimos anos", Alvaro Santos Pereira. Outra vez o senhor ministro da economia. Mais uma vez, só uma parte da verdade iluminada pelos números. Falta a outra parte. O senhor ministro gosta de focar a grandiosidade de uma parte da realidade. Gosta por exemplo de dizer que a produtividade por habitante teve um recuo muito grande logo a seguir ao 25 de Abril. Pois teve mas quando fala disso não diz que o país teve na altura o regresso de 500.000 cidadãos e cidadãs (acréscimo de 5% no denominador da produtividade por habitante) e que o relatório dos economistas do MIT de novembro de 1975 foi positivo; diz que o modelo foi de crescimento antes do 25 de Abril mas não diz que houve um afluxo de capitais durante e após a segunda guerra mundial e como sua consequencia; diz que as exportações recuaram a seguir ao 25 de Abril mas não diz que se vivia na altura as consequências da crise do petróleo de 1973, em que muitas empresas, especialmente inglesas, praticaram um boicote vergonhoso a Portugal (ver exemplos em próximo texto sobre experiência disto no metropolitano de Lisboa, quanto a boicote ao fornecimento de peças sobresselentes), e em que a fuga de capitais para o estrangeiro alarmou os economistas no ultimo trimestre de1973; efetivamente, houve uma translação da linha separadora da distribuição de rendimentos do capital e do trabalho no sentido do trabalho, mas isso foi porque ela estava muito chegada à direita, ao lado do capital. Salvo melhor opinião, são afirmações perigosas por ocultarem parte relevante da realidade e assim estimular a ilusão dos eleitores; salvo melhor opinião, claro, na parte do perigo das afirmações e na parte da ilusão, claro, claro.
A semiótica pode ter aplicações até na criminologia, na avaliação do grau de verdade do que um suspeito diz, mas não era o caso.
Como não é agora o caso a observação de algumas formas de falar de senhores ministros e do senhor presidente da Republica. Já aqui tambem tinha sido comentada a forma desabrida como o senhor ministro da economia fala ("isso tem de acabar"), mesmo nos casos em que lhe dou razão , ou pelo menos, alguma. Mas tambem não é agora o caso.
Vejamos então:
1 - "o diabo às vezes está nos detalhes", presidente da Republica, a propósito dos detalhes técnicos das decisões do Conselho Europeu . É um dito interessante, possivelmente regionalista. Na minha região diz-se mais "o esfolar do rabo é que é dificil", mas concordo. O meu problema não é esta forma de falar. O meu problema é parecer-me de uma grande ingenuidade o que também disse na conferencia ibero-americana: que os mercados andam a funcionar com "falta de transparencia" e "insuficiencia de regulação". É que tambem estou de acordo, mas falta de transparencia e insuficiencia de regulação é o que acontece quando se deixam os mercados funcionar, que é o que postula a cartilha liberal que orienta a posição ideológica do senhor presidente da Republica e do senhor primeiro ministro. Quanto à transparencia, este blogue já propôs uma coisa muito concreta (ver "Justiça Fiscal", de Saldanha Sanches, ed. Fundação Manuel dos Santos) : levantamento imediato do sigilo bancário. Quanto à regulação, estamos de acordo, mas penso que a regulação em que estou a pensar não é a mesma regulação em que o senhor presidente pensou. Enfim, esperar que o setor privado melhore, quando tem uma divida maior do que o setor público, parece-me que não há mercado que consiga, por mais transparente e regulado que esteja, mas enfim, eu sou um ignorante em economia.
2 - "a diplomacia deve ser a vanguarda das exportações, da internacionalização das PME e da captação de investimento estrangeiro", Paulo Portas. Estou de acordo, sinceramente o digo, e se Paulo Portas diz isso e eu também, tão afastado que estamos no pensamento, é porque é verdade. Difícil compatibilizar com a cartilha neo-liberal da escola de Chicago tão defendida pelo governo, não é? Mas deixe-me fazer-lhe um alerta: é que vanguarda tem conotações leninistas, embora seja legítimo desenvolver o princípio, em certas condições em que os mercados funcionam sem transparencia, desregulados e com algumas crises de inibição e falta de flexibilidade; porém, o objetivo deve ser o das atividades serem fruto de trabalho em equipa e de debate generalizado (ver "A sabedoria das multidões", de James Surowiecky, ed.Lua de Papel).
3 - "Muitos países da UE só têm 12 vencimentos", Miguel Relvas, a propósito da supressão dos 13º e 14º vencimentos. Acho que os meus cabelos brancos me autorizam a supor que houve aqui uma imprudencia adolescente do senhor ministro. Penso que não é ofensa. Ser-se adolescente é ser-se generoso, embora essa generosidade possa ser consequencia de não se atribuir valor a alguns conceitos, como o da garantia do pleno emprego e da segurança social, por exemplo. Os mecanismos cerebrais da mielinização não foram ainda executados em toda a sua plenitude, e os psiquiatras estão de acordo em que a conclusão desse processo está a fazer-se cada mais tarde nas novas gerações. Nestas condições, os adolescentes têm dificuldaed em "se pôr na pele" dos outros, por exemplo dos que não usufruem dos privilégios que eles usufruem, como os iPhones e os iPads, e por isso são insensíveis, não por maldade mas incapacidade de processamento, não racional, mas emocional, das circunstancias decorrentes das condições de vida ou da deterioração dessas condições. Mas deixemos os adolescentes e centremo-nos no que qualquer jornalista de especialidade foi correr investigar. Que o salário bruto anual médio holandês, sem 13º e sem 14º meses, é 3 vezes o salário médio português, com 13º e 14º meses. Bom, a Holanda é um misto de off-shore e in-shore, com práticas fiscais que deveriam merecer um puxão de orelhas dos burocratas de Bruxelas, mas vamos então para a Islandia, que disse que não pagava a irreponsabilidade dos bancos e por isso não pode "ir aos mercados". A comparação nas mesmas condições dá 4 vezes a favor dos islandeses (e noruegueses tambem). Estará a Irlanda mais próxima? os irlandeses tambem têm de pagar as aventuras de bancos com prejuizos 5 vezes maiores do que os do BPN; mas têm um salário bruto 3,5 vezes superior. Bom, o salário bruto português é 4 vezes superior ao da Roménia. Depois disto, terá o senhor ministro aprendido que não podem apresentar-se numeros apenas sobre uma parte do problema (sim, já sei que a produtividade é maior nesses países; a produtividade, o controle dos custos dos fatores de produção e a planificação da distribuição de rendimentos entre o setor transacionável e o não transacionável)? Terá? estuda-se na matemática e na lógica... mas sobre este assunto quero acrescentar duas pequenas observações, embora, por simplicidade, eu prefira que os 13º e 14º meses sejam integrados nos 12 vencimentos (evidentemente que, perante as comparaçoes anteriores, eliminar simplesmente iria piorar o nosso "ranking") .
3.1 - Seja uma taxa de juro de 2,4% ao ano e 0,2% por mês; se o subsidio de férias fôr de 1000 euros e só se pagar em Julho, o orçamento de estado pode contar com uma capitalização de 1000x0,002 (6+5+4+3+2+1) = 42€ ; quanto ao subsidio de Natal temos 1000x0,002 (11+10+9+8+7+6+5+4+3+2+1) = 132€ ; total capitalizado por funcionário público graças aos subsídios de férias e de Natal: 42+132 = 174€; e para 700.000 funcionários públicos: 121,8 milhões de euros; o senhor ministro disse que é disparate haver 13º e 14º meses? funciona como aforro do estado e garantia de disponibilidade para o consumo de férias e de Natal ;
3.2 - não seria melhor uma campanha publicitária intensiva do estilo "faça férias cá dentro" e "compre o que é nosso", para limitar as férias no estrangeiro e a importação de bens para as compras do Natal, sem estes cortes antipáticos? e não seria mais correto "correr" o pessoal todo a certificados de aforro, mesmo com um prazo de carência de 5 anos e a juros ainda mais baixos em lugar de corte simples? seria uma parceria publico-privada democratizada; não acha imprudente provocar um corte tão brusco? as leis da Física explicam que variações de estado bruscas induzem forças de readaptação de grande amplitude... enfim, vamos ver como evoluem as coisas, mas por favor não venha com a desculpa de que a troica não apreendeu bem nas primeiuras negociações a dimensão da dívida das empresas públicas, que há muitos anos que um pequeno grupo de funcionários das empresas públicas vem protestando que não está certo recair nas empresas públicas o serviço da dívida dos investimentos nas grandes infra-estruturas... é que já era coisa sabida há muito...
4 - "a subida do salário mínimo para 600 euros, como pretendem os comunistas (aqui ficaria melhor o PCP, ou então "como pretendem comunistas", porque pode haver comunistas que não se identificam com o PCP, ou comunistas que trocariam a subida do salário mínimo por outras medidas, como o levantamento do sigilo bancário e uma efetiva equidade fiscal, ou comunistas que não se identificam com as práticas de outros comunistas em outras coordenadas de espaço ou de tempo) seria demagógico e condenar a economia portuguesa ao que aconteceu a seguir ao 25 de Abril, com aumento de salários e o maior recuo das exportações dos ultimos anos", Alvaro Santos Pereira. Outra vez o senhor ministro da economia. Mais uma vez, só uma parte da verdade iluminada pelos números. Falta a outra parte. O senhor ministro gosta de focar a grandiosidade de uma parte da realidade. Gosta por exemplo de dizer que a produtividade por habitante teve um recuo muito grande logo a seguir ao 25 de Abril. Pois teve mas quando fala disso não diz que o país teve na altura o regresso de 500.000 cidadãos e cidadãs (acréscimo de 5% no denominador da produtividade por habitante) e que o relatório dos economistas do MIT de novembro de 1975 foi positivo; diz que o modelo foi de crescimento antes do 25 de Abril mas não diz que houve um afluxo de capitais durante e após a segunda guerra mundial e como sua consequencia; diz que as exportações recuaram a seguir ao 25 de Abril mas não diz que se vivia na altura as consequências da crise do petróleo de 1973, em que muitas empresas, especialmente inglesas, praticaram um boicote vergonhoso a Portugal (ver exemplos em próximo texto sobre experiência disto no metropolitano de Lisboa, quanto a boicote ao fornecimento de peças sobresselentes), e em que a fuga de capitais para o estrangeiro alarmou os economistas no ultimo trimestre de1973; efetivamente, houve uma translação da linha separadora da distribuição de rendimentos do capital e do trabalho no sentido do trabalho, mas isso foi porque ela estava muito chegada à direita, ao lado do capital. Salvo melhor opinião, são afirmações perigosas por ocultarem parte relevante da realidade e assim estimular a ilusão dos eleitores; salvo melhor opinião, claro, na parte do perigo das afirmações e na parte da ilusão, claro, claro.
Economicómio LXXIII - Venho de outro tempo
Venho de outro tempo.
No tempo em que a licenciatura de engenharia eletrotécnica no IST tinha seis anos, era costume, nas férias da Páscoa do 5º ano, o curso percorrer os principais aproveitamentos hidro-elétricos do país.
Tratava-se de um tema que interessava tanto os colegas da especialidade de correntes fortes, por mostrar como se podia atacar o problema da produção de energia elétrica a partir de fontes renováveis, num país sem petróleo nem gás natural e com pouco carvão, mas também os colegas de correntes fracas, numa altura em que a eletrónica de comando e as telecomunicações começavam a tomar conta dos processos de produção das centrais.
Era a chamada viagem de estudo que precedia, no 6º ano, a viagem por várias empresas europeias que, aliás, a subsidiavam.
Eram atividades complementares do curso, que culminavam com um estágio de 3 meses, ou 3 meses distribuídos por uma, duas ou três empresas, durante as férias de verão, em Portugal ou no estrangeiro.
A esta distancia, muito antes da moda do Erasmus, era como os jovens privilegiados com acesso ao ensino superior, tentavam entender o mundo exterior ao seu mundo protegido.
Digo que era outro tempo, e que os jovens eram privilegiados, sendo raros os colegas de famílias de baixos rendimentos, porque nessa altura existiam no país pouco mais de 30.000 licenciados com cursos superiores.
Fiquei de olhos na cental de Picote e na estalagem de apoio, de que já falei a propósito do filme “Ruínas”, e por isso foi na central do Picote que passei o mês de Setembro de 1968, ano dos jogos olímpicos do México e do “Zip-zip”.
Lembrei-me disto porque a EDP anunciou, ufana, a entrada em serviço do reforço de potencia da central do Picote e porque, já não recordo onde, vi que um grupo de artistas se dedicou à exploração dos espaços das centrais, uma delas a do Picote, para realizar exposições e livros de fotografia.
Na verdade, o espaço dos alternadores e das turbinas é uma catedral impressionante e cheia de interesse estético.
Saber que ali está o trabalho de muitos e a capacidade intelectual de produzir energia útil dá vontade de confiar na espécie humana.
Mas era outro tempo, o meu.
As centrais do Douro internacional estavam guarnecidas, tinham o seu chefe (engenheiros técnicos), estavam agrupadas de modo a terem o chefe do escalão acima (engenheiro licenciado), as suas equipas de manutenção afetas ao grupo, com os seus técnicos de eletricidade e de telecomunicações.
Os díodos eram de selénio (cuidado que os vapores do óxido eram tóxicos), os reguladores dos alternadores eram construídos na base de amplificadores magnéticos, não havia computadores, cada central tinha uma sala de comando com muitos, muitos mostradores, mas sem monitores nem ratos.
Hoje as centrais estão abandonadas porque são completamente telecomandadas, no sentido das ordens de operação dos aparelhis de corte e dos alternadores e turbinas, quer no sentido das indicações de monitorização dos parâmetros e alarme.
Foi bom ter-se evoluído assim.
Ao longo da minha vida profissional fui sempre perdendo a aura do engenheiro que, ao princípio, sabia de tudo e a quem perguntavam o que devia fazer-se, para depois ficar para trás ultrapassado pela informática industrial.
Mas julgo que fiz o possível para beneficiar do progresso e, passe a imodéstia, para me ir atualizando um pouco.
Assisti por exemplo, à petulância e à auto-suficiência de representantes de fabricantes que apresentavam os seus equipamentos informáticos de controle de processos capazes de tudo resolver, mas construídos sobre processadores de baixa capacidade, desde o microprocessador 4040 ao HP1000, felizmente rapidamente substituídos pelos próprios fabricantes pelo 8085 e pelo HP9000.
Tive, pelo contrario, a sorte de acompanhar a evolução tecnológica que permitiu ao metropolitano de Lisboa instalar inovações tecnlógicas como centrais telefónicas de comutação temporal, “interlockings” de estado sólido (encravamentos de software de sinalização ferroviária) e um sistema de proteção e condução automática (que infelizmente foi desativado por uns colegas mais preocupados com a fatura da manutenção do que com os benefícios dos sistemas que ela mantinha).
Por isso tenho pena quando assisto à ideia primária dos decisores, que seguramente não tiveram experiencia ferroviária, de reduzir custos a todo o preço, sacrificando os quadros de pessoal, sem atender ao que dizem os mais velhos, os que vieram de outro tempo, e sem atender à contabilização dos benefícios do serviço público (como por exemplo a comodidade de ter um transporte para o bairro depois do teatro ou da ópera na Baixa ou do fecho do centro comercial).
Gostaria eu que esses decisores se sentassem à mesa com os interlocutores, e definissem planos de transição para não gerar os prejuízos que qualquer mudança brusca, conforme explicam as leis da Física, induz.
Como eu preferiria que os senhores que vão avisando a opinião pública para a possibilidade de despedimentos na função pública apresentassem antes um plano de emprego… mesmo que os vencimentos baixassem, desde que a diminuição dos rendimentos fosse feita na mesma proporção para todos os portugueses (não é inveja de quem ganha mais, é tentar explicar que há uma correlação entre criminalidade e desigualdade de rendimentos, estuda-se em sociologia).
Mas isso não se consegue deixando os mercados funcionar, ainda por cima sem regulação, como reconhece o senhor presidente da República.
Acho que vou estar de acordo com o senhor ministro da economia.
É preciso mudar de modelo económico, este que ele propõe e o senhor presidente também, não parece que vá servir à maioria da população.
Pelo menos é o que me parece, a mim que venho de um tempo em que e escola de Chicago, estrenuemente defendida pelo senhor ministro da economia, ainda não tinha vingado, ainda não tinha feito as suas primeiras experiencias na prática, no Chile, depois do golpe contra Allende, ainda não tinha permitido a Reagan e a Tatcher, no tempo do petróleo abundante e barato, iludir as populações, nem ainda tinha gerado o monstro das especulações financeiras, empréstimos e seguros de crédito sem sustentação e que depois se instalou nos próprios governos.
A economia não acompanhou o desenvolvimento tecnológico (não me refiro aos gadgets acessórios, evidentemente, refiro-me ao que é essencial para o bem estar das pessoas), pretende apenas servir-se dele para reduzir custos de produção, sem cuidar do valor e dos benefícios de cada um dos fatores de custo da produção.
Precisa de evoluir, a economia, salvo melhor opinião.
sábado, 29 de outubro de 2011
Economicómio LXXII - o setor produtivo na entrevista de João Cesar das Neves
Primeiro fiquei admirado quando na entrevista do senhor economista João Cesar das Neves, na televisão, ele afirmou que se compreende a exceção do corte dos subsídios de férias e de Natal aos pensionistas dos bancos e da PT, por serem exemplo do setor produtivo e por os seus fudos de pensões terme sido transferidos para ajudar as contas do défice.
Admirei-me porque os bancos se enquadram no setor terciário de serviços; de bens não transacionáveis, e portanto ocupando espaço na estrutura de rendimentos que deveria estar afeta ao setor produtivo de bens transacionáveis (suscetíveis de exportação ou substituição de importações), conforme explicou outro senhor economista, Vitor Bento.
Também me admirei porque o senhor economista nada disse sobre o mau negócio que pode ser daqui a uns anos a segurança social estar a pagar as pensões mais altas do que a média, dos reformados da banca.
Mas depois pareceu-me perceber.
O senhor economista João Cesar das Neves e os gestores e economistas que dominam o atual governo são lídimos representantes em Portugal da escola de Chicago, mais conhecida como escola neo-liberal. Pessoalmente, parece-me que o tea-party será uma designação correta para esta escola.
Diz o senhor economista João Cesar das Neves que o setor produtivo é o setor privado e é ele que sustenta o setor público não produtivo. Por isso o estado tem de diminui o numero de funcionários públicos.
Será dificil, a mim me parece, reduzindo o numero de funcionários publicos, que até nem é elevado quando comparado com Suécia e países nórdicos, manter o serviço nacional de saúde e o sistema educativo público com qualidade mínima aceitável. Porque os profissionais destes sistemas têm de ser qualificados. Por isso o salário médio do setor publico é superior ao do privado (excluindo os escalões dirigentes, teve o senhor primeiro ministro o cuidado de ressalvar).
Donde deduzo, o que é compativel com a teoria neo-liberal, que o que se pretende é mesmo reduzir os serviços de saúde e educativo a funções assistenciais a populações sem recursos, ampliando o setor "produtivo-privado" dedicado à saúde e à educação.
Parece-me que chamar setor não produtivo ao setor público é ofensivo para quem lá trabalha. Então a educção de um cidadão não é um fator de produção quando o cidadão necessita de formação para produzir o que produz? Ou a empresa de transporte que põe o funcionário do setor transacionável no local de trabalho não está a participar na estrutura de produção do bem transacionável?
Mas não vale a pena discutir.
Não vão mudar de opinião.
Vão continuar a dizer que o bom estado é o estado morto, perdão, mínimo (curioso , a teoria marxista dizia o mesmo, apenas impondo como condição prévia a supressão do primado do lucro, que, como se sabe, conduz a ganancia e à exploração do homem pelo homem).
Mas como sou teimoso, não resisto a apresentar um argumento, com base nos dados da Pordata relativos aos rendimentos médios das empresas portuguesas e IRC:
- em 2005 o rendimento das empresas foi de cerca de 32.000 milhões de euros;
- subiu para 42.300 milhões de euros em 2007;
- em 2008, ano da falencia do Lehman, baixou para cerca de 30.000 milhões de euros;
- para se manter em 2009 em valor próximo.
Isto é, a escola neo-liberal está à espera de que o setor privado, que vem perdendo lucros desde 2007 e tem uma dívida superior à dívida pública, sustente o setor público?
Na verdade, só reduzindo a valores simbólicos o setor público.
Isso, ou fazendo como John Steinbeck, que nada tinha de esquerdista, explicava nas Vinhas da ira, em plena recessão de 1929, pondo na boca do heroi que viria a ser representado por Henry Fonda, agradecido por ter encontrado trabalho (produtivo) a pergunta: "Mas então, porque não tem o estado mais quintas como esta?"
Mas certamente que João César das Neves não gostou do livro, nem do filme.
PS - João César das Neves, na sua crónica no DN de hoje, 31 de outubro de 2011, utiliza uma linguagem mais correta ao referir-se aos funcionários públicos, reconhecendo que no funcionalismo público existem profissionais do melhor, a par de oportunistas. Debatem-se melhor as ideias quando se utiliza linguagem correta, e é mais fácil chegar a plataformas de acordo, mesmo mantendo as divergencias de opinião. Por exemplo, discordo que os "bons" funcionários tenham tanta culpa por contemporizarem com os "maus" governantes, pronto, e acho que 700.000 numa população de 10.000.000 não é assim tanto como isso (J.C.N reconhece que desde 2005 o numero tem vindo a diminuir) mas fico contente por o tom da linguagem ter mudado.
Admirei-me porque os bancos se enquadram no setor terciário de serviços; de bens não transacionáveis, e portanto ocupando espaço na estrutura de rendimentos que deveria estar afeta ao setor produtivo de bens transacionáveis (suscetíveis de exportação ou substituição de importações), conforme explicou outro senhor economista, Vitor Bento.
Também me admirei porque o senhor economista nada disse sobre o mau negócio que pode ser daqui a uns anos a segurança social estar a pagar as pensões mais altas do que a média, dos reformados da banca.
Mas depois pareceu-me perceber.
O senhor economista João Cesar das Neves e os gestores e economistas que dominam o atual governo são lídimos representantes em Portugal da escola de Chicago, mais conhecida como escola neo-liberal. Pessoalmente, parece-me que o tea-party será uma designação correta para esta escola.
Diz o senhor economista João Cesar das Neves que o setor produtivo é o setor privado e é ele que sustenta o setor público não produtivo. Por isso o estado tem de diminui o numero de funcionários públicos.
Será dificil, a mim me parece, reduzindo o numero de funcionários publicos, que até nem é elevado quando comparado com Suécia e países nórdicos, manter o serviço nacional de saúde e o sistema educativo público com qualidade mínima aceitável. Porque os profissionais destes sistemas têm de ser qualificados. Por isso o salário médio do setor publico é superior ao do privado (excluindo os escalões dirigentes, teve o senhor primeiro ministro o cuidado de ressalvar).
Donde deduzo, o que é compativel com a teoria neo-liberal, que o que se pretende é mesmo reduzir os serviços de saúde e educativo a funções assistenciais a populações sem recursos, ampliando o setor "produtivo-privado" dedicado à saúde e à educação.
Parece-me que chamar setor não produtivo ao setor público é ofensivo para quem lá trabalha. Então a educção de um cidadão não é um fator de produção quando o cidadão necessita de formação para produzir o que produz? Ou a empresa de transporte que põe o funcionário do setor transacionável no local de trabalho não está a participar na estrutura de produção do bem transacionável?
Mas não vale a pena discutir.
Não vão mudar de opinião.
Vão continuar a dizer que o bom estado é o estado morto, perdão, mínimo (curioso , a teoria marxista dizia o mesmo, apenas impondo como condição prévia a supressão do primado do lucro, que, como se sabe, conduz a ganancia e à exploração do homem pelo homem).
Mas como sou teimoso, não resisto a apresentar um argumento, com base nos dados da Pordata relativos aos rendimentos médios das empresas portuguesas e IRC:
- em 2005 o rendimento das empresas foi de cerca de 32.000 milhões de euros;
- subiu para 42.300 milhões de euros em 2007;
- em 2008, ano da falencia do Lehman, baixou para cerca de 30.000 milhões de euros;
- para se manter em 2009 em valor próximo.
Isto é, a escola neo-liberal está à espera de que o setor privado, que vem perdendo lucros desde 2007 e tem uma dívida superior à dívida pública, sustente o setor público?
Na verdade, só reduzindo a valores simbólicos o setor público.
Isso, ou fazendo como John Steinbeck, que nada tinha de esquerdista, explicava nas Vinhas da ira, em plena recessão de 1929, pondo na boca do heroi que viria a ser representado por Henry Fonda, agradecido por ter encontrado trabalho (produtivo) a pergunta: "Mas então, porque não tem o estado mais quintas como esta?"
Mas certamente que João César das Neves não gostou do livro, nem do filme.
PS - João César das Neves, na sua crónica no DN de hoje, 31 de outubro de 2011, utiliza uma linguagem mais correta ao referir-se aos funcionários públicos, reconhecendo que no funcionalismo público existem profissionais do melhor, a par de oportunistas. Debatem-se melhor as ideias quando se utiliza linguagem correta, e é mais fácil chegar a plataformas de acordo, mesmo mantendo as divergencias de opinião. Por exemplo, discordo que os "bons" funcionários tenham tanta culpa por contemporizarem com os "maus" governantes, pronto, e acho que 700.000 numa população de 10.000.000 não é assim tanto como isso (J.C.N reconhece que desde 2005 o numero tem vindo a diminuir) mas fico contente por o tom da linguagem ter mudado.
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setor publico e setor privado
A novela do PET aos 28 dias de outubro de 2011
Continua a novela do PET, com mais uma visita do senhor ministro da economia e transportes ao Parlamento.
Interessam-me hoje, dessa visita, aspetos menos técnicos.
Gostaria de comentar a linguagem do senhor ministro.
Há dias, a propósito dos dias de férias dos trabalhadores das empresas públicas de transportes, fez uma cara zangada e disse "isso tem de acabar".
Já concordei que a diminuição dos dias de férias é um caso a considerar, em muitos anos me sobraram dias de férias que não gozei, senti-me mal quando o meu colega do metro de New York me disse que tinha 12 dias uteis de férias por ano.
Só que a redução deverá ser devidamente integrada na análise de todos os setores, de modo a não haver exceções na distribuição dos sacrifícios.
Contanto que não haja exceções, evidentemente.
Mas o que me choca é a linguagem utilizada pelo senhor ministro: "isso tem de acabar".
É olímpico, imperativo e fatal.
No dia 28 de outubro a expressão utilizada pelo senhor ministro, a propósito do excesso de tarifas e de títulos de transporte na região de Lisboa, foi: "é de uma irracionalidade inqualificável a existência de 500 títulos de transporte".
Concordo que há demasiados títulos. Sempre defendi que o metropolitano só deveria ter um bilhete, sem coroas, e um passe intermodais.
Já em 1978 pensava assim e uniformizámos a largura dos bilhetes, para poderem servir nos obliteradores do metro e da Carris (na altura ainda não havia "chips", apenas bandas magnéticas cujas tecnologias não foram adotadas por razões económicas; já na altura se pensava em economizar).
Porém, a mentalidade de compartimentação estanque e de quintais privados impediu a integração dos modos de transporte em Lisboa (embora a tecnologia dos cartões "contactless" tenha permitido, tal como no Porto, alguns progressos para os cidadãos e cidadãs).
Mas lá por não concordar não chamo irracionais inqualificáveis às soluções que os colegas escolheram.
Acho que o senhor ministro devia usar uma linguagem mais urbana.
E que não devia aplicar a técnica do papão para fundamentar as propostas de despedimento de uns para garantir a manutenção do emprego de outros.
Dizer que, ou se despedem alguns ou terão de se fechar as empresas e todos são despedidos,é tal forma grave que simultaneamente deveriam ser apresentados os cálculos que fundamentem tal afirmação.
Até porque o próprio senhor ministro apresenta hipóteses de soluções, como a afetação de parte do IMI, beneficiando do seu aumento, para financiamento dos transportes coletivos.
Aqui não critico a linguagem, critico o ar de descobridor da pólvora. O secretário de estado dos transportes
do governo anterior propôs a afetação aos transportes públicos de parte do imposto sobre os combustíveis rodoviários.
Há anos que o metro de Lisboa propôs em vão a solução do metro de Hong Kong, em que o governo atribui ao metro não só a concessão da construção e exploração da nova linha, mas também as mais valias resultantes para as urbanizações que a nova linha vai servir . Ver neste blogue, anteriormente à apresentação do PET:
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2011/10/sugestoes-4-para-o-plano-estrategico-de.html
O mais perto que se conseguiu foi um mau contrato para o estado feito com o promotor de uma urbanização à volta da estação de Amadora Este, que acabou por não vingar.
O que não era nenhuma inovação: a construção da ponte sobre o Tejo em 1966 beneficiou de receitas obtidas com a emissão de licenças de construção dos edificios na margem sul servidos pela nova ponte. E o mesmo se passou com a ponte Vasco da Gama.
Sinceros aplausos, se levar a medida para a frente (já que não é possível evitar o sacrifício do aumento do IMI), mas não fale o senhor ministro como se estivesse a estudar uma inovação, até porque, se garantir o emprego de todos, estará a fazer aquilo que os ministros da economia devem fazer, pese embora os teóricos das doutrinas económicas mais na moda defenderem que o mais importante é conter a inflação através do crescimento do desemprego quando a taxa de acumulação de capital desacelera.
Aguardemos os próximos episódios.
Interessam-me hoje, dessa visita, aspetos menos técnicos.
Gostaria de comentar a linguagem do senhor ministro.
Há dias, a propósito dos dias de férias dos trabalhadores das empresas públicas de transportes, fez uma cara zangada e disse "isso tem de acabar".
Já concordei que a diminuição dos dias de férias é um caso a considerar, em muitos anos me sobraram dias de férias que não gozei, senti-me mal quando o meu colega do metro de New York me disse que tinha 12 dias uteis de férias por ano.
Só que a redução deverá ser devidamente integrada na análise de todos os setores, de modo a não haver exceções na distribuição dos sacrifícios.
Contanto que não haja exceções, evidentemente.
Mas o que me choca é a linguagem utilizada pelo senhor ministro: "isso tem de acabar".
É olímpico, imperativo e fatal.
No dia 28 de outubro a expressão utilizada pelo senhor ministro, a propósito do excesso de tarifas e de títulos de transporte na região de Lisboa, foi: "é de uma irracionalidade inqualificável a existência de 500 títulos de transporte".
Concordo que há demasiados títulos. Sempre defendi que o metropolitano só deveria ter um bilhete, sem coroas, e um passe intermodais.
Já em 1978 pensava assim e uniformizámos a largura dos bilhetes, para poderem servir nos obliteradores do metro e da Carris (na altura ainda não havia "chips", apenas bandas magnéticas cujas tecnologias não foram adotadas por razões económicas; já na altura se pensava em economizar).
Porém, a mentalidade de compartimentação estanque e de quintais privados impediu a integração dos modos de transporte em Lisboa (embora a tecnologia dos cartões "contactless" tenha permitido, tal como no Porto, alguns progressos para os cidadãos e cidadãs).
Mas lá por não concordar não chamo irracionais inqualificáveis às soluções que os colegas escolheram.
Acho que o senhor ministro devia usar uma linguagem mais urbana.
E que não devia aplicar a técnica do papão para fundamentar as propostas de despedimento de uns para garantir a manutenção do emprego de outros.
Dizer que, ou se despedem alguns ou terão de se fechar as empresas e todos são despedidos,é tal forma grave que simultaneamente deveriam ser apresentados os cálculos que fundamentem tal afirmação.
Até porque o próprio senhor ministro apresenta hipóteses de soluções, como a afetação de parte do IMI, beneficiando do seu aumento, para financiamento dos transportes coletivos.
Aqui não critico a linguagem, critico o ar de descobridor da pólvora. O secretário de estado dos transportes
do governo anterior propôs a afetação aos transportes públicos de parte do imposto sobre os combustíveis rodoviários.
Há anos que o metro de Lisboa propôs em vão a solução do metro de Hong Kong, em que o governo atribui ao metro não só a concessão da construção e exploração da nova linha, mas também as mais valias resultantes para as urbanizações que a nova linha vai servir . Ver neste blogue, anteriormente à apresentação do PET:
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2011/10/sugestoes-4-para-o-plano-estrategico-de.html
O mais perto que se conseguiu foi um mau contrato para o estado feito com o promotor de uma urbanização à volta da estação de Amadora Este, que acabou por não vingar.
O que não era nenhuma inovação: a construção da ponte sobre o Tejo em 1966 beneficiou de receitas obtidas com a emissão de licenças de construção dos edificios na margem sul servidos pela nova ponte. E o mesmo se passou com a ponte Vasco da Gama.
Sinceros aplausos, se levar a medida para a frente (já que não é possível evitar o sacrifício do aumento do IMI), mas não fale o senhor ministro como se estivesse a estudar uma inovação, até porque, se garantir o emprego de todos, estará a fazer aquilo que os ministros da economia devem fazer, pese embora os teóricos das doutrinas económicas mais na moda defenderem que o mais importante é conter a inflação através do crescimento do desemprego quando a taxa de acumulação de capital desacelera.
Aguardemos os próximos episódios.
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plano estratégico de transportes
sexta-feira, 28 de outubro de 2011
Economicómio LXXI - medidas contra a crise empobrecendo
O senhor primeiro ministro afirmou:
“…só vamos sair desta situação empobrecendo, em termos relativos e em termos absolutos, na medida em que o nosso Produto Interno Bruto (PIB) está a cair…
Mas se alguém souber de uma forma de diminuir a dívida, o défice, enriquecendo e gastando mais, digam, se fazem favor…”
Não me parece correta a formulação do convite, já que as alternativas nunca são simples e exclusivas.
Só uma análise primária ou uma mente afetada por condicionamentos limitadores, como por exemplo a de Mofina Mendes no seu monólogo do cântaro, poderia insistir numa argumentação do tipo: ou empobrecer ou reduzir a dívida enriquecendo e gastando mais.
Ainda se fosse gastando mais em investimento reprodutivo e em consequência enriquecendo, já que ninguém enriquece a trabalhar honestamente por conta de outrem (atenção, não façam interpretações primárias, eu disse a trabalhar honestamente por conta de outrem, não disse a trabalhar honestamente sem mais nada), ainda se poderia corresponder ao convite literalmente.
Pelo que, como não é o caso do senhor primeiro ministro (análise primária ou mente afetada), terá sido a vertigem de um lapsus linguae, semelhante ao pequeno lapso de lógica quando diz que não há alternativa, porque se não há alternativa qualquer politico faria o mesmo que ele, contrataria um bom contabilista e acertaria as contas.
Embora se saiba que nunca há uma solução apenas…
De modo que, apesar do convite estar formalmente enviesado, eu faço as minhas sugestões para diminuir a dívida, reconhecendo que não poderemos fugir a algum empobrecimento (redução do PIB), embora a repartição do esforço exigido possa ser mais bem distribuido do que até agora foi anunciado:
1 – pegando na perseguição implacável à evasão fiscal anunciada pelo governo, retomo a proposta de Saldanha Sanches e proponho a medida com efeitos imediatos de levantamento do sigilo bancário, para particulares e empresas; embora seja um fator de estimulo à fuga de capitais, teria efeitos de redução do défice nos tempos mais próximos;
2 – considerando que no orçamento de estado de 2012 estão 4.500 milhões de euros para garantias do BPN, que vêm juntar-se aos 1.800 milhões de 2010, valores para que não chegam os subsídios de férias e de Natal cativados (3.000 milhões de euros), proponho que se declare a impossibilidade de manter a solução pensada para o BPN, se volte atrás (se se pode voltar atrás com o contrato do TGV também se pode voltar atrás aqui, não? não pode é dizer-se que não há medidas para reduzir o défice, para mais quando a tia de Bruxelas se quer informar do negócio com o BIC angolano) e distribua-se o BPN pelos acionistas da SLN que ainda tem muitas empresas e ativos a funcionar;
3 – numa perspetiva de gastar em investimento, empobrecendo para já mas enriquecendo mais tarde (ou melhor, crescendo ou otimizando o PIB), seguir as 25 medidas do livro de Luís Monteiro:
e as 22 medidas dos economistas aterrorizados (taxa das transações financeiras, mudança de politica do BCE, politicas de emprego, imposto progressivo, etc, etc.):
4 – auditoria ao destino dos empréstimos recebidos da troica com determinação da distribuição por setores e avaliação da sua contribuição para a diminuição da dependência do estrangeiro (ou melhoria da balança de pagamentos)
5 – renegociação, numa primeira fase, das comissões dos empréstimos da troica, estimadas em 655 milhões de euros (numa segunda fase renegociar a taxa de juro, não por ser alta, mas por não ser para amigos, considerando que os juros do empréstimo de 78.000 milhões de euros atingem 3.000 milhões de euros).
Não diga, senhor primeiro ministro, que não há alternativas.
Diga que não concorda com elas e não as quer discutir com argumentos (digo argumentos, não digo números, porque se escondermos números, só estamos a contar meia verdade).
Não haver alternativa é como dizia a Volkswagen nos seus tempos de contenção, o cliente pode escolher a cor que quiser para o seu Volkswagen, desde que seja preto.
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medidas contra a crise
Economicómio LXX - sugestão já que é dificil melhorar a justiça em Portugal
Em texto anterior, comentei as 25 medidas propostas por Luis Monteiro para melhorra a situação económica do país:
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2010/10/economicomio-lxi-as-medidas-contra.html
A medida nº10, melhoria da justiça portuguesa, parece cada vez mais distante.
Num dia em que mais uma vez se fala do imbrólio da condenação de Isaltino de Morais, tenho uma sugestão a fazer, subordinada ao interesse público.
Arquivar o processo, mas condenando o senhor a 4 anos de serviço cívico depois de concluido o seu mandato como presidente da câmara de Oeiras, com dinheiro de bolso igual ao salário mínimo mas despesas de alimentação, alojamento e deslocações de serviço saídas do orçamento do ministério da administração interna. O serviço cívico seria o de presidente da junta metropolitana de Lisboa com poder executivo e hierárquico sobre as câmaras da região.
Na base da sugestão está que o senhor não é um génio que consegue resolver tudo. O que ele faz é pôr os técnicos a trabalhar, exigir-lhes trabalho em equipa e resultados.
Não é assim de admirar que Oeiras tenha o indice mais elevado de PIB/capita.
Daí a sugestão de o obrigar a dirigir uma área metropolitana com competências efetivas.
O quê? não há fundamento jurídico para uma coisa destas?
Não pode mesmo ser?
A estrutura digna dos melhores bonzos do tempo em que a China era estática acha que não pode ser?
Então não se admirem que a justiça em Portugal esteja como está e que a medida nº10 do livro de Luis Monteiro não avance 1 milimetro (como aliás a maior parte das outras medidas).
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2010/10/economicomio-lxi-as-medidas-contra.html
A medida nº10, melhoria da justiça portuguesa, parece cada vez mais distante.
Num dia em que mais uma vez se fala do imbrólio da condenação de Isaltino de Morais, tenho uma sugestão a fazer, subordinada ao interesse público.
Arquivar o processo, mas condenando o senhor a 4 anos de serviço cívico depois de concluido o seu mandato como presidente da câmara de Oeiras, com dinheiro de bolso igual ao salário mínimo mas despesas de alimentação, alojamento e deslocações de serviço saídas do orçamento do ministério da administração interna. O serviço cívico seria o de presidente da junta metropolitana de Lisboa com poder executivo e hierárquico sobre as câmaras da região.
Na base da sugestão está que o senhor não é um génio que consegue resolver tudo. O que ele faz é pôr os técnicos a trabalhar, exigir-lhes trabalho em equipa e resultados.
Não é assim de admirar que Oeiras tenha o indice mais elevado de PIB/capita.
Daí a sugestão de o obrigar a dirigir uma área metropolitana com competências efetivas.
O quê? não há fundamento jurídico para uma coisa destas?
Não pode mesmo ser?
A estrutura digna dos melhores bonzos do tempo em que a China era estática acha que não pode ser?
Então não se admirem que a justiça em Portugal esteja como está e que a medida nº10 do livro de Luis Monteiro não avance 1 milimetro (como aliás a maior parte das outras medidas).
Don Carlo, de Verdi, no S.Carlos, em outubro de 2011
Representou-se o Don Carlo, de Verdi, sete vezes no S.Carlos, em outubro de 2011.
Uma produção de nivel razoável, que não desmereceria em teatros de ópera internacionais e que honra quem trabalhou para a realizar.
Mas à entrada, um membro do sindicato dos músicos de cena distribuía um comunicado aos espetadores informando que os cortes decididos pelo governo levaram o orçamento a um nivel inferior aos custos fixos de funcionamento.
Quer isso dizer que não há dinheiro para novas produções, e que os espetáculos programados com a necessária antecedencia estão a ser renegociados com os intérpretes e os respetivos produtores.
O comunicado recordava ainda a definição, por lei, de serviço público no caso do teatro de ópera (e da companhia nacional de bailado) :
- acesso a grandes obras
- divulgação de obras nacionais menos presentes nos catálogos discográficos
- apoio à criação contemporanea
Serviço público esse gravemente ameaçado.
Desceu-se assim mais um degrau, depois das decisões da senhora ex-ministra da cultura, de quem o atual diretor do S.Carlos dizia ser uma senhora inspirada, e apesar da gestão dedicada, inteligente e correta das administrações.
Não deverá cair-se na crítica fácil de responsabilização dos trabalhadores e administradores pelos fracassos.
Penso que o atual governo achará que ópera é um diletantismo para elites ociosas, sem capacidade para atrair os públicos que preferem musica pop ou TV de telenovelas, concursos e reality shows.
E que por isso pode deixar cair-se.
De facto, cada récita só pode acolher 900 espetadores e cada produção ultrapassa a receita de bilheteira.
Talvez se pudesse fazer como em New York. É possivel financiar o teatro e, em troca, o nome do contribuinte aparece no programa. E não mecenas exclusivos.
Mas parece que os mecenas estão reduzindo a sua disponibilidade.
Poderia talvez fazer-se alguma receita com a venda das gravações a televisões estrangeiras e ao cana Mezzo.
Mas ignoro se isso vai poder fazer-se.
Donde, para alem de citar Eduardo Lourenço, para quem cultura é quando o homem se liberta da necessidade inadiável de prover a sua subsistencia, ocorre-me parafrasear o padre Américo. É inutil falar de cultura a quem tem o estomago ameaçado.
Embora as récitas populares de ópera no Coliseu estivessem sempre cheias, consta que a tirania do rebaixamento cultural da TV conduziu a esta situação: a ópera não entra no conceito, esse sim ainda atual, de panem et circenses para desviar a atenção dos eleitores das dificuldades quotidianas.
Nem parece que os comentadores televisivos ou os fazedores de opinião dos jornais, de papel ou da internet, sejam apreciadores de ópera.
Pelo que, dito de outro modo, a barbárie está a tomar conta do panorama operático em Portugal.
Pode ser que aconteça como na lei dos rendimentos decrescentes. Reduzindo os orçamentos estimular-se-á a criatividade dos cantores, musicos, produtores, e serão organizados festivais com patrocinadores que rentabilizem o esforço.
Mas eu não acredito.
É mais fácil aos bárbaros triunfarem e extinguirem a ópera nacional.
Embora me custe aceitar que não há mesmo dinheiro para termos um orçamento da cultura mais próximo de 1% do orçamento total (isto é, não reconheço credibilidade às pessoas que gerem o orçamento, embora isso não queira dizer que elas digam a verdade nem que a estejam a ocultar)
Quem quiser que apanhe um avião "low cost" para Madrid ou Paris e veja ópera por lá.
Ou apanhe o comboio para Madrid com as carruagens-cama de patente Talgo.
É pena que a barbárie triunfe. O maestro Martin André dirigiu a orquestra muito bem, tranquila e rigorosamente. Fez uma coisa que é raro ver-se. Aproveitou o intervalo para adaptar os trombones de varas às condições humidade e temperatura da sala. E assim a violencia castradora e sinistra do grande inquisidor encheu a sala sem falhas musicais.
É para isto que serve a ópera: para mostrar os constrangimentos limitadores nas relações humanas, como a opressão ideológica ou religiosa.
Para isso se ficcionou a realidade histórica (Don Carlo era doente psiquiátrico, de modo semelhante ao seu primo D.Sebastião) e se pôs Don Carlo a cantar pela liberdade da Flandres oprimida pela cegueira (daí a referencia pelos sindicalistas do comunicado aos cortes cegos?) do seu pai Filipe II de Espanha - viva la libertá.
E quanto ao avô de Don Carlo, o celebrado Carlos V , que se endividou até à medula com o banqueiro Fugger, sem grandes preocupações com o seu povo, Verdi e os seus libretistas trataram-no assim: "o seu orgulho foi imenso, o seu erro foi profundo"
É para isto que serve a ópera, para chamar a atenção para que quem tem o poder acha sempre que tem razão.
Orgulho imenso e erro profundo.
Não admira que deixem cair a ópera.
A ópera é subversiva, mesmo quando parece ser contemporizadora e bajuladora do poder.
Veja-se o caso de Mozart.
Políticos, desconfiem da ópera.
Alguns dos melhores artistas que a humanidade produziu dedicaram-se a ela com muito entusiasmo e humanismo.
É natural que os politicos, tão expostos ao complexo de Hubris, não gostem de ópera.
Uma produção de nivel razoável, que não desmereceria em teatros de ópera internacionais e que honra quem trabalhou para a realizar.
Mas à entrada, um membro do sindicato dos músicos de cena distribuía um comunicado aos espetadores informando que os cortes decididos pelo governo levaram o orçamento a um nivel inferior aos custos fixos de funcionamento.
Quer isso dizer que não há dinheiro para novas produções, e que os espetáculos programados com a necessária antecedencia estão a ser renegociados com os intérpretes e os respetivos produtores.
O comunicado recordava ainda a definição, por lei, de serviço público no caso do teatro de ópera (e da companhia nacional de bailado) :
- acesso a grandes obras
- divulgação de obras nacionais menos presentes nos catálogos discográficos
- apoio à criação contemporanea
Serviço público esse gravemente ameaçado.
Desceu-se assim mais um degrau, depois das decisões da senhora ex-ministra da cultura, de quem o atual diretor do S.Carlos dizia ser uma senhora inspirada, e apesar da gestão dedicada, inteligente e correta das administrações.
Não deverá cair-se na crítica fácil de responsabilização dos trabalhadores e administradores pelos fracassos.
Penso que o atual governo achará que ópera é um diletantismo para elites ociosas, sem capacidade para atrair os públicos que preferem musica pop ou TV de telenovelas, concursos e reality shows.
E que por isso pode deixar cair-se.
De facto, cada récita só pode acolher 900 espetadores e cada produção ultrapassa a receita de bilheteira.
Talvez se pudesse fazer como em New York. É possivel financiar o teatro e, em troca, o nome do contribuinte aparece no programa. E não mecenas exclusivos.
Mas parece que os mecenas estão reduzindo a sua disponibilidade.
Poderia talvez fazer-se alguma receita com a venda das gravações a televisões estrangeiras e ao cana Mezzo.
Mas ignoro se isso vai poder fazer-se.
Donde, para alem de citar Eduardo Lourenço, para quem cultura é quando o homem se liberta da necessidade inadiável de prover a sua subsistencia, ocorre-me parafrasear o padre Américo. É inutil falar de cultura a quem tem o estomago ameaçado.
Embora as récitas populares de ópera no Coliseu estivessem sempre cheias, consta que a tirania do rebaixamento cultural da TV conduziu a esta situação: a ópera não entra no conceito, esse sim ainda atual, de panem et circenses para desviar a atenção dos eleitores das dificuldades quotidianas.
Nem parece que os comentadores televisivos ou os fazedores de opinião dos jornais, de papel ou da internet, sejam apreciadores de ópera.
Pelo que, dito de outro modo, a barbárie está a tomar conta do panorama operático em Portugal.
Pode ser que aconteça como na lei dos rendimentos decrescentes. Reduzindo os orçamentos estimular-se-á a criatividade dos cantores, musicos, produtores, e serão organizados festivais com patrocinadores que rentabilizem o esforço.
Mas eu não acredito.
É mais fácil aos bárbaros triunfarem e extinguirem a ópera nacional.
Embora me custe aceitar que não há mesmo dinheiro para termos um orçamento da cultura mais próximo de 1% do orçamento total (isto é, não reconheço credibilidade às pessoas que gerem o orçamento, embora isso não queira dizer que elas digam a verdade nem que a estejam a ocultar)
Quem quiser que apanhe um avião "low cost" para Madrid ou Paris e veja ópera por lá.
Ou apanhe o comboio para Madrid com as carruagens-cama de patente Talgo.
É pena que a barbárie triunfe. O maestro Martin André dirigiu a orquestra muito bem, tranquila e rigorosamente. Fez uma coisa que é raro ver-se. Aproveitou o intervalo para adaptar os trombones de varas às condições humidade e temperatura da sala. E assim a violencia castradora e sinistra do grande inquisidor encheu a sala sem falhas musicais.
É para isto que serve a ópera: para mostrar os constrangimentos limitadores nas relações humanas, como a opressão ideológica ou religiosa.
Para isso se ficcionou a realidade histórica (Don Carlo era doente psiquiátrico, de modo semelhante ao seu primo D.Sebastião) e se pôs Don Carlo a cantar pela liberdade da Flandres oprimida pela cegueira (daí a referencia pelos sindicalistas do comunicado aos cortes cegos?) do seu pai Filipe II de Espanha - viva la libertá.
E quanto ao avô de Don Carlo, o celebrado Carlos V , que se endividou até à medula com o banqueiro Fugger, sem grandes preocupações com o seu povo, Verdi e os seus libretistas trataram-no assim: "o seu orgulho foi imenso, o seu erro foi profundo"
É para isto que serve a ópera, para chamar a atenção para que quem tem o poder acha sempre que tem razão.
Orgulho imenso e erro profundo.
Não admira que deixem cair a ópera.
A ópera é subversiva, mesmo quando parece ser contemporizadora e bajuladora do poder.
Veja-se o caso de Mozart.
Políticos, desconfiem da ópera.
Alguns dos melhores artistas que a humanidade produziu dedicaram-se a ela com muito entusiasmo e humanismo.
É natural que os politicos, tão expostos ao complexo de Hubris, não gostem de ópera.
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
Sugestões (14) para o plano estratégico de transportes - modo ferroviário urbano - 14. Sugestões práticas
Sugestões para o plano estratégico de transportes - modo ferroviário urbano - 14: Sugestões que se desejaria serem práticas, em intenção dos executantes de todos os níveis, que trabalhem nas empresas públicas de transportes
Embora o governo saído das eleições de junho de 2011 conduza uma campanha violenta, do ponto de vista moral, de descrédito dos profissionais das empresas públicas de transporte, responsabilizando-as, independentemente das políticas governamentais anteriores, pelo elevado nível de endividamento do setor empresarial público, dedico este capítulo a uma enumeração simples de técnicas de execução do trabalho no dia a dia, perante situações concretas que se deparam aos profissionais, tendo em vista os objetivos de serviço público, os quais evidentemente incluem a preocupação de escolher as melhores soluções técnico-económicas.
Se bem que, como qualquer escolha e porque há sempre um fator de subjetividade, se corra o risco de acusação de má gestão ou má execução.
Os destinatários das linhas seguintes são portanto os executantes das tarefas e das funções que integram o universo das empresas públicas de transportes.
Claro que estas sugestões podem ser aplicadas em empresas privadas, mas julgo que interessa focar a natureza pública, considerando o valor estratégico da gestão dos transportes, a preocupação tradicional com o contínuo aperfeiçoamento dos profissionais das empresas públicas, e a experiencia estrangeira que indica que as empresas de transporte públicas têm tendência para sobreviverem à tendência privatizadora dos governos (sem esquecer que a experiência no negócio dos transportes dos respetivos governantes é normalmente reduzida, pelo menos em termos de visão integradora).
Com estes métodos, será mais fácil abordar a resolução de problemas que nas empresas públicas de transportes estão por resolver.
FIM
Embora o governo saído das eleições de junho de 2011 conduza uma campanha violenta, do ponto de vista moral, de descrédito dos profissionais das empresas públicas de transporte, responsabilizando-as, independentemente das políticas governamentais anteriores, pelo elevado nível de endividamento do setor empresarial público, dedico este capítulo a uma enumeração simples de técnicas de execução do trabalho no dia a dia, perante situações concretas que se deparam aos profissionais, tendo em vista os objetivos de serviço público, os quais evidentemente incluem a preocupação de escolher as melhores soluções técnico-económicas.
Se bem que, como qualquer escolha e porque há sempre um fator de subjetividade, se corra o risco de acusação de má gestão ou má execução.
Os destinatários das linhas seguintes são portanto os executantes das tarefas e das funções que integram o universo das empresas públicas de transportes.
Claro que estas sugestões podem ser aplicadas em empresas privadas, mas julgo que interessa focar a natureza pública, considerando o valor estratégico da gestão dos transportes, a preocupação tradicional com o contínuo aperfeiçoamento dos profissionais das empresas públicas, e a experiencia estrangeira que indica que as empresas de transporte públicas têm tendência para sobreviverem à tendência privatizadora dos governos (sem esquecer que a experiência no negócio dos transportes dos respetivos governantes é normalmente reduzida, pelo menos em termos de visão integradora).
1 – antes de mais, interpretar corretamente o enunciado e os dados do problema ou a solicitação que lhes for colocada, quer seja de rotina, quer seja uma ação nova, para que não haja duvidas sobre o que se está a tentar resolver; lembrem-se que em qualquer voo rotineiro ou saída para o mar tem de fazer-se previamente um “check-list”;
2 – respeitar o método científico e os manuais de instruções dos fabricantes, observando e investigando em profundidade as causas e as circunstâncias dos fenómenos e das ocorrências, mantendo atualizados os registos das novidades técnicas dos equipamentos e sistemas e, através de revistas e da divulgação das reuniões com os grupos nacionais e internacionais em que as empresas estão representadas, do que se vai fazendo lá fora; fazer com que, como diz o professor Carvalho Rodrigues, a ciência faça parte da equação, que o debate seja feito com a análise objetiva dos dados ;
3 – saber trabalhar em equipa, inter-agindo com as outras áreas e disciplinas, alargando o debate com as áreas relacionadas (sendo que numa empresa pública de transportes qualquer assunto tem as mais das vezes implicações com todas ou quase todas as áreas) descentralizando as funções, as tarefas e a representação ou delegação das áreas, pondo hipóteses, mesmo que aparentemente sejam estranhas, ensaiando e medindo com aparelhos de medida para avaliar os resultados, aprofundando a análise dentro de cada especialidade, fazendo a integração de todas, e respeitando os planeamentos; nunca esquecer que, por mais elevado que seja o seu lugar hierárquico ou por mais elevado que seja o seu coeficiente de inteligência ou de aptidões psicotécnicas, ou por mais elevado que seja o seu nível de qualificação técnica, ninguém é mais inteligente do que o conjunto do grupo de profissionais;
4 – ter mais consideração pelas reuniões, apesar de exigirem previamente um grande esforço de preparação e, durante as próprias reuniões, outro grande esforço para interpretação de dados relacionais, e levar para elas um bloco de notas ou um computador portátil, tomar notas e dar-lhes seguimento (as empresas já dispõem de equipamentos atualizados, mas infelizmente são raros os utilizadores da rede interna wireless e não se tira o devido rendimento, por falta de interesse dos potenciais utilizadores, das redes virtuais de acesso a partir do exterior ao computador pessoal do profissional); lembrem-se de que as redes wireless e “em nuvem” (clouding computer) têm recursos de comunicação e arquivo que facilitam o trabalho em equipa e individual;
5 – dar importância aos mecanismos de tomada de decisão no espírito das alíneas anteriores , e constituir uma massa crítica, ou opinião pública, que vá impondo esse espírito, mesmo nas decisões sobre questões estratégicas, como a estrutura das empresas, o plano de expansão das redes, as prioridades das empresas em função do contexto de contenção e de secretismo que a tradição reserva aos governantes ou aos gestores, mas que serão melhor resolvidas se se utilizarem os métodos de participação alargada, tal como definidos no livro “A sabedoria das multidões” de James Surowiecky, ed.Lua de Papel
6 – registar sempre as ações que são pedidas e, caso o sistema de gestão documental da empresa não tenha aptidão para isso, de que é exemplo o caso do SAP-DMS (o seu sistema de pesquisa é muito pouco eficaz porque muita da documentação está em tif e porque o acesso aos documentos por assunto nas pastas pessoais não tem nada de amigável ) fazê-lo de modo rastreável, permitindo a reconstituição da evolução do processo (sugiro para isso o registo das referencias do sistema de gestão documental ou dos emails, ou das reuniões, em quadros Excel ou em bases de dados de exibição rápida e acesso ao assunto ou à entidade a quem se dirigiu); se consultarem as normas de qualidade, lá verão que a rastreabilidade de um projeto é uma das condições do seu desenvolvimento correto;
7 – imaginar que o seguimento de uma solicitação recebida é uma missão que precisa de ser monitorizada, quer seja o pedido de reparação de um equipamento, ou de um sistema, de uma estação ou de uma carruagem, quer seja uma reclamação ou um pedido de informação de um passageiro ou de uma entidade exterior, quer seja uma ação tática (planeamento a curto prazo) ou estratégica (planeamento a médio e longo prazo); pensem que deverá ser um ponto de honra não deixar esmorecer um assunto, mesmo que esteja dependente de uma ação exterior, e não deixar atrasar a sua resolução – o objetivo é ter o assunto resolvido e resolvê-lo em conjunto, não ter despachado um pedido para a sua resolução e nunca mais pensar nele;
FIM
(ver o capítulo anterior em:
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2011/10/sugestoes-13-para-o-plano-estrategico.html ;
Nota - Estas sugestões para o plano estratégico de transportes foram escritas anteriormente à política de esvaziamento das empresas públicas de transportes e ao plano estratégico de transportes do governo saído das eleições de junho de 2011; foram ainda escritas com base na experiencia do autor no metropolitano de Lisboa e no relacionamento que no âmbito da empresa este teve com organizações internacionais da especialidade; tentou, porém, dar-lhe uma natureza generalizável, numa perspetiva integradora, submetida à preocupação central com a eficiência energética e a redução das emissões de gases com efeito de estufa, infelizmente nem sempre compreendida nem aceite por muitos governos, pese embora a clara orientação da UE para os transportes ferroviários. É intenção do autor tentar atualizar o texto quando se virem alguns resultados da política do governo.
Cada texto contem no fim o endereço do texto anterior e do texto seguinte. )
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2011/10/sugestoes-13-para-o-plano-estrategico.html ;
Nota - Estas sugestões para o plano estratégico de transportes foram escritas anteriormente à política de esvaziamento das empresas públicas de transportes e ao plano estratégico de transportes do governo saído das eleições de junho de 2011; foram ainda escritas com base na experiencia do autor no metropolitano de Lisboa e no relacionamento que no âmbito da empresa este teve com organizações internacionais da especialidade; tentou, porém, dar-lhe uma natureza generalizável, numa perspetiva integradora, submetida à preocupação central com a eficiência energética e a redução das emissões de gases com efeito de estufa, infelizmente nem sempre compreendida nem aceite por muitos governos, pese embora a clara orientação da UE para os transportes ferroviários. É intenção do autor tentar atualizar o texto quando se virem alguns resultados da política do governo.
Cada texto contem no fim o endereço do texto anterior e do texto seguinte. )
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quarta-feira, 26 de outubro de 2011
A novela do PET em 23 de outubro de 2011
Enquanto começam as manifestações dos trabalhadores das empresas públicas de transportes contra a ameaça de pesadelo dos despedimentos e esvaziamento das empresas, e os protestos dos presidentes de câmaras contra as supressões de ligações ferroviárias de passageiros, inicia-se também um interessante debate de banqueiros sobre as medidas do PET relativas às empresas públicas de transportes.
Gostariam, os banqueiros, que o governo pagasse as dívidas das empresas públicas (será que estão a pensar em antecipação do pagamento da totalidade das dívidas?). Mas não, vão ser alvo de uma recapitalização forçada. A taxa de cobertura dos empréstimos concedidos sobre os depósitos é de 140% e vão ter de baixar para 120% (será por causa disso que o senhor ministro da economia e transportes acha que uma taxa de ocupação de um metropolitano de 20% é baixa, por a oferta ser superior 400%?).
Vem a correr o senhor primeiro ministro, como se dissesse "não é o que estão a pensar", dizer que o estado utilizará os 12 mil milhões que a troica disponibilizou para o efeito mas ficará acionista passivo, à espera de entregar as ações aos privados (a troica não veria com bons olhos mais uma sortida do BIC angolano no mio bancário português?). Disparate, nacionalizar bancos. Os bancos servem para espalhar a felicidade pelos povos e só são bem geridos se privados, pese embora a crise ser consequencia da atuação dos bancos, seguradoras e instituições financeiras privadas.
Por isso o senhor presidente do BES vem tambem dizer que o Banco de Portugal está a ser injusto porque quer os juros altos na parcela dos empréstimos concedidos, o que ajuda a dar cabo da taxa. E os bancos coitados, têm agora um problema de liquidez (antigamente, quando se controlava a moeda, pagava-se o custo de repôr os níveis de liquidez fabricando moeda e aguentando o aumento da inflação, nem oito nem oitenta, mas a contenção atual dos preços ajuda a crise, salvo melhor opinião) porque no ambiente competitivo (que queriam? não sabiam que o risco da concorencia é a exaustão dos concorrentes?) têm andado a oferecer juros cada vez mais altos para captarem poupanças. Que horror, não era exatamente isso que o Ponzi e a Dona Branca faziam? Floresciam pagando juros altos enquanto houvesse clientes a entrar. E estamos nisto?
Entretanto, os senhores banqueiros gostariam mesmo que na próxima ronda de novembro com a troica, as dividas das empresas publicas ajudassem a fundamentar a concessão do alargamento do prazo de liquidação da dívida (nada a opor da minha parte) porque na negociação primitiva não devem ter explicado muito bem, ou então a troica não deve ter compreendido as especificidades da gestão à portuguesa do setor dos transportes.
Talvez se esteja preparando uma edição especialmente dedicada à troica do Plano estratégico dos transportes, quem sabe?
Gostariam, os banqueiros, que o governo pagasse as dívidas das empresas públicas (será que estão a pensar em antecipação do pagamento da totalidade das dívidas?). Mas não, vão ser alvo de uma recapitalização forçada. A taxa de cobertura dos empréstimos concedidos sobre os depósitos é de 140% e vão ter de baixar para 120% (será por causa disso que o senhor ministro da economia e transportes acha que uma taxa de ocupação de um metropolitano de 20% é baixa, por a oferta ser superior 400%?).
Vem a correr o senhor primeiro ministro, como se dissesse "não é o que estão a pensar", dizer que o estado utilizará os 12 mil milhões que a troica disponibilizou para o efeito mas ficará acionista passivo, à espera de entregar as ações aos privados (a troica não veria com bons olhos mais uma sortida do BIC angolano no mio bancário português?). Disparate, nacionalizar bancos. Os bancos servem para espalhar a felicidade pelos povos e só são bem geridos se privados, pese embora a crise ser consequencia da atuação dos bancos, seguradoras e instituições financeiras privadas.
Por isso o senhor presidente do BES vem tambem dizer que o Banco de Portugal está a ser injusto porque quer os juros altos na parcela dos empréstimos concedidos, o que ajuda a dar cabo da taxa. E os bancos coitados, têm agora um problema de liquidez (antigamente, quando se controlava a moeda, pagava-se o custo de repôr os níveis de liquidez fabricando moeda e aguentando o aumento da inflação, nem oito nem oitenta, mas a contenção atual dos preços ajuda a crise, salvo melhor opinião) porque no ambiente competitivo (que queriam? não sabiam que o risco da concorencia é a exaustão dos concorrentes?) têm andado a oferecer juros cada vez mais altos para captarem poupanças. Que horror, não era exatamente isso que o Ponzi e a Dona Branca faziam? Floresciam pagando juros altos enquanto houvesse clientes a entrar. E estamos nisto?
Entretanto, os senhores banqueiros gostariam mesmo que na próxima ronda de novembro com a troica, as dividas das empresas publicas ajudassem a fundamentar a concessão do alargamento do prazo de liquidação da dívida (nada a opor da minha parte) porque na negociação primitiva não devem ter explicado muito bem, ou então a troica não deve ter compreendido as especificidades da gestão à portuguesa do setor dos transportes.
Talvez se esteja preparando uma edição especialmente dedicada à troica do Plano estratégico dos transportes, quem sabe?
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Sugestões (13) para o plano estratégico de transportes - modo ferroviário urbano - 13: a 4ª estratégia
Sugestões para o plano estratégico de transportes - modo ferroviário urbano - 13: a 4ª estratégia - atualizar tecnologicamente os sistemas de controle da segurança de circulação dos comboios
Um sistema ideal de transportes deveria ser transparente, no sentido de oferecer o mínimo impecilho na deslocação pretendida. O passageiro ou cliente não deve ser molestado com as questões técnicas e profissionais específicas da atividade do modo de transporte (razão por que será difícil aceitar a obrigatoriedade de leitura do cartão á saída, porque existem outros métodos para avaliar as deslocações na rede de metro).
É também normal que os decisores dentro das empresas de cada modo de transporte não dominem todos os aspetos técnicos. Recordo-me de um pequeno diálogo com uma simpática administradora de uma administração anterior que me pedia para explicar, em 10 minutos, uma questão técnica específica.
Eu fiz o que pude para explicar a questão, mas comecei por dizer que o meu curso de engenharia constava de 6 anos e que me tinha esforçado, nos 8 anos que andei na escola técnica da Alameda D.Afonso Henriques, por interiorizar os conceitos, coisa que é um bocadinho difícil de fazer quando se tem pressa, quando se quer perceber uma coisa complicada em 10 minutos.
É então para isso que servem os técnicos, para interiorizar conceitos e transmitirem às administrações ou aos governantes, se os altos governantes quiserem descer até eles, as conclusões que daí derivarem.
Esta 4ª estratégia é um exemplo disso.
Neste momento, o metropolitano de Lisboa é dos poucos metropolitanos que não dispõe de um sistema de proteção da circulação de comboios do tipo ATP (Automatic Train Protection). A CP dispõe de uma cobertura parcial de um sistema simples ATP, a que chamou CONVEL, o qual transmite a informação do estado dos sinais luminosos ao comboio, provocando a travagem automática se a velocidade do comboio for incompatível com a segurança.
Que diz o conceito de proteção da circulação dos comboios?
Diz que a proteção dos comboios contra colisões no mesmo sentido ou em sentido contrário, ou contra abalroamentos em zonas de agulhas, é uma questão de exploração por as autorizações de marcha e os movimentos deverem fazer-se com rapidez, mas é também uma questão de segurança, atuando estas duas componentes em sentidos contrários.
Mais diz o conceito que não é justo fazer recair sobre o homem a responsabilidade última da segurança.
Um metropolitano bem equipado nunca poderá dizer que um erro humano provocou consequências negativas.
Porque os sistemas devem estar projetados para evitar que um erro humano tenha consequências negativas.
Existe um estudo aeronáutico que diz que em 100 descolagens, 60% são feitas deixando por cumprir um qualquer item da check-list de segurança (e o estudo diz que 40% de descolagens sem erros ou omissões até é bom).
Então, se nós defendemos, até para garantir os nossos vencimentos, que a taxa de ocupação tem de aumentar, que o número de passageiros transportados tem de aumentar, então a pressão sobre a circulação dos nossos comboios tem de aumentar, com a consequente pressão sobre os nossos maquinistas.
Daí a necessidade de projetarmos desde já sistemas ATP de proteção, prevendo que a crise financeira desembocará no aumento do preço dos combustíveis e no aumento da procura dos nossos comboios, não porque os empregos ou a atividade económica cresçam, mas porque as deslocações em transporte individual terão tendencia a diminuir (em países com maior poder d ecompra das populações, é vulgar a um aumento de 10% do preço dos combustíveis corresponder uma transferência de 10% do transporte individual para o ferroviário urbano e suburbano).
No entanto, o simples facto de o nível de segurança de exploração de uma rede de metro com ATP ser superior ao de uma exploração clássica (não quer dizer, obviamente, que o nível de segurança de uma exploração manual não seja satisfatório), é razão fundamentadora, juntamente com uma análise de custos-benefícios, de investimento desde já, com a condição dos benefícios serem contabilizados (isto é, manter uma rede de metro a funcionar sem sistema ATP tem um risco contabilizável no valor dos benefícios, correspondentes, por exemplo, às consequências pessoais e materiais de um acidente, de acordo com a norma NP EN 50126 e seus anexos).
Não se tratando de contas inquestionáveis, até porque a análise de riscos não é uma ciência exata (novamente sublinho que o método científico questiona e depois referenda ou corrige), no caso do ML os benefícios de ter uma exploração protegida por ATP seriam os seguintes, incluindo custos de investimento e manutenção :
- Benefícios de segurança por evitar riscos elevados, médios ou pequenos: 0,35 M€/ano
- aumento por atratividade de 5% da capacidade de transporte (proporcional ao inverso
do intervalo entre comboios): 6,48M€/ano
do intervalo entre comboios): 6,48M€/ano
- racionalização do consumo de energia de tração para a mesma velocidade máxima: 0,14M€/ano
- racionalização dos custos de investimento de instalações de
via e custos anuais de manutenção e aquisição: - 28,92M€/ano
- regularidade de circulação dos comboios, fiabilidade e
cumprimento dos horários (inclui contabilização do
valor-hora dos passageiros): 23,13 M€/ano
________________________________________________________________________________________
Total: 1,18 M€/ano
Já existem alternativas tecnológicas de instalação mais barata por necessitarem de menos equipamento na via (os sistemas CBTC – communication based train control, que localizam os comboios por rádio) cujo estudo é já premente por aquele motivo, com vista à instalação no ML, incluindo marcha automática ATO Automatic Train Operation (eventualmente, no caso de uma linha nova, com condução integralmente automática porque, contrariamente a uma ideia difundida entre quem não está muito dentro destes assuntos, a marcha automática integral não elimina os maquinistas, uma vez que eles têm de estar disponíveis, em menor quantidade, é verdade, mas nunca menos de 20%, para as emergências).
Permito-me relembrar que esta 4ª estratégia é, principalmente, um compromisso assumido formalmente junto do IMTT aquando da inauguração da extensão Alameda II –S.Sebastião II, quando se pretendeu justificar a desativação do sistema ATP/ATO anteriormente em vigor, mas estatuindo claramente que o ML estudaria novos sistemas para fazer face a um aumento de procura (notar que o sistema desativado tinha já encontrado a solução otimizada para o sub-sistema de localização que provocava travagens intempestivas, indo buscar a informação do deslocamento a sensores óticos e não às rodas polares do material circulante, excessivamente sensíveis em condições de má aderência, pelo que era razoável, e contratualmente previsto, estender o sistema ATP às novas extensões; infelizmente a alta direção da empresa, para simplificação da manutenção, decidiu desativar o sistema).
No caso de se aceitar uma análise custos-benefícios, o investimento em sistemas ATP tem desde já fundamento numa poupança estimada de 1,18 M€/ano
(conclui no capítulo seguinte em:
ver o capítulo anterior em:
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terça-feira, 25 de outubro de 2011
A novela do PET em 25 de outubro de 2011
No dia 8 de outubro deste ano, escrevi neste blogue:
OK, não há novo aeroporto. Vou continuar a suportar o cheiro da gasolina dos aviões quando está vento norte, o ruido das descolagens quando está vento sudoeste, o risco de acidentes em zona urbana com densidade elevada de postos de combustível e transporte do combustível para os aviões por camião. Vou continuar a ter pena de um aeroporto que rebenta pelas costuras, que não tem hipóteses de responder à procura porque parece nem sequer valer a pena fazer uma pequena obra na pista para aumentar o número de descolagens por unidade de tempo. Vou continuar a assistir ao desrespeito da lei do ruido que proibe o sobrevoo de hospitais. Porque não há financiamento (si fuera una region autonoma española probablemente lo habria) terei de encolher os ombros porque o sigilo bancário não me permite contestar a asserção. Mas por favor não diga o senhor ministro que não há ambiente competitivo. Olhe que até há aviões cargueiros, de mercadorias, não é como gosta de argumentar? E não insista muito na tecla das "low cost". Como diz um gestor da TAP, elas são subsidio-dependentes das regiões turisticas. Veja lá não lhes dê tratamento de favor.
Hoje, 25 de outubro, oiço que o senhor ministro da economia e transportes está feliz porque assinou um protocolo com a easy jet que proporcionará 200 postos de trabalho e permitirá estudar a opção Portela+1 e procurar a região de Lisboa um aeroporto para as "low cost" , mantendo o aeroporto da Portela.
Que posso eu pensar depois do que escrevi?
Que vão ser as "low cost" a determinar o futuro da exploração aérea na região de Lisboa?
Que de nada vale o gestor da TAP alertar que as "low cost" são subsidio-dependentes das regiões turisticas que servem?
Que o lobby das "low cost" se opõe tenazmente ao TGV para Madrid apesar da maior ineficiencia energética e ambiental do transporte aéreo quando comparado com o TGV? (não se importaria com uma linha de 160 km/h de velocidade máxima de mercadorias? mas então as "low cost" ainda não detetaram o nicho de mercado dos cargueiros aéreos?)
Mas não se opõe tanto ao TGV Lisboa-Porto ? (qualquer explorador de linhas aéreas sabe que explorar entre aeroportos distantes 300 km é muito menos rentável, por razões de combustível, do que entre aeroportos distantes 520 km).
Que os pobres vizinhos do novo aeroporto "low cost" vão ter mais um motivo de infernização das suas vidas?
Que há técnicos em Portugal que já podiam ter estudado e procurado o tal aeroporto +1 e preparar um plano de transição e financiamento entre a situação atual e a situação futura "novo aeroporto internacional", mas que possivelmente o governo não teria confiança nas suas conclusões por não serem as que desejaria?
Que favorecer as "low cost" pode atrair turistas estrangeiros, mas estimula a saida de divisas através dos turistas portugueses?
Que as "low cost" vão investir em infra-estruturas? querem que eu acredite?
Que o petróleo não pára de subir e que apesar disso o futuro das "low cost" é risonho porque inovam muito?
OK, não há novo aeroporto. Vou continuar a suportar o cheiro da gasolina dos aviões quando está vento norte, o ruido das descolagens quando está vento sudoeste, o risco de acidentes em zona urbana com densidade elevada de postos de combustível e transporte do combustível para os aviões por camião. Vou continuar a ter pena de um aeroporto que rebenta pelas costuras, que não tem hipóteses de responder à procura porque parece nem sequer valer a pena fazer uma pequena obra na pista para aumentar o número de descolagens por unidade de tempo. Vou continuar a assistir ao desrespeito da lei do ruido que proibe o sobrevoo de hospitais. Porque não há financiamento (si fuera una region autonoma española probablemente lo habria) terei de encolher os ombros porque o sigilo bancário não me permite contestar a asserção. Mas por favor não diga o senhor ministro que não há ambiente competitivo. Olhe que até há aviões cargueiros, de mercadorias, não é como gosta de argumentar? E não insista muito na tecla das "low cost". Como diz um gestor da TAP, elas são subsidio-dependentes das regiões turisticas. Veja lá não lhes dê tratamento de favor.
Hoje, 25 de outubro, oiço que o senhor ministro da economia e transportes está feliz porque assinou um protocolo com a easy jet que proporcionará 200 postos de trabalho e permitirá estudar a opção Portela+1 e procurar a região de Lisboa um aeroporto para as "low cost" , mantendo o aeroporto da Portela.
As "low cost" permitem aos pais babados mandar as suas filhas conhecer culturas diferentes. É muito bonito. |
Que posso eu pensar depois do que escrevi?
Que vão ser as "low cost" a determinar o futuro da exploração aérea na região de Lisboa?
Que de nada vale o gestor da TAP alertar que as "low cost" são subsidio-dependentes das regiões turisticas que servem?
Que o lobby das "low cost" se opõe tenazmente ao TGV para Madrid apesar da maior ineficiencia energética e ambiental do transporte aéreo quando comparado com o TGV? (não se importaria com uma linha de 160 km/h de velocidade máxima de mercadorias? mas então as "low cost" ainda não detetaram o nicho de mercado dos cargueiros aéreos?)
Mas não se opõe tanto ao TGV Lisboa-Porto ? (qualquer explorador de linhas aéreas sabe que explorar entre aeroportos distantes 300 km é muito menos rentável, por razões de combustível, do que entre aeroportos distantes 520 km).
Que os pobres vizinhos do novo aeroporto "low cost" vão ter mais um motivo de infernização das suas vidas?
Que há técnicos em Portugal que já podiam ter estudado e procurado o tal aeroporto +1 e preparar um plano de transição e financiamento entre a situação atual e a situação futura "novo aeroporto internacional", mas que possivelmente o governo não teria confiança nas suas conclusões por não serem as que desejaria?
Que favorecer as "low cost" pode atrair turistas estrangeiros, mas estimula a saida de divisas através dos turistas portugueses?
Que as "low cost" vão investir em infra-estruturas? querem que eu acredite?
Que o petróleo não pára de subir e que apesar disso o futuro das "low cost" é risonho porque inovam muito?
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segunda-feira, 24 de outubro de 2011
A novela do PET em 24 de outubro de 2011 - 3 perguntas a senhores governantes
Embora estas 3 perguntas pareçam políticas, não o são, são questões técnicas a propósito da estratégia do governo para as empresas públicas de transporte.
Tenho de informar qual o sentido que dou à expressão "questões técnicas", porque eu sou um técnico de transportes, coisa de que eu sei muito pouca coisa mas os senhores 3 governantes aparentam nada saber, e os senhores 3 governantes são técnicos de gestão e economia, coisas de que sabem certamente muito, muito mais do que eu, pese embora essa sabedoria ser orientada para objetivos antes da análise concreta de dados firmes (uma pequena ilustração desta atitude é a citação do senhor secretário de estado dos transportes: «Quando tivermos dados mais objectivos em cima da mesa as primeiras pessoas com quem falaremos são os trabalhadores e as organizações que os representam e procuraremos através desse diálogo encontrar formas de mitigar o impacto que eventuais despedimentos possam ter» - por que bulas, como se diz no interior desprezado do país, se tem já uma estratégia definida quando se está à espera de dados mais objetivos?).
Não tenho esperança de que as perguntas cheguem aos destinatários, mas faço-as à mesma.
Pergunta 1, ao senhor ministro Vitor Gaspar que, ao que leio, chamou ciclo virtuoso ás recessões periódicas:
- considerando que em consequência da natureza desse "ciclo virtuoso", de cada vez que ocorre mais uma recessão, o capital necessário para financiar os bancos é cada vez maior em valor absoluto e em valor relativo, que se acentua a desigualdade entre as pessoas que sofrem o desemprego e as que conseguem atravessar a recessão com rendimentos razoáveis, e no pressuposto de que concorda com os considerandos e explicaria porquê por palavras entendíveis por leigos no caso de não concordar, continuaria a chamar "ciclo virtuoso" à situação que vivemos se, longe vá o agouro (sinceramente o digo, não excluo ninguém da população ativa do meu desejo de pleno emprego), o senhor ministro caísse no desemprego sem conseguir arranjar emprego?
Pergunta 2, ao senhor ministro da economia e transportes Álvaro Pereira que, ao que leio, admite despedimentos na sequência da fusão de empresas publicas de transportes:
- considerando que é uma boa prática no planeamento e gestão de empresas de transporte a análise de custos-benefícios de qualquer empreendimento ou atividade durante toda a sua vida útil, sendo que nos benefícios deverão ser contabilizadas as vantagens decorrentes para a comunidade, e nos custos os prejuízos da manutenção da situação sem o empreendimento ou a atividade, que as estatísticas indicam que é reduzida a percentagem de sucesso das iniciativas lançadas por recem-desempregados, e no pressuposto de que concorda com os considerandos e explicaria porquê por palavras entendíveis por leigos no caso de não concordar, foram já contabilizados os prejuízos para a comunidade desses despedimentos, incluindo custos com tratamento de depressões, de perda de produção, de indemnizações, de subsidios de desemprego, de agravamento das situações de conflito social com a devida contabilização dos custos com as vítimas?
Pergunta 3, ao senhor secretário de estado dos transportes Sérgio Monteiro que, ao que leio, classificou como colossais os desequilibrios entre receitas de exploração e gastos com pessoal:
- considerando que foi por vontade dos sucessivos governos de várias cores que os preços dos títulos de transporte têm sido mantidos artificialmente baixos, que é um fator de desagregação social lançar anátemas sobre grupos sociais ou invocar o serviço público em benefício de populações que de acordo com os dados estatísticos são também vítimas de desemprego por aplicação das mesmas medidas que provocarão o despedimento de funcionários de empresas públicas de transporte, que se têm verificado ao longo dos anos distorções na distribuição das receitas dos passes sociais, que privados como a Fertagus ou algumas empresas de camionagem suburbana têm recebido tratamento preferencial em termos de remuneração da prestação de serviço social quando comparadas com operadores públicos, e no pressuposto de que concorda com os considerandos e explicaria porquê por palavras entendíveis por leigos no caso de não concordar, acha que os trabalhadores das empresas públicas de transportes são culpados dos "desequilíbrios colossais"?
Tenho de informar qual o sentido que dou à expressão "questões técnicas", porque eu sou um técnico de transportes, coisa de que eu sei muito pouca coisa mas os senhores 3 governantes aparentam nada saber, e os senhores 3 governantes são técnicos de gestão e economia, coisas de que sabem certamente muito, muito mais do que eu, pese embora essa sabedoria ser orientada para objetivos antes da análise concreta de dados firmes (uma pequena ilustração desta atitude é a citação do senhor secretário de estado dos transportes: «Quando tivermos dados mais objectivos em cima da mesa as primeiras pessoas com quem falaremos são os trabalhadores e as organizações que os representam e procuraremos através desse diálogo encontrar formas de mitigar o impacto que eventuais despedimentos possam ter» - por que bulas, como se diz no interior desprezado do país, se tem já uma estratégia definida quando se está à espera de dados mais objetivos?).
Não tenho esperança de que as perguntas cheguem aos destinatários, mas faço-as à mesma.
Pergunta 1, ao senhor ministro Vitor Gaspar que, ao que leio, chamou ciclo virtuoso ás recessões periódicas:
- considerando que em consequência da natureza desse "ciclo virtuoso", de cada vez que ocorre mais uma recessão, o capital necessário para financiar os bancos é cada vez maior em valor absoluto e em valor relativo, que se acentua a desigualdade entre as pessoas que sofrem o desemprego e as que conseguem atravessar a recessão com rendimentos razoáveis, e no pressuposto de que concorda com os considerandos e explicaria porquê por palavras entendíveis por leigos no caso de não concordar, continuaria a chamar "ciclo virtuoso" à situação que vivemos se, longe vá o agouro (sinceramente o digo, não excluo ninguém da população ativa do meu desejo de pleno emprego), o senhor ministro caísse no desemprego sem conseguir arranjar emprego?
Pergunta 2, ao senhor ministro da economia e transportes Álvaro Pereira que, ao que leio, admite despedimentos na sequência da fusão de empresas publicas de transportes:
- considerando que é uma boa prática no planeamento e gestão de empresas de transporte a análise de custos-benefícios de qualquer empreendimento ou atividade durante toda a sua vida útil, sendo que nos benefícios deverão ser contabilizadas as vantagens decorrentes para a comunidade, e nos custos os prejuízos da manutenção da situação sem o empreendimento ou a atividade, que as estatísticas indicam que é reduzida a percentagem de sucesso das iniciativas lançadas por recem-desempregados, e no pressuposto de que concorda com os considerandos e explicaria porquê por palavras entendíveis por leigos no caso de não concordar, foram já contabilizados os prejuízos para a comunidade desses despedimentos, incluindo custos com tratamento de depressões, de perda de produção, de indemnizações, de subsidios de desemprego, de agravamento das situações de conflito social com a devida contabilização dos custos com as vítimas?
Pergunta 3, ao senhor secretário de estado dos transportes Sérgio Monteiro que, ao que leio, classificou como colossais os desequilibrios entre receitas de exploração e gastos com pessoal:
- considerando que foi por vontade dos sucessivos governos de várias cores que os preços dos títulos de transporte têm sido mantidos artificialmente baixos, que é um fator de desagregação social lançar anátemas sobre grupos sociais ou invocar o serviço público em benefício de populações que de acordo com os dados estatísticos são também vítimas de desemprego por aplicação das mesmas medidas que provocarão o despedimento de funcionários de empresas públicas de transporte, que se têm verificado ao longo dos anos distorções na distribuição das receitas dos passes sociais, que privados como a Fertagus ou algumas empresas de camionagem suburbana têm recebido tratamento preferencial em termos de remuneração da prestação de serviço social quando comparadas com operadores públicos, e no pressuposto de que concorda com os considerandos e explicaria porquê por palavras entendíveis por leigos no caso de não concordar, acha que os trabalhadores das empresas públicas de transportes são culpados dos "desequilíbrios colossais"?
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